I Wouldn't mind escrita por Tobi4s
Estou parado na frente de meu pai.
Dou uma olhada no ambiente ao redor percebendo a quantidade de pessoas que se sentavam de frente para indivíduos com um uniforme de cor laranja.
Ele parece estar diferente. Suas feições se tornaram completamente estranhas a minha visão. Dou uma olhada no fundo da sala e vejo dois guardas segurando duas armas enormes e encarando a parede a sua frente como se olhasse diretamente para alguma coisa no horizonte.
Me ajeito na cadeira e sinto uma onda de dor percorrer minha perna e coluna. Fecho os olhos por frações de segundos e logo volto a prestar atenção na voz de meu pai.
— Eu tentei dizer, antes de tudo acontecer, mas as coisas pareceram tão inapropriadas... - Sua voz saia tão baixa que tento me focar ao máximo para entender.
Fico em silêncio por alguns segundos e respondo:
—Deveria ter contado. -Estico meu braço e passo o dedo em meu antebraço. -Mamãe te disse? Eu ouvi tudo. E por mais que isso me perturbe depois de tudo que houve nos últimos meses resolvi vim dizer que realmente não ligo. Afinal, foi sempre o senhor que me criou certo?
Devan fica em silêncio. Percebo seu olhar se desviar até a cicatriz que subia em meu braço. Tiro o mesmo de cima da mesa.
— E sobre o... - Ele começa a dizer, mas o interrompo rapidamente.
—Não quero falar sobre isso.
Sabia exatamente o que ele iria falar. Mudo de assunto rapidamente.
—Conversei com o seu advogado. Seu julgamento é semana que vem.
—Não conseguiram adiar? - Ele indaga.
—Se pelo menos dissesse sobre o que toda essa merda significa... Eu tentei, fui atrás de Max, mas não a encontrei. Nathan foi esperto.
—Eu não a matei. - Ele diz sério. - O que acha? Que eu iria contar toda a verdade e assistisse tudo se desmoronar... Max, ela sim é a peça central pra que tudo isso acabe.
—Carter e eu estamos tentando rastrea-la, mas... - Sou interrompido pela voz do guarda dizendo que o horário de visitas havia acabado.
Me levanto devagar da mesa e vejo meu pai fazer o mesmo. Aproximo e o abraço por alguns segundos.
—Vou te tirar daqui.
—Eu sei que sim. - Ele responde e dou as costas, caminhando até a porta de saída.
Vou andando pelo corredor e observo a quantidade de janelas. Observando meu reflexo vejo algumas cicatrizes em meu pescoço. Minha perna ainda estava um pouco dolorida.
Minha cabeça repudiava olhar tudo aquilo, o que me fazia desviar o olhar e fixar minha visão no chão.
《》
Ao sair do presídio caminho lentamente até o carro. Abro a porta e vejo Carter mexendo no celular e ao me ajeitar no banco percebo a mesma colocar o celular em seu colo.
—Como ele tá? -Ela pergunta.
—Na mesma. Não quis contar nada. Ele tá escondendo alguma coisa, eu sei que sim. Nada disso faz sentido... Cosima e Max.
—Birdy acabou de me mandar mensagem... Ela a achou.
—Max? -Pergunto rapidamente e ela confirma com a cabeça. - Mas como? Ela...
—Birdy não disse muita coisa, mas passou o endereço. -Carter me interrompe.
—Droga, só temos até semana que vem. Max não irá aceitar. Nathan já a deve ter ameaçado...
Dou um murro no porta luvas e Carter me encara.
—Ele vai pagar pelo que ele fez. Vamos tirar seu pai desse lugar.
Ela liga o carro e acelera. Fecho meus olhos por frações de segundos e como toda vez, todas as poucas memórias dos últimos meses inunda minha cabeça.
FLASHBACK ON
Ao estacionar meu carro, vejo Miranda se aproximar com uma mochila. Abro um sorriso e falo:
—Doeu escolher só algumas coisas?
—Isso é a coisa mais louca que iremos fazer...
—Não quer mais? -Indago e vejo a mesma abrir a porta e se ajeitar no banco do passageiro. Ela abre um sorriso e se aproxima. Retribuo o selinho e fito meu olhar ao dela.
—Eu só... Vamos ficar longe disso tudo. E a Carter?
—Ela vai ficar por aqui com a Birdy e logo vai se encontrar com a gente... - Falo e dou uma olhada pelo retrovisor. Não havia ninguém na rua.
