Como Treinar o seu Dragão Interior escrita por Kethy


Capítulo 20
Fechado




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A caverna estava cheia de fumaça, tinha um cheiro bom de ervas. Umas mulheres, que deviam ser as wiccans, pareciam estar abençoando o Soluço, pintando, molhando a cabeça e batendo algumas folhas nele. Era um ritual que pedia proteção para os espíritos. A religião deles não é como a nossa, acho que os dragões idolatram a natureza. Eu ajudava com incensos e velas, aproveitando para pedir em silêncio a proteção dos meus Deuses também. Os dragões estavam pondo toda a sua fé e liberdade nas mãos daquele garoto magricela, mas ele não parecia tão tenso, não que estivesse convencido de que iria ganhar, apenas estava se concentrando. No final, fizeram uma marca na testa dele, era a mesma usada nas cerimônias para consagrar nosso líder.

Acho que quando ele se levantou, eu vi uma lágrima no rosto do Soluço. Quando ele chegou do meu lado, segurei na mão dele, tentando dar forças.

– Não precisa fazer isso.

– Preciso sim. Pelos dragões, por vocês... E por mim.

Dei um beijo no rosto dele.

– Se seu pai estivesse aqui, agora, ele com certeza diria que está orgulhoso.

Aos poucos, ele soltou a minha mão e foi em direção ao local do combate. Fiz minha última prece, com toda a minha fé. Os outros apareceram do meu lado, cada um mais nervoso que o outro. O Perna pôs a mão no meu ombro e consegui ter coragem para descer. Com o coração batendo forte, fui para o mais perto possível. Olavo foi para o meio da quadra e fez o anúncio.

– Essa será uma batalha de iguais. Quem vencer será escolhido como novo alfa e poderá dar a ordem que quiser ao perdedor. Lembrem-se, não é até a morte, então quem for pego lutando contra o oponente quando este estiver fora de combate, perde.

O último apoio para Soluço.

– Boa sorte, Espinha de Peixe Falante. – Uma pausa. - Prontos? Vai!

Soluço e Dazbogur se transformam em dragões e levantam voo. A luta começa com garras e mordidas, parecida com uma briga de vira-latas: arranhões, mordidas e sangue. Dazbogur lutava pesado, mas Soluço também. Aquele garoto magrelo era mais forte do que parecia, tinha que se conter para não arranhar mais fundo. A parte violenta de verdade começou quando o tio decidiu usar fogo, ele se afastou e mandou três bolas flamejantes em cima do sobrinho. Soluço não deixou barato e atacou também. Foi quando começaram a se afastar para depois darem um tranco um no outro.

Eu ficava lá na expectativa, não pude deixar de sentir pena do Melequento, o pai e o primo estavam lá, lutando, e só de pensar em escolher...

Mas eu não tinha cabeça para pensar nesse assunto.

A luta continuava cada vez mais violenta. Quanto mais Dazbogur atacava, mais Soluço ficava com raiva, e também ficava mais poderoso. Dava para ver as feridas de longe. Eram garras, trancos e fogo para todos os lados. Uma hora, Dazbogur mandou um ataque fatal: ele sugou bem o ar e mandou uma enorme bola de fogo, Soluço se virou para tentar fugir, mas foi atingido nas costas. Ele caiu de uma altura gigantesca e se chocou contra o chão. Fraco, ele voltou à forma humana e começou a se arrastar. O tio pousou e também voltou à ser humano. Chegou bem perto do garoto.

– Como eu venci, tenho uma ordem para você: morra! – E se preparou para dar um golpe com os próprios braços.

Eu tentei correr até lá, mas Olavo me impediu.

– Ele está indo contra as regras! Você tem que impedir!

– Não posso. - Olavo falou sem animo.

– Por que não?

– Por causa do que eu disse mais cedo.

Foi ai que me lembrei. Dazbogur venceu, deu a ordem e agora Soluço vai cumpri-la. Dazbogur venceu de forma justa, por pior que possa ser, e se eu fosse impedir ele tinha todo o direito de mandarem me castigar. Soluço também entendeu e pareceu aceitar o destino. O magrelo olhou para mim e forçou um sorriso, não queria que nos lembrássemos dele chorando. Forcei os olhos, então não vi quando um raio atingiu o invejoso e o fez voar até uma pedra e batesse com a cabeça.

Quando abri os olhos, entranhando o silêncio, vi aquele demônio ressurgindo dos mortos: Jaguadarte.

– Desculpem o atraso, amigos... – Ela falou sedutora.

Eu me enfureci, mas decidi ficar quieta no meu canto.

– Você está bem, vareta?

Ela segurou o rosto dele. Soluço se livrou brusco e mandou um olhar predatório.

– Eu estava preocupada com você, ingrato.

– O que você quer? – Soluço falou entre dentes.

– O mesmo que meu antigo amor. – Jaguadarte vai para o lado do invejoso e confirma que ele está mesmo morto. – Quero uma luta com você. Como está machucado, vai ser amanhã ao nascer do sol. E... Não vai ter regras.

– O que eu ganho?

– Eu vou embora. Vou deixar você e seu povo em paz.

– Quero que me dê a sua palavra.

Uma risada.

– Ainda não confia em mim?

– Me deixa pensar... Não!

– Está bem! Dou minha palavra de dragão. – Jaguadarte pega uma pedra afiada e corta um “X” no seu peito. – Melhorou, agora?

– Como vou saber?

– Ora, queridinho... Quando eu dou minha palavra é para a eternidade. - Ela riu e esticou sua mão. - Fechado?

Soluço se levanta e apertou a mão da mulher.

– Fechado.


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Notas finais do capítulo

Ei! O Soluço tem que perder a perna, lembram?



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