O Diário Secreto de Anna Mei escrita por Fane


Capítulo 32
O Festival do Terror! Outro Fora?


Notas iniciais do capítulo

Gente, tenho que falar que tem tanta friend zone nessa fic que daqui a pouco vou ser chamada de Tia Ho da FriendZone, ahsuahsuahs
Bom, leiam as notas finais, tem uma perguntinha básica lá.
Aproveitem o capítulo.



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Já estava banhada e arrumada, vesti uma saia de pregas preta com renda na bainha e uma blusa azul com um gato branco estampado, só decidi usar isso porque Beatrice me deu, e pretendo manipulá-la, tenho que fazer por onde... Mesmo sabendo que não preciso disso, já que somos amiguinhas, preciso prevenir.

Chegando à toca...

– Ah, oi Mei! – fico em choque. Primeiro porque quem atendeu a porta não foi minha irmã, e sim Alex, claro, isso nem importa tanto.

– Hum, oi, cadê a Bea... trice? – segundo, parece que ele tem dormido por aqui, já que ainda está com um pijama bem... fofo.

– Tá no banheiro, passou o dia todo ajeitando o cabelo... – ele senta numa banqueta perto da bancada e pega um salgadinho.

– Ah, sei... – franzo as sobrancelhas. – Eu vou ali, mas já volto.

Saio do apartamento. Aqueles dois casaram ou o quê? Enfim, não que eu seja contra, mas... Sei lá, ser tia não é o que eu mais quero no mundo.

Bato na porta do apartamento do lado.

Ninguém atende, ah é... Lembro que Ai-chan ia despachar Dennis aqui e voar pro Japão... Ela deve ter feito isso sem se despedir.

Fico parada um pouco, admirando a porta de madeira esculpida pintada de branco, chique.

Decido deixar de ser mané e entrar no apartamento da Beatrice logo e ir tentando convencê-la.

Abro a porta e me deparo com a cena que eu jamais havia visto na minha vida, e que é um pouco familiar.

– Mas o que...? – nada mais a dizer, Beatrice está sentada numa cadeira com os cabelos pra cima, eles tinham deixado aquele tom de ruivo desbotado para totalmente loiros, e Alex estava com luvas de plástico, passando uma mistura verde radioativa no cabelo dela.

– Ah, oi, irmãzinha! – ela sorri.

– O que está fazendo? – pergunto, mesmo estando óbvio. – Não precisa responder, sério.

– Tava cansada do ruivo sem graça... – ela diz e eu rio com o duplo sentido da frase.

– Isso magoa... – Alex diz, rindo.

– Hãn? Ah, não você, meu cabelo... – ela fala. – Mas os dois são sem graça... – ela sussurra, rindo mais.

Esses dois são perfeitos junto, sério... Não é que nem aqueles casais que a gente tem medo de ficar junto e ter que segurar vela, é tipo, aqueles casais legais, do tipo que convidam os vizinhos pros churrascos no domingo e o refrigerante é sempre bom.

– Então, eu preciso falar uma coisa contigo, a sós... – falo.

– Peraí... Tô quase acabando... – Alex diz, enquanto passa a última parte da mistura verde na franja de Beatrice e a prende no topo da cabeça. – Eu preciso ir, tá ficando tarde.

– Ah, tá legal... – Beatrice fala normalmente.

– Amanhã eu venho ver o seu cabelo de mato... – ela pega as chaves e sai.

– É só isso? – digo.

– Só isso o quê?

– Não tem um beijinho de despedida ou um apelido carinhoso, não?

– Chamar de Alex já é apelido... O nome dele é Alexander...

– Mas eu não estou falando disso... Ah, que seja... Eu não vim pra cá falar de sua situação amorosa...

– Então... – ela põe uma touca térmica na cabeça e senta no sofá.

– Eu preciso da sua ajuda...

– E quando você não precisa?

– Bom, eu preciso dar um presente de aniversário... – vou direto ao ponto. – Mas está super atrasado.

