Ponto de vista de America White.

" Bom dia, Liechtenstein! Dia lindo. Sábado. O baile anual beneficente da Família Real é hoje. Várias atrações são esperadas. Dentre elas : A rainha da Inglaterra e toda a família real Inglesa. Além disso, estrelas internacionais também virão. Harvey Madley, cantor mundialmente famoso, já está em Vaduz desde quinta-feira, hospedado no próprio palácio. Junto dele, vieram a namorada jornalista, America White, o melhor amigo dela, Gabe Morales e o empresário do cantor, Brad Hastings. Será o baile do ano, não? "

Era isso que o locutor da rádio mais importante de Vaduz anunciava naquele dia, pela manhã, enquanto eu tentava acordar. Gabe já estava acordado faz tempo. Contando milhares de fatos sobre os bailes anteriores. Santo Google.

– ... Aurora já está em seu décimo terceiro baile e irá arrasar num vestido doado pela família Inglesa. - Ele disse, revirando os olhos. - Menina mimada. Queria ver ela vestindo jeans. Ia reclamar direto, aposto.

Comecei a rir, coçando os olhos e finalmente levantando.

– Bom dia, Gabe.

– Bom dia, princesa de verdade. Como você está nesse dia maravilhoso?

– Nervosa. Como sempre.

Ele sorriu, me abraçando de lado.

– Ih... Relaxa, princesa. Tudo vai dar certo. Afinal, é como se fôssemos pra um Pub britânico. Vão ter pessoas bêbadas dando vexame. Música. Comida.

– Música Real, comida Real, bêbados Real. Tudo é muito diferente, Gabe.

– Bêbados Reais? Essa é boa. Pago 20 libras se você conseguir alterar a bebida do Rei. Adoraria ver ele doidão, cambaleando e dizendo : " Aurora, minha filha, foi você que alterou minha bebida? Mesmo assim, te amo. " - Ele disse, tentando imitar a voz do rei.

A verdade era que corriam boatos por aqui que o Rei era sempre muito tolerante com a princesa. Tudo que ela fazia ele admirava, e ela nunca era a culpada de nada.

– É bem provável ele dizer isso mesmo.

Começamos a rir e bateram na porta. Estranhei. Aliás, eu não esperava ninguém.

– Olá. Bom dia, Srta. White. - Disse fazendo uma estranha espécie de reverência. Era uma criada.

– Bom dia. Tudo bem?

Ela sorriu, estranhando. E apenas assentiu.

– Tu-tudo bem sim. Obrigada por perguntar.

Sorri.

– Tem algo a dizer?

– Sim. A Rainha chama para a aula antes do baile.

Franzi a testa, confusa.

– Aula para o baile?

– Todos os anos a Rainha Aurélia faz uma espécie de aula para as convidadas do baile para ensaiar algumas coisas e se certificar de que tudo dará certo. - Gabe disse, de dentro do quarto. A criada assentiu.

– Ok, então. Eu vou me trocar e desço.

Ela assentiu, saindo.

– Aula? Pra um baile? Eu não daria certo sendo uma princesa.

– Com certeza não.

Comecei a rir e joguei uma almofada em Gabe, que riu também.

Ponto de vista da Autora.

America saiu do quarto alguns minutos depois e desceu até o Salão Principal. Vestia apenas as mesmas roupas do jantar de quinta-feira. Calças jeans e a tão famosa camisa. Encontrou várias princesas que vestiam vestidos belíssimos de seda e tinham modos tão distintos que se sentiu estranha.

– Bom dia à todas aqui presentes.

Todas as outras fizeram uma reverência e sorriram para a rainha. America não sabia o que fazer, então tentou imitar o gesto. Não deu certo.

– Se estão aqui, são importantes.

– Ou são agragados... - America ouviu alguém dizer isso baixinho. Não se surpreendeu ao ver que a dona da voz era Aurora.

Algumas princesas, a maioria delas, riu. Algumas seguraram o riso e outras. Duas pra ser mais exata, não riram e sorriram para America, que sorriu para elas, agradecida. Apesar do pouco apoio, America se sentiu isolada.

– Vamos às aulas? Todas sabem as regras de etiqueta, não?

Todas assentiram, sorrindo. Enquanto isso, America anuiu. A Rainha sorriu para ela e disse que quando acabassem todas, ela poderia dar algumas dicas à ela.

