Nirvana escrita por Soufis


Capítulo 21
Autora - There's no place like home


Notas iniciais do capítulo

Olá! :3 esse cap está curtinho mas é o que está acontecendo com a Lottie. No caso, o que já aconteceu.
Boa leitura ♥



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Se me perguntassem como descrever Lottie Allen eu não saberia te dizer ao certo. Diria que ela era tão mágica como as estrelas do deserto, tão pura quanto a água do caribe, tão excepcional quanto as ilhas gregas e tão misteriosa quanto o triangulo das bermudas.

Mas que bom que você não me perguntou isso.

Lottie apareceu no cemitério no fim do dia. Era seu segundo dia no Brooklin e estava em seu processo de procurar seu Nirvana. No dia anterior, teve algumas complicações com uma manticore

Devido ao encontro inesperado com a besta, suas roupas estavam rasgadas e seu cabelo preso em um coque frouxo embaraçado. Sua calça tinha algumas marcas de sangue devido aos arranhões que tinha recebido durante a batalha.

Qualquer coisa, ela pensou, os mortais podem pensar que eu sou uma mendiga.

Lottie estava no cemitério onde sua mãe foi enterrada. Ela só tinha ido lá uma vez, com a Tia Amélia. Mas ela não se lembrava de muita coisa. Só o caminho.

Ela queria apenas descansar. Ela não sabia quando encontraria seu Nirvana, quando o achara e como seria se sentir livre de perguntas.

Ela sentou e apoiou o tronco na árvore.

–Desculpas por nunca ter ido te visitar, mãe – A menina começou, rodando a flor branca que tinha comprado logo na entrada do cemitério nos dedos – Eu nunca soube se você tinha me perdoado por bem... Eu causei sua morte, não foi?

O túmulo não respondeu e o cemitério continuou silencioso. Uma brisa balançou os ramos da árvore que estava sobre sua cabeça, derrubando algumas folhas no cabelo da menina. Ela ignorou e continuou a conversar com a mãe - ou o que tinha restado dela.

–Eu estou em uma missão impossível mãe. Eu fugi, eu me escondi e agora estou aqui, conversando com um morto – Ela suspirou, pensando que devia estar louca.

Mas sejamos sinceros, sem um pouco de loucura, era impossível permanecer sã nesse mundo tão sem sentido.

Ela esperou uma resposta, mas já que o silêncio não se atreveu a falar, ela continuou.

–Tudo começou quando eu li em um livro que Nirvana significava liberdade. Liberdade do sofrimento. Acho que algumas pessoas diriam que morte é exatamente isso. Então, parabéns por estar livre, acho. O resto de nós ainda está aqui, agarrado aos cacos.

Lottie não esperou uma resposta dessa vez. Ela deitou na grama ao lado do tumulo da mãe e ficou ali, encarando o céu até uma borboleta pousar em sua barriga.

–Olhe mãe – Lottie tentou não fazer movimentos bruscos e conseguiu colocar o dedo na frente da borboleta, que subiu nele e encarou Lottie – Sempre gostei de borboletas. Elas já foram lagartas presas ao chão. E então, um dia, elas decidiram que estava na hora de mudar, elas se isolaram em um casulo e depois de um tempo, quando decidiram que estavam prontas para encarar o mundo, saíram desse casulo como uma linda borboleta. Elas eram livres, podiam voar para onde quiserem.

Dito isso, Lottie estendeu o seu dedo e a borboleta voou para longe

–Acho que elas encontram seu Nirvana e conseguem voar. Eu também quero voar mãe.

Lottie fechou os olhos e se imaginou voando entre as árvores do cemitério, pelo Rio East, pela ponte do Brooklin, pelos campos de morango do acampamento e pelo oceano Atlântico.

–Talvez eu tente voar mãe. Mas não hoje. Preciso resolver mais algumas coisas antes de me libertar. Falar com alguns fantasmas e tudo mais. Mas até lá... Fica com isso.

Ela suspirou e deixou uma rosa branca no túmulo da mãe. Ela havia escrito Nirvana nas pétalas, pois um dia tinha lido em um livro de poesias que quando alguém deixava algo para um morto, ele absorvia os sentimentos que você tinha depositado lá. Então, esperava que sua mãe absorvesse esse sentimento de libertação, de equilíbrio e de paz.

Lottie deixou o tumulo da mãe e a flor com Nirvana para trás e voltou para onde estava ficando. Ela saiu do cemitério e andou algumas quadras até chegar na frente da loja de penhores dos tios onde passou toda sua infância.

A The Allen’s – Vintage stuffs and other things continuava a mesma coisa do que era há quatro anos atrás: a parede de tijolos pintada de azul, o cheiro de cookies que era sentido logo da entrada, a madeira entalhada e tudo mais.

A menina sentiu uma dorzinha no coração quando passou pela loja dos tios que tanto amava mas abriu um sorriso quando viu que eles ainda estavam juntos, cozinhando cookies e cuidando da loja. Ela ficou observando pelo vidro por um bom tempo até a noite cair e as luzes dos lampiões da rua acenderem.

Lottie virou-se e suspirou. Duas quadras depois estava sua antiga casa, onde sua mãe tinha passado seus dias de gravidez. Depois de sua morte, a casa ficou abandonada e silenciosa. Como se ainda tivessem fantasmas e ecos de palavras que nunca foram ditas.

A casa ficava em cima de uma cafeteria e Lottie tinha a chave desde quando era pequena. Ela costumava ir para a casa antiga da mãe para pensar sobre a vida e aos oito anos roubou a chave da tia.

Ela subiu as escadas que levavam para o andar de cima e destrancou a porta do apartamento 13. Ela jogou sua mochila no chão e fechou a porta. Tudo estava do mesmo jeito que antes: o sofá com o lençol bagunçado – que Lottie dormia toda noite desde que tinha chegado ao Brooklin, as caixas de pizza que tinha comido noite passada estavam jogadas no chão e os livros de sua mãe ainda repousavam sobre a prateleira.

Lottie deitou no sofá e fechou os olhos, ela estava totalmente cansada e as pálpebras não conseguiam mais ficar abertas.

Boa noite.


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