Dou partida no carro e acelero. Dirijo até meu ponto de encontro com Carter e ao chegar, desço e caminho até Carter com os meus braços abertos. Ela me abraça e logo começa a dizer:
—Vocês são completamente malucos. Que ideia é essa de ir embora daqui? A é por isso que eu amo você.
Já havia conversado com ela e dito todas as coisas e explicações possíveis que poderiam ser dadas para justificar tudo aquilo.
—E minha mãe? - Pergunto levando meu olhar a minha mochila. - Pegou minha carteira? -Estico meu braço pegando a mesma.
—Ela não tava lá quando eu cheguei... Você sabe que ela vai querer envolver a polícia.
—Mais envolvida que ela já está com a minha família? -Não consigo conter um sorriso debochado e percebo Miranda se aproximar de mim.
—Carter eu prometo que vou te manter informada okay? E tente deixar Birdy longe do Nic. O mais longe possível. -Volto a dizer percebendo o olhar de preocupação estampado no rosto de Carter.
Minha cabeça estava inundada com pensamentos de tudo que ocorrera. Minha volta, Miranda, a prisão de meu pai, que não é meu pai, biologicamente não. Meu pai assassino, Carter, Birdy, Nic. Eu só queria estar longe de tudo aquilo.
Me despeço de Carter e volto novamente para o carro. Miranda se ajeita no banco e liga o rádio.
Ficamos por minutos ali em silêncio. Apenas escutando a música que tocava.
Definitivamente era o melhor. Melhor estar com ela e longe desse lugar. Não perderia mais tempo.
FLASHBACK OFF
Carter estaciona na porta de um edifício no centro da cidade e ficamos parados por vários minutos esperando Birdy aparecer.
Por volta de vinte minutos depois ela aparece e abre a porta de trás.
—Preparados para o culto da iniciação? -Ela fala e não consigo conter um sorriso. -Cadê a animação? Logo logo estaremos livre. Metra Academic terá orgulho de dizer que passamos por lá.
—Você animada para o Colégio? -Carter pergunta e começa a rir. -Essa é nova.
—Finalmente a partir de hoje faltam exatamente alguns meses para a nossa formatura, isso não anima vocês? E finalmente as coisas parecem estar dando certo. O meu castigo acabou e o da Carter também. E nossos pais concordaram em nos deixar terminar aqui, apesar da retirada de um terço da mesada... a gente sobrevive. E Carter só vê se dessa vez não bate em nenhuma professora e não seja expulsa. Apenas seis meses e o exame final e a gente consegue.
Carter dá partida no carro e fico olhando pela janela.
—Vamos hoje depois da aula no endereço. -Carter quebra o silêncio e continua a dizer. -Max... Falar com ela.
—Vamos conseguir. -Birdy diz e fico em silêncio.
Depois da visita de ontem no presídio não consigo parar de pensar em Nathan e em Max. Meu pai estava escondendo alguma coisa.
Minha cabeça se inunda e traço uma linha de raciocínio. Nathan está ligado com Cosima e com a empresa que meu pai trabalhava. Meu pai foi acusado injustamente por um crime que não havia cometido.
Max é a única pessoa que pode confirmar o álibi de meu pai.
Uma semana.
Apenas uma semana para conseguir o testemunho para o julgamento.
Fico tão inerte em meus pensamentos que mal percebo quando chegamos no colégio. Desço do carro e sinto minha cabeça girar.
FLASHBACK ON
—Ei, a gente pode parar por alguns minutos. -Miranda diz olhando a estrada. - Eu sei que você tá um pouco cansado.
Estamos na estrada a quase três horas. Carter já havia me ligado mais de quatro vezez.
Sabia que minha mãe já estava atrás de mim e provavelmente os pais de Miranda também. Carter estava apenas fingindo que não sabia pra onde eu e Miranda estávamos indo.
—Sua mãe? - Ela olha meu celular. -Meus pais não param de me ligar, talvez pelo menos uma vez na vida espero que eles estejam conversando sem gritaria um com outro... Talvez o divórcio tenha sido uma boa ideia.
Fico prestando atenção na estrada, enquanto Miranda observava a ponte Britight e o rio abaixo da mesma.
—Isso é loucura sabia? - Ela indaga com um sorriso esboçado em seu rosto. - A gente saindo daquela cidade idiota e... Talvez tenhamos feito a escolha certa. Ficar longe de tudo.