– Presente? Pra quem? – ela sorri maliciosamente, não preciso responder.

– Um amigo...

– Dennis...?

– Que seja! Só me tira dessa! – deito com a cabeça nas pernas dela, enquanto ela alisa meus cabelos. – Só não me mande comprar nada, minhas condições financeiras não estão boas.

– Bom, pode tricotar alguma coisa!

– Tá brincando? Moramos no Brasil e não na Rússia!

– Sei lá, ele pode guardar pra um dia mais frio... – ela põe a mão no queijo. – Eu tenho um kit de tricô maravilhoso, eu posso te ensinar a tricotar e tudo.

– Hum... – reluto um pouco, analiso as ideias, e como não tenho nada melhor em mente... – Que seja...

– Eba! Vou pegar meus acessórios! – ela pula e vai pro quarto.

Só espero que isso dê certo.

– O que vai querer tricotar, um gorro, um cachecol, um par de luvas? – ela pula por cima de um banquinho e coloca uma cesta no chão.

– O mais fácil.

– Um cachecol então! Vamos lá, Mei, preste atenção... O mais difícil é começar, então apenas observe – ela pegou as duas agulhas e um novelo de lã bege, começa a mexer as agulhas e tricota até formar um quadrado com vinte centímetros de largura. – Agora você continua, tá bem?

– Hãn? Como você fez tudo isso tão rápido?

– Olha, é fácil... Segure as agulhas assim – ela posiciona as agulhas nas minhas mãos – e vai girando assim, até pegar o jeito.

– Tá, espera, faz de novo...

– Não, fique tentando, até conseguir! E nunca me pergunte como eu aprendi a tricotar...

– Por que?

– É uma história constrangedora... Enfim, vou ver se já dá pra tirar a tinta do meu cabelo, fique aqui e treine!

Em resumo, passei a noite toda tentando tricotar alguma coisa, e percebi uma coisa que até hoje não tinha percebido... Tricotar é difícil pra caramba! Meus dedos já são curtos, se essas agulhas não fossem de madeira meus dedos seriam peneirinhas de tantos furos.

– Estou tricotando!!! – grito em euforia! Logo Beatrice aparece com um secador de cabelos na mão e com o cabelo verde-radioativo esvoaçando.

– Temos vizinhos, grite mais baixo! – ela vê o retângulo pequeno e malfeito que está nas minhas mãos. – Mas... mas... e o começo que eu fiz?

– Ah... Eu tive que desfazer... Ia ficar estranho o começo ser perfeito e o final cheio de falhas... – falo, ignorando a vermelhidão de raiva e a fumacinha saindo pela cabeça de Beatrice. – Aliás, seria estranho você ter feito metade do presente que eu vou dar. – Fecho os olhos esperando a gritaria, mas só ouço um suspiro, quando abro os olhos Beatrice já está saindo da sala, com os cabelos verdes balançando.

– Bom, só somos eu, você e o Zoboomafoo agora... – falo sozinha. Vamos lá.

Olho pro relógio, são nove e meia... Tenho tempo de sobra pra fazer isso... Aliás, acho que vou refazer tudo de novo, isso que eu fiz está cheio de buracos e falhas confusas...

*

Eu não devia ter refeito... Estava ótimo, agora já são onze e vinte e eu continuo com um retângulo apenas um pouco maior, claro que este tem menos falhas e tudo, mas... Ah, o tempo está contra mim, está tudo passando mais rápido! Socorro!

Preciso raciocinar, já são duas horas da manhã e eu acabei de fazer cinquenta centímetros de cachecol, Beatrice disse que um bom cachecol tem que tem ao menos um metro e vinte centímetros... Será que se eu fizer um metro está bom? Ah, preciso raciocinar... Bom, de nove e meia até duas horas da manhã são... vejamos... quase cinco horas? E nessas cinco horas eu fiz cinquenta centímetros... Preciso de pelo menos mais sete horas pra terminar esse cachecol... Bom, se eu não dormir posso trabalhar até sete da manhã, são mais cinco horas, depois da pausa pro lanche trabalho até as onze... Bom, isso não importa, só preciso ir pra escola às três...

