O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 56
Apenas Saia Para Dentro do Meu Coração...


Notas iniciais do capítulo

OUTRA RECOMENDAÇÃO?? Acho que vou enfartar! Bom, assim que eu vi a nova recomendação e eu SENTI que devia postar um capítulo mais cedo.
Bom... eu simplesmente adorei escrever esse capítulo aushaushuahs e esse título tosco? Bom, vocês vão entender quando lerem, boa leitura!!!
E leiam as notas finais, please



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– ANNA MEI! – ouço os gritos estridentes de uma senhora. – O QUE ACONTECEU COM VOCÊ?

É isso que eu recebo quando chego em casa, depois de passar o meu aniversário fazendo serviços de diarista de graça para as pessoas? Ao menos minha doce adocicada com adoçante reparou na minha situação deprimente. Se bem que, ser repreendida por uma mulher de vestido com florezinhas azuis com bobes no cabelo é bem engraçado.

– A culpa é daquela sua filha que me fez de empregada – vou subindo as escadas.

– Tome um banho, já está quase na hora da cerimônia – ela diz, olhando pro relógio.

– Mãe... – murmuro. – São cinco e meia.

– Eu sei – ela passa a mão nos bobes dos cabelos.

– O casamento não começa às sete?

– Sim – ela admira o vestido floral no espelho da sala, e faz uma careta, nem parece que está falando com uma aniversariante.

– Hmm – bufo. – Ninguém me deu parabéns hoje. – faço bico, quem sabe se eu fizer manha...

– E por que te dariam? Quem vai casar é a Bea – ela para de mexer nos vestidos e me olha, como se me obrigasse a desfazer meus doces sonhos adoçados com zerocal.

Um momento dramático... Ela está fingindo, certo? Como pode esquecer do dia em que me deu a luz? Na verdade, eu sou a luz, mas enfim, não quero me achar... voltando ao ponto... Como ela esqueceu o dia do aniversário da própria filha? Tudo bem que a outra filha dela está casando e tudo é muito maravilhoso, estilo calda de caramelo, mas eu também sou importante! Acho que sou mil vezes mais importante que este casamento.

Ah, deve ser um complô. Ou talvez eles estejam planejando uma festa surpresa. Sim, que óbvio, fingir um casamento e, no fim, ser uma festa de quinze anos. Isso é muito óbvio, mas já que eles fizeram tudo a sério, eu vou fingir que estou um pouco surpresa, posso até fazer aqueles gestos com a mão na frente da boca como algumas senhoras chiques do borogodó fazem quando estão (fingindo) surpresas.

– Mei... – minha mãe me acorda dos meus pensamentos – Veja bem... não há problemas em se aprontar mais cedo, agora... – ela me olha com aqueles olhos enormes cor-de-bosta – Se demorar a se aprontar vai ser um tanto... indelicado. Pra você.

Aquele olhar quase fura minha testa, e eu sei que significa que, se eu não ficar pronta bem antes das seis eu me vestiria de fada e entraria no salão com alianças penduradas no nariz.

Mas é claro que isso não vai acontecer, porque o casamento é apenas um disfarce pro meu aniversário. Como não pensei nisso antes? Um casamento... no dia do meu aniversário? Isso não é complexo demais? Com tantos dias excelentes pra escolher. E agosto nem é um mês legal pra casar, eu li em algumas revistas de horóscopo e coisas assim – essas revistas velhas que sempre tem em salões de beleza, nem me pergunte o que eu estava fazendo e um – bom, dizia que os casamentos realizados sem agosto sempre dão azar, tanto para quem casa, quanto pra família. Agora piorou tudo, e se for o casamento mesmo? Eu também serei afetada por essa macumba que minha irmã está jogando sobre si e sobre o pobre do irmão da Mandy?

Bom, isso SE fosse mesmo um casamento, né? O que não é.

Entro no quarto, morrendo de felicidade e vejo um vestido verde-água de cetim, com brilho e flores... Isso é meu vestido de aniversário? Ah, por favor, elas podiam ter escolhido melhor! Talvez a Beatrice queria algo que parecesse como um vestido de irmã da noiva, para que eu não suspeitasse... tarde demais, querida.

