Sangue Divino escrita por Bianca Bittencourt


Capítulo 27
Cap. 27 - A Luz e a Noite.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. Espero que gostem.

PVO Nathan Sunform



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/517549/chapter/27

A voz cortou o ambiente e logo levantei a cimitarra, apesar de saber que é uma medida provavelmente inútil, já que não vejo nada. Devido à maldita descendência ao Deus do Sol, um pai incrivelmente distante, tenho medo do escuro e isso não ajuda em muita coisa, mas é claro que aprendi depois de alguns anos a esconder isso muito bem, ninguém nunca vai precisar saber. Sem contar que, aqui, tenho minhas motivações para engolir meu medo, não estou sozinho, estou com duas garotas com quem me preocupo.

Sophie e Marie são como irmãs para mim, provavelmente nunca direi isso em voz alta, mas me importo demais com elas para deixar com que algo as machuque, principalmente com Marie... Eu nem sei como me sinto perto dela, é estranho, mas sinto uma necessidade absurda de protegê-la e ao mesmo tempo me controlo porque tenho que lembrar que ela nasceu uma heroína, tem que aprender a lutar. Ainda assim é estranho. Nunca me senti assim com nenhuma das minhas amigas do orfanato, e protegia todas as pequenas, não suporto pessoas que incomodam crianças, principalmente meninas sensíveis. Mas não é assim que eu me sinto perto de Marie, é mais forte, e eu sei que ela sabe se defender, não é uma criança inofensiva. Constantemente digo a mim mesmo que deve ser porque ela é uma irmã para mim, afinal, nunca me atrevi a chamar Percy de pai, mas é isso que ele sempre vai representar para mim, e Courtney Marie é a filha dele, de automático, é como minha irmã. Não sei porque me decepciono quando afirmo isso. Ela faz com que eu me sinta confortável, é uma garota incrível, linda, inteligente, não gosto de vê-la mal, mas não é como se fosse atravessar a linha em que determinei que faria tudo por ela porque é minha irmã. Mas às vezes me pego pensando se é isso que eu quero... só isso...

Meu ombro lateja ainda mais com o peso da cimitarra. Depois de lutar com um monstro aparentemente peludo, mas invisível, comecei a sentir o peso da cimitarra. Dói. Eu bati meu ombro na entrada da caverna, o do braço com que luto melhor, ele está latejando levemente desde lá, mas nem tenho como me dar ao luxo de me importar ou pensar nisso. O sexto sentido que desenvolvi relacionado ao perigo da escuridão, não é novidade para mim, só não quis me exibir dizendo que sabia usá-lo, e muito bem, desde os seis anos de idade, é apavorante, porém ajuda muito. Agora, esse sentido apita em meu cérebro como luzes de Natal, pisca fortemente, faz meus pensamentos enevoarem, nunca o odiei tanto quanto agora.

– Por que tão quietas? – A voz diz novamente. Nunca ouvi uma voz tão cortante antes, mas sei que é ela. É Nyx. Tenho certeza. – Sabe meninas, é divertido recebê-las, mas trazer um filho de Apolo é uma tremenda ofensa a mim. Eu vou matá-lo. – Ouço alguém arquejar, poderia ter sido eu, porém não foi. – Mas antes podem me importunar um pouco, isso aqui é completamente entediante. Odeio esses períodos onde subo a Terra para observar. Mortais são mais repugnantes que insetos. Sabem... para maior parte das criaturas que vivem no Tártaro, não é agradável, mas para mim... – ela ri. – É o paraíso, crianças, eu tenho meu palácio lá, não sei porque continuo marcando domínio aqui. – Nyx desdenha. Me controlo para não largar a espada e tapar os ouvidos, toda vez que ela fala é como se alguém arranhasse uma lousa com as unhas e produzisse palavras.

– O que você quer? – Ouço Marie dizer.

– O que você quer? – A Deusa responde. O tom venenoso que ela usou contra a filha do Percy me incomoda.

– Eu... eu... não sei. – Ela responde, o tom frágil de sua voz me faz quer saber onde ela está, me colocar em sua frente, confortá-la de alguma forma. - Simplesmente sei que tinha que estar aqui.

– Um desejo súbito de morrer e levar alguns amigos com você? Por que, querida, vocês não vão sair daqui.

– Está tão segura assim disso? – Digo.