Terminei! Terminei! E ficou perfeito! Nenhuma falha, exatamente um metro e cinquenta de lã tricotada por mãos experts!

Só falta entregar e...

– Mei... Mei... – ah, Beatrice provavelmente está aqui pra me felicitar... – Acorda, sua suricate!

– Ai! O quê? Está com inveja porque eu tricoto melhor que você? – falo e levo um tapa na testa. – Mas o que...?

– Isso nunca será melhor que os minhas peças de tricô, nunquinha... – ela ri, segurando o que parece ser um cachecol, mas...

– Foi um sonho? – peço o monte de lã tricotada e horripilante.

– Não sei do que está falando, mas ele pode usar isso como uma rede pra pescar... Ou rede de cabelo... – ela tenta não rir.

– Eu me odeio... – afundo a cara naquele troço. Não posso entregar isso, seria motivo de piada pelo resto da vida!

– Ainda dá pra consertar, tente de novo e de novo, ainda nem é meio-dia, vou sair, tchau. – ela pega um boné é esconde o cabelo verde-radioativo nele.

– Se pintou os cabelos que sentido faz se não mostra-los?

– Eu pintei o cabelo pra mim e não pra cidade toda... – puxa, doeu, irmãzinha. – Bom, pouco à pouco, não estou acostumada com tantas mudanças de repente...

– Pra quem pintou o cabelo que era loiro de preto e depois de vermelho broxante... – murmuro, mas ela já passou pela porta.

Enfim, tenho até as três da tarde pra conseguir terminar de fazer esse cachecol... Vamos lá mãozinhas, me orgulharei de vocês pra sempre se puderem fazer isso por mim!

– Ah, sinto cheiro da vitória! – grito assim que termino de tapar o último buraquinho. Claro, ainda tem falhas e está muito desproporcional as linhazinhas todas emboladas, mas foi o que deu pra fazer.

– Cheiro errado, só tem cheiro de Beatrice aqui... – minha doce irmã de cabelo verde chega e senta perto de mim, pra analisar o cachecol. – Bom, sinto outro cheiro também, mas não tem nada a ver com a vitória... Vá tomar um banho, já são três horas.

– Três... Três o que? – grito e vou às pressas pro banheiro.

Depois do banho e de esfregar muito bem o sovaco, estou pronta. Arrumo os cabelos e vejo que minhas olheiras estão maiores... Chego mais perto e... Até minhas olheiras tem olheiras!

A apresentação começa às quatro, já me atrasei pra abertura, tenho que ir depressa.

– Vamos logo, cabeça de mato! – grito e recebo um tapa na testa, de novo.

– Chegamos... – ela desce da moto e tira o capacete, as pessoas que estavam perto se assustaram com a juba verde que desceu, provavelmente ela não tava lembrada que não é comum uma pessoa de cabelo verde-marca-texto andar de moto por aí num domingo qualquer.

Bom, tenho quinze minutos pra achar minha classe e esconder essa sacola da Victoria’s Secret, pra apresentar o Café com o pessoal e depois terminar a pontinha do cachecol... Bom, falando em Victoria’s Secret, de onde veio essa sacola? Onde Beatrice arrumou essa sacolinha? Será que tem uma loja dessas na Rússia? Japão? Coréia? Bom, talvez seja mais provável que tenha na França, mas por que a sacola não está com o slogan em francês?

– Ai, ai, cheguei... – ofego, entrando na classe, me deparando com um monte de criaturinhas fantasiadas, e Ellie, a criatura super brilhante (que está usando uma trança super complicada) veio me atazanar.

– Ah, você chegou, pensei que não vinha mais... – apesar de dizer isso, ela está com a maior cara de tédio, pelo menos até ver a sacola da Victoria’s secret. – O que é isso aí? – ela aponta pra sacola e eu tento esconder atrás de mim, mas a sacola é muito grande, não tem nem como esconder.

