Incantatem escrita por Black


Capítulo 1
Monster


Notas iniciais do capítulo

Depois de Insane eu achei que não ia mais conseguir escrever nenhuma One, é sério. Eu travei, e agora estando atolada na escola, vida e nos blogs, eu quase desisti do que mais amo fazer (que é escrever).

Essa série de palavras abaixo é para a minha irmã de outra mãe, mas que eu vou mostrar a vocês, para que saibam o quanto eu a amo.

Olá Mary, não sei se ao fim dessa one você vai estar chorando, ou se vai estar sorrindo. Não é muito fácil pra mim imaginar o que pessoas como você vão fazer, mas eu espero que ao fim disso tudo você perceba o quanto eu te amo, e o quanto você é especial pra mim.
Primeiro, antes de tudo, eu gostaria de te agradecer. É verdade, você nunca desistiu de mim e sempre me colocou pra cima quando eu estive mal. Sempre ali online quando eu queria falar de uma ideia muito doida, ou escrever putagens com alguém pelo whats e era você a primeira pessoa que eu pensava.
Você não é a minha melhor amiga, é a minha irmã gêmea e eu vou agradecer muito por isso todos os dias. Você me mostrou que existe beleza até nas simples coisas, que vale a pena ir dormir as duas da manhã se for pra ficar conversando com alguém que você gosta. Me mostrou que é possível se apaixonar por personagens e criar universos paralelos com eles, que ninguém é perfeito e que seus pais nem sempre sabem a melhor maneira de tratar os filhos, mas você me mostrou que acima de tudo escolheria a mim sempre. Igual eu escolhi você.
Sabe La Rue? Eu realmente acho que te devo muito, mais muito mesmo. Só que Setembro está chegando, então se prepare para uma Babi histérica e que esta morrendo de vontade de te ver logo.

Gêmea Boa, obrigado. Especialmente por deixar com que eu faça parte da sua vida.

Ao pessoal que adora quando eu sou fofinha e venho aqui postar coisas bonitinhas eu deixo um recado, por detrás do mais belo sorriso ou na mais fria solidão, existem pessoas de bom coração. Só basta você querer vê-las.

Boa leitura.

PS: O que está em itálico, é o que está escrito no pergaminho.



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Londres 1849

Por meio desse documento afirmo, não existe uma maneira de extinguir a licantropia de um ser, apenas existem maneiras para retardá-la. Durante quinze anos de estudos incansáveis com meu fiel amigo, Ivar Black, finalmente encontrei a fórmula perfeita. A licantropia não pode ser parada, mas sim adiada.

Com o uso das ervas corretas, aliadas a uma magia de qualidade posso retardar o feito da lua sobre aqueles que foram mordidos, porém os efeitos colaterais se remetem no sétimo sucessor de quem possui os genes.

Os genes lupinos devem se apresentar no meu sétimo descendente, passando exclusivamente de pai para filho, mesmo que nenhum dos dois tenha sido mordido por nenhum portador da doença.

Lamento muito a quem irei deixar meus genes monstruosos da lua cheia, mas foi preciso. Espero que por meio desse, possa perdoar meu feito e se salvar desse pequeno inferno.

Ao sétimo Potter homem seguindo nessa linhagem.

PS: Segue em anexo a lista do tônico, para o retardamento da licantropia. Os mais sinceros comprimentos e desculpas, Alexander Hammit Potter.

Amassei aquele pedaço de pergaminho velho em minhas mãos, aquilo só poderia ser uma brincadeira, e brincadeira de muito mau gosto. Não era pura coincidência que a carta que recebi noite passada fosse apenas uma brincadeira, ninguém sabia sobre a minha licantropia ou eu esperava que fosse assim. Rodei sobre meus pés. A porta da sala ainda continuava vazia e não existia nem sinal do professor ou de outros alunos, o que era comum para um domingo.

Guardei minha varinha nas vestes e refiz meu caminho até o dormitório da Sonserina. Na minha mente as lembranças da minha primeira transformação queimavam. Eu tinha apenas doze anos quando aconteceu, e até hoje podia sentir o odor de carne pútrida sendo queimada, a sensação de ter seus ossos derretidos e depois retorcidos como se fossem barras de titânio que se derretiam, os ossos se alongando de uma maneira inumana e a incessante dor latejante dentro do meu cérebro.

Tudo queimava, e os gritos, meus gritos de terror rasgavam pelo meu interior, subindo pela minha garganta, escorrendo pelos meus lábios e chegando aos meus ouvidos como uma súplica insana de um animal em seu leito de morte. Mas essa ainda não era a pior parte, o pior era ficar aprisionado dentro do seu próprio corpo, vendo enquanto seu antigo eu era substituído por um ser irracional.

Haviam se passado cinco desde meus dozes anos, e a cada noite de lua cheia desde então, respectivamente, eu me transformava em uma besta de quatro patas que pensava apenas com seu instinto assassino, e que respondia somente ao chamado de sua própria espécie.

Não que alguém soubesse do meu segredo obscuro, eu o mantive trancado na parte mais escura da minha mente onde ele merecia estar e se dependesse de mim ninguém, nem mesmo meus pais, saberiam disso. Acho que eles nem desconfiavam, ou se desconfiavam não comentavam. Era normal eu aparecer sujo de terra, com as vestes rasgadas e com manchas de sangue pelo corpo, cobrindo os novos hematomas.

Mesmo que meus irmãos e primos vivessem perguntando o que estava acontecendo no início, eu me fechei para todos eles. Eu não podia correr o risco de me transformar em uma besta perto deles, caso isso acontecesse eu jamais me perdoaria. Parte dessa minha alienação familiar foi fácil, eu era um Potter sonserino, então tecnicamente pendia para o lado do mal, eles só não podiam julgar o quanto.

