Nirvana escrita por Soufis


Capítulo 28
2- Alexy: A melhor pizza de pepperoni desde 1985


Notas iniciais do capítulo

♥ espero que vocês gostem!



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Abri os olhos e me sentei sobre o sofá que estava deitada, como se estivesse acabado de sair de um pesadelo.

Respirei fundo algumas vezes e analisei o lugar que eu estava, que por sinal, não era nada parecido com as paredes rosas do chalé de Afrodite: as paredes eram cobertas com um papel de parede vinho e o chão era revestido com um assoalho vermelho e branco, ao meu redor mesas e cadeiras repousavam vazias, um pouco mais para frente existia um palco com alguns instrumentos musicais abandonados e alguns cartazes indicando que a pizza de pepperoni era a melhor de Nova York em 1980.

Coloquei força no meu corpo para levantar e, ao ficar de pé, senti meu corpo todo doer como se não andasse fazia tempo. Ignorei a dor e me dispus a andar, a minha última lembrança era de estar na praia com Nate. O que diabos eu estava fazendo nesse lugar?

Passei por todas as mesas, analisando os guardanapos bem dobrados e os cardápios indicando a pizza do dia. Aquele lugar estava estranhamente vazio, e quando um semideus desarmado acordava em um lugar desconhecido e deserto, era sinal de problema. De um grande problema.

Conforme ia atravessando o salão, procurava nas mesas alguma coisa que poderia usar como arma ou algo do gênero. No canto do salão, uma única mesa repousava debaixo da janela. Caminhei até lá um pouco mais rápido do que de costume e quando cheguei lá, apenas uma câmera de vídeo repousava sobre a toalha quadriculada.

Suspirei, não era bom andar desarmada, mas uma câmera de vídeo iria servir. Podia gravar algo para os próximos semideuses que vierem parar aqui ou algo do gênero.

Estendi meu braço para alcançar a câmera e quando a toquei, um chiado irritante saiu dela, preenchendo o salão. Trouxe a câmera mais para perto do corpo e apertei um botão aleatório, fazendo o chiado parar e a imagem de um garoto surgir do visor da câmera.

– Meu nome é Fera – O garoto da foto começou a falar, extinguindo todo o silêncio do salão – Se você está vendo isso, é porque chegou no inferno. Ou o que deveria ser um – Ele olhou para os lados, um pouco assustado e começou a sussurrar – Vocês já devem ter visto isso... O que é aquilo no espelho? Aquela sombra que você vê no canto do olho? O que são esses passos que você ouve durante a noite... O que tem debaixo da cama?

A gravação começou a falhar e a voz do garoto parecia cada vez mais oca.

– Talvez estejamos loucos... Ou talvez... Eles sejam reais. Talvez nossos medos sejam reais. Talvez, nunca estivemos sozinhos – O salão começou a ficar mais frio, as palavras do garoto estavam me assustando - Até agora, tudo o que posso te dizer é sinto muito. Suas vidas estão em perigo a partir que vocês colocarem o pé neste lugar...

A gravação ficava cada vez pior, ela já estava no fim. O garoto do vídeo me encarou com todo o sentimento de pena que já tinha visto no olhar de alguém e falou.

–Bom... Pelo visto é isso. A gravação acaba por aqui. Uma última coisa: aconteça o que acontecer, não durmam, não cochilem, não sonhem. Nem por um minuto. Eles são mais fortes em nossos sonhos e sua vida agora depende disso.

– Eu sinto muito. - A voz do garoto do vídeo falhou e ele desligou a câmera, indicando o final do vídeo e o fim da gravação.

O barulho da câmera chiando voltou a ecoar, me deixando sozinha com as palavras do garoto.

O que é aquilo no espelho? Aquela sombra que você vê no canto do olho? O que são esses passos que você ouve durante a noite... O que tem debaixo da cama?

Fechei os olhos e respirei fundo. Quando abri-os, encarei a parede na minha frente e reparei no meu canto do olho: havia alguém parado do meu lado.