– O quê? – finjo que ainda estou sem fôlego e tusso uma ou duas vezes. – Ah, nada, nada não. – Ué, ninguém precisa saber (muito menos a Ellie) que eu tricotei um cachecol pro Dennis.

– Sei... – esse sei...

– Eu preciso ir... Ali... Me... Me trocar! – corro pro banheiro com sacola e tudo... Visto a roupa na velocidade da luz e volto correndo pra sala. Com a saia armada do vestido até que dá pra esconder bem a sacola.

– Yo... – ele diz quando me vê. Com a maior cara de bosta e com um pirulito na boca.

Lembrando, o pirulito de hoje era um comum, e não aqueles de espirais coloridos que mais parecem ter saídos da vila do Chaves.

– Ah, oi, cara de pastel de vento... – cumprimento usualmente e ele ri.

Bom, eu estou com uma coceira muito grande na mão, é melhor eu esconder logo essa sacola antes que eu entregue esse cachecol incompleto por impulso. Ele não vai falar nada? Qual é! Preciso de algo inteligente! Talvez, eu fale de... Matemática não, nem química... Talvez biologia, sim! O que foi que eu tinha visto naquele site de biologia marinha?

– Sabia que peixes fazem xixi e cocô ao mesmo tempo e pelo mesmo buraquinho?

Mas o quê...?!

– Sabia sim... – ele tira o pirulito da boca e sorri.

Preciso falar algo pra mascarar esse fiasco!

– Existem peixes que comem e defecam pelo mesmo buraco... – murmuro pra ele ouvir.

Já chega... Alguém me interna?

– É, eu sei... – ele sorri, quase fechando os olhos.

– Chega de namoricos e flertes... – Ellie aparece pra me salvar. – Está na hora da apresentação.

*

A apresentação foi boa, a comida estava ótima (se foi feita por Amandha Martins, óbvio que estava incrível!), todos fizeram um bom trabalho, até o trio de bocós, me surpreenderam. E eu? Eu fui simpática... Incrível, né?

Depois de tudo, todos voltam pra sala, para um “intervalo” e logo depois os resultados serão anunciados, vai ter uns fogos de artifício – sempre tem, e isso me atrapalhou muito no passado, pensa o quanto é difícil jogar enquanto tem fogos de artifício explodindo no céu.

Eu sou a primeira a chegar na sala, procuro a sacola que eu joguei num canto quando a Ellie estava não intencionalmente distraindo Dennis... Pego a sacola e vou ao banheiro.

Não há muita coisa pra fazer, o cachecol já está feito, mas ainda preciso dar um nó em cada ponta pra não soltar, eu quis fazer um cachecol assim, agora tenho que lidar com as consequências.

Me tranco num cubículo e tento dar os nós o mais rápido possível.

– Mentira! – digo, admirada. – Acabei? Acabei!

Saio do cubículo e tem duas meninas paradas na porta me encarando como se eu fosse louca. Devem estar pensando que eu estava com diarreia... Bom, melhor isso do que elas pensarem que estou indo entregar um cachecol malfeito pra Dennis Sakai.

Depois de tudo que eu passei, não consigo achar esse traste. Não está no pavilhão, nem no ginásio, e não tem ninguém na classe... Tudo bem, eu sei onde ele está.

Dou a volta no ginásio e vou ao lugar de sempre, não, ele também não está aqui.

Será que ele já foi embora?

Bom, se eu não entregar hoje, guardo esse cachecol e prendo num dos fogos de artifício pra explodir e virar uma flor bonita no céu, por alguns segundos.

O que me resta é guardar essa sacola idiota... A sala de aula está escura, e foi isso que me fez perceber que não tinha ninguém aqui, mas, bom... quem foi o idiota que colocou o interruptor tão alto? Deve ser meio idiota colocar o interruptor a dez centímetros do teto... não literalmente, mas ainda sim é muito alto.

