A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 27
Um rio de lamentações


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou de fériaaaaas!!!! Agora posso postar a fic regularmente!
Esse capítulo marca o início da última fase da fic. Estamos no final, senhoras e senhores.
O capítulo está um pouco triste também.
Espero que curtam e me perdoem pela lentidão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/514036/chapter/27

Diário do Berg

Ensino médio, escola nova, confusões, entrevista de emprego, aliste-se já! A partir daí minha vida se resumia a isso. A espera incansável pela garota que gostava de mim, mas me evitava, me deixava insano, mas controlado o bastante para acreditar que quando ela voltasse da reabilitação do Rio estaria livre de todos os seus maus vícios que um dia tivera.

Valentina não me dava chances de falar com ela, fosse pelo telefone, fosse pela internet. Ela me evitava e fugia de mim de todas as formas. Mas eu sabia que era porque ela não queria sofrer. Não sei se para ela nosso namoro havia terminado ou dado um tempo. Pra mim não.

Mudando de colégio, eu realmente desejei profundamente apagar da minha testa o aviso “ME ODEIE, OU ME IGNORE” e colocar “BERG, ESTOU PRONTO PRA FAZER NOVOS AMIGOS”, mas não consegui. As pessoas me tratavam de uma forma grotesca, parecia que eu era um estuprador ou coisa parecida. Me chutavam dos grupinhos de estudo como se eu fosse um vira-lata sarnento. E tudo isso por eu seu um nerd novato.

Devido a isso, me martirizar de todas as formas às escuras passou a ser normal para mim. Eu não sabia ou não admitia, mas cheguei numa situação crítica a ponto de precisar ajuda. Se na escola ninguém me aturava, em casa ninguém me ouvia. Não tinha ninguém pra conversar, o mundo todo parecia contra mim.

***

Existiam muitas escolas para estudar no ensino médio em Fortaleza, mas a Madalena preferiu continuar no meu pé. A única pessoa que eu não gostaria de conversar. O lance que ela estava tendo com o John estava ficando sério. Tão sério a ponto de ela gazear aula em cima da moto com ele.

Estava chegando o dia de ela pagar sua boca. Adorava criticar a Valentina por ela ser dependente química. Se ela era a sabe tudo, deveria saber quem fornecia as drogas, não?

Depois do micão que ela pagou na formatura, eu nem chegava perto dela. Madalena olhava pra mim com ira, com os olhos de fogo. O colégio era grande e ela não caiu na minha sala.

***

Andreza e Rafa sabiam que a vida de casados não era nem um pouco fácil. Ainda mais com a pequena Débora que era um baita de um bebê chorão. Mas era normal. Eu mesmo me dispunha a ficar cuidando dela à noite enquanto Rafa estudava e Andreza trabalhava.

Isso mesmo, minha irmã estava trabalhando, e de DJ na Mofoville. Também, depois do sucesso que ela causou naquela noite, queria o quê? Ela, de vez em quando, me dava umas dias para que eu aprendesse também. Andreza me disse que fizera um desses cursos oferecidos pelo governo e nunca imaginara que um dia viesse a precisar dos seus dotes de Dj. Bom... pra tudo tem um vez!

Mesmo com a desaprovação do Rafa ela foi. Fazia a galera agitar nas noites cearenses. A Mofoville cresceu bastante e a minha irmã ajudou muito para isso. Fernando, o dono da boate, adorava minha irmã, mas nem eu e nem o Rafa estávamos gostando da amizade dos dois. Brigas e discussões entre eles eram constantes devido a isso.

Ludi era a única que estava se dando bem nessa história toda. Ela conseguira um papel na Malhação. A única coisa ruim era que ela teria que mostrar que gostava daquela novelinha adolescente. De boa, a nossa vida é muito mais interessante do que a deles. Mas tudo bem, já era um grande passo para a carreira dela.