– Obviamente. – Quase consigo imaginar o sorriso no rosto da noite. - Vejam, o filho de Apolo é também atrevido. Vai ser o primeiro a morrer. – Nyx não me assusta, me enoja. Meu rosto se contorce em fúria, por mais que eu não saiba se alguém pode ver. – Mas estou curiosa, o que pretendem aqui? Chegaram bem a tempo de me encontrarem na verdade, essa noite, volto ao meu palácio. Como será que conseguiram ser crianças tão azaradas assim? – Ela ri.

A pergunta me incomoda, mas pensei varias vezes a mesma coisa. Por que Marie insistiu em vir aqui? Estava na profecia, é verdade, mas não temos garantia nenhuma de que vamos sair, afinal, estamos muito abaixo do solo e esse é o domínio dela. Começo a respirar pesadamente, o ar parece mais denso, mas tenho que me manter firme como nunca. Reúno minhas forças e digo:

– Você me enoja sabia? Percy e Annabeth são o orgulho olimpiano, eles salvaram o mundo, e o que eles ganharam? Foram afastadas da filha antes mesmo dela nascer por uma deusa que não aceita perder!

Não fez sentido. Isso foi ridículo. Mas não suporto que Nyx concentre a atenção em Marie.

– Acho sua presença tão insuportável e desnecessária filho de Apolo. – Odeio quando ela me enfatiza pelo meu pai, mas não vou dar a ela o gosto de saber meu nome, ao desse jeito. – Acho melhor te matar e depois conversar com as duas mocinhas antes de me entediar de vez com vocês todos e matar elas também.

Percebo que a voz vem de cima. Nyx deve ser enorme e como o teto é baixo, suponho que a nossa frente tenha uma parte bem íngreme a ponto de ser quase um penhasco, e lá no fundo, estão os pés da deusa, se ela tiver. Consigo imaginar... não é agradável.

– Se matar ele eu não falo mais nada. – Afirma Marie. Ela ficou maluca? Por que ela voltou à atenção para se mesma de novo? O que ela tem na cabeça?

– Então a matarei em seguida. – Diz a deusa. Arrepio involuntariamente.

– Não vai fazer isso. Quer me ouvir. – Marie diz, mas eu consigo sentir que sua certeza fraqueja. Eu gostaria desesperadamente de saber onde ela está.

– O que te garante que não vou mudar de idéia e te matar agora mesmo? – Indaga Nyx. - Está começando a me irritar, garota, é tão repugnante como sua mãe.

– Não ouse falar dela. – A filha de Annabeth diz com raiva. Sorrio, mas logo volto à expressão séria, não há motivos para sorrir, não nessa situação. - Repugnante é a senhora, pior que muitos monstros, e aposto que mais feia também.

– Não diga bobagem, sou quase tão bela quanto Afrodite. – Nyx desdenha.

Reconheço o som doce da risada de Sophie.

– Quer mesmo ser comparada a minha mãe? – Pergunta a filha de Afrodite.

– Quieta bonequinha, você estava se comportando tão bem. – O som da pesada inspiração da deusa preenche o ambiente e o vento, já quase inexistente, parece esfriar. - Olha não sei o que esperavam aqui, se esperavam minha bondade ou piedade... – Ela ri maliciosamente. – são realmente crianças ingênuas e desesperadas. Nada que tenham a me dizer vai me entreter. A questão é, deixo você, sangue de Atena, sair daqui para que seus pais continuem sofrendo por toda a vida ou será que será mais vantajoso matá-la, qual das opções será que vai proporcionar mais sofrimento a eles?

Ouço alguém engolir em seco, Marie com certeza.

– Não vai tocar em um fio de cabelo dela! – Digo em voz alta. Minha voz ecoa.

– Vejo que matá-la vai atormentar você, não é, filho da luz? – Ela ri. – Talvez é o que eu deva fazer, ver você sofrer vai ser divertido.

– Você não vai encostar nela. – Afirmo, não sei de onde tirei tanta confiança. - Sua maldição idiota pode continuar seguindo ela, mas mais que isso você não vai fazer.

– Ficou maluco? – Sophie sussurra.

