Um dia antes:

Ser filho da Deusa da Sorte era até que legalzinho. Era tipo achar dinheiro na rua: legal pelos primeiros cinco minutos mas depois aquele dinheiro estava na sua carteira e você já tinha esquecido dele.
E é claro que eu já perdi a conta de quantas notas já achei na rua.
A sorte era algo esquisito, sabe? Ela te dava um monte de coisas a ponto de você aprender a viver com ela mas quando ela desaparece, sua vida fica incompleta.
E sejamos francos: eu sou um cara sortudo mas não quer dizer que sou feliz.
A sorte não faz as pessoas mudarem ao seu favor, ela só te ajuda com coisas inanimadas

Se a sorte estivesse mesmo ao meu favor, eu provavelmente já teria beijado alguém.

Okay, okay, essa é a deixa para você rir. Pode rir o quanto quiser, eu não ligo... Eu estou me guardando para uma pessoa especial. E por falar nela...

Alison Beat tinha acabado de passar, ela estava com os cabelos castanhos soltos e com uma jaqueta de couro por cima da blusa do acampamento. Ela não sorria – ela quase nunca sorria em público, mas ela caminhava com uma aura única que, por um lado me assustava mas pelo outro me fazia sorrir.

Ai, como eu sou idiota.

Ela estava andando até o campo de treinamento, eu levantei do banco que estava sentado, catei meu violão e fui atrás dela.

Se eu tiver sorte, ela não vai me ver. Pensei.

Segui ela por um tempo até ela chegar no campo de treinamento, me escondi atrás de uma árvore e apoiei meu violão no chão enquanto observava a cena: o Sr.D tinha chegado junto com Quíron e eles começaram uma série de treinamentos avançados que eu nunca tinha visto ninguém do acampamento fazer. Se Alison estava cansada, eu nem conseguia notar.

Essa garota é incrível.

O treinamento consistia em reflexos, lançadores de bola de tênis foram equipados em volta da menina e aleatoriamente, cada um disparava. Ela defendia e esquivava perfeitamente.

Eu queria saber o que levou ela a ter esse treinamento.

O treino continuou por mais meia hora, quando o Sr.D e Quíron deixaram Alison descansando, eu dobrei dois dedos e levei a boca, assoviando.

Ela se virou para ver de onde vinha o assobio e eu ri, continuando assoviando. Quando ela notou a direção, caminhou até a árvore onde eu estava, eu dei a volta e parei atrás dela.

–Olá Senhorita – Disse atrás dela.

Ela soltou algo parecido com um grito e um palavrão e reagiu instantaneamente me dando uma cotovelada no nariz. Eu tinha assustado ela.

E hoje não era meu dia de sorte.

–Opa! Opa! Relaxa, sou um campista! – Ergui as mãos para o auto mostrando minha inocência.

–Puta merda. Você me assustou. – Ela pareceu relaxar. – Ai meu Zeus! Seu nariz ele está...

Abaixei minha mão e levei-a em direção ao nariz, como pressuposto, estava sangrando.

Droga. Não é meu dia de sorte mesmo.

–Deixa que eu te ajudo! – Ela correu até o lugar onde estava treinando e pegou uma toalha branca e voltou correndo. -Aqui, tome. – Ela estendeu a toalha – Relaxe, eu não usei ela.

Peguei a toalha e levei até meu nariz, limpando o sangue que estava lá, manchando a toalha de vermelho.

–Está melhor? – Ela perguntou

–Uhum, já parou de sangrar – Tirei a toalha do nariz, mostrando para ela meu nariz limpo.

–Caramba garoto! O que você queria?! Você me deu um baita susto.

Ela deve me achar um idiota.

–É que... É que bem – eu cocei o cabelo – Eu te vi treinando e queria te dizer que você estava incrível.

Bochecha vermelha não! Bochecha vermelha não!

Okay, qual é o meu problema? Eu pareço um filho de Afrodite.

–Ah... – Ela ficou vermelha. Isso é algo bom? – O-obrigada...

–Eu me chamo Kurt Willians, Tique. – Estendi minha mão para ela.

–Alison Beat, Nyx. – Ela apertou, fazendo o vermelho desaparecer e dando espaço para uma risada.

Eu sei que você é.

–Nyx? Achei que ela não podia ter filhos... – Disse sentando sob a sombra da árvore, encostando minhas costas no tronco.

–Nem eu... – Ela bufou, se sentando ao meu lado. – Mas então... Kurt? – Acenei concordando -... você está aqui faz quanto tempo?

–Hm, seis meses. E você?

–Ah... – Ela riu – Oito anos.

–Uou. – Soltei. Eu realmente não estava esperando por essa.

–É... Já sei tudo sobre o acampamento, de uma ponta a outra.

–Isso deve ser incrível.

–É...

Ficamos um tempo calados. O assunto tinha morrido? Eu beijo agora? Como é que eu vou fazer isso? Eu coloco a língua direto ou...

–Srta. Aline – A voz rouca e inconfundível do Sr.D ecoou atrás de onde estávamos, dando uma deixa para Alison voltar para o treinamento.

–Meu intervalo já acabou... – Ela parecia... triste? – Até mais Kurt – Ela me deu um beijo na bochecha e se levantou.

–Até mais Srta. Aline – Eu disse e ela riu.

Alison estava andando em direção ao treino quando parou, ela se virou para mim e sorrindo disse:

–É bom ter um amigo por aqui... Só tenho a Alexy, a Lottie e agora... você.

Dito isso, ela se virou e seguiu seu caminho. Continuei seguindo-a com o olhar, boquiaberto, sem processar uma só palavra do que ela tinha dito.

Amigos?

[P.O.V – ALISON BEAT]

O treino seguiu a mesma coisa por pelo menos mais uma hora. Mas era impossível se concentrar nas malditas bolas de tênis.

Por que eu tive que dizer para ele que ele era apenas um amigo?

Tudo bem... Tudo bem... Eu tinha conversado quinze minutos com ele porem... Tinha algo naquele sorriso bobo dele que me fazia perder a atenção em qualquer outra coisa ao meu redor.

Uma bola de tênis bateu com força no meu antebraço esquerdo.

–Se concentre Srta. Aline! – O Sr.D gritou enquanto tomava um gole de sua coke diet.