Tomo um banho e visto aquilo e pego uma bolsinha que a dona Luiza provavelmente tinha colocado lá pra mim... fora o bilhete que ela escreveu com a frase dizendo “LEVE A BOLSINHA!” em letras grandonas, a caligrafia fina e bonita foi extinta desse bilhete. Por fim, pego uma sapatilha com um salto mínimo, talvez dois centímetros, que, por incrível que pareça, não ficou desconfortável nos meus pezinhos de seriema.

Mas claro que essa produção mixuruca não combinou nada comigo. Mas tudo vai melhorar, estou a caminho da minha festa.

Desço as escadas e a primeira coisa que vejo é a Ellie suspirando pelo meu irmão, ela está usando um vestido verde-água, como o meu, idêntico, com as mesmas flores e babados. Digamos que está muito mais cheio em certas partes convenientes.

Kat também está aqui, mas com um vestido comum, bom, acho que, como ela não tem nenhuma ligação coma noiva (mesmo sendo apenas um blefe) não precisa se vestir com esse saco de batatas verde. Por mais que possa haver a chance dela se tornar a esposa do irmão da cunhada da Beatrice (isto é, casar com o Elliot, que seria meio improvável, mas como os dois conversam muito sobre moda e tudo mais, eu bem pensei que poderiam ter alguma chance, já que a puberdade foi bem generosa com ele, o rosto que antes era fofo, redondo e esnobe, se tornou fino, alongado e esnobe, além do que, cada vez que o vejo, ele cresce mais cinco centímetros.

Júnior está se remoendo num canto, talvez por ser o único sem um par, bem, meu irmãozinho, eu cheguei para te fazer companhia, lógico que esse mané nem me olha, está ocupado demais observando sua solidão. Eu te entendo.

– Mei! – minha mãe aparece, está com um vestido bege super chique com cara de ser aqueles que mostram em revistas de moda, aqueles que custam super caro. Mas eu sei que ela pagou bem pouco por ele, Lucidalva, a costureira dela, reproduz vestidos idênticos ao que você mostre (por exemplo, mostre uma foto de um vestido, e ela faz! A mulher é um gênio!) e o bom é que ela cobra bem barato. Este é o segredinho sujo da Sra. Albuquerque. E das outras clientes da Lucidalva.

– Mei, você está linda! – Katlyn vem até mim, ora, fique quieta! Eu sou um pedaço de madeira plana (para não dizer tábua) com um vestido cheio de frufru, Kat está comum vestido preto com brilho, contrastando com os cabelos ruivos que ela deixou solto, cacheado nas pontas, tão perfeitos que eu tenho vontade de puxá-los e arrancá-los fora!

– Eu sei que estou! – dou de ombros, mas sorrio. Sinto que todos, até minha mãe, reviram os olhos. Eles não estão preparados para minha perfeição. Ó Céus! O que farei?

– Não é por que está fazendo anos que pode ser arrogante – ela me dá um tapinha no bumbum. Ei! Você estragou a surpresa! Por que ninguém olhou pra ela assustado? É nesse momento que eu começo a desconfiar das coisas. Tipo, do casamento falso, e tudo mais.

Mas minha mãe só funga e um show começa.

– Minha mocinha mais velha casando e a outra fazendo quinze anos, isso é demais para uma mãe só – ela chora, claro que, para não manchar a maquiagem elaborada, ela não deixa nenhuma lágrima dar as caras.

– Parece que ela esqueceu da gente – Lukas murmura para Júnior, ah é, eu tenho irmãos, não é mesmo?

– Vamos logo, Ella, querida, faça oque for possível nela – ela para de chorar mediatamente e aponta para mim.

Apesar de Ellie revirar os olhos por conta do erro no seu nome, ela dá um risinho e pega uma maleta de maquiagem. Ah, finalmente o tratamento que eu mereço.

De repente ela me senta numa cadeira e começa a me pintar. Corretivo nas olheiras de monstra (que são meu charme, óbvio), e todo o resto. Ela passa tanta coisa, que quando termina, sinto meu rosto mais pesado.