Sabia que em parte ela estava se referindo as coisas que haviam acontecido com o meu pai e todo meu drama familiar.
—Eu disse a você que iria provar... Quer que eu grite pro mundo inteiro o quanto eu estou feliz por você estar aqui e o quanto eu amo você?
Meu celular começa a tocar novamente e percebo ser Carter. Escuto o barulho da chuva começar a bater na lataria do carro e volto a falar, ignorando a ligação:
—Vamos chegar em mais ou menos uma hora okay?
Carter e eu já havia planejado. Eu e Miranda iríamos até uma das cidades vizinhas e ela nos encontraria alguns dias depois e nos ajudaria a fazer o que quer que fôssemos fazer. Não tínhamos um roteiro traçado pra algo do tipo.
—Ei, sabe aquela... -Miranda começa a dizer, mas é interrompida quando uma claridade ofuscante inunda o carro e logo ao perceber, tento virar o volante.
Escuto o barulho e fecho meus olhos. Tento achar a mão de Miranda, mas a última coisa que consigo escutar é seu grito.
Tudo parecia estar em câmera lenta.
Fixo meu olhar no caminhão e logo em seguida minha visão embaça e sinto o carro girar duas vezes e cair com um estrondo forte no chão.
Fico por vários segundos tentando virar meu pescoço, mas uma dor agoniante preenche toda minha coluna.
—Miranda... -Sussurro baixinho. Tudo fica em silêncio e a única coisa que escuto frações de segundos depois é o barulho de uma buzina e o barulho de algo se quebrando.
Estávamos caindo.
A única coisa que escuto antes de apagar completamente é o barulho do carro afundando na água.
《》
Abro meus olhos lentamente e a claridade fazem os mesmos doerem. Fico por segundos tentando mexer qualquer parte de meu corpo, mas não consigo.
Carter se aproxima e começa a dizer:
—Ah meu Deus! Você acordou...
Ela se afasta e começa a gritar algum nome que não consigo ouvir.
Um médico se aproxima e começa a me examinar.
Tento falar algo, mas não consigo.
Carter estava no canto do quarto com os olhos cheios de lágrimas.
Forço minha memória tentando entender o que havia acontecido.
FLASHBACK OFF
Vou caminhando lentamente até a entrada do colégio, ainda inerte.
—Tobias...
Escuto Carter dizer, mas respondo rapidamente:
—Tá tudo bem.
Observo o jardim e a única coisa que consigo lembrar é a figura de Miranda parada me encarando. Todos os olhares se voltam para mim.
Vejo Nic e do outro lado do estacionamento.
Ashley e Trevor me encaravam como se nunca tivessem me visto. Tudo era estranho demais. Cada detalhe e cada visão daquilo me fazia ter mais certeza ainda de que tudo mudara.
Desvio meu olhar novamente para a figura de Miranda que me encarava sem qualquer expressão em seu rosto.
Meus olhos se enchem de lágrimas e fecho os mesmos por frações de segundos e tudo inunda minha cabeça novamente.
Minha volta... Miranda... Meu pai acusado de assassinato... Carter e Birdy... o baile... eu e Miranda fugindo. A única visão que consigo moldar em minha mente é Miranda sentada ao meu lado no carro enquanto conversávamos normalmente.
"Que tipo de garoto não sabe andar de skate?", a voz dela ecoa em minha mente, deixando tudo anestesiado demais.
Estou sentado ao seu lado. Minhas mãos seguram o volante firmemente enquanto tento dizer a ela todas as coisas que preciso dizer. Mas não consigo. Os flashs de memória em minha mente se transformam e o quarto de hospital é moldado enquanto estou deitado e Carter está sentada numa poltrona ao meu lado. Sua expressão é vazia.
Abro meus olhos e a figura de Miranda desaparece. Tudo me deixa inerte demais. Fico parado esperando que ela chegasse ali naquele exato momento.
Ashley e Trevor passam por mim e acenam lentamente com a cabeça.
"Me desculpa, por ter te ignorado esse tempo todo. Por não ter entrado em contato... Por agir como uma idiota, por inventar desculpas e te tratar como se você não fosse importante. Desculpa", a única coisa em que consigo pensar é no momento em que ela me havia dito isso há meses atrás no dia do baile.
Perco as esperanças em vê-la chegar. Ela não iria.
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