E agora anos depois, eles nem se perguntavam mais por que eu era o esquisito da família, que vivia dentro do meu quarto, voltava em condições no mínimo estranhas para casa, repudiava prata mais do que Grifinórios repudiam perder no quadribol para a Lufa Lufa e era tão antissocial tendo nascido filho do eleito.

A tabela para a passagem dos genes lupinos era clara, Alexander Potter deixou seus genes inativos para se manifestarem gerações depois, respectivamente em seu sétimo descendente. E o mais irônico era que eu havia tirado a sorte grande de ser exatamente o sétimo Potter a nascer.

Você não deve estar entendendo muito as coisas, então vou simplificar. Toda essa melancolia, misturada com um pouco de drama e consequentemente regada ao azeite da solidão, se deve ao meu ancestral que não pôde carregar o fardo de ser transformado em uma besta, todas as noites de lua cheia e sair caçando como um monstro sem alma.

Eu sou Albus Potter, e estou condenado a ser um maldito lobisomem para toda a eternidade.

Descobri isso a exatamente há cinco anos, durante uma colônia de férias trouxa. Foi um pesadelo acordar no meio do mato, sozinho, nu e todo imundo de sangue e pelugem animal. Minhas unhas estavam com crostas vermelhas e minhas bochechas pareciam ter sido lixadas com unhas de gato. Resumindo eu estava terrivelmente machucado.

Mesmo que com a ajuda de uma poção eu consiga ficar consciente entre uma transformação, seu uso não é aconselhável por hora, uma vez que sua distribuição foi proibida pelo alto teor de mandrágoras alucinógenas, que consequentemente matariam uma pessoa que fizesse uso regular de tal medicamento. Então se Remus Lupin tivesse descoberto em vida, a droga que ele consumia para ficar com a mente totalmente humana durante as transformações, com certeza iria preferir agir como uma besta ao enfrentar os efeitos colaterais.

Em escrito Alexander Potter deixou claro que seu amigo Ivar Black o teria ajudado com a fórmula para adiar a licantropia. Então, Ivar Black poderia ter deixado essa fórmula para algum de seus descendentes, exatamente como Alexander deixou aquele pedaço de pergaminho antigo, que eu não sei como veio parar em minhas mãos.

Agora eu só tinha que achar qual descendente, mesmo me baseando em uma suposição de que Ivar Black tivesse compartilhado esse segredo com alguém ou levado com ele para o túmulo, eu devia, precisava e ia tentar encontrar esse descendente.

Mesmo com Sirius Black morto, ninguém poderia contar que ele teria um filho com uma trouxa, e que esse filho tivesse um casal de gêmeos num futuro não muito distante de hoje, e por talvez uma ironia do destino esses gêmeos estudassem exatamente aqui em Hogwarts. Ashlin e Andrômeda Black eram um tanto reservados, mesmo sendo da mesma casa que eu. Ash andava sempre com o Malfoy e sua irmã geralmente era vista pelos corredores.

Eu particularmente só a tinha visto uma vez, logo assim que vieram transferidos de Durmistrang no sexto ano. Fazer amigos não estava na minha lista de prioridades, no primeiro lugar estava manter minha licantropia escondida, em segundo me manter neutro e isolado para não machucar ninguém, mesmo que a minha fera interior desejasse e muito derramar sangue inocente. Eu não procurava me aproximar das pessoas, mas seja como for, vou ter que fazer isso se quiser passar meus genes lupinos para o meu sétimo descendente, e eu faria, iria atrás do Black certo.

Arrumei o capuz do meu moletom, fazendo com que ele cobrisse meus arranhões recentes no rosto. Mesmo sendo uma manhã de domingo, eu tinha que me preocupar com possíveis olhos bisbilhoteiros que vinham eventualmente me seguindo por cada metro quadrado desse castelo.

Olhei para fora, pelo espaço de duas colunas, estava chovendo, uma fina garoa que faria a pele e os pelos de qualquer um se arrepiar. Eu gostava da chuva, ela podia ser fria, silenciosa e refrescante ao mesmo tempo, gostava de sair e sentir o frio bater no meu rosto e sentir os pingos grossos molhando meus cabelos.

Virei o corredor rumando ao terceiro andar, eu sabia que não era bom ficar vindo conversar com fantasmas, principalmente a Murta, ainda mais em banheiros femininos levando em consideração que Rose era a nova monitora chefe e eu poderia ser pego a qualquer momento em um andar proibido, ou pior, encontrar algum casalzinho babaca se comendo lá dentro, como Lorcan Scamander e minha prima Roxanne.

O caminho até o banheiro dos monitores já era muito conhecido por mim, eu vinha aqui todas as tardes de domingo e dessa vez não seria diferente. Acho que a Murta tinha um fraco por mim, o que não era muito comum. As garotas sempre preferiam James e eu não dava muita bola pra isso. Tudo que eu queria era passar de ano com notas medianas e me manter no anonimato enquanto não terminava Hogwarts, o que logo eu conseguiria.

Faltavam apenas seis meses para eu estar finalmente formado e poderia enfim sair de casa, me mudar para algum local calmo onde o frio predominasse e eu pudesse ficar na varanda, bebendo café ao som de Snow Patrol. Quem sabe a Pensilvânia não me receberia de braços abertos? Afinal lá era o berços de monstros da ficção.

Meu sangue lotado de genes lupinos me permitia ter uma visão e uma audição muito boa, fora velocidade para correr e um equilíbrio quase perfeito, quase. Mas tais genes não impediam que pessoas totalmente desastradas se chocassem contra mim, exatamente como acabava de acontecer.

— Ai – sussurrou alguém alguns centímetros abaixo de mim. Por instinto segurei fortemente os braços desse alguém, antes de levantar o olhar.

Esse alguém -esse maldito alguém-, que esbarrara em mim era um garota, pele branca quase translúcida, cabelos e olhos negros, vestes pretas e grafadas com frases de bandas dos anos 70 que só realçavam a sua palidez mórbida. Aqueles olhos pareciam uma mancha preta perdida no meio do mar morto, era algo muito surreal para ser de verdade, tanto que eu não parava de olhar para eles.