– Não dá pra fazer muita coisa no seu cabelo, mas... – ela dá aquele sorriso digno de Serial Killer e eu estremeço. Está rindo do quê? Foi você quem cortou meu cabelo!

Quando ela me empurra pra frente do espelho eu me sinto algum tipo de boneca de pano possuída por alguma entidade pauleira ou sei lá.

Meu cabelo está... bonito? Claro, ele está curto por culpa da Taylor, do chiclete, da Taylor, da própria Ellie, da Taylor (sim, culpo mais ela, do que o próprio chiclete)... Hmmm, já falei Taylor? Enfim, está curto sim, mas normalmente ele é bem lambido e com frizz, agora está volumoso, com cachos(ou algo muito parecido, já que o cabelo é tão curto que não dá pra saber se é cacho ou não) e eu me sinto bem... Espere, quem é essa menina na minha frente?

Ah, espere! Sou eu, não tinha reparado no reboco grudado na minha cara. Mas, pra quê tanta maquiagem assim? Eu nem sou tão feia... Ah, entendi tudo, já que estou indo para a minha festa de aniversário tenho que estar mais divosa que o normal, certo?

– Vamos, ainda temos que buscar a Bea no apartamento dela – minha mãe me puxa e me joga dentro do carro.

Claro que, quando chegamos lá, os “homens” não puderam entrar no apartamento, então ficaram na recepção sendo como são normalmente, isto é, manés.

As francesinhas, amigas da “noiva de mentira” que, por um acaso do destino, escolheram a minha irmã pra ser, estão meio que... desesperadas.

– Beatrice! – minha mãe já entra fazendo barraco, Beatrice já devia estar pronta. Cada segundo que passa, me pergunto por que eles não acabam com essa farsa e me levam para o meu aniversário logo.

Ella stá nu quarrrrrte – Viveinne diz. Acho que quis dizer “Ela está no quarto” mas, bem... o sotaque é algo que só se muda com o tempo. – Mas ache qui non vai gustar de vê-lla – “Mas acho que não vai gostar de vê-la” tenho que traduzir tudo o que essa mulher fala, agora?

Acho que minha mãe não entendeu necas do que a Viveinne falou ou, se entendeu, não estava a fim de obedecê-la, porque avançou para o quarto e eu a segui.

– Bea, já está na hora de... – acabar com o casamento falso e dizer “Feliz Aniversário” pra Mei! Isso seria uma ótima frase se ela não tivesse parado de repente. Depois de amassar minha cara nas costas da minha mãe eu finalmente consigo ver a minha irmã, está vestida de branco, com um vestido deslumbrante... mas há alguma coisa errada. – Pintou o cabelo? No dia do seu casamento?

Ela está com o cabelo ruivo, com as pontas bem verdes.

– Você não tem juízo, garota?

– Mãe, o casamento é meu, se eu quisesse ia careca! – ela sorri. – Se tudo deu certo até agora, não é o meu cabelo que vai atrapalhar, é?

Até porque esse casamento é um pretexto, certo?

– Seu noivo vai te largar assim que ver esse estrago – minha mãe diz, mas sorri. – Vai te deixar na porta da amargura.

Lembro quando o Alex ajudou a Beatrice a pintar o cabelão dela de verde radioativo. Acho que não vai fazer muita diferença, se ele já viu ela com mil cores de cabelo, essa de agora não vai afetar em nada. Afinal, a família dele é toda ruiva! Claro que, nenhum deles tem as pontas do cabelo no tom de verde “amoeba”, mas enfim...

– Ah, dona mamãe, me deixa! Vamos lá, eu vou me casar!!! – ela cantarola.

Todos entram no carro, Beatrice está super animada, e eu também! Assim que Lukas para o carro eu respiro fundo, chegamos ao salão, assim que eu sair do carro as pessoas vão pular e gritar um “Feliz Aniversário” super alto pra mim, melhor manter a calma e fingir que estou muito surpresa... Vai ser agora!

*

Me largaram aqui no salão.

Me jogaram como se eu fosse um bode velho e molhado. E fedido.

