Projeto Mutante escrita por Bianca Vivas


Capítulo 2
O Projeto Secreto


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas!
Esse capítulo vai trazer alguns personagens novos e, mais importante, vai mostrar a vocês o lindo e maravilhoso Viktor. Podem se apaixonar por ele, eu deixo hihi



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Ele estava bêbado mais uma vez. Não sabia como ou quando aquilo acontecera. Lembrava-se apenas de ter brigado com Catarina e ido à casa do Nogueira, na Zona Leste. Agora, encontrava-se em seu próprio apartamento, sentado no sofá velho com uma garrafa de Bourbon na mão.

O telefone tocou, tirando-o daquele estado deplorável de semiconsciência. Viktor deixou que caísse na secretária eletrônica. Ela fora ideia de Catarina e agora se mostrava bem útil, já que ele não queria falar com ninguém.

— Ei, camarada — a voz de Nogueira saiu do autofalante. — A ressaca já passou? Espero que não fique chateado por eu não ter te dado um banho, sabe? Ia ser meio... constrangedor — então ele parou e parecia que estava com outra pessoa. Quando voltou, estava mais sério: — Olha, o chefão tá aqui pedindo pra tu vir pra base, já! Entendeu super-homem? Pra base agora, e nada de desculpinhas. Ninguém mandou beber demais.

Viktor pegou o telefone, antes que a ligação terminasse e deixou sua resposta:

— Vá à merda! — Jogou o aparelho no chão e voltou a beber.

Meia hora depois, ou pelo menos achava que se passara meia hora, alguém começou a dar pontapés na sua porta. Viktor ignorou. Talvez, se não tivesse resposta, a pessoa fosse embora. Então, ele poderia voltar a beber aquele Bourbon maravilhoso e voltar ao mundo de sonhos que o aguarda quando se embriaga. Um mundo onde não existiam pesadelos, medos e decepções. Onde Catarina não existia.

— Se não abrir, eu vou arrombar! — Uma voz masculina veio do outro lado da porta — Estou avisando!

Dane-se”, pensou Viktor. O estrago maior estava dentro dele mesmo. Apenas ignorou e continuou a beber.

Um barulho forte demais ecoou pela sala e Viktor deixou a bebida cair no chão. A garrafa estilhaçou-se, enchendo o carpete sujo da sala com cacos de vários tamanhos.

Dois homens fardados — um deles com a roupa do exército — apareceram no batente da porta que não existia mais. Passaram por cima do pedaço de madeira caído no chão e encararam Viktor.

— Eu avisei que iria arrombar.

Viktor bufou. Levantou da cadeira e foi até a geladeira, no cômodo ao lado. Abriu-a e tirou dali três cervejas. Ofereceu-as aos dois homens.

— Eu não bebo em serviço. Você sabe disso. — Disse Nogueira, recusando a bebida.

Viktor teve que rir. Era a maior mentira que já ouvira em toda vida. O delegado Nogueira vivia com uma cerveja na mão. O tempo inteiro. Só estava dizendo isso porque aquele cara do exército estava ali. Era seu melhor amigo, mas também era um babaca.

— Pega logo essa porcaria, delegado. O fardado não vai te prender por isso. — Viktor disse, empurrando a cerveja para o outro homem.

— O fardado aqui tem nome — resmungou o homem desconhecido e estendeu a mão para Viktor — Coronel Felipe Ferreira, prazer.

Viktor não apertou a mão do coronel. Apenas colocou ali a bebida.

— Espero que não me prenda por isso — riu e virou a garrafa inteira na boca.

O Coronel Ferreira o imitou e, nervoso, o Delegado Nogueira repetiu o gesto.

Viktor jogou-se novamente no sofá e cruzou os braços. A feição mais ou menos amigável que tomara conta de seu rosto segundos atrás havia ido embora. Agora estava irritado.

— Ok, podem começar a falar — olhava de um homem para o outro — de quem foi a maldita ideia de arrombar a porra da minha casa, enquanto eu estou bêbado? Se eu não estivesse de bom humor, pode ter certeza que eu explodiria esses miolos de vocês com a minha amiga — e mostrou a eles o revolver que vivia ao seu lado.

