Um dia antes:

Juntei os cabos, e a imagem da tela de led mudou, fazendo os campistas explodirem em risadas.

Na tela de led, exibia-se uma imagem do Sr.D dançando só de cueca samba canção estampada com abacaxis a música Y.M.C.A. Ele cantava a música com emoção, segurando uma escova de cabelo como microfone.

Os campistas choravam de rir e eu e Dilan também. Saimos de nosso esconderijo e nos juntamos aos outros campistas. Quíron gritava para desligarem o telão e o Sr.D estava vermelho de raiva, ele gritava palavrões e entre uma ofensa e outra, ele gritou.

–Mas é um clássico!

Depois de muito desespero de um dos filhos de Hefesto que estava controlando a mesa de controle, o telão foi desligado mais as risadas ainda não tinham cessado.

–Bro, você... – Dilan engasgava de tanto rir – se superou essa foi a melhor pegadinha do século.

Eu nem conseguia responder, a risada tomava conta do meu corpo. Eu não conseguia prestar atenção em mais nada fora o Sr.D saindo da praia revoltado.

A melhor pegadinha do século.

(...)

Depois de alguns minutos, a queima dos fogos ocorreu mas a verdadeira atração da noite já tinha acontecido.

Estava deitado com Dilan na areia observando algumas garotas. Mas nenhuma delas me chamava tanta atenção quando uma loirinha... Zoey DiLaurenci. Ela estava sentada sozinha em um rochedo, próximo de onde as ondas quebravam e ela estava segurando um daqueles fogos pequeninhos, ela estava tão entretida com ele que mal prestava atenção no que estava acontecendo ao redor.

Levantei-me e caminhei na direção de Zoey. Dilan nem pareceu notar, ele estava entretido demais em uma leitura qualquer. Subi no rochedo onde Zoey estava sentada e parei do seu lado.

–Então quer dizer, que a maré trouxe uma sereia para a praia é? – Pronunciei e ela se virou.

–Errou de parente olimpiano. Eu sou filha de Hades, não de Poseidon.

–Mas é uma sereia do mesmo jeito. – Sorri e sentei do lado dela.

–Babaca – Ela revirou os olhos, voltando a brincar com os fogos.

–Quer dizer que estes fogos são mais legais do que eu?

–Com certeza – Ela sorriu, balançando-os com mais força.

–Estes fogos não fizeram a melhor pegadinha do século.

–É. Foi engraçada. – Ela não parou de olhar para as faíscas, brincando com elas.

–Zoey, Zoey, Zoey. Esse brinquedo não pode nem ser comparado comigo. Eu não apago, eu não canso. E, uma hora, você vai se cansar dessas faíscas. Uma hora elas apagam.

Ela ficou um tempo quieta mas soltou uma risada mais parecida com um deboche.

–E então, quando elas apagarem, vou fazer a mesma coisa que você costuma fazer com as suas namoradas – Ela se levantou e soprou os fogos, fazendo as faíscas apagarem. – Vou jogar fora. - Dito isso, Zoey lançou o que sobrou dos fogos no mar, se virou e foi embora, me deixando sozinho no rochedo.

[P.O.V. – DILAN FEVERS]

Depois da pegadinha, o Sr.D estava furioso. Quíron tentava acalma-lo mas de vez enquanto, eu via uma risada se formar dos lábios dele. Se o Sr.D descobrisse que eu e Tony tínhamos feito isso, ele iria nos transformar em pequenas latinhas de coke diet.

A praia estava começando a ficar vazia, andei na beira do mar onde a maré alta quebrava na praia, fazendo meus pés ficarem molhados. Como filho de Zeus, não deveria estar me sentindo tão confortável andando na beira do mar mas depois da antiga guerra contra Gaia, a maioria das rivalidades dos Deuses tinham sumido. Se bem que, algumas vezes quando estava na praia, as ondas quase sempre quebravam em mim.

Estava ficando cada vez mais afastado do acampamento quando ouvi um pequeno grunhindo, um barulho de choro quase imperceptível. Sai da beira do mar e caminhei pela areia, seguindo o barulho. Ele vinha de trás de um rochedo.

–Olá? Você está ferido? Eu não vou te machucar.

O silêncio me respondeu. O único barulho naquela praia era do vento e das ondas quebrando.

Talvez fosse minha imaginação.

Virei-me e voltei a caminhar, dessa vez, na direção do acampamento, quando uma voz fina finalmente me respondeu.

–Eu não sou um animalzinho indefeso para você falar assim comigo – Lottie tinha saído de seu esconderijo e caminhava até mim. Seu olho estava manchado com a maquiagem preta dos olhos, suas roupas estavam molhadas e seu cabelo loiro estava embaraçado, ela segurava uma mochila com força, apertando-a contra seu peito.

–Ei, ei. Ta tudo bem Lottie – Eu abri os braços, nem ligando para o fato dela estar toda molhada, e ela veio ao meu encontro me abraçando com força. Seu cabelo tinha cheiro de sal e cigarro. – Eu vou cuidar de você.

–Não sei se alguém pode fazer isso sem ser eu mesma. – Ela disse baixinho, acho que não era sua intenção me deixar ouvir mas ouvi do mesmo jeito.

–Quer me contar o que aconteceu? – Ela soltou o meu corpo e se jogou na areia, deitando-se.

–É que bem, a vida é confusa. – Ela fechou os olhos. – Ouça, o mar não está maravilhoso hoje? Deite aqui e ouça.

Fiz o que ela pediu e me deitei na areia, fechando os olhos. O barulho era o mesmo.

–Lottie... Você foi no mar agora? A água está gelada.

–Uhum, fui tentar ficar no meu equilíbrio.

–No seu o que? – Abri os olhos, confuso.

–Equilíbrio. Sabe, eu não sei se você sabe mas eu sou filha de Poseidon e bem... Eu estou perdida. E o mar me ajuda a clarear as ideias.

–Uhum, mas por que você está perdida?

–Eu não sei em que tempo viver.

–O que? Você vive no presente como qualquer um.

–Na, na, ni, na, não. Você errou muito. Errou feio – Ela cantarolou. – Você pode escolher que tempo viver.

–Nã...

–Shii. Eu estou falando! Olhe o Tony, ele vive no presente. Ele nem liga para o futuro e para o que as ações deles vão fazer com ele. E a Alexy, ela vive no futuro, ela só está pensando no que fazer até o aniversário dela de 16 anos. Ela está muito ferrada.

Ela não falava coisa com coisa.

–Entendi. E você. Em que tempo você escolheu viver?

–Nos três. – Ela começou a trançar o cabelo.

–Mas você não só escolhe um? Viver nos três é possível?

–Talvez.

A resposta dela pairou no ar por um tempo. Essa garota era muito complexa. O barulho das ondas do mar continuou com mais intensidade a medida que as ondas quebravam.

–Bem! – Ela se levantou em um pulo. – Eu estou indo! Até mais Dilan, a gente se encontra por ai. – Ela se aproximou de mim, me dando um beijo na bochecha e catou sua mochila, colocando-a em suas costas e se virando, me deixando na praia observando sua silhueta desaparecer a medida que andava para longe de mim.

–Até amanhã...