Eu pensei que o casamento era só um pretexto para fazerem uma festa bem grande pra mim, mas o casamento é real... apesar de ainda desconfiar de uma provável festa surpresa, eu estou bem menos animada agora.

Mandy está com o vestido verde, igual o meu, e está com o Bolota, digo, Pedro, eles até combinam, posso dizer que ele está com uma nova boa aparência, nem dói muito ter que olhá-lo. Katlyn continua discutindo com Elliot sobre moda, e adivinha quem se juntou a eles pra apimentar o assuntos sobre vestidos de outono? Fabrício Júnior. Sim, meu querido irmão mais novo que, um dia, eu vi pulando e dançando vestido de garota. Como não tenho nada pra fazer vou apenas observar, Elliot está de terno e... aliás, o que tem de especial nisto? Todos os homens estão de terno. O cabelo dele voltou a ser preto, mas está com ondulações artificiais... Ellie colocou bobes no cabelo dele? Bom, talvez tenha feito babyliss, nunca se sabe, ele é modelo e, pode-se dizer, é famoso, então ter sempre uma boa aparência é essencial. Ele está contrastando incrivelmente com meu irmão, os dois tem a mesma altura e... Quê? Quando foi que Júnior cresceu? Meus sonhos e expectativas para o futuro acabam de morrer.

Continuando... o contraste, era disso que eu estava falando, certo? Bom, Júnior o loiro de cabelos arrepiados, com Elliot o moreno de cabelos lisos (ondulados provisoriamente) conversando animadamente com Katlyn, a ruiva que... Ah, o Gabriel chegou! Junto de Tyler e... Taylor. Ah, isso não pode ficar melhor. Sinta minha ironia e a absorva. Taylor alisou a juba... isto é, os cabelos e fez cachos nas pontas irregulares, quase não dá pra notar a ruivice desbotada dela porque... ela... ela fez mechas escuras?! Como assim? Reparo que na parte de baixo do cabelo tem algumas mechas contrastando com o ruivo quase loiro, é impossível não notar! Tipo, você nasceu ruivo e vai uma coisa dessas! Sei que o cabelo é dela (e nem é tão bonito assim), mas ainda sim! É a mesma coisa de ganhar na loteria e dar o dinheiro todo pro vizinho!

Bom, respire fundo, Anna Mei, olhe em volta, tem muitos ruivos aqui, você pode reparar neles que cuidam da sua ruivice (que não é desbotada, já que é a família da Mandy, né) e não são como a Taylor que não agradece a graça concebida à ela! Ah, onde Dennis está? Ele deveria estar aqui, já que não é uma festa surpresa.

“Não, não vou” foi o que ele disse, mais cedo.

Ele não vem mesmo? Pensei que era algum tipo de brincadeira de mal gosto.

Poxa, é meu aniversário.

– Annie! – Sinto alguém me abraçando. – Você está fofa! Venha, quero te apertar!

Loiza me bolina enquanto Matheus bebe o refrigerante, totalmente sem expressão.

– Oi, Anninha – ele diz, assim que a Lo me solta. – Cadê o Dennis?

Nisto a Lo movimenta o braço rapidamente, e Matheus de retorce. Ela deu uma cotovelada nele?

– Ele não vem, está... ocupado – digo, franzindo o cenho. Esses dois também estão me escondendo algo.

– Feliz aniversário! – eles me abraçam. Argh! Quanta melação!

Eu gosto de melação, me abracem mais!

Mesmo com todo esse amor recebido pelos meus amigos de verdade (não incluo você Katlyn! Me deixou sozinha e foi falar de moda com seus amiguinhos de... de moda! Igualmente para a Mandy, que só me olhou e sorriu, voltando a atenção para aquele ex-barrigudo!), bom, mesmo com toda essa atenção (digo o mesmo pro Gabriel, esse traidor!) eu quero a atenção de mais alguém... Mas esse alguém não está aqui. E se tiver dizendo que é o Dennis, não é! Sabe, eu tenho dignidade! Ok, é o Dennis, sim, pode me xingar. Sou uma trouxa, e nem é pelo fato de não ter nascido bruxa.

