Mais uma vez estou aqui sentada, ou melhor, jogada nessa cadeira da sala de investigação olhando os outros trabalharem por horas. É meio chato quando você sabe que não pode fazer nada, por que você não sabe fazer nada. Me sinto uma inútil e é isso mesmo o que eu sou. Mas afinal o que eu poderia fazer pra ajudar? Não sou uma espiã e sou menor de idade. Mas desde que a família Uchiha saiu para investigar um dos esconderijos do Orochimaru, e eu fiquei aqui sozinha, me deu um pouco de tempo pra pensar... sobre minha vida e principalmente sobre o meu futuro.

Eu sei que parece idiota, quer dizer bem idiota, mas eu fiquei me lembrando de quando eu fui seqüestrada. Foi bem horrível, e assustador, e pode parecer meio masoquista, mas no fundo eu gostei da adrenalina que corria em minhas veias, de saber que o perigo estava tão perto de mim, bem atrás da porta daquele quartinho onde eu estava. Seus reflexos ficam melhores, o coração disparado, você começa a suar e se lembrar das pessoas que você ama, e saber que você está sozinha e por isso tem que agir por mais arriscado que seja você tem que tentar fugir e ainda se preocupar que os bandidos sejam presos. E você tem que pensar rápido, agir rápido e não pode ser pego.

Para a maioria das pessoas essas são situações que ninguém deseja passar. E ainda ouvir que uma pessoa gostou da sensação parece mesmo loucura. Mas eu tenho que admitir que eu me senti... bem comigo mesma.

Sabe quando você é pequeno e apronta uma travessura com os amigos, como quebrar a janela ou sujar o sofá da sua mãe e ai vocês fogem pra não ficar de castigo, e quando estão seguros vocês sentem um grande alivio. Foi essa sensação só que multiplicada por 10 que eu senti quando o Sasuke me salvou e estávamos mais seguros na floresta.

Bom foi ai que eu comecei a pensar: e se eu me tornasse uma espiã também? Parece um sonho de criança, mas eu estou falando sério, o problema é alguém levar a sério o que estou dizendo. Eu sei o que vão pensar que eu só quero fazer isso pra participar das missões também, ou vão me chamar de tola por pensar que eu poderia realmente me tornar uma espiã. Mas eu estou pensando seriamente em falar com alguém sobre isso, mas quem?

Uma coisa veio na minha cabeça nessa hora:

Sasuke: Boa tarde Tsunade-sama, essa é a Sakura Haruno de que lhe falei – se virou para a rosada – Sakura essa é a Tsunade, ela que controla tudo por aqui, ou pelo menos tenta, e esse é o Kakashi, meu professor, ele me ensinou muitas coisas aqui.

Kakashi! É claro, devia ter pensado nele logo de cara. Se o Sasuke foi ensinado pelo próprio Kakashi, então ele deve ser de confiança e talvez não se importe em ensinar uma doce garotinha em pouquíssimo tempo; talvez se importe sim. Não vou ficar com pensamentos negativos agora, eu tenho que pelo menos tentar e tem que ser agora, porque já está tarde e logo vou ter que voltar para casa, e isso não poderia esperar até amanhã.

Me levantei e sai da sala, passei pelos corredores e bati numa sala onde nunca estive, mas que na porta tinha o nome Kakashi Hatake, ele era tão importe que tinha uma sala só pra ele, que chique.

Kakashi: entre.

Sakura: com licença Kakashi-san.

Kakashi: Sakura, o que foi aconteceu alguma coisa? – disse já se preocupando.

Sakura: não. Na verdade eu vim aqui para pedir um grande, enorme favor ao senhor – falou apreensiva, já estava começando a duvidar se realmente seria capaz.

Kakashi: bom, diga então – respira, o maximo que pode acontecer é ele dizer não. Que ótimo.

Sakura: é que eu estava pensando e notei que não estou sendo muito útil na investigação e vendo todos ali fazendo o seu trabalho eu percebi que eu também quero fazer parte disso – pelo menos consegui falar com segurança.

Kakashi: mas você já não está participando do caso?

Sakura: sim estou, mas você não está me entendendo. Eu quis dizer que eu também quero ser... quero ser uma espiã – pronto falei, agora é só esperar pela resposta dele.

O que eu tenho que fazer é passar que estou segura do que estou falando pra ser levada a sério. Percebi que ele me analisava procurando algum vestígio de indecisão ou medo, mas eu fui forte e me foquei em seus olhos sem me intimidar com eles. Passou longos segundos em que ele não me respondeu nem se moveu, cheguei a pensar que ele me ignoraria, mas em fim ele respondeu:

Kakashi: está bem, esteja aqui amanhã às 7h em ponto – fiquei em choque por um momento, absorvendo sua resposta – isso é tudo.

Sakura: espera, vai aceitar assim sem fazer perguntas ou sei lá?

Kakashi: como eu disse, isso é tudo, por enquanto pelo menos.