Uma calma me invade. Não tenho medo nenhum. Eu sinto que posso defendê-las. Toda raiva que estava sentindo se esvai, e me pergunto se estou me tranquilizando e aceitando morrer. Não, não, não. Marie... Sophie... não posso deixá-las morrer. Olho para baixo. Minha mão emite um brilho leve. Como... ? Não importa. Finalmente temos alguma esperança de sair daqui. Respiro fundo e me acalmo mais, sinto como se meu corpo ficasse oco e começo a ser preenchido por eletricidade. Sinto faíscas estalarem dentro de mim. O chão a minha volta se ilumina com uma luz que sai das minhas mãos. Volto uma mão para cima e vejo ela... Marie, está com uma expressão completamente assustada. Tenho que tira-la daqui. A luz que sai das minhas mãos se intensifica. Concentro-me e levanto as mãos para o alto.

– Um dominador de luz. – Murmura Nyx entredentes.

Não sei o que isso significa nem nunca ouvi falar sobre, mas isso não importa, eu consigo irradiar luz e isso vai nos tirar daqui. A Noite não suporta Luz. Tenho vantagem. Pela primeira vez, agradeço meu pai pela descendência que me deu, se isso vai fazer com que nós três possamos sair vivos daqui, ou tentar nunca mais reclamar do meu pai na vida.

– Marie! Pega a mão da Sophie. Agora! – Grito. Ela obedece na hora, ainda com a expressão assustada.

Volto minhas mãos para região onde sei que Nyx está e fecho os olhos para não ter que vê-la, não fui rápido o bastante e visualizei de relance a enorme figura pálida de cabelos negos ondulados e olhos tão escuros quanto a túnica preta simples que está usando. Lanço a luz em direção aos olhos da deusa, que solta um grito agonizante. Corro e agarro a mão de Marie, que por sua vez, já está agarrada a mãe de Sophie. Disparo na direção pela qual viemos. Graças aos deuses esse lugar não tem bifurcações. Enquanto corro continuo com uma mão voltada para a deusa, para afastar o olhar dela.

Os degraus aparecem e começa a se tornar difícil subir correndo sem ver o que há na frente, já que minha mão livre está voltada para trás.

– Pega no meu braço. – Sussurro à Marie. – Preciso liberar minha mão. – Ela o faz sem hesitar, seus dedos apertam meu braço com força, mas isso não me incomoda, é bom sentir que ela está perto o bastante para que eu possa protegê-la.

Os gritos de Nyx fazem coro aos nossos passos apressados. Continuo correndo numa velocidade que surpreende até a mim mesmo, com uma mão voltada para frente e outra para trás e puxando as meninas comigo, não paro até conseguir visualizar a saída.

Apago as luzes em minhas mãos e agarro as mãos de Marie e Sophie com força. Puxo-as por um tempo a mais, até nos distanciarmos da entrada da caverna, a luz da Lua parece brilhar como nunca. Quando paro e as solto, Sophie desaba no chão e Marie se agarra ao meu braço e se apóia em mim, me obrigo a sustentar o peso dela. Respiro controladamente enquanto Marie arfa como um cachorrinho, mechas de seu cabelo se emaranham na frente dos seus olhos e eu as afasto. Os olhos verde mar acinzentados me encaram com pura gratidão.

Os braços de Marie agarram meu pescoço e ela me abraça, provavelmente, o mais forte que pode depois do que acabamos de sofrer. Ouço sua respiração pesada e passo a mão carinhosamente por seus cabelos loiros que no meio de toda essa corrida se soltaram da trança que ela havia feito.

– Isso... foi... impressionante, Nathan. – Diz Sophie.

– Também achei. – Confesso.

– Nunca tinha feito isso antes?

– Não mesmo.

– Uau.

– Pois é.

– Deve ser algo extremamente raro porque nunca ouvi falar em dominadores de luz. Se os de fogo já são raríssimos, os de luz devem ser lendários.

– Acho que agora você está marcado na história, Nathan. – Sussurra Marie, ainda abraçada a mim.

– Acho que sim. – Digo sem emoção, mas dou um sorriso torto, não consigo evitar. – Melhor voltarmos ao barco, lá pensamos no que fazer.

A filha de Percy assente triste e se afasta. Sei que suas esperanças devem ter despencado hoje, mas não vou deixá-la ruir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Favoritem, recomendem e acompanhem ;)
Faltam só 4 acompanhamentos para cumprirem a meta ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sangue Divino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.