5 de Maio do ano de 2010

Era um dia chuvoso, se passava das 20h e o volume dos estalos vindos do céu só aumentava.

Protegidos daquela forte chuva dentro de uma grande mansão estavam seis garotos que não aparentavam ser muito velhos.

A mansão tinha um toque meio aterrorizante, mas eles pareciam não se importar com isso. Nenhum deles falava nada, apenas se encaravam como se esperassem alguém para quebrar o clima tenso que ali pairava.

– Francamente... O que aquela humana inútil está fazendo para demorar tanto? - O garoto de cabelos pretos que se clareavam nas pontas e olhos em um tom entre rosa e vinho sentado em uma das três poltronas localizadas no ambiente se pronunciou seriamente enquanto arrumava o óculos no rosto, cortando, finalmente o clima ali estabelecido

– Quem sabe? - Disse em um tom retórico outro garoto que estava sentado na poltrona em frente ao moreno acompanhado de mais dois garotos ao seu lado, dessa vez estampava um sorriso no rosto, tinha cabelos castanhos claros e olhos em um verde intenso.

– Quem se importa? - Quem se pronunciou foi o garoto de cabelos albinos e olhos em um tom forte de vermelho que se encontrava encostado na parede com uma expressão de pura raiva

– Vá procura-la - O garoto de cabelos pretos voltou a pronunciar-se, olhando para um dos garotos sentados na poltrona à sua frente.

– O que? Mas por que eu? - Respondeu o garoto para o qual o moreno olhara, tinha cabelos castanho-escuros que eram facilmente confundidos com vermelho e olhos verdes.

– Vá logo - Resmungou o loiro deitado na outra poltrona que até o momento parecia estar dormindo, apesar de ter falado algo, continuava com os olhos fechados e parecia bem concentrado na música que tocava no seu fone de ouvido.

– Tsc... - O garoto resmungou enquanto se levantava e andava em direção à escada que levava ao segundo andar da mansão

O garoto andava calmamente pelos corredores do segundo andar com um sorriso largo no rosto e aproximando-se lentamente do local onde queria chegar, quando de repente ele começou a sentir um cheiro forte e conhecido de... Sangue.

O sorriso automaticamente desapareceu de seu rosto e seus passos calmos foram tornando-se apressados até que ele estava finalmente correndo, um pouco desesperado até.

Ao chegar à porta que era seu destino desde o principio, dispensou as formalidades e com um baque ensurdecedor abriu-a, ou melhor, quebrou-a e entrou apressado. Assim que adentrou o quarto escuro um clarão no céu iluminou todo o ambiente por alguns poucos segundos, que foram o suficiente para que o garoto visse, deitado à cama, o corpo de um garota loira com uma faca de prata cravada exatamente no coração, e então o quarto voltou a escurecer. Os olhos do garoto arregalaram-se enquanto ele olhava fixamente para o corpo da pobre garota deitado sobre colchão daquele quarto escuro, nesse momento o barulho ensurdecedor do trovão veio e logo após outro clarão iluminou o quarto novamente, como se fosse para mostrar ao garoto que aquela cena era real e não sua imaginação pregando uma peça sem graça com ele.

Após perceber isso, em um sussurro baixo e quase imperceptível pelo barulho do trovão o garoto disse somente uma palavra:

– Yui...

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3 de janeiro do ano de 2014

– Acorde pirralha! Você não está aqui para dormir o dia inteiro! - Gritava a mulher que aparentava ter seus lá quarenta e muitos anos, usava uma blusa social branca com mangas longas dobradas até um pouco antes do cotovelo e para dentro de uma saia justa cinza, roupa a qual não lhe caia muito bem por conta de seus quilinhos a mais, mas ela não parecia se importar com isso. Seus cabelos pretos um pouco grisalhos presos em um coque muito bem feito, com no mínimo dois quilos de gel e uma expressão nem um pouco amigável.

– Ah, cale a boca! - Respondeu a garota deitada na cama com o lençol lhe tampando até a cabeça enquanto virava para o lado contrario de onde vinham os berros, mas esse lençol foi rapidamente arrancado pela mulher e a garota recebeu um olhar fulminante que chegaria a dar medo, se ela não estivesse de olhos fechados tentando novamente pegar no sono - Fala sério Margharet, devolva o meu lençol!

– Não enquanto a senhorita não levantar! - Margharet gritou novamente

– Ok, Ok - Disse a garota enquanto se colocava de pé - Pronto, levantei, agora: Devolva. O. Meu. Lençol - Falou pausadamente e esticando a mão na direção da mulher.