— Você está viva? – perguntei rouco, notando pequenas manchas roxas sob seus olhos e sardas que se espalhavam por suas bochechas pouco salientes.

— Estou – suspirou — A menos que você me jogue um Avada agora. – Rebateu sem me olhar nos olhos. — Da pra me soltar, por favor?

— Hm – murmurei impondo uma boa distancia entre nós.

— Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha? – perguntou, antes que eu pudesse dar a volta em sua pessoa e continuar meu caminho.

— Não faço ideia – respondi entediado, escondendo minhas mãos sobre o moletom.

— Pense melhor – falou me contornando e seguindo seu caminho – Nós vemos por ai, Potter.

Talvez eu devesse ter gritado que não, nunca mais nós veríamos por ai. Eu realmente não fazia questão de encontrar com a pupila da professora Lovegood novamente, mesmo que ela tivesse olhos legais. Dei de ombros e continuei meu caminho, mal sabendo que esse “nos veremos logo” chegaria mais rápido que eu pudesse contar, e nunca, em momento nenhum se passou que eu ira me arrepender tanto de ter esbarrado com ela no corredor.

Já era quinta feira quando com muito custo e observação, eu consegui ligar os pontos. A menina retardada do corredor era a Black e, consequentemente, de quem eu deveria me aproximar. Estive observando Ash por uns dias, ele era o típico atleta que milhares de garotas carregariam o mar nas costas para ficar perto dele. Para o azar de muitas ele tinha namorada e não parecia entender necas de seres mitológicos e sobrenaturais, o que o tirava totalmente da lista de possíveis descendentes, que Ivar Black poderia ter confiado uma fórmula de licantropia. Sobrando, para meu espanto, sua irmã gêmea.

Olhei meu relógio pela vigésima segunda vez, num intervalo de três minutos. Batucar com os dedos sobre a pilha de livros sobre a mesa já não me ajudava a deixar de lado a ansiedade e focar minha atenção em outra coisa. Levemente o ranger da cadeira a frente retumbou pelos meus ouvidos, levantei o olhar e lá estava a mesma garota do corredor, da aula de DCAT e quem diria que essa garota era ninguém menos que Andrômeda Black, uma possível descendente de Ivar Black?

— Já sabe responder a minha pergunta, Potter?

— Qual seria a pergunta mesmo? – perguntei bagunçando meus cabelos, um tique eu tinha.

— Vamos Albus – suspirou apoiando as mãos na mesa – Me diga a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha.

— Porra, eu já disse que não sei – grunhi frustrado – Você é surda?

Acho que eu deveria medir melhor as minhas palavras, levando em consideração que eu precisava da ajuda dela, não o contrário. Contei até três e abri os olhos, incrivelmente Black não estava vermelha de raiva ou refazendo seu caminho por onde tinha entrado, ela estava olhando para a pilha de livros na minha frente e parecia perdida em pensamentos.

— Pra que me chamou aqui hoje? – perguntou levantando os olhos negros em minha direção. Ofeguei, eles eram como poças de águas profundas e pareciam desafiar qualquer um que fosse tentado a chegar perto.

— Eu – travei. Como contar para alguém que se é um lobisomem? — É um assunto complicado, não vou falar. Mas, tome – lhe passei o pergaminho que tinha recebido no domingo — Leia, ali explica tudo.

Black assentiu enquanto esquadrinhava as pequenas linhas com uma rapidez surpreendente, com certeza ela era acostumada a ler e esse fato podia ser comprovado pela pilha de livros que ela levava todos os dias para a sala de aula, e posso jurar que não eram livros de estudos bruxos, estavam mais para coisas arcaicas dos trouxas.

— Abra essa porta, em nome de Deus. Foi...Foi isso que Ivar Black deixou para mim – murmurou deslizando o pergaminho pela mesa— Eu nunca entendi o significado, até agora e Ash, bem Ash é um cético que só acredita naquilo que se pode ser provado ou que já tenha visto com os olhos. Sei o que é Albus, sei o que está procurando e também sei que precisa de mim para encontrar.

Minha cara de choque devia ser palpável e juro que vi o divertimento passando pelos olhos da morena a minha frente. Ela sabia, sabia que eu era um lobisomem e tinha acabado de revelar que ela era a pessoa que eu deveria procurar, mas que de um modo muito mais fácil veio até mim. E eu precisava dela, isso era fato. Apenas um Black salvaria um Potter da licantropia e ela podia me salvar.

— E agora a pergunta chave – falei, pousando minhas mãos unidas sobre a mesa – Você vai me salvar? Digo me salvar de mim mesmo?

— Você não é um monstro como pensa Albus – disse com a voz serena – Apenas não entende o que realmente se passa com você e é isso que você tem que fazer, antes de se autocondenar como um ladrão a espera de sua sentença de morte, deve se conhecer. – puxou um livro grosso da bolsa e o folheou — Segundo alguns documentos encontrados por trouxas, antes dos lobisomens vieram os vampiros. Já ouviu falar neles certo? Mesmo que em ficção? – assenti e ela prosseguiu — Lúcifer, atendendo um pedido de um nobre devolve-lhe a vida, mas essa seria uma vida amaldiçoada. Viveria frio, se alimentando do sangue dos outros e temeria o sol como se ele fosse o próprio Deus, e assim foi feito. Nascia de um pacto infernal Drácula, que deu origem a uma horda de outros como ele, imortais ou pelo menos era isso que se pensava. Não sei se é muito familiarizado com alguns costumes trouxas, mas Deus tinha sua mão esquerda, aquele que matava em seu nome. Esse era Gabriel, o Arcanjo. Enquanto Miguel era a mão direita do Senhor, Gabriel era aquele que andava nas trevas da Terra mesmo sendo um anjo. Foi Gabriel que expulsou Lilith, a primeira mulher de Adão, do jardim do Éden e foi por meio dele que a sua espécie nasceu, Albus. Deveria se sentir honrado é uma criatura divina.

