Capítulo 7

Hoje na aula de artes eu fui fazer o que o professor me mandou, faria um desenho livre, eu não tinha a mínima ideia do que eu poderia fazer.

— Hazel busque inspiração dentro de você, sonhos, o que você queria, algo especial.

— Não é tão fácil assim. — coloquei meus fones de ouvido novamente na música que andava em minha mente. Say Something a great big world & christina aguilera

O que o professor não sabia era que eu não tinha sonhos, isso poderia soar triste, mas não tive muito tempo de pensar em sonhos, nem mesmo o transplante o qual eu fiz, eu sonhava, desejar algo também não. Eu tinha uma bela família e agora eu teria que aprender a conviver com um futuro ao qual nem ao menos estava preparada.

E foi nesse momento que uma imagem se formou em minha mente.

O grafite em minhas mãos parecia ter vida própria, eu comecei a desenhar nem sabia o que significava, porém eu estava animada com o resultado, que estava chegando.

As grandes asas do tordo estavam abertas e ele tentava subir mais alto, além do sol, além do que ele queria ir, porém algo o impedia, ele estava em uma gaiola, e as asas bateram com tanta força que ficaram feridas. Eu não estava fazendo um desenho colorido, mas mesmo sem o vermelho eu podia sentir como se o sangue escorresse dele, era como se os meus dedos estivessem sedentos de colocar para fora a imagem que se formava em minha mente.

O tordo enjaulado querendo voar, querendo viver.

Assim que o sinal anunciou o fim da aula, eu encarei meu desenho, olhei meus dedos escuros do grafite e foi ali que eu percebi algo sobre meus sentimentos, algo que nem ao menos eu sabia.

A jaula era a única coisa que impedia o Tordo de voar. Ele poderia até se ferir, porém não desistiria. Não era o mundo que me detinha, ele me deu o sol, me deu um coração novo, a jaula nada mais era do que feita por mim mesma. Eu era a jaula, reprimindo a vida, eu não podia ficar mais assim, pois ganhei uma oportunidade que muitos almejam a cada dia, mas eu me sentia mal por não achar que merecia algo tão grande em minha vida.

Por que eu sempre me sentia enjaulada? Sentindo que eu não deveria estar aqui? Minhas mãos foram ao meu peito e fiquei pensando: quem foi a dona do coração? Que vida ela tinha? O que a aguardava?

Por que a vida de alguém teve de ser interrompida pela metade, e porque eu deveria ter a chance de viver?

Saí da sala deixando o desenho em seu pedestal, mas ele não saiu de minha cabeça. Durante a aula de história eu não conseguia me concentrar, eu precisava voar, mas como soltar o tordo quando os sentimentos que o enjaulavam estavam tão arraigados?

— Devemos combinar um dia para o trabalho.

Olhei para cima e Tobias estava virado em minha direção.

— Tudo bem. — dei de ombros e continuei a escrever as respostas do exercício que a professora passou.

— Estou falando sério Hazel, não gostei da ideia de fazer o trabalho com você sabendo que me odeia, mas temos de fazer!

— Eu não te odeio. — falei normalmente.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Tá, eu não morro de amores, mas odiar é uma palavra muito forte.

— Tanto faz. Olhe, como teremos jogo hoje, sábado não tenho treino.

Quando ia confirmar, lembrei-me da reunião da comissão.

— Sábado tenho compromisso à tarde, não posso.

— Então, domingo?

Domingo era restrito a família, mesmo eu sempre estando com eles, porém acho que meus pais não iam se importar por se tratar de um trabalho. Então eu respondi:

— Na minha casa então domingo.

— Na sua? Por que não na minha?

— Porque sou uma garota e você um garoto!

— Não é como se eu fosse te agarrar não é mesmo? Então me passe seu endereço depois lá pela rede social, vou entrar naquela merda hoje, me mande mensagem privada.

— Ok.

— Ok.

Ai que menino estúpido!

A raiva se instalou com a forma que ele proferiu a frase "não é como se eu fosse te agarrar". Como se eu fosse alguém que não o interessasse sexualmente, não que eu quisesse causar isso, mas eu era uma garota oras, isso feria parte de meu ego.

Assim que saímos da sala, Christina veio até mim com sua animação contagiante.

— Vamos a sua casa antes do jogo. Você pega suas coisas e voltamos para o ginásio!