O Delegado Nogueira abriu a boca para explicar a situação, mas o Coronel Ferreira o interrompeu.

— Sabe que eu posso lhe prender por desacato a autoridade, não sabe Detetive?

— Sei — respondeu o detetive, levantando-se e pondo-se face a face com o Coronel. — E sei também que você não vai fazer isso, porque precisa de mim.

— E o que te leva a pensar isso?

— Você veio atrás de mim. — Viktor se jogou novamente no sofá. — O exército nunca procuraria um detetive bêbado, desobediente e irresponsável igual a mim. Tem milhares de outros que fariam tudo o que vocês mandam sem questionar porque morrem de medo de ver suas bundas preguiçosas sentadas atrás das grades. — Viktor deu de ombros. — Você só está aqui porque não tem opção. Não vai me prender.

O Coronel Ferreira pareceu considerar aquilo por algum tempo. O Detetive era muito mais inteligente do que pensara. Teria trabalho com ele. Olhou para o Delegado Nogueira, que tremia de medo pensando no que Viktor poderia fazer — ele era seu subordinado mais rebelde, desrespeitava tudo e todos. Queria obter uma resposta do chefe de Viktor, mas percebeu que não a teria. O homem era um pau mandado do próprio detetive.

— Acho melhor discutirmos isso na sua delegacia, concorda delegado?

— Er... — Nogueira fora pego de surpresa. Não esperava aquela sugestão. — Claro, claro, claro. Eu dirijo.

Viktor se levantou contra a vontade e seguiu o Coronel Ferreira e o Delegado Nogueira. O carro estava duas ruas abaixo da dele. Provavelmente os dois não queriam que ninguém soubesse dessa visitinha.

Os três permaneceram em silêncio até chegarem à delegacia. Viktor saiu do carro e bateu a porta. O som ecoou e o Coronel e o Delegado se entreolharam. Foi uma conversa curta e silenciosa, através de olhares e do tipo: “eu te disse”; “eu não vou desistir”. Em seguida, também saíram do carro e seguiram Viktor.

Foi só o Detetive entrar na delegacia que um menino com a camiseta do Flash surgiu na sua frente, falando sem parar e rápido demais, deixando o Coronel e o Delegado atônitos:

— Eu juro que não foi minha culpa. Juro mesmo. Foi ele quem começou — apontou para um garoto magricela que estava sentado num dos bancos de espera.

— Mas que diabos...? — Viktor perguntou, olhando dos meninos para o policial que, aparentemente, cuidava dos dois.

— Brigaram por causa de um jogo que estava em liquidação numa loja do shopping — disse o policial, dando de ombros — O que eu faço, Detetive Viktor?

— Libera o magricela — disse Viktor — e manda o outro para a minha sala.

— O quê? — O menino que vestia a camiseta do Flash quase gritou — Mas eu sou seu quase parente! Eu sou primo da Cat! Você não pode fazer isso!

Viktor virou-se irado, apontou o dedo na cara do garoto e urrou:

— Nunca mais fale ou insinue a existência dela na minha frente! Ouviu bem? — Ele assentiu tremendo e Viktor voltou-se, mais calmo, para o policial: — Pensando bem, manda o pivete pra uma das celas até segunda ordem.

O menino magricela riu e o outro saiu resmungando, escoltado por dois policiais. Viktor foi para sua sala, irritado. Foi seguido pelo Coronel e pelo Delegado, que nada entenderam da cena que viram. Por isso, assim que a porta da sala de Viktor se abriu Nogueira exigiu explicações.

— Como você libera um meliante e manda outro pro xadrez sem nem ao menos saber o que aconteceu? — Explodiu.

— Eu sei o que aconteceu. Não preciso de investigações.

— Mentira! Você está agindo assim apenas porque o menino é primo da Catarina.

Viktor riu azedo.

