Lucky Ones escrita por Hamish


Capítulo 9
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E finalmente o último capítulo está postado. Espero que não fiquem bravos comigo por causa dele hahahah

Se você gostou da minha fanfic, peço que deixe uma "Recomendação", além de me deixar mega feliz, vai ajudar outras pessoas a encontrarem essa história que te agradou tanto.

Só gostaria de agradecer todo o apoio de vocês e prometo que o meu Desafio dos Trinta Dias sai daqui a pouco. Muito obrigada e espero que gostem do capítulo. Beijos.



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Cinco anos depois...

O vento gelado de Londres não conseguia bagunçar meus cabelos curtos enquanto eu descia do avião. Fechei meu casaco e segurei a bengala com força. Pisar novamente naquela cidade era estranho demais e familiar demais ao mesmo tempo. Desci as escadas com dificuldade e fui recepcionado por uma comissária de bordo, me indicando o caminho para o local onde retiraria minhas bagagens. Quase perguntei para ela de que bagagens ela falava, mas não queria ser grosso com alguém que só estava fazendo o seu trabalho. Meu celular gritava por atenção, me avisando que me enviavam mensagens. Eu havia ignorado minha irmã durante todo o tempo que passara no Afeganistão... Cinco anos, talvez? Não queria saber das merdas que ela havia feito com sua vida e dos hábitos que ela havia adquirido. Se ela achava que estava certa em ser uma alcoólica, o que eu podia fazer a respeito? Passei pelo portão de desembarque e vi que meus pais estavam me esperando. Cinco anos depois, eles ainda estavam ali por mim. Eles sorriam, pareciam extremamente orgulhosos com o filho que havia sido ferido em batalha e tivera que voltar para casa mais cedo.

– John – minha mãe falou, jogando os braços em volta do meu pescoço e molhando meu ombro com suas lágrimas – Ficamos tão preocupados. Harriet disse que você não tem retornado suas mensagens...

– Acho melhor não falarmos disso, querida – meu pai respondeu... Ele realmente parecia cansado, desgastado. A viagem até Londres era longa e eu ainda não havia entendido porque ele dirigira tanto sendo que eu iria pegar o ônibus até nossa casa – Como está o ombro, filho?

– Melhorando – falei com um meio sorriso nos lábios – Todo soldado precisa de uma cicatriz.

Meu pai pegou minha mochila, com um pouco de dificuldade (afinal, ele já não era tão jovem assim) e andamos juntos até o estacionamento do aeroporto. Eles me deixariam no apartamento temporário que o exército me arrumara no centro de Londres e voltariam para nossa casa.

– Trouxemos todas as tuas coisas, filho – minha mãe falou, passando o braço pela minha cintura e me abraçando apertado. Seu cheiro era reconfortante, me lembrava a minha infância. Seus cabelos brancos estavam tomando conta e ela já tinha marcas de expressão em volta dos olhos e da boca, mas continuava linda, continuava minha mãe – Já levei algumas delas para o teu apartamento, mas não deu tempo de organizar tudo já que chegamos bem em cima da hora para te buscar.

– Não se preocupe com isso, mãe – respondi beijando sua testa – Já fez mais do que deveria... Além disso, é só por um tempo. Eu vou arranjar alguém com quem dividir um apartamento de verdade logo. Quero começar a trabalhar logo.

– Por que não descansa um pouco, meu filho? – meu pai perguntou, abrindo o carro e colocando minha mochila no banco traseiro – Você acabou de voltar de uma guerra, pelo amor de Deus.

– Eu não posso ficar parado, pai – respondi, abrindo a porta do passageiro para que minha mãe se sentasse – Eu preciso de dinheiro para me manter.

– Você poderia voltar para casa... Sabe que o teu quarto vai estar sempre ali para quando você estiver a fim de voltar – falou minha mãe, se sentando no banco do passageiro e fechando a porta em seguida.

