A campainha tocou, fazendo eu me separar de Cato. Olhei envergonhada para ele e o mesmo soltou uma risada baixa.

– Provavelmente é Katniss... Não está com raiva dela, não é? – perguntei.

– Não, gosto dela.

– Então a trate bem – falei enquanto seguia para a sala.

– Eu nunca a tratei mal – Cato respondeu.

Abri a porta e Katniss sorriu, mas logo seu sorriso desapareceu.

– Seus lábios estão vermelhos e inchados, cheguei na hora errada? – e não foram só meus lábios que ficaram vermelhos, minhas bochechas também.

Ouvi a gargalhada de Cato e apenas coloquei a mão levemente em cima de minha boca. Katniss entrou na minha casa e eu a acompanhei até o sofá.

– Vamos conversar sobre minha festa! – ela exclamou e Cato se arrumou na poltrona. Olhei confusa para Katniss.

– Seu aniversário já passou – falei.

– Não é festa de aniversário – minha amiga revirou os olhos. – Meus pais vão viajar a trabalho e eu perguntei se poderia dar uma festa. Vocês sabem que eles confiam muito em mim, mas dar uma festa no meio da semana na rola. Aí eu disse que seria numa sexta e eles aceitaram numa boa.

Ao terminar de falar, Katniss sorriu largamente. Seus pais não eram do tipo protetores, mas sabiam que se a filha fizesse alguma besteira, ela resolveria seus próprios problemas.

Suspirei e encostei-me no sofá, ao seu lado. Katniss abriu sua bolsa e pegou um caderno e uma caneta. Ela rabiscou e pude perceber que a primeira coisa escrita era Festa - que nunca irão esquecer – da Katniss.

– Certo, vamos lá. Digam os nomes – ela começou preparada para escrever.

– Cato – meu namorado falou e Katniss revirou os olhos; ele olhou confuso para ela.

– Não o seu nome, idiota. Isto... – ela levantou a folha para Cato, como se ele fosse uma criancinha. – é uma lista. Preciso de nomes das pessoas que irei convidar.

– Ah – Cato suspirou e logo depois começou a falar: - A garota que te derrubou e gritou para a escola toda que você tinha roubado o namorado dela, a...

– Cale a boca! – Katniss falou meio irritada e eu ri. – Tudo bem, eu sei quem eu chamarei. Precisamos de alguém maior de idade para comprar as bebidas... – seu olhar, que antes estava em mim, passou para Cato.

– Não – falei. – É uma festa cheia de adolescentes que ficam bêbados só de ouvirem falar a palavra ‘cerveja’! Katniss, uma coisa mais simples.

– Água, suco, refrigerante? Ah, por favor, Clove! Relaxa, nada vai dar errado.

Me encolhi no sofá enquanto Katniss falava mais sobre sua festa. Ia ser complicado as coisas darem certo nessa festa.

***

– Você vai a essa festa da Katniss? – Cato perguntou um tempo depois que a mesma já tinha ido embora.

– Óbvio – respondi. – Alguém precisa ter juízo naquilo que Katniss chamará de festa.

Meu namorado deitou na cama e eu fiz o mesmo. Katniss havia saído daqui a alguns minutos; já era noite. Ela passou praticamente a tarde toda falando da sua tal festa, de como as pessoas iriam adorar e até “prometeu” que não iria beber tanto, pois iria ter que ‘colocar ordem na casa’. Coisa que ela não faria, então eu estaria lá para isso.

– Vai dar uma de babá? – Cato perguntou e soltou uma gargalhada.

– Não é isso... É que...

– Não confia na sua melhor amiga?

– Confio, é que você sabe que dar festas não é muito o forte de Katniss. E quando ela fala que as pessoas não irão esquecer-se de tal coisa, eu fico meio que com medo. Odeio quando ela fala isso!

Cato soltou outra gargalhada alta e eu revirei os olhos. Mas é claro que eu ficava preocupada com essas coisas que Katniss fazia! Da última vez que ela falou aquela frase ridícula, realmente as pessoas não se esqueceram de seus atos. Ela deu uma festa na casa da tia e a mulher chegou no meio da ‘comemoração’, desligou o som e ainda gritou com todo mundo. Ficaram zoando Katniss por uma semana até aparecer outra notícia que fazem todos se virarem para ela.

– Ainda temos uma semana, Clove. Vai dar tudo certo, Katniss também não é tão idiota.

– Aham, você que pensa – murmurei e fechei os olhos.

Era por volta das nove horas e eu estava agradecendo por amanhã ser sábado e não ter hora para acordar.

– Tem certeza que quer dormir? – abri os olhos e Cato tinha um sorriso malicioso no rosto.

Virei de costas para ele e me cobri.

Ultimamente as pessoas estavam dando muitos palpites na minha vida sexual. Sério, isso não é meio pessoal?!

***

O dia estava lindo, eu poderia até fazer um piquenique com Cato. Ok, mentira. O dia não estava nada lindo e eu nem queria ouvir o nome do meu namorado por enquanto.