— Perdão, delegado, mas eu sei fazer meu trabalho. Samuel começou a briga e o moleque magricela veio provocando até aqui. — Então, deu de ombros, como sempre faz quando quer mudar de assunto. — Essa cena se repete desde que os dois são crianças.

— Sem querer me intrometer — o Coronel interveio —, mas pelo que parece, detetive, está levando em consideração as emoções que esta tal de Catarina desperta em você e o passado...

— Estou levando os padrões em conta, Coronel! — Viktor o interrompeu impaciente e esmurrou uma das paredes.

O Coronel o olhou surpreso. Nunca ninguém falara assim com ele antes. Até mesmo o Delegado Nogueira, que já estava mais que acostumado as explosões do Detetive, tomou um susto com aquela reação. Ao perceber os olhares dos dois homens, Viktor tratou de respirar fundo e se acalmar. Então, com a voz contida, disse:

— Olha, vamos fazer um acordo. Vocês falam logo o que querem e eu pago uma rodada de cerveja no fim da tarde, feito?

Como nenhum dos dois respondeu nada, Viktor acreditou que eles concordaram. Abriu os braços indicando as duas cadeiras a frente da sua mesa e foi para sua grande poltrona de detetive.

— Direto ao ponto — pediu, antes de se curvar sobre a mesa, como um policial investigando um caso intrigante, no estilo daqueles que acontecem em CSI.

O Coronel Ferreira foi quem primeiro falou, com a voz alta e grave de um homem de meia idade em plena forma física.

— Filho, o governo está com um projeto novo na área de inteligência e segurança internacional. O exército, a aeronáutica e a marinha foram convocados para dar suporte ao projeto. Mas, mesmo com todo o poderio dessas três forças conjuntas, ainda falta a peça chave para tudo funcionar. — Ele parou um pouco e olhou no fundo dos olhos de Viktor, para causar um efeito maior. — O governo quer criar uma agência de superespiões. Uma espécie de serviço secreto com pessoas treinadas para descobrirem o que nossos inimigos pensam, quais são seus planos e para nos ajudar a decidir o lado mais favorável numa guerra. Mas, para isso, precisamos de pessoas especiais. Precisamos de gente com habilidades especiais. Que sejam as melhores no que fazem.

Viktor não parecia satisfeito com o anúncio do Coronel e sabia muito bem aonde aquilo iria parar. Era por isso que precisavam dele. Nogueira, ao olhar para o Detetive, entendeu que ele não aceitaria a proposta de jeito nenhum. Viktor já se achava uma marionete nas mãos do governo apenas por fazer parte da polícia. Entrar para uma agência secreta seria a morte para ele. Resolveu tomar as rédeas da situação.

— Viktor, como seu amigo, eu te digo: será algo ótimo para a sua carreira. E nessa primeira fase, será apenas treinamento para te aperfeiçoar. Você será como um policial de elite quando isso acabar.

— E depois? Depois do treinamento? — Ele se levantou e olhou para a porta, mas a sua mente estava muito distante.

O delegado abriu a boca para responder, mas Ferreira tomou a frente.

— Depois você terá a oportunidade de combater o crime numa escala que jamais imaginou. Não serão mais casos de briguinha por jogos de videogame em liquidação que você irá investigar. Será o crime organizado como um todo. Você poderá combater as quadrilhas que agem internacionalmente. Você honrará a nossa pátria.

Viktor riu na cara do militar.

— Fala como um verdadeiro norte-americano, Coronel. — E riu mais uma vez. — Mas nós somos brasileiros. E eu não sou patriota. Na verdade, estou me lixando para essa merdinha de país. Então, procurem outro detetive. — Ele levantou-se e foi em direção a porta, e quando já estava prestes a virar a maçaneta, lembrou-se de algo: — Não se esqueçam, no bar de sempre ao fim da tarde.

E saiu.

Pretendia sair sem parar para falar com ninguém, porém se lembrou de Samuel, que ainda estava preso. Assim, chamou o policial que estava mais perto e disse-lhe para soltar o menino sem anotar nada em sua ficha, logo nas primeiras horas da noite. O policial falou que obedeceria a ordem e Viktor saiu da delegacia.