— Tudo bem.

Entrei no carro de Christina e durante o caminho ela me contou sobre a última vez que amigas dormiram em sua casa.

— Não é tão legal a história, estávamos eu, Monica, Molli, e Tris em minha casa todas iam dormir lá, mas Tris tinha que comemorar seu aniversário de namoro e resolveu que iria sair com Tobias, estava uma chuva infernal, então ele foi buscá-la mesmo eu insistindo que ficasse, ela não queria disse que iria embora de taxi se ele não viesse que era o dia deles, ficamos somente Molli, Monica e eu, foi assustador assistir O chamado. E logo que o filme acabou o telefone tocou, demos um pulo enorme e depois rimos da situação, mas o telefonema era avisando que Tris sofrera um acidente. Jamais irei assistir esse filme novamente.

— Nem sei o que dizer.

Chegamos a minha casa e eu entrei com Christina em meu encalço.

— Filha não ia dormir fora?

— Sim, mas resolvi vir buscar algumas coisas, já que o jogo demora um pouco para começar. — dei de ombros. — Mãe, essa é Christina.

— Olá senhora Lancaster! Hmmm o cheiro está bom!

— Estou fazendo umas coisas especiais! Não é sempre que se está sozinha com seu marido.

Olhei espantada para minha mãe.

— Espere aqui que eu vou pegar algumas coisas.

Subi apressadamente as escadas, estava começando a me acostumar com a velocidade. Peguei meu pijama de flanela, não sabia se a casa de Christina era fria, um travesseiro, e uma muda de roupa para sábado.

Antes de descer, dei uma breve olhada no quarto de meus pais, eu quase não entrava ali antes pelo fato de ficar no segundo andar. Vivi anos somente no primeiro andar da casa, e depois porque achava que a privacidade deles era algo a se zelar.

A cama estava arrumada, e em cima dela uma camisola de renda longa na cor pérola estava estendida, ao redor da cama tinham velas a serem acesas, eu não era entendida em certos assuntos íntimos, mas isso me deu uma ideia do que minha mãe quis dizer com ter a noite livre de sua filha.

— Eu acho que seus pais estão esperando uma noite de puro prazer.

Christina surgiu atrás de meu ombro.

— Pare...! São meus pais.... Argh coisa nojenta!

— Pare Hazel, acha que veio de onde?

Descemos e eu fiquei pensando que talvez meus pensamentos fossem todos errados, e meus pais realmente iriam aproveitar, eu podia não ser o centro de tudo e isso me fez ver que eu poderia estar me achando importante demais além do que eu era.

Poderia soar estranho, mas eu estava feliz por não ser tão importante, e saber que meus pais tinham uma vida além de Hazel, e que eu deveria viver a minha vida. Pude imaginar o desenho e ver que a gaiola não estava mais tão apertada a ponto de ferir o tordo, porém ela ainda estava lá, eu teria de retirar essa gaiola.

— Tchau mãe!

— Vá com Deus filha, até amanhã!

— Ah quanto amanhã, eu vou vir somente no final do dia, tenho uma reunião do comitê de formatura.

— Parabéns querida! — ela me deu um beijo na testa e sorriu.

Minha mãe tinha um brilho diferente no olhar, eu imaginei se ele estava sempre ali e somente eu que não o via, mas lembrei das muitas vezes que eu fiquei mal e achei que fosse morrer, mas meus pais se olhavam tão ternamente. Sim, definitivamente eles tinham uma vida a parte.

Chegamos ao campo e o jogo iria começar em alguns minutos. Avistamos os garotos sentados em uma das arquibancadas e fomos até eles.

Molli passou por mim.

— Agora os E.T’s vêm aos jogos também?

— Pare Molli! — Christina rebateu.

— E agora mais essa! Você anda com essa esquisita, pensa o que Chris? Eu tenho vergonha de ter sido sua amiga!

— Eu é que tenho vergonha de você, vergonha do que se tornou!

Molli saiu sem falar mais nada e me dando um esbarrão no ombro.

— Desculpe por isso Chris.

— Ai ela já estava me irritando, não precisa se desculpar!

Sentamos ao lado dos garotos e Will se levantou fazendo questão que sentássemos de uma forma a qual ele ficasse ao lado de Chris. Eu me perguntava quando ele iria admitir de alguma forma os seus sentimentos por ela.