– Não adianta, mamãe. Etiqueta é um dom. Só entende quem nasceu para entender. - Aurora disse para a mãe. Fazendo as mesma pessoas rirem.

– Aurora, por favor. Tenha modos.

– Só estou falando a verdade.

– Poupe-a para você, então.

Todas se calaram ao mesmo tempo e America sorriu, agradecendo.

– Quem são as pessoas que dançarão a Dança Principal?

America, Aurora e outras três garotas levantaram a mão.

– Ela vai dançar? Sério? Com quem? - Aurora perguntou.

– Vou dançar com Harvey. - Disse, levantando a sobrancelha.

– Harvey vai dançar com você?

– Sim.

As outras garotas riram e a Rainha continuou dando instruções até que terminaram. Todas foram embora e ficaram somente a rainha e America para a aula de etiqueta.

– Querida, sinto que está se sentindo meio estranha aqui. Sinto muito se minha filha agiu daquele jeito. Ela é sempre muito inconsequente e gosta muito do garoto, seu par.

– Harvey...

– Isso.

– Eu peço desculpas também por tudo. Não sou adequada. Sou uma simples jornalista que não sabe nada de etiqueta. Desculpe. - America disse, sorrindo.

– Há mais realeza em suas atitudes, do que no título da minha filha. - A Rainha disse, sorrindo. - Soube do que fez com Angelina.

– Angelina?

– A pequena criada que Aurora destratou.

– Ah. É uma linda garota que merece respeito.

A Rainha assentiu.

– Vamos à aula?

Ponto de vista de Harvey Madley

Sábado. O grande dia. America deve estar uma pilha de nervos. Imaginei como ela poderia estar hoje à noite. Um belo vestido, ações calculadas e tudo mais. Estaria ela diferente de todos os dias? Pra variar seria meiga e legal? Tomara que não. Eu amo o jeito bruto e irônico de America White, devo admitir. Talvez um dia desses eu possa dizer isso pra ela. Meu coração anda meio carente, meio dividido. Conheço America há alguns dias e ela já parece bem especial. Mas, há também meu amor virtual pela Meri e não posso deixar isso de lado.

– Harvey! - Ouvi alguém batendo na porta e a abri vendo Gabe e Brad em seguida.

– Bom dia.

– Bom dia, garotão. - Brad disse, fazendo Gabe rir. - O Rei quer dar uma aula de etiqueta. Temos de ir.

– Temos mesmo que ir?

– Somos obrigados. A rainha já deu a aula pras meninas.

– Hum... Deixem só eu me trocar.

Eles assentiram e peguei uma roupa qualquer da minha mala, descendo em seguida. O Rei já nos esperava. Gabe parecia estar muito animado e agitado. Era engraçado vê-lo se empenhando demais. Enquanto isso, Brad só sabia puxar o saco do Rei. Depois de meia hora só nisso, finalmente fomos liberados daquela chatice e eu subi para a biblioteca, já que ansiava por silêncio.

Encontrei America por lá, pra variar.

– America? Não sabia que gostava de ler.

– Gosto. Gosto muito. - Ela disse, com um exemplar de Orgulho e Preconceito nas mãos.

– Mr. Darcy e Elizabeth Bennet pra hoje? - Perguntei, sorrindo.

Ela me olhou, surpresa.

– Conhece Orgulho e Preconceito.

– Já li milhares de vezes, minha cara. Pemberley é meu destino constante.

Ela sorriu, maravilhada.

– Não sabia que gostava de ler.

– Há tantas coisas que não sabe sobre mim, America. Não sou tão ruim, como pensa. Sou sensível, até.

Ela sorriu, sentando em uma poltrona. Sentei perto dela.

– Sou tão sensível que estou apaixonado por uma garota que conheci na internet. Acredita?

America se assustou um pouco e sorriu depois.

– Acredito sim. Não é porque um amor é virtual que é menos verdadeiro, Harvey. A diferença é só a distância. Se os corações batem mais forte. Quem se importa?

– Mas eu a conheço há tão pouco tempo...

– O tempo é tão relativo, Harvey. Quanto tempo, afinal, é necessário para que nos apaixonemos? Acredito que nos apaixonamos por meia hora de sorriso, 1 dia de carinho, 1 mês de amor, anos de confiança. Ou até menos que isso. Se o amor está presente, Harvey. Quem se importa? - Ela disse, rindo e saindo da biblioteca com o livro em mãos.

" Quem se importa, afinal? " , pensei, sorrindo. " Obrigada, America. "