O sol estava impossibilitando sua visão, por isso parou na calçada, esperando os pontos pretos sumirem. Sempre que saia de uma delegacia ou presídio, precisava fazer isso. Parecia ser algo intrínseco a esses lugares de prisão. Eles te fazem estranhos à luz do sol.

Quando estava prestes a seguir caminho, o Delegado Nogueira surgiu e segurou seu ombro. Quando Viktor sentiu o peso no braço, logo se virou.

— O que você quer? — Perguntou agressivamente assim que reconheceu seu chefe.

— Calma, garotão — disse o delegado. — Só acho que você deveria reconsiderar a proposta do Ferreira. É uma ótima oportunidade.

— Sério? — Viktor ficou com mais raiva ainda. — Você sabe muito bem que eu não vou aceitar a porcaria daquela proposta. Está perdendo o seu tempo, delegado.

— E se eu tiver um motivo muito forte para você aceitá-la?

Viktor levantou as duas sobrancelhas. Não estava curioso, apenas se preparava para mais hipocrisias. Contudo, Nogueira abaixou a voz antes de falar e o detetive ficou um pouco intrigado.

— Veja bem, eu não falei nada para o Coronel, mas não acho que ele seja burro. Você só foi escolhido porque é muito bom em tudo. Ele deve desconfiar de que você não é como os outros e com certeza vai querer te estudar e te testar. E, acredite, eu não lhe diria para entrar nesse programa caso não achasse que você pudesse ter alguma chance de escapar de tudo isso quando acabar. — Nogueira parou para respirar e abaixou ainda mais a voz antes de continuar a falar. — Eu sei que há alguns riscos, mas eu acho que essa talvez seja a única chance que você vai ter para descobrir o que é e o porquê de poder fazer tudo isso.

Então a depressão causada por Catarina foi embora. A raiva de Samuel sumiu. O ódio do Coronel pareceu nunca existir. A possibilidade de entender porque ele consegue ser tão melhor que todos os outros policiais do mundo ativou uma parte de seu cérebro que estava há muito tempo hibernando. A parte responsável pela esperança.

Desde pequeno sempre foi muito bom em correr. Afinal, precisava de velocidade para fugir dos meninos grandes que teimavam em persegui-lo. Ele também nunca ficou doente na vida e sempre que apanhava muito dos garotos mais velhos, aparecia sem um hematoma na pele no dia seguinte. Sempre encarou isso como pura sorte e nunca deu maior importância a essas pequenas habilidades. Contudo, quando completou dezoito anos e ingressou no exército, percebeu que o que fazia nada tinha a ver com sorte. Ele conseguia fazer coisas que nenhum outro homem conseguia. Logo se tornou o melhor oficial de sua base. Desde então vinha tentando descobrir o motivo de ser tão habilidoso.

Agora, ele tinha a chance perfeita. O único problema é que isso o colocaria ainda mais nas mãos do governo e das instituições militares. Ele já era uma marionete do sistema. Não queria se afundar ainda mais na lama. Seu único desejo era trabalhar o suficiente para se aposentar com um salário bom e se livrar daquela podridão toda. Então, por mais tentadora que a oferta fosse, Viktor olhou no fundo dos olhos de Nogueira e, no seu tom mais sério, disse:

— Eu quero que o Coronel Ferreiro e esse seu projetinho secreto vão se fuder.

Viktor bateu a porta e arrancou com o carro, decidido a ir atrás de Catarina. Ela valia mais a pena que um projeto secreto do governo federal.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O que precisa ser melhorado? Alguém tem alguma sugestão? Ou dúvida? Podem comentar gente, eu gosto de receber comentário haha
Ah, um pequeno spoiler pra vocês: no próximo capítulo terá uma personagem nova! Uma personagem bem importante por sinal. Então, fiquem ansiosos ~isso foi uma ordem~
Obrigada por lerem e não se esqueçam de comentar ;)



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