Minhas pernas tremeram e minhas mãos começaram a suar gelado. Respirei fundo três vezes e fechei os olhos.

Eu estava sozinha.

Era apenas um sonho idiota.

Abri novamente meus olhos e encarei o canto do olho.

Eu nunca estaria sozinha.

Estiquei meu tronco e agarrei a câmera, colocando-a no bolso do casaco e voltei a andar pelo salão, analisando cada detalhe do lugar. Quando estava próxima do palco, algo passou correndo atrás de mim e a porta da cozinha foi batida com força.

–Olá? – Caminhei até a cozinha, com o coração na boca.

Abri a porta da cozinha e entrei no lugar silenciosamente. A cozinha estava relativamente escura e as poucas luzes que estavam acessas estavam fracas. Tateei a bancada e apanhei uma faca. Pelo menos agora eu tenho uma arma.

– Vire-se – Uma voz desconhecida ecoou atrás de mim. Deslizei a faca para dentro da minha bota com cuidado, esperando ele não perceber e me virei.

Parado alguns centímetros atrás de mim, o garoto do vídeo segurava uma faca, deixando-a em riste para mim.

– Uau, uma faca – Zombei – Não sabia que você tratava suas visitas assim, onde estão seus modos?

– Quem diabos é você?! - O garoto do vídeo ainda segurava a faca, me encarando como se eu fosse um monstro ou algo do gênero.

– Meu nome é Alexandra. Agora, porque não abaixa essa faca para a gente conseguir conversar sem ter uma arma entre nós dois?

Ele me encarou, analisando se eu podia lhe causar alguma ameaça. Ele guardou a faca e continuou com os olhos vidrados em mim. O que diabos ele estava fazendo?

– Certo, Alexandra.

Ele sentou em um joelho e olhou para os meus ferimentos. Eu enruguei a testa, estava extremamente desconfortável com a situação.

– Ótimo. - Bufei e escondi meus braços atrás do corpo. Não gostava dele me encarando - Quem é você e o que eu estou fazendo aqui?

– Não posso simplesmente te falar quem eu sou. Você pode ser um monstro ou...

Não deixei ele terminar, levei minha mão até minha bota de onde retirei minha faca. Ele não teve tempo de raciocinar, eu apenas empurrei ele no chão e coloquei a faca próxima a sua garganta.

– Você não está entendendo, querido - Aproximei a arma do pescoço dele - Quem é você? - Repeti, encarando ele - E como eu saio daqui?

– E olha só a garota que falava sobre modos poucos segundos atrás – Ele zombou e eu arqueei uma sobrancelha, desafiando-o.

– Não sou uma garota muito educada – Abri um sorriso, zombando dele – Agora me responda. Quem. É. Você?

– Em primeiro lugar, princesa, não sei se já percebeu mas não conseguimos sair desse lugar. Estamos presos aqui.

– Estamos presos em uma pizzaria?

– Pelo o que parece... – Ele revirou os olhos e eu empurrei seu ombro direito para baixo, imobilizando-o mais – Ok! Ok! Estamos presos aqui pois estamos em uma espécie de pesadelo.

– Uma o que?

– Eu não sei se você reparou... Mas isso aqui não é uma pizzaria normal. Somos uma espécie de ratos de laboratório. Eles jogam nossos maiores medos para enfrentarmos e testar até quanto tempo não ficamos loucos. Eles estão sempre fazendo esses jogos – Ele fez uma cara de nojo – Somos apenas as experiências de laboratório deles.

– Deles quem?

– Shhhhh – Ele fez uma cara feia para mim – Não podemos falar tão alto assim. Eles controlam tudo aqui.

– Eles quem? – Sussurrei, encarando o garoto.

– Phobos, Hipnos e Nyx. Os controladores.

– Como vim parar aqui? – Indaguei, olhando para os lados, apreensiva. Já tinha me metido com Nyx em Nova York e não foi uma experiência agradável.