Sinto passos... Ou seria melhor, ouço ruídos. Alguém se aproxima...

Estão vindo atrás de mim, paro de pular, fecho os olhos e encolho os braços.

Sinto a claridade, abro os olhos, machucando-os por um tempo, até que eu percebo quem foi que ligou.

– Onde você estava? – digo, pondo a mão no peito... Meu coração está acelerado, claro que não significa mais nada além do susto.

– Aqui.

– Esteve aqui o tempo todo? – como esse idiota pode me fazer correr a escola inteira em vão?

– Sim.

COMO PODE SER TÃO PATÉTICO?

– Bom, não que eu me importe, mas... Feliz Aniversário... – murmuro. – Atrasado.

– Muito atrasado. – ele ri.

– Bom, eu ia dar isso antes, mas você ficou estranho de repente e... – paro de falar quando ele arqueia uma sobrancelha.

– Vai me dar um cachecol, mesmo sabendo que moramos num país tropical que é quente a maio parte do ano?

– Não é como se fosse um deserto! Se não quiser me devolva, fiz planos pra essa coisinha se não gostasse... – e esses planos incluem um dos fogos de artifício e um óculos de sol.

– Quem fez essa coisa? – ele avalia o cachecol.

– Hum... Você gostou? – digo, tentando decifrar a expressão dele. – A sua resposta pode afetar drasticamente a minha resposta...

– Foi você quem fez, não foi?

– Hum... Foi... – murmuro.

– Gostei – ele coloca o capuz de coelho na cabeça e passa o cachecol pelo pescoço. – Obrigado!

Ele está sorrindo. Sorrindo do jeito que eu gosto. O jeito que os olhos dele quase fecham.

– Bom, eu... – vou falar mais uma frase idiota e sem sentido sobre peixes e seus orifícios quando ouvimos um barulho, automaticamente, Dennis desliga a luz e tapa minha boca, me puxando pro meio das caixas.

– Por que fez isso? – sussurro, assim que ele tira a palma da mão da minha boca.

– Estou violando algumas regras da escola por não estar presenciando o festival, e agora que você está aqui, será minha cúmplice... – ele senta mais à vontade. – Se bem que você também é uma criminosa, já que veio para cá por conta própria.

– Cri... criminosa? – falo, o ponto de vista de Dennis é muito estranho pra mim. – Ok, não me importo de ser sua cúmplice ou o que for, só preciso esclarecer algumas coisas.

– Diga...

– Já que aceitou meu presente, tenho algumas perguntas à fazer...

– Chantagem?

– Sim... – me encosto numa caixa e respiro fundo. Puxo a revista que comprei para Lukas e que eu consegui trazer “misteriosamente”, faço uma cara de quem diz “É tudo culpa sua, mulher!” – Me explique isto!

Ele mal olha a revista e ri.

– Como se eu fosse o único... – resmunga logo depois.

– Hãn?

– Eu sabia que você podia descobrir a qualquer hora minha aparição ridícula, naquela revista ridícula e manipuladora, só não sabia que você e Gabriel estariam juntos nesse troço!

Ele falou tudo em voz baixa, mas sinto que esta ficando nervoso.

– Foi tudo por sua culpa! Eu li que você iria fazer uma entrevista... Bom, essa mulher que te entrevistou mente muito mal, eu não podia imaginar você respondendo na da daquilo... – coço a cabeça. – Voltando ao assunto, eu fui lá pra saber como isso era possível, mas a Ellie disse que a curiosidade fez o gato pagar o preço e...

Ele começa a rir. Rir, não! Gargalhar.

É a primeira vez que vejo Dennis gargalhando assim, como se fosse um garoto feliz...

– Ellie tem cada frase... – ele enxuga as lágrimas dos olhos.

– Tudo isso por causa da Ellie? – Qual é, pensei que podia estar preocupado comigo! Pode ser que eles se conheçam a mais tempo que eu, mas eu sou muito mais gente boa que a Ellie, poxa!