*

A cerimônia foi bem tranquila, claro que várias pessoas quase enfartaram só de ver as pontas verdes na cabeça da noiva, (tipo, uma velhinha – acho que, tia do Alex – jogou refri no rosto pra ter certeza de que não estava dormindo), mas fora isso deu tudo certo.

Eu estou bebendo Coca-Cola faz um tempo e já estou soluçando, na pista de dança tem velhos ruivos dançando como se receber o dinheiro da aposentadoria daquele mês dependesse disso.

– Meizinha, feliz aniversário! De novo – Gabriel senta ao meu lado no canto escuro da festa.

– Nem parece meu aniversário – dou de ombros e fungo como uma mendiga atropelada.

– Não fique assim – ele ri e passa o braço pelo meu ombro – A gente pode cantar parabéns agora.

Nesse momento, pensei que iria surgir uma mesa com um bolo enorme e todo mundo começaria a cantar parabéns, mas só o que aconteceu de diferente foi o velhinho ter deixado a dentadura cair no meio de um passo de dança arriscado pra terceira idade.

– Hmm – resmungo. – Cantar parabéns com os amiguinhos da minha irmã e a família da Mandy? Desculpe, querido... não dá – tomo um gole da Coca, está fria.

– Bom, por que você não joga esse copinho no lixo? – ele diz, ainda rindo, tem alguma coisa na minha cara? Pare de rir assim, ué!

– Tá legal – tenho a sensação de que estou sendo observada. Vou andando pra dentro do salão.

– Não, não! – Gabriel grita. – Tem um cesto de lixo ali – ele aponta para perto de um arbusto.

Nunca gostei de arbustos, parece que tem sempre alguém lá, observando seus movimentos, pra depois te sequestrar.

– Mei – Beatrice vem até mim com um copo descartável amassado na mão e seu recém-marido ao lado. – Jogue este copinho no lixo – ela olha pro Alex e os dois riem.

– Isso está estranho, parem de ser tão misteriosos, já está me dando medo! – digo, pegando o copo, olhando pro Gabriel que está quase vomitando de tanto rir. – O que está havendo?

– Nada – ela sorri. – Estou animada porque, de agora em diante, poderei comer doces de graça – ela sorri.

– Ah é? Casou comigo por causa dos doces? – Alex a acusa, sorrindo.

– Claro que sim, acha que me casaria com você se fossem salgadinhos? – ela brinca.

Estou presenciando brincadeirinhas meigas de recém-casados? Eu mereço isso?

– Tá bom, já chega, foi muito por hoje! – digo, antes que eles comecem a me fazer vomitar.

– Então vá logo jogar esse copo no lixo, sua teimosa! – Beatrice retruca, rindo.

O que posso fazer, se eu ficar vou ter que presenciar mais meiguices deprimentes, se eu for... nada acontece, mas eu tenho preguiça. Pois bem, mais trabalho escravo, eu podia pelo menos ganhar cinco centavos a cada copo levado, não podia? Ah, minha incapacidade crônica de negociar.

Assim que coloco os copinhos na lixeira ouço as folhas dos arbustos se mexendo e pulo pra trás. Deve ser algum bicho, está escuro, não dá pra ver direito, mas escuto muito bem quando a voz rouca e medonha me chama.

Chego mais peto e o arbusto diz meu nome completo duas vezes.

“Não vá para o lado de fora” – a voz é familiar, mas é muito forçada e rouca... Talvez seja aqueles locutores de rádio ou... apenas um sequestrador comum... Ou... apenas um bichinho falante das florestas encantadas! Isso seria interessante. “Não vá para o lado de fora” – repete.

– Humm, tá bom – dou de ombros. – Não tenho nada pra fazer lá fora, a comida está aqui dentro, ué.

“Então vá lá fora” – a voz parece impaciente.

– E como vou saber se não é um sequestrador? – Ah, Anna Mei, você não existe, como pode sair por aí batendo papo fora com um arbusto?

“Porque eu não sou!” – o arbusto reprime um riso, mas continua firme... espere... “o arbusto reprime um riso” estou ficando louca!