– Você dormiu, entrou em coma, está desmaiada ou sei lá. Você não está acordada do lado de fora, e é por isso que veio parar aqui – Ele disse com os olhos vibrados nos meus - Eles estão atraindo semideuses para cá faz anos. Eles invadem os nossos sonhos, onde eles têm maior poder e nos fazem encarar nossos maiores medos. Não me diga que você nunca teve um pesadelo que parecia tão... Real – Ele sussurrou a última palavra.

Meu corpo estremeceu com as suas palavras. Se tudo o que ele me disse foi real, sabe lá o que eu veria por aqui.

– Ok, garoto dos sonhos. Agora a última pergunta: quem é você?

– Me chamam de Fera - Ele empurrou meu cotovelo e pegou minha adaga. Eu tinha baixado a guarda. Fera estava apontando minha própria arma para o meu pescoço.

– E nunca mais aponte uma adaga para mim - Ele disse friamente enquanto jogava a faca no chão - Estamos entendidos?

Catei a faca e guardei-a novamente no meu bolso. Fera já tinha levantado e estava entendendo a mão para mim.

Revirei os olhos e peguei na mão dele e ele me puxou, deixando-me de pé.

– Vamos, princesa, preciso te apresentar a pizzaria. Temos a melhor pizza de pepperoni desde...

–Desde 1985 – Completei, irritada – Eu sei.

Fera ia na frente, explicando sobre cada quarto da pizzaria como se fosse um guia-turístico.

“Ei crianças, venham aqui! Na pizzaria da morte vocês serão sujeitos a ter uma amostra grátis do inferno com direito a seus maiores pesadelos!”

Soltei uma risadinha pensando em toda a história do guia-turístico. E ele virou-se, franzindo a testa.

–Qual a graça? – Ele me encarou.

–Nenhuma, nenhuma – Disse sorrindo e ele voltou para seu guia – Senhor guia – Sussurrei a última parte, esboçando um sorriso.

Ele continuou o tour pela pizzaria e devo dizer que estava realmente impressionada com o tamanho do lugar: eram cerca de três salões gigantes, uma pequena coxia onde os artistas que se apresentavam ficavam, duas cozinhas, quatro banheiros, um porão que era usado como dispensa –mesmo sem ninguém comer aqui há anos, uma área externa e um andar de cima, onde ficava a sala do segurança e um sótão onde, de acordo com Fera, não tinha absolutamente nada. Ele não mostrou esse último lugar durante seu tour.

–Então... – Comecei a falar, apertando o passo para ficar do lado dele – Há quanto tempo você está aqui?

– Hãn?

– Você me disse que eles começaram a enviar semideuses tem algum tempo... Faz quanto tempo você está aqui?

– 10 anos. Ou mais, o tempo aqui é diferente do de lá de fora.

– Basicamente uma...

– Uma vida inteira – Ele completou – Eu sei.

– E você esteve aqui todos esses anos e nunca pensou em sair?

– Claro que já pensei. Só que é impossível. – Ele bufou, irritado.

– Então o que vamos fazer por aqui? Ficar parados até morrermos de medo? – Ele continuou seguindo em frente. Esse garoto estava me deixando nos nervos, segurei o ombro dele, virando-o para mim – Ei! Eu estou falando com você!

– Sobreviver – Ele estava sobre uma das lâmpadas da pizzaria e foi ai que eu consegui ver todos os detalhes de seu rosto, as feições eram bem marcadas, ele tinha um pouco de barba e da sobrancelha direita a bochecha, uma cicatriz repousava, cortando seu rosto. Ele não tinha mais do que 17 anos.

– Certo – Encarei ele, determinada – Então vamos sobreviver.

– Escute Alexandra – Ele segurou meu braço – Na verdade, existem duas maneiras de sair daqui.

– E quais são?

– As únicas maneiras de você sair de um pesadelo: ou você acorda, ou você morre.


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Notas finais do capítulo

Quem gostou do nosso guia turístico // fera? o/



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