O desejo me consome.

Me rasga.

Posso sentir as batidas descompassadas do meu coração.

Faz dias que não sinto isso. O segredo que pensei que não precisaria mais encobrir.

Preciso. Necessito.

Drogas.

Procuro desesperada nas gavetas do meu quarto, e acho ali um pouco de crack. Vai aliviar meu desejo por enquanto. Consigo respirar novamente e normalmente.

Lúcia era a única que sabia. E uma das únicas que não podia saber.

Drogas. Um enorme vício. E eu não posso combater sem me revelar. Matei uma pessoa para esconder isso. Uma das pessoas que mais amava, e não posso jogar tudo para o alto agora. Minha respiração se torna entrecortada de novo, mas não pelo desejo de drogas.

Outro desejo que tento encobrir.

Matar.

É algo que eu nunca pensei que poderia acontecer. Me viciar nisso.

Não quero ao mesmo tempo que quero fazer tudo de novo.

É tudo tão assustador, novo, e bom para mim.

Volto ao meu antigo hábito, de quando o vício pelas drogas era maior que tudo: escrever. Escrever para me libertar, desabafar e tirar o peso dos meus ombros. É uma forma de contar um segredo, sem ninguém descobrir.

Me levanto, e antes de tudo, me olho no espelho e realmente me analiso em muito tempo.

Meus cabelos loiros e lisos caem sobre os meus ombros de uma maneira perfeitamente irritante. Meus olhos castanhos fitam a minha própria imagem com nojo e admiração ao mesmo tempo. Meu corpo pequeno e magro cabe totalmente no reflexo do espelho tão pequeno quanto. Tudo me irrita e tudo me agrada.

Continuo a andar pelo quarto pequeno e pego as folhas soltas juntas com os lápis e canetas e apenas escrevo. Escrevo por minutos que se prolongam em horas, e me sinto bem. Largo tudo ali, e saio para andar um pouco na rua.

__________________________________________________________

Procuro no meu celular um número que esteja nos favoritos e que eu mantia contato.

O nome Juliet está gravado nos favoritos. Juliet era uma das minhas melhores amigas, e ligo para ela.

– Oi, Ju. Quer fazer algo hoje? - escuto apenas um choro compulsivo do outro lado da linha.

– Sua falsa. Eu sem quem você é. Eu sei o que você fez. Podia sentir, quase tocar a falsidade sua para com a Lúcia. Você tinha segredos. Você tem muitos segredos garota, e pode ter certeza que ainda vou descobrir cada um deles. Está entendendo? Cada um deles. - ela acusa, com a voz tremendo porém alta, e logo depois desliga o celular. Só escuto o barulho irritante da chamada encerrada.

Ótimo. Posso saciar meu segundo desejo e tirar o peso das costas.

Outro segredo que nunca será revelado, e será enterrado junto com a pessoa.

Uma pena. Eu realmente queria alguém para sair hoje.