Na escola de arte ela escondia que gostava de meninas pois as pessoas eram altamente preconceituosas. Ela disse que vivia num quarto com várias meninas, onde elas se despiam sem nenhuma vergonha. Minha amiga não era tão “sedenta” mas ela disse que evitava, pois poderia acontecer alguma coisa no futuro.

Será que algum dia nós iríamos voltar a ser aqueles quatro amigos normais? Querendo apenas estudar, nos divertir? Os problemas pareciam aparecer na nossa vida cada vez mais, e cada vez mais nós parecíamos afastados.

💜

E os dias se passaram. Talvez mais lentos, só porque eu queria que passassem depressa. Já era Abril, início das aulas. Como já contei aqui, as aulas começam por esse mês no Ceará, devido às greves de professores.

Abril, Maio, Junho, e o tão esperado Julho. Só três meses. E ela nem pra me ligar.

Deitava todos os dias, pensando em como ela estaria, se precisava de algo, enfim. Eu escutava as músicas daquela época. Me bateu uma saudade de I’m With You, da Avril Lavigne, e sempre que eu escutava lembrava imediatamente da Valentina e começava a chorar. Era tenso.

Valentina, por que estava fazendo aquilo comigo?

Na escola, eu era motivo de chacotas. Queria sumir. Em casa, minha mãe e meu pai não me escutavam, jogavam tudo na minha cara, coisas do tipo, "não falta nada pra você", enfim. Para eles, se eu tinha o que comer, estava bom. Eu precisava de atenção. Não havia um dia que eles me perguntavam como eu estava indo na escola, se minhas notas estavam boas, ou se eu estava precisando de alguma coisa.Tomar conta das minhas outras duas irmãs menores, gêmeas, se tornou coisa de todos os dias depois que a Andreza casou e teve a Débora.

Elas duas, Lina e Lana eram verdadeiras pestinhas, Tinham apenas seis anos. Sei que nunca falei muito delas aqui, só disse que tinha quatro irmãos, mas eu não gosto de falar muito desse tipo de coisa. Meu outro irmão já era mais velho e morava em outro estado e era casado com uma moça tão rica quanto ele.

Mas Lina e Lana valiam por uma creche inteira. Eu não gostava de ficar com elas, pois tomavam o meu dia quase inteiro. Sabia que eu tinha que ajudar meus pais que trabalhavam o dia inteiro, mas minha vida se baseava em colégio e casa. Um saco!

Por isso, quando eu negava, ou quando reclamava, meus pais jogavam na minha cara tudo o que fizeram por mim. Brigas tornaram-se constantes com eles. Até que um dia, o Rafa, a Andreza e alguns amigos deles me convidaram pra sair, e meus pais não deixaram. Meu sangue subiu todo até a cabeça, onde esquentou. Não aguentava mais engolir sapo em casa e na escola, onde todos me odiavam.

— Eu vou sair com eles e pronto. — falei calmamente.

— Quem manda aqui, não é você. Somos nós, e você tem que fazer o que nós mandarmos. Somos seus pais.

Sabe, não vou mentir. Já apanhei muito dos meus pais, mas depois de grande seria uma vergonha pra mim mesmo. Hoje em dia sei que eu estava fazendo por merecer, caso eu levasse algumas bordoadas.

— EU NÃO VOU FICAR DE BABÁ!

Meu pai era o mais esquentado.

— COMO É?

— NÃO É JUSTO, PAI. —Nunca respondo meus pais, sempre os respeitei. Acho que quando a gente vai crescendo, vai criando na nossa cabeça nossa própria concepção do que é justo ou não.

Meu pai pegou um cabo de vassoura, enquanto a minha mãe assistia tudo calada. Creio eu que ela estava passando mal, mas não quis demonstrar.

Corri até o banheiro, onde me tranquei e chorei pra caramba.

—ABRE ESSA PORTA, LINDEMBERG!

— SAI DAQUI. SOU ESCRAVO, AGORA?

Olhei-me no pequeno espelho que havia no banheiro, o qual eu e meu pai usávamos para nos barbearmos.