Sakura: hai Kakashi-sensei.

~~~~~

07h43.

Eu já estava na sala de treinamento desde as 6h50 esperando o Kakashi-sensei, quase uma hora e nada dele aparecer. Cadê a pontualidade dele? Vim toda preparada com roupas confortáveis e o cabelo preso para não atrapalhar. Nem tomei café da manhã para poder chegar a tempo aqui e agora estou com fome. Acho que ele não vai se importar se eu for até a lanchonete, afinal ele já está bem atrasado.

Me levantei e fui caminhando até a porta, mas Kakashi entrou por ela na mesma hora.

Kakashi: bom dia Sakura.

Sakura: está atrasado.

Kakashi: me desculpe, mas eu encontrei uma velha conhecida pelo caminho e começamos a conversar... bom deixa pra lá – o que será que o Kakashi-sensei estava fazendo com essa amiga o.O ? Espera, eu não quero saber.

Sakura: tudo bem, por onde começamos?

Kakashi: primeiro um aquecimento rápido e depois vou te ensinar algumas técnicas básicas ok?

Sakura: hai – fizemos alguns movimentos de aquecimento que ele disse que eu poderia fazer antes dos treinos a partir de agora, para poupar tempo.

E em seguida ele me mostrou uma serie de movimentos combinados com chutes e socos, que eu usaria em combates físicos. Passei o resto da manhã treinando o que ele tinha me explicado, e eu já estava cansada, suada e fedida, ou seja, eu estava acabada. Meus músculos estavam doloridos e pedindo por um descanso de 5 dias e eu não agüentava mais ficar caindo. Mas antes de acabar fiz uns alongamentos pra não ficar mais dolorida do que eu já estava.

E enfim o merecido almoço, nunca comi uma comida tão gostosa na minha vida. E lá estavam meus amigos na lanchonete, mas estava tão cansada que nem participei da conversa, só quando me perguntaram por que eu estava naquele estado deplorável.

Juugo: você ta péssima Sakura.

Sakura: obrigado Juugo, adoro receber esse tipo de elogio.

Suigetsu: o que ele quis dizer é que você parece muito cansada – deu uma leve cotovelada em Juugo.

Sakura: é que eu to treinando – não tinha porque ficar escondendo isso por muito tempo, uma hora alguém ia descobrir e também não tinha nada de mais.

Lee: treinando? Treinando pra que?

Sakura: pra ser uma espiã – falei com naturalidade.

Todos: como?

Sakura: Kakashi está me ajudando – voltei a comer meu delicioso almoço.

Shikamaru: Kakashi te treinando? Isso não é normal, o que você fez?

Sakura: nada de mais eu acho, só cheguei na sala dele e pedi e ele falou para começarmos hoje.

Lee: fácil assim?

Sakura: é Lee – já estava me irritando, qual era o problema deles afinal? Estavam meio lentos hoje – com licença, mas eu ainda tenho 15 minutos de almoço e quero descasar, tchau – Lee acenou.

Achei a reação deles meio estranha, ficaram bem surpresos não pelo fato de eu estar querendo ser uma espião, mas por Kakashi estar me treinando. Homens.

Voltei para a sala de treinamento e comecei a me aquecer como ele tinha pedido, mas na hora que Kakashi voltou me surpreendeu.

Kakashi: tudo bem pode parar de se aquecer, vamos para outra sala. Venha - Não entendi nada, mas o segui.

Fomos para uma sala com vários equipamentos muito modernos pelo que pude ver.

Kakashi: um espião não deve saber somente lutar, deve ser rápido na hora de pensar também e ter um ótimo equipamento ajuda muito.

Sakura: certo.

Kakashi: então vou te mostrar alguns equipamentos que usamos por aqui e nas missões também.

Sakura: hai.

Kakashi me mostrou objetos como GPS com mapas detalhados que seria útil se você está em um território desconhecido do inimigo, por exemplo. Me mostrou algumas facas, mas preferi nem tocar muito porque pareciam perigosas e ele disse que para manusear esse tipo de equipamento só com mais experiência. Então partimos para área de pequenos explosivos e bombas de fumaça e de gás, muito úteis. Também vi os aparelhos de choque que Sasuke usou quando foi me salvar e que serviam se você precisa ser extremamente discreto e não deseja matar ninguém.

Kakashi me explicou que um espião pode matar uma pessoa, mas essa deve ser só em últimos casos, quando é questão de vida ou morte, e que mesmo assim tem que procurar atirar, mas não para matar. Me assustei um pouco com a idéia de ter que usar uma arma, mas ele me assegurou que eu somente aprenderia a usar uma mais pra frente quando estivesse com mais experiência. Agradeci mentalmente por isso.

Passamos o restante da tarde usando os equipamentos e por fim ele me elogiou dizendo que eu estava indo muito bem para o meu primeiro dia e que eu aprendia as coisas rapidamente. Sorri e fui para casa.  Eu tinha que jantar ainda e ter uma ótima noite de sono porque amanhã seria mais um dia de treinamento e eu tinha que estar bem disposta.

Era tudo tão novo para mim, tinha que me lembrar de todos os mínimos detalhes do que Kakashi me ensinou, e era muita coisa. Mas eu estava disposta a continuar com isso por mais exausta que eu esteja. Faria isso pelo Sasuke.