— Divina? – ri com escárnio — Você só pode estar louca, sou amaldiçoado. É isso que sou, desculpe Andrômeda, mas não vejo o que me aconteceu como uma benção. – murmurei a olhando nos olhos — E sinceramente? Não acredito em uma palavra que acabou de falar.

— Mas, posso continuar? – perguntou e dei de ombros — Vou continuar assim mesmo. Deus logo soube do pacto infernal feito entre Lúcifer e Drácula, se espantou com as novas criaturas noturnas que espreitavam em cada esquina. Assim lançou a ordem de que Gabriel desceria ao mundo mortal, lutaria contra as criaturas pálidas e Miguel ficaria no céu, aguardando seu chamado para retorno. Assim foi feito, mas até mesmo a mão esquerda de Deus sucumbia diante do exército de Drácula. Gabriel então rogou a Deus que lhe desse o poder de vencer o inimigo, se tornando forte, rápido e ágil, no fim Deus trancou uma besta dentro do corpo do anjo, e a partir dessa data, todas as noites em que a lua subia ao céu completa, Gabriel era transformado em licantrope. – suspirou — Gabriel transformou outros humanos, que o auxiliaram em sua luta contra os vampiros, alegando que depois que terem derrotado Drácula, todos voltariam ao normal.

— Só que isso nunca aconteceu certo? – minha voz soou baixa.

— Não. Após a batalha vencida Gabriel convocou Miguel numa província a leste daqui, provavelmente na atual Pensilvânia. Miguel ficou assustado com o que havia acontecido com Gabriel e ao olhá-lo não via mais um dos Arcanjos ou um de seus amigos, via um homem preso a uma besta, não o levou de volta ao céu. Disse que o céu era o lar de criaturas puras e boas, não de um anjo demônio com as mãos sujas de sangue, Gabriel tentou argumentar dizendo que estava executando ordens do Senhor, mas Miguel por fim partiu sem ele – Black piscou os olhos e limpou a garganta — Gabriel preso em Terra, sendo imortal e amaldiçoado rogou a Deus mais uma vez, só que não foi atendido. Até seu próprio Deus, o salvador de todos lhe virou as costas, estava sozinho, amaldiçoado e provavelmente viveria eternamente como um renegado. Era o lobisomem imortal, e como Lúcifer, havia contraído a ira por Deus e continuou seus dias como lobisomem, transformando pessoas e levando ao inferno demônios que tentavam escapar. Não se sabe o paradeiro de Gabriel, talvez Deus tenha se apiedado dele e o levado ao céu novamente, ou pode ser que esteja vagando sobre a Terra até hoje.

— E o que isso tem haver comigo? – perguntei entediado.

— Agora, pelo menos, sabemos sua origem. – esclareceu — Alexander Potter era seu ancestral, provavelmente contraiu a doença de algum lobisomem e por sorte, conseguiu transpassar essa licantropia para algum futuro descendente. Agora só temos que descobrir que porta abrir em nome de Deus.

— Se antes eu tinha alguma esperança, acabo de perdê-la totalmente – bufei – Bruxos e bruxas até vai, lobisomens são reais, mas vampiros? Céu e inferno? Sinceramente me sinto tentado a desistir.

— E vai desistir? – perguntou, elevando a sobrancelha me avaliando com um digno olhar de Gina Potter.

— Mas é claro que não – sorri torto.

E foi assim que minha amizade com a caçula dos Black começou, no inicio nos encontrávamos as escuras para debater sobre possíveis locais que deveriam ser a tal porta e compartilhar novas descobertas sobre a licantropia. Contradizendo-me totalmente a Black era uma garota legal, mesmo que suas teorias sobre bolinhos de café e elfos de sunga me fizessem rir e engasgar com suco de abóbora, acho que nos tornamos amigos, bons amigos.

E nesse meio tempo entre caçar uma maneira de adiar meus genes lupinos e descobrir mais sobre céu e inferno, sem que eu percebesse, estávamos passando muito tempo juntos e mesmo que eu não notasse as outras pessoas notavam. Tudo bem, eu notava, mas realmente não gostava de admitir.

— Está saindo com a Black? – Rose perguntou, parando-me no meio do corredor e puxando meu capuz para baixo. — Se sim, vai acabar espantando-a com sua melancolia Al.

— Não estamos saindo, somos apenas amigos. Somos da mesma casa, mesmo ano e temos algumas coisas em comum – não revelei mais do que a ruiva precisava realmente saber.

— Uhum, sei. Sério Al, é muito bom ver você interagindo com alguém depois de tantos anos – a olhei nos olhos e soube exatamente do que Rose falava. Antes dos nossos doze anos, antes da minha primeira transformação, éramos próximos. Amigos, melhores amigos. — Se precisar conversar com alguém sobre isso, eu e Scorpius estamos aqui.

Acenei brevemente antes de recolocar o meu capuz e enterrar as mãos nos bolsos. Sorri com o que tinha acabado de ouvir. As pessoas achavam que eu estava com a Black ou pelo menos tentando estar e isso me fez sorrir, mesmo que muito discretamente.

Ah qual foi? Eu era um anti-social do caralho, que fingia simplesmente não reparar no quão legal as horas eram quando ela estava por perto, ou o sorriso inocente que ela tinha, o cabelo que nunca ficava do jeito que ela queria e sua tendência natural para ser desastrada.

Eu não deveria reparar em nada disso, só que era isso que eu fazia tinha quatro meses.

As noites de transformação ainda eram mais dolorosas, e sinceramente? Eu não ligava mais para isso porque era gratificante voltar para o castelo, mesmo que todo esfolado e machucado como um maldito filho da puta se fosse para Andrômeda estar me esperando do lado de fora do castelo, com uma toalha de piquenique, uma manta cinza velha, uma caixa de primeiros socorros e boas risadas para distribuir na parte isolada da Floresta Proibida.