– Não acredito em você! – cruzo os braços – Fui muito bem educada, mas não posso confiar em todos os arbustos com quem eu falo por aí, posso? – até porque eu não saio falando com todos os arbustos! Fala sério, é o efeito da Coca!

“Saia logo para fora!”

– E por acaso dá pra sair pra dentro? – digo calmamente, mas depois tenho um acesso de risos. Ele deve estar bem zangado.

Bem antes do meu ataque de riso acabar, um vulto preto sai de trás do arbusto, Dennis está com uma cara de assassino de velhinhas e apenas puxa minha mão e me leva pra frente do portão de madeira. Claro, mal posso respirar e quero lhe dar uma pedrada. Depois de tanto tempo sem vê-lo fora da escola eu me sinto mais triste ainda quando vejo ele... mas ainda quero jogar uma pedra na fuça desse menino.

– Você disse que não vinha – solto a mão dele com raiva. Ele suspira.

– Pode me xingar do que quiser amanhã – ele volta a segurar minha mão – Mas hoje, você vai tirar essa carranca da cara, dar um sorriso colgate e fazer como no roteiro.

– Roteiro? – levanto uma sobrancelha. – Espere, você não estava doente?

– Siga o roteiro – ele retruca. – Fique aqui, quando eu der o sinal, você sai! – ele abre o portão e me deixa lá, plantada.

Olho para trás, a música volta a soar e os velhos voltam a se requebrar como se tivessem renovado a coluna vertebral... Estranho, parece que a festa toda tinha parado pra me observar... Deve ser só impressão.

– Pode sair – ele diz, quando estou para abrir o portão ouço algo caindo. – Não, não! Espere! Não entre ainda. – Reviro os olhos, seja lá o que for que tenha caído, ele junta de volta. – Agora sim, pode sair – ele grita e eu abro o portão. O que ele está planejando? Me levar pra passear naqueles carros enormes depois de dizer que não gosta de esbanjar dinheiro?

Ele está encostado na parede, fazendo aquela pose descolada que sempre faz, do lado dele tem uma bicicleta, ele parece extremamente sério.

– Suba – ele monta na bicicleta e aponta para a garupa.

– Quê? Eu não! Não gosto de andar de bicicleta – agora que eu olho mais de perto, é a bicicleta do Gabriel, já fiz um pequeno passeio nela e não quero repetir a experiência.

– Suba logo – ele franze o cenho impaciente. – Não aprendi a andar nisso à toa! – ele resmunga. Quê? Subo relutante, e quando ele começa a pedalar, sem noção alguma, sinto algo me puxando.

– Para! PARA ESSE TROÇO! – grito, desesperada e me descabelo. A fita do vestido ficou toda presa na corrente da bicicleta, consequentemente, ficou toda suja de graxa. – Ah, não – solto um muxoxo, Beatrice vai me matar.

– Vem cá – ele se aproxima, se abaixa e rasga a fita.

– Ei! – agora serei esfolada viva! Mas ele apenas sobe na bicicleta outra vez, me forçando a subir. – Aonde estamos indo?

– Apenas espere – ele diz – Segure firme.

Aperto o ferro da bicicleta com uma mão e seguro a blusa dele com a outra.

– Você quer cair de cara no chão? – ele diz, impaciente. – Segure isso direito!

– Quer que eu te abrace, né, seu taradinho – retruco e dou uma risada, mas quando o vejo sério meu rosto esquenta. – Tá, vou me segurar. – Aperto sua cintura e ele finalmente volta a pedalar.


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Notas finais do capítulo

Bom... quando eu estava fazendo o capítulo bônus especial todo no ponto de vista do nosso galã de cinema Dennis (ok, acabei com a surpresa), eu pensei se teria alguma coisa que não ficou clara, ou se vocês teriam alguma pergunta pra fazer pra mim ou para alguns personagens, tipo... sei lá, mandem suas dúvidas que, talvez, quem sabe, eu faça um capítulo especial só para essas perguntinhas, né? Ashauhsuahsuhaush Bom, qualquer dúvida, eu respondo.
Bjos da Tia Ho



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