— Como eu sou insignificante! — Eu sussurrava enquanto via meu rosto coberto de espinhas, com um óculos "fundo de garrafa" e uma expressão que deixava a desejar.

— COMO EU SOU INSIGNIFICANTE! — Gritei com todas as minhas forças e soquei o espelho, que se partiu em grandes pedaços, assim cortando minha mão.

O sangue escorria e a cor vermelha, viva, destacava-se com a porcelana branca da pia.

Vi uma parte do meu rosto em um dos pedaços pontudos do espelho. Me abaixei, e mesmo com a mão sangrando muito, o peguei. Virei meu pulso, e o olhei.Encostei a ponta, afiada, na veia do meu braço. Não ouvia mais nada, nem o som da água saindo da torneira, nem mesmo meu pai gritando lá da porta.

💜

Abri os olhos... Quanto tempo havia se passado? Já era Julho? Não! Minha vista estava embaçada, o calendário no lado do leito de hospital marcava 25 de Abril.

— Ele acordou! —Nunca tinha ouvido aquela voz na minha vida, mas o rosto sim, eu já tinha visto.

— Quem é você? —Perguntei, o rosto me era familiar, porém ainda não sabia da onde.

— Sou eu, Juliana. Sou da sua turma, do 1° ano.

Juliana estava acompanhada de dois garotos, que também eram da minha sala: o e Eri e o Jackson.

— A gente veio te visitar depois que soubemos o que aconteceu. —Explicou Eri.

— Foi mal, a gente mal te conhece, mas a gente entende o que você fez. —Disse Jackson. —É ruim o que você passa dentro da escola, a galera de chuta geral.

— Não precisa ficar com peninha de mim. —Respondi.

—Vai dar uma de adolescente problemático, Berg? —Minha mãe falou com todas as letras. — Seus amigos vieram aqui de livre e espontânea vontade e você os trata desse jeito?

— Desculpa, gente. Mas, o que aconteceu?

— Você perdeu muito sangue, Berg. Que loucura você fez!

— Eu queria morrer, mãe.

— Por quê, meu amor? Você tem uma família que te ama!

— Custava me escutar uma vez? Só assim a senhora e o pai vão me escutar! Eu queria me divertir?

— Mas só por isso?!

—Não, mãe. Eu já tô cheio. Sinceramente eu queria sumir, me enterrar, o diabo que fosse. Na escola todo mundo me odeia e em casa tá um inferno depois que a Andreza casou.

— Nem todo mundo te odeia! — interrompeu Juliana. —É que a galera lá não sabe muito como fazer com que os novatos se enturmem, mas a gente gosta de você, e te admira pra caramba. Você é inteligente demais!

Tive alta do hospital naquele dia mesmo. Na outra segunda feira, uma semana depois, voltei à aula.

As pessoas me olhavam de cara fechada agora, mas eu tinha três amigos dentro da minha sala. Também conheci a Bruna e a Rafaela. Cara, nós seis conversávamos muito, inclusive dentro da sala.

💜

Eu estudava na escola Isadora Quevedo. Ficava meia hora da minha casa, se eu fosse a pé. Estudava de manhã e eu ia sozinho enquanto a Madalena sempre passava dando tchau em cima da moto com o John quando eu estava bem no meio do caminho.

Se eu fosse de ônibus demoraria mais, por causa da lotação que era pela manhã, então eu nem ligava de ir andando mesmo.

Estava começando a gostar da escola. A estrutura era muito boa, tinha laboratório de informática, de ciências, uma biblioteca enorme (coisa que na antiga não tinha), os banheiros davam para se saber qual era o masculino e o feminino (diferente da outra). Além de uma quadra enorme, para quem gostava de jogar bola, e um cantinho chamado “Moita”, detrás da salas que ficavam depois da quadra, para os casais que queriam dar uma escapadinha.

O legal era que quem aparecesse com a calça cheia de carrapicho, já dava pra saber que foi até a Moita. Eu mesmo vi muita gente saindo de lá, eu rezava para que ficassem só nos amassos. Sei lá, tinha muita garota grávida lá.