Isso fazia a dor de ser um lobisomem valer à pena.

Não sei quando foi ao certo, mas no fim de cinco meses podia-se dizer que eu tinha me apegado a ela, e isso me deixava com medo, muito medo. Talvez esse fosse o grande mistério do por que eu ficava distante de tudo e de todos, eu temia machucar pessoas que eram especiais pra mim. Temia que minha parte lupina atacasse e depois a parte humana se culparia, eternamente.

Eu só não poderia esperar que fosse me apegar a ela tão rápido e de um modo tão fácil, estávamos sempre juntos. Andando juntos e estudando também, era divertido poder falar abertamente para uma pessoa quem você era, não ter que ficar usando moletons ou andar com o rosto abaixado para esconder recentes hematomas.

A vida podia quase ser normal, dentro dos parâmetros que nós impúnhamos a ela, íamos sempre a Hogsmeath tomar uma cerveja amanteigada ou simplesmente andar pela Casa dos Gritos e tentar imaginar quantas histórias aquelas paredes teriam. Mas, o ano letivo estava quase acabando, e isso preocupava tanto a mim quanto à Andrômeda. Tínhamos pouco tempo para achar o que quer que fosse para me salvar.

– Potter, Potter, Albus! – a voz da morena me despertou de meus devaneios.

– Ãh oi – murmurei pousando a cabeça sobre a mesa.

Estávamos no Três Vassouras, era um sábado de visitas a Hogsmeath e como em todos os últimos sábados que podíamos sair com ou sem a permissão da escola, sempre estávamos aqui. No inicio éramos o centro das atenções, sempre, pessoas nos olhando e cochichando umas com as outras. Pareciam que nunca tinham nos visto, o que não era lá tão raro já que Andrômeda andava sempre com um livro agarrado ao peito, enquanto tagarelava sem parar e eu com meu costumeiro moletom preto andando ao seu lado, fingindo interesse no assunto para agradá-la. Ou era isso que tentávamos passar para as pessoas.

– Você não me ouviu – me repreendeu a cabeça frustrada.

– Não, me desculpe – pedi desviando o olhar, eu odiava a deixar frustrada.

– Eu estava dizendo que depois das férias, podemos ir até o espelho – existiam boatos que o Espelho de Ojesed nós mostrava o que mais desejávamos e Andrômeda tinha plena certeza de que ele nos mostraria onde estava a porta.

Outro motivo que estava me deixando aflito eram as férias, voltar para casa nunca me deixava relaxado e totalmente contente. Lá eu devia ficar trancado no meu quarto, quase me fundindo ao meu cobertor apenas aguardando a lua cheia. Vagando pela minha mente nem percebi ao certo o momento em que deixamos o Três Vassouras e quando dei por mim andávamos pelas ruas cobertas de neve.

– Fui chamada pra sair – a Black murmurou baixo.

Admito, aquela notícia me pegou de surpresa e senti meu coração pulsar acelerado no peito. A besta interior rosnou e eu não entendo porque saber que Andrômeda tinha sido chamada para um encontro me irritava tanto. Talvez pelo fato de lobisomens serem possessivos e isso mexia muito com as relações, mesmo de amizade, que esses possuíam. Eu já havia até me acostumado ao chegar perto da Black e sentir o meu cheiro nela, como se eu a tivesse marcado como posse, mas nada justificava a fúria repentina que senti.

– E aceitou? – disse como quem não quer nada, tentando não rosnar.

– Não. – respondeu mexendo em alguns fios negros –Tinha que vir a Hogsmeath com você.

– Deveria ter aceitado, não tem de me colocar como sua única e exclusiva prioridade – grunhi. O modo como falou, “tinha que vir” soou mais como uma obrigação e eu não queria que Andrômeda só viesse a Hogsmeath comigo se fosse obrigada.

– É. Não é minha obrigação mesmo – sussurrou meio, magoada.

Andrômeda estava se virando para provavelmente se afastar de mim, quando num impulso eu a segurei e a coloquei contra a parede de uma loja. A fúria transbordava em meu ser, só de imaginar a simples possibilidade de outro cara passeando com ela, olhando para seu rosto e consequentemente se aproveitando do momento para beijá-la me fazia querer socar algo. Aproximei nossos rostos de tal maneira que eu conseguia ver medo, susto e acho que um pouco de expectativa em seu olhar.

— Você sabe muito bem que eu posso machucar você – rosnei em voz baixa e senti os pelos de seus braços se arrepiarem — E eu não entendo por que ainda continua aqui.

— Talvez porque eu simplesmente queira ficar – rebateu.

A soltei, me afastando e andando o mais depressa possível em direção ao castelo.

Eu ia machucá-la, eu ia matá-la. Vozes sussurravam em minha mente, era a proximidade com a lua cheia, só podia ser. Eu não ia matar Andrômeda, eu não queria isso, nunca. Eu a queria por perto, eu a queria... Para mim.

Suspirei frustrado, ela nunca gostaria de mim, um garoto dividindo o mesmo corpo com uma besta sanguinária, enquanto eu era dotado de sangue quente nas veias, mas matava a sangue frio, ela era pequena, com pele branca e cabelos negros. Totalmente quebrável a meu ver e sempre seria inalcançável para mim.

As férias vieram em dez dias, e nesses dez dias eu a evitei. Não falava com ela, não olhava para sua pessoa e nem mesmo comparecia aos nossos encontros e reuniões semanais, eu tinha medo de que se olhá-la começasse a falar tudo que estava em guerra dentro de mim e ela simplesmente fugisse, ou pior falasse que éramos bons amigos, apenas isso.

Estar em casa não me ajudou a parar de pensar nela, agora as poucas lembranças que tínhamos juntos repercutiam como ondas sonoras na frente dos meus olhos. Eram lembranças boas nossas, de quando eu voltava de uma transformação e ela estava lá, encolhida entre uma estátua de pedra e a escada, esperando por mim.