Suspirei e entrei no carro, sentando-me ao lado da minha mochila, a única bagagem que eu havia trazido do Afeganistão. Meus pais falaram sobre como meu apartamento era pequeno demais e que o meu quarto na casa deles era muito melhor, mas eu não estava mais escutando, estava ocupado olhando Londres pela janela. Senti um aperto no peito, me lembrando de tudo o que eu passara em tão pouco tempo. Cinco anos equivaleram a uma vida para mim. Cinco anos no Afeganistão, cuidando de pessoas, fazendo com que elas sobrevivessem mais um dia, permitindo que elas morressem com dignidade... Isso era importante demais para não mudar um cara. O carro andava por aquelas ruas que eu havia visto uma vez há muito tempo atrás. Aquela cidade velha havia deixado tantas saudades... Ela e uma outra coisa.

Me perguntei como ele estaria. Será que ele estava feliz? Será que já estava com alguém? Será que ele ainda se lembrava de mim? Claro que ele já estava com alguém, ele pode escolher qualquer pessoa do mundo que essa pessoa vai aceitar qualquer coisa que ele lhe pedir. Ah, mas como eu havia sentido sua falta. A lembrança dele me fazia aguentar mais um dia vendo feridas abertas e pernas amputadas, me fazia ter esperanças de que eu voltaria bem para Londres e que poderia vê-lo novamente. Segurei o cordão com as minhas dog tags e passei os dedos por elas. Meu nome estava gravado ali, junto com todas as minhas patentes. Eu não era o mesmo John Watson daquele final de semana, mas ainda queria a mesma pessoa ao meu lado.

Depois de um milhão de beijos e recomendações, meus pais me deixaram na porta do meu apartamento temporário, com duas caixas de roupas e a mochila que eu estava carregando desde que saíra do Afeganistão. Entrei no prédio, pensando no par de olhos azuis que me esperavam em algum canto daquela cidade velha.

...

– Alô – atendi o telefone, ainda um pouco sonolento.

– John Watson – uma voz masculina do outro lado do telefone. Pelo menos não era Harriet.

– Pois não?

– Aqui é Mike. Mike Stamford. Não acredito que você voltou e não me avisou - Mike? Quem era esse cara? Oh, sim. Fomos residentes juntos durante a faculdade... Senhor, faz tanto tempo assim? – Que tal tomarmos um café mais tarde para você me contar as novidades?

– Ah... Okay – respondi olhando para o relógio no meu pulso e vendo que já eram onze e quarenta – Uma hora da tarde, pode ser?

Desliguei o telefone. Talvez Mike também estivesse precisando de um colega de quarto e ficara sabendo que eu havia retornado de viagem e precisava me estruturar. Era muito legal da sua parte fazer algo assim. Tomei coragem para me levantar e me arrumar, tomar um banho, me tornar uma pessoa decente e não completamente amassada pelas várias horas que passara dentro de um avião sem sequer se mexer. Manquei até o banheiro e me arrumei com cuidado. Ainda não estava acostumado com aquela cicatriz no ombro ou com aquela necessidade de usar aquelas malditas bengalas. Me vesti bem rápido de deixei o apartamento sem trancar a porta ao sair afinal, quem se aventuraria a assaltar um prédio onde só militares recém-saídos de guerras moravam?

...

– Sentindo falta do clima pesado da guerra? – perguntou Mike me entregando o cappuccino que eu havia pedido. Eu não gostava nem um pouquinho dessa ideia de ser servido pelas pessoas, mas agora que usava bengalas elas pareciam fazer questão de ir pegar as coisas para mim. Não... Isso não é necessário! – De todo aquele barulho, pressão psicológica?

– Sim, já estou – falei, tomando um golinho do cappuccino e percebendo que ele ainda estava muito quente. O deixei de lado para que esfriasse um pouco mais – Por isso quero arranjar um emprego logo... Vou acabar pirando se ficar curtindo demais a minha licença médica. Eu sei que não deveria, mas eu quero muito voltar a trabalhar. Me sinto inútil parado em casa... Isso se eu tivesse uma casa.

– Como assim? Não está em um daqueles apartamentos do exército?