Certo dia, a gente viu a calça do Eri toda cheia de carrapicho. A Bruna despencou a rir, uma risada muito boa, tipo gargalhada mesmo. A gente riu também, foi na onda. O professor de biologia que não gostou. Colocou nós seis pra fora de sala.

Eu fiquei com medo, mas quando acabou a aula dele a gente voltou. Aquilo era constante dentro da minha sala, o “1° ano E”. Era começo de ano, e já era considerado a pior turma do colégio.

Só pra finalizar, a partir do fim do mês de Abril, a diretora estabeleceu as seguintes regras na escola:

É obrigatório o uso da camisa da escola.

( uma verde – piscina, com uma gola horrível. Não sou nenhum consultor de moda, mas era feia.)

Está proibido o uso do celular ou qualquer aparelho eletrônico na sala de aula.

Está proibido portar os seguintes objetos na escola: facas, tesouras afiadas, canivetes, estiletes, etc.

Beber água ou ir ao banheiro, apenas na hora do intervalo, da entrada ou da saída

( e se tivesse na tampa?)

Não pode beijar.

(Hã?)

Essas regras acabaram geral com a minha, ou com a alegria de cada um. Principalmente a última. Que ridículo!

Teríamos agora de conviver com as regras, mas o que mais nos aborrecia era a última. Sem beijo?! Onde já se viu? Eu não me preocupava, eu estava ali para estudar. Pode me chamar de careta, e nerd , mas aquilo não me afetava de maneira nenhuma.

Aos meus cinco novos amigos, talvez sim. Nós parecíamos amigos de infância. Nós nos identificávamos entre si.

Bruna não saía do pé do Eri. Os dois ficavam de conversinha as seis aulas e inclusive o intervalo. Olhávamos para os dois com aquela carinha de malícia, tentando insinuar que rolava alguma coisa, mas acho que não. Até hoje eu acho que não, por que a Bruna tinha namorado e tal.

Quando a Bruna não estava conversando com o Eri, conversava conosco, e aí despencava a rir do nada e de qualquer coisa. Seu apelido era “riso frouxo”. Um apelido que realmente caía muito bem.

Jackson já era mais reservado, na dele. Só que ele faltava demais as aulas, pois trabalhava à tarde e aquilo para ele era muito cansativo. Naquele ano ele era repetente. Nosso amigo tinha muita dificuldade para aprender a matéria, e a galera o zoava de burro, ou cantavam o refrão daquela música do Mamonas Assassinas, chamada “Cabeça de Bagre”.

—“Quando eu repeti a 5ª série E, tirava E, D, de vez em quando um C. Mais de dez mil anos se “passaram-se”. Cê, cê, cê, cererê cê cê”. — Essa foi a fala de um dos “populares” da escola.

Essa foi a do Jackson:

—Seu filho da mãe, me deixa em paz. Pergunta a tua mãe quantas vezes eu … (melhor censurar)

— Sai fora, cabeça de bagre!

A Rafaela e a Juliana eram muito amigas. Ambas eram esquentadinhas, porém de um jeito diferente: Enquanto Juliana guardava tudo, caso um dia ela realmente queira brigar de tapa, Rafaela explodia na hora, brigava mesmo, falava na cara e não estava nem aí. Bastava mexer com ela ou com qualquer outra pessoa com quem ela tinha grande afinidade.

Juliana não era muito vaidosa, nem como todas aquelas meninas cheias de não-me-toques. Ela era apenas ela mesma. A garota era muito ciumenta com os amigos, e eu admirava muito isso nela . Eu me identifiquei muito com ela, e logo passei a contar tudo o que acontecia na minha vida pra ela e vice e versa.


💜

Diário da Andreza

Maio já estava aí. Débora já estava com 6 meses de vida e Rafa indo muito bem no emprego.