Lembrei-me de quando ela me contou da morte da mãe e chorou como uma criança que perdeu seu brinquedo mais precioso, para depois deixar a cabeça no meu peito e dormir. Mentiria se dissesse que também dormi aquela noite, mas não preguei o olho, não queria perder nenhum momento daquilo, nenhum. Passei a noite em claro, só para vê-la se embrenhar nos meus braços e sussurrar o meu nome baixinho de madrugada, aquilo não deveria ter me deixado alegre, mas eu fiquei, fiquei putamente alegre.

Eu não poderia evitá-la para sempre, eu precisava dela e não só da ajuda dela. Precisava dela como um todo, puxei meu celular do criado e disquei seu número, ao segundo toque ela atendeu.

— Oi – murmurou como se estivesse entediada.

— Nossa, nem parece feliz em perceber que sou eu a ligar – reclamei em tom de brincadeira.

— Estou cansada, e para quem me ignorou por dez dias, acho que eu poderia estar triste com você realmente. Ash e Mary não me deixam dormir a noite toda – admitiu e eu ri – Está rindo? Babaca. Sinto falta do dormitório de Hogwarts, lá as paredes eram mais resistentes e o barulho não passava com tanta facilidade.

— Não liguei para saber o que seu irmão anda fazendo com a namorada no quarto. Queria saber se estaria pronta em dez minutos.

— Pronta para que? – perguntou.

— Pra sair. Vou pegar o carro do meu pai essa noite – lhe respondi – Só eu e você tá? Acho que precisamos conversar.

Arrumei-me em tempo recorde e quando meu pai perguntou para que eu queria o carro, tanto James como Lily pararam de disputar o último pedaço de carne e se viraram para mim. Senti minhas bochechas corarem enquanto falava a minha família que ia sair com uma garota. Mamãe chorou, alegando que estava perdendo outro bebê, meu pai sorriu me encorajando, Lily me mandou pagar a conta no fim e James, bom James colocou uma camisinha no bolso do meu jeans.

— Só para prevenir – disse inocente.

Assenti saindo pela porta e entrei no carro. Ligá-lo não era a coisa mais fácil a se fazer, mesmo que eu tivesse dezessete anos e já tivesse passado no teste de direção trouxa, fazer uma máquina funcionar sem magia seria sempre um mistério para mim. Com muito custo fiz o carro pegar e sai pelas ruas de Londres.

Encontrar a casa dos Black no Largo Girmald não foi a coisa mais fácil de fazer, eu só tinha estado ali uma vez e foi antes de entrar em Hogwarts, mas Andrômeda já me aguardava do lado de fora, então consegui achar.

— Está atrasado – disse entrando no carro.

— Você está linda – não pude deixar de elogiá-la — Preto definitivamente é a sua cor.

Ela resmungou algo inaudível e presumi que ela ainda estivesse muito magoada comigo, novamente fixei meu olhar a estrada e dirigi a procura de alguma pizzaria ou pubs do tipo. Eu sabia que Andrômeda, tanto quando eu, odiava restaurantes chiques com comidas caras e madames de nariz em pé. Optei por parar em um drive-thru e fiz nosso pedido, duas pizzas médias e duas latas de refrigerante, estacionei na virada da esquina e passei uma caixa para a morena.

— Eu pedi pizza de frango para você – disse e juro que vi a sombra de um sorriso nos seus lábios pintados de vermelho.

— Eu ouvi, obrigada – agradeceu mecanicamente.

Ter sua indiferença era pior do que não ter sua companhia, e nesse momento dentro de um cubículo de metal feito por trouxas, pintado de azul, eu me dei conta do quão babaca era por tê-la afastado de mim. Era como se existisse uma barreira de gelo sólido entre nós agora, uma barreira que não estava lá há dez dias.

— Por que me ignorou? – sua voz saiu baixinha.

— Eu... Tive medo de te machucar depois de Hogsmeath – comecei a falar sem olhá-la –, a lua cheia estava se aproximando e eu tive medo de machucar você ou pior, tive medo de matar você. Não me condene Andrômeda. Eu só não quero te afastar de mim.

— Então, por que me afastou? – senti seu toque quente em meus dedos frios.

— Andy – suspirei — eu sou um ser irracional, com uma besta presa dentro do corpo. Por mais que eu queira nunca vou poder ser normal. – minhas mãos subiam pela lateral de seu corpo, até que pararam ambas em seu rosto — Nunca vou poder ter você, da maneira que realmente gostaria.

E seria uma grande mentira se eu dissesse que não a beijei ali, eu precisava, queria e foi exatamente isso que eu fiz. Essa era a minha chance de mostrar a ela que eu gostava dela, que depois de seis meses de encontros incoerentes nas masmorras, eu queria ficar com ela, eu a queria para mim e torcia que ela também me quisesse.

Depois que ela retribuiu o meu beijo as lembranças são como flash em minha cabeça. Dirigi rápido pelas ruas, as luzes dos postes ofuscavam minha visão, mas sua mão estava enlaçada na minha e isso era o que importava, eu estava feliz e ela ali comigo, isso bastava.

Não sei ao certo quando chegamos à casa dos Black, ou quando entramos nos agarrando e quase rolando da escada. Lembro-me de ficar preocupado com Ash nós flagrar ou Damon Black, mas Andrômeda me tranquilizou alegando que o irmão estava com a família da namorada, os La Rue, e que seu pai saíra para o campo, ou seja, estávamos sozinhos. Seguíamos pelos corredores rindo e sempre que eu tinha a oportunidade a beijava, acho que no fundo nem eu acreditava que isso estava realmente acontecendo.