O jogo teve início, e mesmo não entendendo muito de futebol eu sabia que nosso time estava indo muito mal, e os ânimos dos jogadores estavam muito a flor da pele. Eu comecei a observar Tobias, ele era o capitão e o preferido, no entanto não estava produzindo muito.

Quando de repente Tobias se encrencou com um dos jogadores do time adversário e ele fez uma falta grave, era um esporte violento, porém foi visível que ele foi maldoso e o juiz o expulsou.

Tobias ficou tão irritado que jogou seu capacete assim que chegou ao banco, de longe eu o vi jogar algo em direção ao técnico e saiu de lá em direção ao vestiário.

— Uau, viu isso? Tobias eu acho que depois dessa não vai ser mais o capitão!

— Sério? — perguntei a All.

— Sim, veja o técnico colocou Edward em seu lugar.

O nosso time perdeu em sua própria casa, eu vi que isso era ruim pelos comentários de All que estava indignado.

Assim que chegamos à casa de Chris, a mãe dela estava na sala chorando.

— Não liga, ela está vendo a novela, é sempre assim.

— Ela entra na história mesmo. — falei sorrindo.

— Literalmente, vamos ela deve ter deixado comida para nós na cozinha.

Christina esquentou o jantar. Comemos e depois deixamos os pratos limpos.

— Não vai me apresentar sua amiga, Chris?

— Essa é minha mãe, Hazel.

— Olá!

— Nossa! Christina me disse que você teve um transplante recente, como é isso?

— O que é isso? Mãe pare!

— Chris eu só quero saber ué, ela tem um coração de outra pessoa!

— Não se preocupe Chris. Bem não é como nossa que legal, pois a qualquer momento meu corpo pode rejeitá-lo, mas eu vivo bem agora, a base de medicamentos, mas tenho quase uma vida normal comparada a de antes.

Subimos até o quarto de Chris. Ele era amplo, tinha luminárias coloridas, e muitos bichos de pelúcia.

Foi quando um enorme cachorro entrou e pulou na cama.

— Uau!

— Esse é o Ted, não ligue o nome bobo eu estava sem criatividade quando o ganhei.

— É lindo!

— Sim é meu bebê, mas hoje Ted, nada de dormir aqui, pois temos visitas.

O cachorro abaixou a cabeça olhando com os olhos brilhantes.

— E não me olhe assim!

— Chris não tem problema!

— Ah se tem, ele incomoda, toma a cama só para ele!

Ted saiu. Fui até o banheiro do corredor e me troquei.

Deitamos e Christina começou a me contar coisas banais tipo coisas de garotas, eu fiquei impressionada pelo tanto de garotos que Chris já tinha beijado.

— E você Hazel?

— Eu?

— Sim, já beijou um garoto?

Ri de sua pergunta.

— Entre um internamento e outro?

— acho que isso te leva ao placar zero...

— Acho que sim. — dei um tempo e voltei a falar. — Ei Chris!

— Fale.

— Já percebeu que o Will, ele... Sabe... Tipo ele gosta de você?

— Bem eu acho que percebi, mas eu também gosto dele.

— Então qual o problema?

— Exatamente esse! Hazel eu beijei muito, mas nenhum rapaz que eu beijei eu gostava realmente, mas Will, sabe eu comecei a andar com os garotos por causa dele!

— Deveria falar com ele.

— Como?

— Simples apenas fale.

— Você é louca, não se pode chegar e falar assim, assusta, os garotos se assustam com sentimentos.

— Isso é estranho.

— Sim, muito estranho.

— Mas ainda acho que você deveria falar com ele.

— Um dia quem sabe?! E você já olhou para alguém da escola? All sente alguma coisa está na cara!

— Sério?

— Sim, e ele já deixou escapar, você que nunca notou.

— Não mesmo, nem me passou pela cabeça.

— Tem que aprender muito Hazel.

Dormir em uma casa estranha era complicado, eu olhei para Chris e pedi a senha do seu wi-fi e fiquei vagando na internet até ter sono. Lembrei-me de mandar uma mensagem a Tobias passando meu endereço, e fui ver na rede social dele e muitos xingamentos estavam postados, por conta do jogo.

Deu pena dele, por mais que ele tivesse feito algo errado creio que um só jogador não resolveria, mas o ser humano tende a culpar alguém e ali era vez de culpar Tobias.