Aos fins de semana, eu dava uma de DJ na Mofoville e também surpreendia a mim mesma. Deixava minha princesinha sozinha com o pai, mesmo ele não gostando muito. Fazer o quê? Eu tinha que trabalhar. Com o dinheiro que faturava por semana, já dava pra pagar o aluguel.

Mesmo com todos esses benefícios, Rafa achava ruim, mas em silêncio Até que um dia ele resolveu aparecer por lá.

— Rafa, o que você tá fazendo aqui?

— Não posso vir ver a minha gatinha arrasando aqui? —me deu um abraço e um beijo enquanto minhas mãos se ocupavam com todos os botões equipamentos da festa.

— Cadê a Débora?

— Fica fria, deixei ela com a sogra.

Rafa curtiu um pouco o som da Madonna que eu pus. Estávamos felizes até Fernando, um dos donos da Mofoville e meu patrão nos ver.

— Quem é ele?

— É meu marido Sr. Fernando.

— Prazer, Rafa. — meu marido estendeu sua mão, mas Fernando nem ligou, deixando-o no famoso vácuo.

— Desculpa, mas você não pode ficar aqui. Essa área é restrita.

— Mas acontece que eu paguei.

— Pagou pra ficar lá embaixo. — apontou para baixo, onde ficava a pista de dança.

Resolvi intervir, antes que eu me desse mal:

— Rafa, vai pra casa.

— Tudo bem. — ele saiu, mas ainda com aquela cara de raiva. Sabia que teria uma “DR” quando eu chegasse em casa.

Me virei para Sr. Fernando e me desculpei.

— Senhor? Esse pronome me deixa mais velho. Nós tempos quase a mesma idade! Me trate só por Fernando. E não esquenta com o que aconteceu. Eu já esqueci.

— Obrigado Sr. Fernando. Quer dizer, Fernando.

💜

Diário da Madalena

Dane-se agora quem me chamasse de nerd. Eu lá queria saber daquela escola cheia de regras! Queria era me divertir. Quando eu subia na garupa da moto do John, me esquecia do mundo lá fora. Da minha mãe, do meu pai, da minha madrasta louca, de que eu tinha de tomar remédios. Fodam-se todos! Eu tinha a cabeça no lugar e ponto final.

Em uma das minhas matadas de aula, descemos da moto e fomos até o Center Box, supermercado perto da escola, para lancharmos.

Feito, lanchamos, mas quando terminamos, vi meu professor de português. Eu estava de uniforme, e de certa aquela não era hora dele estar na aula, e nem local para eu estar, pois se ele me visse eu estava realmente lascada. Comunicaria à diretora e eu me ferraria feio.

—Ferrou, John. O Túlio tá ali.

—Túlio?

—Meu professor de português.

John olhou para os lados e comunicou a mim algo que eu não desejaria escutar naquela hora.

— Madá, fodeu pra mim também. A polícia tá aqui dentro do supermercado.

— E daí, você não ta fazendo nada de errado.

— E daí que eu não tenho grana pra pagar. “Nós ia” sair daqui correndo né. Você tem?

— Pior que não...

John Lennon me puxou pelo braço e eu gritei. Foi do susto, mas que burrada eu fiz! O policial olhou logo de cara feia pra gente e mais ainda quando passamos do caixa sem pagar. Ele e mais dois correram atrás da gente e quando fomos pegar a moto, eu hesitei:

— É melhor a gente ficar, John.

— Sobe na porra dessa moto! Vamo, eles tão vindo.

— Eu fico, John.

— Sobe! — John tirou o revólver. Eu nunca tinha visto um daqueles na minha vida, mas não era hora de pensar nisso, John estava me ameaçando.

Eu subi, me tremendo de medo. É aquela história: “Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come”.

💜

Diário do Berg

As aulas estavam chatas. Véi, na boa, o ensino médio é muito fácil cara!

Mentira, nas primeiras notas parciais eu levei bomba! Aquele dia foi de receber essas tais notas, mas não tinha ninguém ligando muito para o resultado. Por quê eu ligaria?