Logo estávamos dentro de seu quarto, com a porta fechada. Tive sérios problemas com o botão do meu jeans, mas quando o tirei isso nem era mais tão importante. Puxei Andrômeda pela cintura e, só para deixar claro, ela também estava em suas roupas íntimas. Olhei-a de cima a baixo e pude vê-la corar, ri com isso antes de jogá-la na cama, e ir ao seu encontro.

Tudo que me lembro foi de beijá-la como se não existisse mais o amanhã, meu corpo parecia em chamas, meu coração pulsava descontroladamente dentro do peito tão rápido que achei que fosse morrer. Minhas mãos suavam frio, apesar de toda a atmosfera no quarto estar quente, grunhi quando senti a pele nua da Black em contato com a minha, suas unhas arranhado minhas costas e seus lábios procurando desesperadamente pelos meus. Seus gemidos preenchiam meus ouvidos e cada movimento de nossos corpos parecia ter sido meticulosamente programado.

Acordei no outro dia estranhando o colchão, olhei ao redor, meu quarto não tinha parede roxas ou um espelho vitoriano próximo à porta. Definitivamente eu não estava em casa, abaixei o olhar para a figura que estava ao meu lado, era Andrômeda e ela estava nua. Não fora tudo um sonho, ela foi minha na noite passada, não, ela é minha. Deitei-me novamente, enlaçando sua cintura com meus braços e enterrando o rosto em seus cabelos negros.

— Bom dia – escutei-a murmurar, mas não levantei a cabeça — Al, você tá bem?

— Uhum – disse ainda a apertando – E você?

— Estou bem – sorriu e se levantou enrolada no lençol – Vou fazer o café.

— Não, fica aqui – pedi como uma criança manhosa.

Ela negou rindo e saiu pela porta, no fim acabei rindo também. Sentei-me olhando a bagunça que havíamos feito na noite passada, eram livros caídos, roupas no chão e até mesmo um porta-retrato quebrado. Sorri ao constatar que literalmente éramos um furacão juntos, achar minha cueca e a calça foi uma luta, ainda faltava à camisa e o moletom que só Merlin deveria saber onde estavam.

— Ah, você que pegou minha camisa – disse descendo as escadas e fitando a Black.

— Ela estava jogada aqui no sofá – disse sentando no balcão da pia e bebericando uma xícara – Era melhor que o lençol.

— Eu deixo você usar ela – falei me aproximando e a beijando – Bom dia.

Era como se fizéssemos isso todos os dias, como se dormíssemos juntos sempre e depois mantivéssemos uma conversa agradável até estarmos no sofá abraçados fitando o nada. Era normal, pelo menos para mim e essa relativa ideia de conseguir fazer tudo isso normalmente me deu a esperança de que sim, eu também poderia levar uma vida feliz e normal, dentro dos meus parâmetros.

— Quê é aquilo? – perguntei apontando para uma pintura que cobria toda a parede.

— A casa era de Ivar Black, as pinturas são as mesmas desde que ele morava aqui – Andy respondeu e eu sorrateiramente me levantei – O que foi Al?

— Se isso era de Ivar Black, pode ter alguma pista do soro da licantropia de Alexander Potter – disse passando os olhos pela pintura e lendo as inscrições – Rogo ao senhor mais uma chance, que leve-me para os teus domínios e que a maldição que me assolas seja retirada. Miguel... – não pude completar a leitura, a parte final da pintura estava rasgada – O que Ivar deixou para você mesmo?

— Abra essa porta, em nome de Deus – disse parando ao meu lado.

— Onde ele lhe deixou isso?

— Em um pedaço de tecido – falou se afastando correndo e logo voltando com algo em mãos – É a mesma pintura Albus.

— Coloque isso ali embaixo – pedi apontando onde as palavras terminavam - Rogo ao senhor mais uma chance, que leve-me para os teus domínios e que a maldição que me assolas seja retirada. Miguel abra essa porta, em nome de Deus.

— Por Merlin – escutei Black murmurar enquanto a pintura a nossa frente virava um espelho.

— Um espelho? – disse crítica — Mas, vampiros não se refletem no espelho.

— É porque talvez estejamos procurando um lobisomem – me aproximei do espelho, não podia ser só isso — Uma porta, devemos passar então?

— Você primeiro – mandou.

— Eu achei que as damas sempre fossem na frente – rebati pegando meu moletom – Coloca uma calça, eu te espero aqui.

Em menos de dois minutos estávamos prontos para passar pelo tal espelho, isso se ele tivesse uma passagem. Fui na frente e meu espanto não podia ser maior ao conseguir realmente atravessar aquele espelho, era como se o espelho fosse feito de água. Logo o frio se abateu sobre os meus ombros e abri os olhos, não estávamos mais na casa dos Black, mas sim em um castelo?

— O que é aqui, Al?

— Eu não...faço a mínima ideia – falei.

Já que tínhamos chegado tão longe assim, não podíamos ir embora, não agora. Enlacei os dedos de Andrômeda com os meus e a puxei, rumei para frente, para dentro do castelo. As paredes eram de pedra e o gelo cobria todo o piso, o ar saía branco pela minha boca e nem meu calor de lobisomem estava ajudando, olhei de relance para a Black, ela tremia e seus lábios estavam roxos.

— Ei, vem cá – a abracei de lado e continuei.

Algum metro a frente, existia um corredor e eu não pensei duas vezes antes de entrar. Era um quarto e por sorte tinha um grosso cobertor sobre a cama.

— Vem – peguei Andrômeda pela cintura e a deitei na cama – Você vai ficar aqui, okey?

— E você Al? – perguntou se cobrindo e se encolhendo.

— Eu vou dar mais uma olhada, no que quer que seja isso – falei e a beijei de leve – Eu não vou sair sem você.

Deixá-la para trás fez com que me coração pesasse, e muito. Era como se eu não devesse tê-la deixado, ignorei essa sensação e continuei meu caminho. Subi escadas, entrei em outros quartos, corri por corredores e quando estava quase desistindo vi uma sombra de uma silhueta andando para outro cômodo.