– Crescer com aquela garota não é fácil, imagine a Ellie com sete anos... – ele diz e eu ergo os olhos. – É só imaginar ela com o rosto mais redondo, meio metro a menos e de rabos de cavalo.

– Ellie usava rabos de cavalo? – sinceramente, não dá pra imaginar isso sem rir.

– Um em cada lado da cabeça, e como ela era briguenta eles ficavam sempre tortos no fim do dia...

– Bom, já que você e a Ellie são amigos de infância, você já deve ter feito... Tipo, já deve ter tido uma queda por ela... – falo, e meu rosto esquenta. – Mas, do tipo, é mais como aquela frase “é impossível haver amizade entre homem e mulher”...

– E, no entanto, você e Gabriel parecem bem íntimos...

– Bom, não é isso! Gabriel é diferente! – tento explicar, sem dizer a verdade. – Gabriel nunca vai gostar de mim como um cara gosta de uma garota...

– Isso é bom... Ele é legal demais pra eu ter que arrancar os dentes dele... – ele diz casualmente... Dennis tem o costume de ser violento? Eu não sei de nada... Cada rico com sua mania, ele pode muito bem trabalhar pra Máfia e fazer o que bem quer com as pessoas.

– Mas, então... – decido esquecer o papo da máfia – você e a Ellie, já... – a palavra não sai... ó céus! – Já se beijaram?

– Não... Ellie nunca beijou um garoto que conheceu por mais de um mês.

– Hãn? – fico pasma, que coisa... Ellie é bastante... Digamos...

– É brincadeira! Nunca vi Ellie com nenhum garoto...

– Que coisa... – talvez falar sobre a Ellie seja um pouco cansativo demais. – Mas, talvez seja porque ela goste de você, não?

É muito rápido e eu fico desorientada, mas, em um instante Dennis está a um metro de distância e no outro, há cinco centímetros de distância.

– Não importa se ela gosta de mim, eu gosto de uma baixinha chata e insegura, vestida de coelho.

– Isso foi bem egoísta... – digo.

– Eu sou uma pessoa egoísta...

– Dá pra... sair de cima de mim? – digo, ficando vermelha, mais ainda.

Ele parece desorientado também, e parece um pouco... Corado? Não, está escuro, Dennis Sakai não cora. Nunca.

– Mesmo dizendo que gosta de mim, ainda se afastou e me ignorou por um bom tempo... – resmungo, e fecho os olhos rezando para que ele não tenha ouvido.

– Achei que estivessem saindo... Sabe, você e o Gabriel...

– Não, não estamos... Nunca estivemos... – viro pra ele. – Bom, não tem como, no mundo, algum dia eu sair com ele num encontro... Talvez com você sim, mas não comigo... Essa é a lei da vida, tudo se baseia nos... – não vou dizer a palavra, se eu disser, Dennis vai descobrir o segredo que eu prometi não contar.

– Tudo bem, agora eu sei... – ele olha para o nada, pensativo... Ele fica incrivelmente irresistível assim... Dá vontade de apertar essas bochechas orientais até ficarem roxas.

– Eu gosto de você, Dennis... – Oi? Alô? Universo chamando Mei! POR QUE RAIOS EU DISSE ISSO?

Foi o calor do momento, eu juro pela alma das muriçocas que eu já matei!

Ele arregala os olhos, e pisca, olhando pra mim... Sinto que estou ficando vermelha... Não, vermelha não! Roxa.

– Esqueça! – digo rápido. – Esqueça o que eu disse! Se esquecer eu te dou um pirulito do Chaves e todos vamos cantar aquela musiquinha “Se você é jovem ainda, jovem ainda, jovem ainda...”...

– Isso foi muito de repente... – ele aperta o cachecol.

– Eu disse pra esquecer!

– Não, eu não quero esquecer... Mas foi muito repentino... E estranho...

– Está falando da minha frase estúpida ou desse cachecol horrendo? – ponho as mãos na cintura.

– As duas coisas... – ele tira o cachecol do pescoço e coloca no meu.