– Não devolverei - A garota abaixou a mão enquanto virava o rosto e resmungava um “Ah, mais que droga”- Cale-se e me escute, pirralha.

– Tá bom, vai fala - Concordou enquanto fazia um sinal com a mão para que Margharet falasse logo.

– Vá tomar banho, vista o uniforme corretamente e vá à diretoria, pois a Sra. Garcez quer falar com você e ande logo - A mulher anunciou e se retirou do pequeno quarto fechando a porta com força.

– Vista o uniforme corretamente – Imitou a mulher fazendo uma vozinha fina e uma careta - Quem foi o desgraçado que inventou aquele negocio de respeito aos mais velhos?

A garota caminhou em passos lerdos até chegar ao banheiro e ao chegar lá trancou a porta e largou as roupas do uniforme ridículo na opinião dela no chão e foi se olhar no espelho, não que ela fosse aquelas meninas super vaidosas que passam o dia inteiro em frente ao espelho, não, nem se importava com aparência, ela só queria saber com que cara tinha acordado

Assim que encarou o espelho e viu seu reflexo começou a analisar seu rosto como fazia todos os dias, seus bagunçados e embaraçados, porém lindos cabelos pretos bem escuros que iam até a altura dos seios, seus profundos e penetrantes olhos verde-mar e seus lábios rosados, nada de diferente do habitual tirando as claras olheiras o que também não era muita novidade no rosto da garota. Parou de se olhar para pentear seu cabelo bagunçado e assim que terminou se dirigiu até o chuveiro enquanto tirava seu pijama que era uma calça de moletom preta e uma blusa de manga comprida branca.

Ligou o chuveiro e logo se colocou a cantar a primeira musica que lhe veio à mente.

Após certo tempo decidiu que deveria logo ir ver a diretora, então saiu do chuveiro, se enxugou e vestiu o uniforme que consistia em uma blusa social branca de manga comprida, uma saia plissada cinza que ia até uns quatro dedos antes do joelho e um blazer da mesma cor, a única coisa que a diferenciava das outras garotas era o all star preto que estava sempre no seu pé.

– Esse lugar é mesmo muito monocromático - Falou olhando para a roupa que usava- Só porque uma vez eu coloquei uma calça no lugar dessa saia, agora ficam me enchendo o saco pra colocar o uniforme completo. Droga, eu detesto usar saia.

Saiu do quarto e em passos rápidos foi até a diretoria. Ao chegar lá, bateu na porta duas vezes.

– Quem é? - Perguntou uma voz feminina de dentro da sala

– Interna. Alice Jasphier

– Entre

Alice abriu a porta e entrou na sala simples da diretora, as paredes brancas e o azulejo no chão da mesma cor, a única coisa que quebrava a monocromia do lugar era a mesa de madeira e as duas cadeiras pretas de frente para a mesma.

– Sente-se Srta. Jasphier - Disse a senhora de cabelos grisalhos e olhos pretos que estava sentada do outro lado da mesa- Vejo que resolveu usar o uniforme corretamente hoje

A garota bufou

– Foi só uma vez, e então o que a senhora queria conversar comigo? Juro que não fiz nada

– Bom Alice, você já está aqui há quantos anos mesmo? 15?

– 16

– Isso, exatamente, 16 anos. O nosso orfanato não costuma ter internos por tanto tempo, você já está com 17 anos não? - Alice concordou com a cabeça - Então, por conta disso eu mesma me encarreguei de achar um lugar que aceita-se você, e eu encontrei - Disse feliz - Você irá para lá amanhã

– O que?! Está me expulsando? - Levantou-se exaltada

– Não é isso, se acalme Srta. Jasphier. Pense pelo lado bom, você sairá dos Estados Unidos e irá para o Japão, você sabe falar japonês, não?

– Sim eu sei, mas eu prefiro mil vezes acordar todo dia com os berros da Margharet do que ir para um lugar que eu não conheço, com pessoas que eu não conheço!

– A senhorita já está me irritando! - A senhora bateu com tanta força as mãos na mesa que a plaquinha escrita “Sra. Madele Garcez” caiu - Você irá e ponto final. Aquela família aceitou você e cuidará para que tenha tudo do bom e do melhor, por tanto pare de reclamar e vá fazer as suas malas! Eu repito: Você irá amanhã

A garota bufou enquanto saia da sala e voltava ao seu quarto para fazer suas malas e se preparar psicologicamente para essa viagem sem volta.

“Isso vai dar merda!” – Pensou assim que chegou ao quarto e trancou a porta deslizando as costas pela mesma e respirando fundo - “Que não sejam sádicos doidões, por favor!”.