– Eu estou, mas aquela porcaria é temporária... Não posso passar o resto da vida morando naquele prédio. E eu nem quero isso... Tem noção de qual foi a última vez que limparam aquele lugar? Isso se já o limparam alguma vez na vida... Cruzes, eu preciso de um lugar decente para morar.

– Já tem ideia de onde? – perguntou ele bebendo seu café sem nem se incomodar com a temperatura. Talvez o meu já estivesse frio o suficiente para beber também. O levei aos lábios e vi que já estava melhor, dei um gole e senti o delicioso gostinho de chocolate no fundo. Ai, que saudade que eu havia sentido de um verdadeiro cappuccino.

– Não tenho nem ideia de com quem vou dividir um apartamento nessa cidade em que tudo é tão exorbitantemente caro... E, sejamos francos, quem moraria comigo?

– O engraçado é que você é a segunda pessoa que me pergunta isso hoje – Mike sorriu, limpando a boca com um guardanapo – Talvez eu possa apresentar vocês dois... Vai que vocês decidem dividir o aluguel em algum apartamento perto do St. Barts?

– Ok... Será que essa pessoa poderia nos encontrar algum dia desses? – perguntei, tomando mais um gole do meu cappuccino – O quanto mais rápido melhor, não suporto aquele apartamento fedido em que eu tô morando.

– Acho que tenho uma ideia de onde ele está.

...

Quando Mike me levou para o necrotério do St. Barts eu não sabia o que esperar. Na verdade, eu estava pensando em algum médico legista esquisitinho ou algum residente que acabou de sair da casa dos pais e está querendo provar que consegue se virar sem a ajuda deles. Não sei, mas não estava esperando grandes coisas. O segui até o laboratório onde as biópsias eram feitas. Quando Mike abriu a porta, uma menina bem jovem, passando a manga do guarda-pó nos lábios pintados de vermelho, nos encontrou. Ela arregalou os olhos, que já eram bem grandes, como se não entendesse o que alguém pudesse fazer naquele lugar.

– Oh, vocês são clientes? – Ela tirou o braço da frente dos lábios e pude ver que ela sorria, exibindo os lábios ainda meio pintados de batom vermelho – Ele está ali dentro e eu voltou já já.

Ela se afastou, sorridente e voltou a tirar o batom de sua boca, irritando-se em seguida quando reparou que batom vermelho e guarda-pó branco não eram a melhor combinação para se lavar depois. Entramos no laboratório e de repente tudo ficou paralisado na minha frente. Mike falava, mas eu já não escutava mais ninguém, nem ele, nem os carros lá fora, nem a tranquila música ambiente que tocava, nem o barulho das máquinas utilizadas nos exames, tudo o que eu conseguia ver ou prestar toda a minha atenção, era no homem que estava olhando para duas amostras em um microscópio. Li nos lábios de Mike aquilo o que eu mesmo estava querendo dizer mas não conseguia.

– Sherlock?

O homem nos olhou, com os olhos azuis meio envermelhados por conta do esforço que ele estava fazendo na análise das amostras. Seu olhar passou de Mike para mim extremamente rápido. Seus lábios finos se entreabriram e ele também não conseguia dizer nada. Mike nos olhava, mas já não prestávamos atenção. Era como se o mundo tivesse parado e só existisse eu e Sherlock em toda a sua imensidão.

De repente, a porta do laboratório bateu e os dois voltaram para a realidade. Ele limpou a garganta, extremamente sem jeito e eu sorri, ainda sem acreditar naquilo o que meus olhos estavam vendo. Era ele... Não podia ser ele mesmo. Tínhamos tanto o que conversar, tanto o que colocar em dia. Eu não sabia se ele ainda se lembrava de tudo o que havia acontecido, de todas as promessas, de todos os beijos... Mas eu me lembrava e olhar para aqueles olhos novamente, me fez lembrar de que aquele havia sido o meu estímulo para sobreviver durante todos aqueles anos em campo de batalha. Sherlock abriu os lábios, ainda com um leve sorriso e perguntou, com as mãos levemente trêmulas em cima do microscópio.

– Afeganistão ou Iraque?

FIM


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