Não pensei duas vezes antes de ir atrás de tal sombra, essa poderia ser a minha chance.

— Ei, você – gritei e a sombra parou.

Ao se virar pude ver que era um homem, deveria ter mais ou menos a idade do meu pai, cabelos negros e os braços eram cobertos de tatuagens estranhas, símbolos que eu não conseguia entender. Ele deu dois passos a frente e eu dei os que faltavam para que ficássemos cara a cara.

— Quem é você? – perguntei.

— Gabriel, a mão esquerda de Deus.

— Quê? – minha voz tremeu – Isso é só um mito pra criança. Essa coisa de mão esquerda de Deus não existe!

— Então finja que eu sou apenas um fantasma, garoto – mandou –E se você está aqui é porque procura algo.

— Sim, eu sou Albus Potter. Sou um lobisomem e quero o soro da licantropia de Alexander Potter – despejei.

— Eu não posso pegá-lo pra você – disse – e você não vai conseguir.

— Como pode ter tanta certeza? – rebati.

— A lua, garoto lobisomem – disse sumindo mais rápido do que apareceu – A lua.

Olhei pela janela, a lua estava no céu e ela estava cheia. Logo senti meus músculos se contraindo, a leve ardência já se espalhava pelo meu ser, os ossos das minhas mãos se alongando e os rosnados escapando pela minha boca. Não! Eu tentei gritar, mas já estava de joelhos. A transformação havia começado e eu não tinha trago à poção para me manter lúcido.

— Albus? Cadê você? Eu achei... – não, não,não!

Ouvi a voz de Andrômeda e logo um ruído, a porta tinha sido aberta. Eu não podia virar um lobo aqui, e não agora. Não quando a besta que se escondia em mim tinha acabado de sair e com Andrômeda aqui, dentro do mesmo recinto.

— Corre Andy! – foi tudo que consegui balbuciar antes de perder todo o controle sobre meu corpo.

Recobrei os sentidos algumas horas ou minutos depois, não sei ao certo. Senti algo fincado no meu abdômen, abaixei o olhar e uma seringa pendia com o embolo pressionado na minha pele. A puxei da minha pele, minha calça estava rasgada nos joelhos e meu tórax a mostra.

Não me preocupei com o frio, mesmo que ele estivesse batendo no meu rosto e fazendo meus pelos se levantarem. No momento ele não era importante.

— Andrômeda – gritei, para escutar meu eco ricocheteando nas paredes.

Andei mais alguns metros antes de parar na frente de um lance de escadas, ao final delas estava Andrômeda. Desci feito um louco, quando me aproximei reparei que seu pescoço pendia em um ângulo estranho e involuntariamente lágrimas se formaram nos meus olhos.

Abaixei-me e a peguei no colo, não havia sangue no chão, mas ela estava gelada e para meu desespero não respirava. Os olhos estavam fechados, era como se ela só estivesse dormindo. Seu pulso era inexistente e se não fosse seu pescoço tombado, eu poderia garantir que ela ainda estava aqui.

— Vamos lá Andy – pedi com a voz embargada —, você não pode me deixar.

Flashes inundaram a minha mente, era Andrômeda correndo, correndo de mim. Ela tinha algo em mãos, era a seringa e dentro dela havia um líquido vermelho, a Black virou um corredor à direita e o eu transformado seguiu atrás. Eu podia sentir seu medo e as batidas descompassadas de seu coração.

Por favor, Al – ela pediu quando eu a encurralei Eu só quero salvar você.

Mas, eu não a escutei. A besta não quis escutar, ele não sentia pena de nada nem ninguém, ele não teve pena das suplicas de Andrômeda, ele não teve pena quando a pegou pelos ombros e a lançou escada a baixo. Mas, eu tive. E rever esses momentos só fizeram com que mais lágrimas escorressem dos meus olhos enquanto a segurava.

— Me desculpa, por... Por favor! – pedi soluçando – Eu não... Não queria matar você.

E no fim Andy cumpriu sua promessa, ela me salvou. O líquido vermelho da seringa não era nada menos que o antídoto da licantropia misturado com seu próprio sangue. Essa foi à contribuição de Ivar Black no experimento de Alexander Potter.

Eu poderia mentir dizendo que não voltei pra casa depois daquilo, que resolvi ficar isolado naquele castelo recebendo visitas regulares de Gabriel, só que eu não fiquei. Voltei pra casa, não porque queria, mas porque eu devia algo a Andrômeda, algo que eu simplesmente não podia negar. Ela deu sua vida para me salvar e eu não podia negar nada que ela tinha me pedido. Antes das férias ela tinha me feito prometer que se tudo desse certo, eu viveria.

Você tem que prometer Al – pediu me olhando com aqueles olhos negros – Que se tudo der certo você vai viver.

Não tem necessidade disso – falei.

Albus, prometa!

Está bem – me dei por vencido – Eu prometo.

Então eu viveria, não por mim, mas por ela.

Aquela que me salvou, me tirou da minha cúpula de solidão e confinamento, para virar a minha melhor amiga e depois o meu amor. Eu viveria por Andrômeda Black que havia salvado muito mais que a minha vida, ela havia me curado com olhos negros e um sorriso gentil, mas que principalmente havia morrido por mim. Então eu viveria por ela, essa pequena eternidade que eu tinha agora.


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Notas finais do capítulo

Para Mary: Eu já tinha dito que o final seria assim. Agora espero que você goste, que passe a me amar mais e que pense com muito carinho naquela fanfic do Braider (é, eu não vou te deixar esquecer).

Para os leitores: Obrigado a todos que leram mais de seis mil palavras que eu escrevi (e com erros), agora espero que sejam bonzinho e comentem | favoritem | recomendem. Caso alguém não concorde com as passagens citadas acima, venha debater isso comigo tá?

Até a próxima >.
PS: Eu sei, o hentai foi um lixo. Mas, a La Rue gosta de coisas fofinhas.