– Sei... – olho o cachecol... pra minha surpresa, não pinica.

– Enfim, não sei se fico aqui ou se pulo pra comemorar... – ele ri. Ah, eu estava errada, pinica sim. – Mas...

Ah, sempre tem um “mas”... Eu não entendo!

– Mas... – falo, impaciente.

– Mas eu acho que você não gosta de mim do mesmo jeito que eu gosto de você... – ele está sério... É sério isso? Eu tô levando um fora por causa de uma frase dita no calor do momento? A adrenalina estava me possuindo! Quem leva dois foras seguidos no mesmo ano? Apresento-lhes: Eu.

– Tá legal... – falo, sinto uma aura negra saindo de mim. – Tenho vontade de te enforcar com este cachecol... – suspiro. – Esqueça tudo o que eu disse, tá?

– Quê? – ele me olha, mais confuso do que nunca esteve.

– Apenas continue pensando em mim como uma baixinha reta barulhenta, doida, com amigas doidas... – levanto e jogo o cachecol na cara dele. – Começando do zero... Voltamos a ser amigos comuns.

Sorrio. Sorrio muito. Mas minha vontade é de sair correndo. Tudo bem que eu não queria me declarar daquele jeito e tal, mas precisava ele me dispensar? Me dispensou quase como o Gabriel, fofamente, mas eu tive vontade de soca-lo com toda força, coisa que eu não pensei quando estava sendo chutada gentilmente pelo meu amigo exótico.

“– Primeiro Ano A ganha o festival bimestral!” – uma explosão de fogos de artifícios me interrompe, não só o barulho, mas dá pra ver todos os fogos da janela.

– Acabamos de... – ele murmura.

– Ganhamos o festival! – pulo em cima dele. Acabou o mundo! Minha ideia ganhou o festival!

– Parabéns! – Dennis fala. – Claro que o esforço não foi só seu, mas a ideia original foi sua então...

– Então... – murmuro. Lágrimas de emoção correndo pelos meus olhos. – Eu ganhei pela primeira vez na vida!

– Deixa de ser dramática. – ele bagunça meu cabelo.

– Podíamos sair pra... comemorar... – falo, mesmo sabendo que eu não estou vermelha (pois não estou com segundas intenções) convidar uma pessoa que acabou de te dar o fora pra comemorar algo é estranho.

– Pode ser! – ele sorri. – Contanto que eu escolha o lugar.

– Vá em frente... – sorrio. É melhor quando estamos assim. Amigáveis.

– Bom – ele para e olha em volta, no decorrer de tudo espalhamos caixas e papéis por toda a sala. – É bom a gente começar a arrumar isso, pelo menos vamos ter uma desculpa quando todos voltarem.

– Ah, é... – digo.

– Então, na sexta-feira podemos ir para o “Projeto de Comemoração” – ele pisca, e eu me acabo de rir, tanto que até caio. – Quê? É um bom nome!

– Não é não! – digo, enxugando as lágrimas que saíram no meio do ataque de riso. – Mas fica assim mesmo. Na sexta.

Ele sorri como resposta.


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Notas finais do capítulo

Bom, como puderam perceber não houve "o pedido de namoro" como na antiga versão, e não vai ter por muuuuito tempo. Mei e Dennis vão ficar nessa enrolação por muito tempo até os personagens antigos voltarem (Kat e Lo), então eu imaginei que ficasse chato.
Queria perguntar se eu agilizo as coisas, fazendo eles namorarem logo e acabando a fic em seguida (tipo, assim a fic ficaria com 40 capítulos) ou se eu continuasse como está (a fic ficaria com mais de 50, só que Dennis e Mei não namorariam de verdade, só ficariam nos beijinhos - muahahahhahah - e só se assumiriam depois, beem depois)
Vocês decidem...
Bom, quanto a trilha sonora, eu ainda não postei no youtube, mas qualquer coisa vocês olha no blog "semeupeixefalasse.blogspot.com" que eu posto lá a qualquer momento.



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