Eu poderia dormir até às dez da manhã, mas acordei as nove com umas vozes desconhecidas no andar de baixo. Não tinha convidado ninguém - eu nem fazia isso – então tive certeza que era os amiguinhos de Cato. Como se não bastasse ter aquela sessão cinema e alegria na minha casa, agora querem café da manhã e bom humor na minha cozinha.

Revirei os olhos e me levantei da cama, seguindo para o banheiro e tomando banho. Ao terminar de me arrumar, desci lentamente as escadas. Pude ouvir a risada baixa de Cato, uma voz masculina desconhecida e, adivinha... Sim, Amy.

– Hum... Oi – falei quando cheguei ao último degrau da escada.

Os três estavam perto da porta, então deduzi que os amigos do meu namorado estavam de saída.

– Bom dia – Cato falou e os amigos dele apenas acenaram com a mão. – Clove, esse é Peeta. Vocês ainda não se conhecem...

– Acho que não, mas lembro que ele estava com os pés em cima da minha mesa de centro. Prazer em rever você! – apertei a mão do loirinho e ele sorriu.

– Prazer em rever você também, Clove! – Peeta sorriu mais uma vez e eu retribuí.

– Bem, hora de ir! – Amy falou e soltou uma risada falsa. – Até mais.

Ao saírem, Cato fechou a porta e se se encostou à mesma.

– Eles vieram pegar uma matéria da faculdade. Peeta e Amy gostam de matar aula, então... – ele deixou a frase no ar e olhou para mim.

– Sei... Sujeito legal esse seu amigo – cometei e comecei a andar até a cozinha.

Peguei uma maçã na fruteira azul e mordi-a.

– Eu não acredito que você estava flertando com ele na minha frente – Cato falou e eu arregalei os olhos.

Eu poderia ter todos os defeitos do mundo. Eu poderia ser ciumenta, eu poderia ser mal humorada na maioria do tempo, mas eu nunca flertaria como um cara na frente do meu namorado. Eu nunca nem flertaria com um cara enquanto eu estivesse namorando!

– Ah não. Por favor, me diga que eu não escutei isso.

– Desculpe... Mas parecia que você estava dando em cima dele – ele falou, sentando no banco preto a minha frente.

– Parece que você está me traindo com a Amy, mas eu nunca falei nada – deixei escapulir, mas não expressei nenhuma expressão a não minha expressão incrédula.

Mas eu não estava mentindo. E Cato sabia muito bem disso.

– Não parece que eu estou te traindo com Amy! – arqueei uma sobrancelha e ele suspirou. – Certo, pode parecer... Mas eu nunca te traí Clove; nem com Amy, nem com ninguém. Você nunca ligou para o que os outros falam ou pensam!

– Eu não ligo! Você acharia legal se eu tivesse um amigo e todos falassem que eu estava saindo com ele mesmo eu não saindo ou que eu estivesse te traindo? Mas, pode ter certeza, eu não ligo para o que falam! Eu só queria... – suspirei e encarei Cato. – Eu só queria que você me compreendesse, sabe? Não estou te proibindo de falar com a Amy, não tenho esse direito, só quero sua atenção – sussurrei a última parte e olhei para baixo.

Eu parecia uma idiota implorando carinho. Mas eu não tinha mais pais, minha única irmã trabalha viajando, eu só tinha Cato. E acho que tratar uma pessoa com carinho não era uma coisa tão difícil. Talvez, em certas horas, eu possa ligar meu modo criança e ficar fazendo birra, mas eu só queria ser compreendida.

Ainda encarava o chão quando percebi que Cato se levantou e agora se encontrava ao meu lado.

– Você quer atenção? Como no começo? – sua voz era calma e eu apenas afirmei com a cabeça. – As coisas não são como antes, Clove. Talvez... Talvez nossa história esteja no fim.

Suas palavras me atingiram como um tapa na cara. Senti minha garganta começar a arder e meus olhos também, mas apenas fechei-os para evitar que as lágrimas caíssem. Depois de um longo suspiro, abri os olhos. Porém a vontade de chorar ainda não tinha passado.

– Eu não quero terminar – falei, mas minha voz não passara de um sussurro.

– Eu também não – Cato disse e alguma coisa dentro de mim se aliviou, mas eu ainda não estava bem por completo. – É só que não tínhamos tantas responsabilidades e tudo era mais fácil. Não estou querendo dizer que com o passar do tempo eu deixei de te amar; isso seria uma mentira. A verdade é que cada dia que passa eu te amo muito mais.

Passei a mão no rosto para limpar uma única lágrima que havia caído e suspirei mais uma vez. Cato segurou minha cintura e virou-me de maneira que eu ficasse na sua frente.

– Não quero te deixar, eu quero passar os próximos dias ao seu lado – falei.

– Dias?!

– Meses.

– Meses?!

– Anos – falei e ele sorriu; fiz o mesmo. – É, talvez eu queira passar os próximos anos ao seu lado.

Cato soltou uma gargalhada e logo depois beijou o topo de minha cabeça e começou a acariciar as pontas de meu cabelo. Passei meus braços ao redor de seu quadril, lhe abraçando.

Posso admitir que esse relacionamento não está indo do jeito que eu planejei ou tomando um rumo totalmente diferente do certo, mas eu realmente não conseguiria ficar longe de Cato. Eu não queria ficar longe de Cato.