“Senti falta” da Madalena, pois ela já estava faltando demais, inclusive nos dias de provas e inclusive naquele dia que era de recuperação das notas. Mas o problema era dela, tinha tanta gente pra se preocupar!

Depois do terceiro tempo, onde recebemos os resultados das parciais do primeiro bimestre, eu e meus amigos fomos nos sentar nos bancos da quadra. Resolvi levar meu violão (pelo menos isso podia lá) e tocar algumas musiquinhas legais lá. Eles gostavam muito de Cássia Eller e atendendo a todos os pedidos, cantei e toquei Malandragem.

Até que um som de vários tiros que vinham de longe, me interromperam. Só a mim não, a todos!

O que estava acontecendo no lado de fora da escola?


💜

Diário da Madalena

Foi uma perseguição acirrada. John e eu em uma moto, e vários policiais atrás, também de moto, ameaçando atirar. Principalmente quando viram que ele estava armado.

— Desce da moto e solta a garota!— Um policial gritou.

Eu já estava pra lá de amedrontada. Estávamos ambos sem capacete e caímos quando John tentou frear quando uma senhora passava na rua. A queda foi feia, e não me lembro de nada a não ser quando eu estava quase fechando os olhos. Vi apenas John subindo na moto novamente. O desgraçado me deixou jogada ali no chão, no meio da pista.



#_Depoimento de uma testemunha_#

Estava indo buscar as minhas filhas na escola quando escutei o ronco de vários motores. Vi que a coisa era séria, pois tanto os homens quanto o garoto da moto portavam armas. Resolvi proteger minhas filhas como pude, entrando num barzinho que havia ali. A situação piorou quando o marginal e a garota (talvez sequestrada) caíram no chão em uma queda quase fatal. Ele não teve escolha a não ser seguir seu caminho sem ela, mas um dos policiais disparou um tiro que deu na cabeça dele.

#_Depoimento do policial_#

Juro que mirei no pneu da moto, mas o tiro foi direto na cabeça dele. Sei que do pneu da moto para a cabeça do rapaz tinha muito, mas o nervosismo e outro mix de sensações me fizeram errar.Quase caí também da moto por causa disso, mas felizmente não. Já o garoto, morreu na hora. Sabia que iria complicar pra mim, mas tinha plena consciência dos meus erros.


💜

Diário do Berg

Não me senti nem um pouco mal de ter visto o John esticado no meio do asfalto e nem ter ido lá para dar apoio à família dele e da Madalena. Eu estava saindo do colégio, pois naquele dia o professor de Física havia faltado.

Desculpa meu Deus, peço perdão, mas ele já foi tarde. Uma pessoa que é capaz de te colocar pra baixo, juntar várias pessoas para te surrar e colocar jovens no mundo do crack merece arder no inferno.

Madalena também estava desfalecida, mas estava recebendo os atendimentos médicos do SAMU. Fiquei com pena da mãe do John quando estavam pondo o corpo dele no rabecão, pois ela gritava “eu quero ir com ele, eu quero ir com ele!”, e tentava entrar no carro e puxar o corpo do filho pra fora. Era assim como várias mães dos bairros mais pobres da minha cidade perdiam seus filhos. Perdiam pro crime, para as drogas, para a violência.

John teve oportunidades, teve quem lhe desse conselhos, mas não teve índole para agir e sair daquela vida enquanto era tempo. Quis levar vários consigo; muitos tiveram o mesmo destino que ele, assim como suas mães terminaram suas vidas lamentando o fato de ter perdido seus filhos e, ajoelhadas e com as mãos sobre um caixão, prestes a enterrar seus frutos para sempre na eternidade. Outros, mais sortudos, tiveram o mesmo destino que a Valentina. Pararam enquanto era tempo, seguiram conselhos de pessoas de bem.

Com as pernas bambas e abalado, segui em frente, não querendo olhar para aqueles carros de polícia e aquele rabecão. Ao longe, ouvia um choro desesperado. Era a mãe de John Lennon da Silva.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Fórmula do Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.