One-Shot: Mirrors escrita por Chris


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

- Oi! Espero que gostem, e caso gostem, comentem, pois eu sou do tipo que exclue as fanfictions.. (Sem pressão)- Até lá embaixo?



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17/03, Manhattan, 5:15 A.M.

O frio daquela madrugada me fez pegar no sono. E não, não era num sono comum, não. Já ouviu falar do sétimo sono? Pois é, era lá onde eu estava. O maldito despertador escandalizou até que eu acordasse, o desligasse, e refletisse comigo mesma: Hoje não irei para a escola.

Bastou passar-me este pensamento e a porta se abriu, minha mãe entrou, os cabelos desorganizados e saltados, parecia ter acabado de acordar, pois uma máscara verde encobria seu rosto enrugado devido à velhice e o 'cansaço' por cuidar tantos anos de mim, ela dizia.

– Que demora pra desligar o despertador, hein?! Será que dá pra você se apressar? Já são cinco e meia!

Cinco e meia?

Saltei da cama, corri para o banheiro, ainda zonza. Peguei a minha escova de dentes rosa-choque (Eu a queria tanto..) e passei o creme dental. Movimentei, em círculos, como dizia minha mãe, cerca de trezentas vezes cada parte da boca, bochechei e cuspi.

– Mais um longo dia pela frente, não é? - Murmurei, fitando o espelho.

***

Desci as escadas de madeira de minha casa rústica (Sempre odiei essa semelhança com as casas de filmes de terror.), sentei-me à cadeira da mesa da sala de jantar, e sim, este nome é irônico, afinal, a sala de jantar serve para café da manhã, almoço e jantar.

Mamãe estava colocando ovos e bacon em nossos pratos. O pestinha do meu irmão mais novo, Jhonny, roubou uma fatia de bacon do meu prato e o enfiou na boca. Eu tentei roubar um do prato dele, mas mamãe interviu.

– Nada de brigas à mesa. - Era nosso lema. Desde que o papai saiu de casa, por suas estúpidas brigas na mesa devido à possível falta de apetite de Jhonny, ela tem sido mais rigorosa conosco.

Comemos em silêncio. Levei meu prato para a pia, dei um beijo na bochecha de minha mãe.

– Até, pirralho. - Esfreguei a mão no cabelo de Jhonny. Me preparei para ir.

– Já vai, Maggie? - Ele me perguntou enquanto eu passava a mochila para os ombros.

– Un-hum.

Abri a porta, saí. O ônibus já deve estar chegando no ponto. Apertei o passo, chegando a correr, e quando aproximei-me do ponto vi o ônibus partir. Corri, tentando alcançá-lo, mas o motorista nem notou a minha presença. Eu terei de esperar meia-hora.

Encostei-me na amurada da casa mais próxima, fitei o além.

***

– Uma garota tão bonita, sozinha? - Observou, um estranho no ponto de ônibus. - O que faz aqui?

– Vejamos. Eu estou no ponto de ônibus esperando o metrô. E você?

– Não, não foi isso que eu quis dizer. O ônibus das seis e meia acabou de passar, e eu terei que esperar pelo das sete.

– Seis e meia?! Era pra eu já estar no terceiro ônibus! - Por que eu estava conversando com um estranho? - Quer saber? Vou andando mesmo.

–Tudo bem, então. Mas acho que vai demorar mais ainda.

– Quer parar de se intrometer na minha vida?! - Comecei a caminhar em direção do ponto de ônibus mais próximo, para, além de despistar este pervertido, chegar na universidade o quão antes.

E deu certo. O estranho ficou naquele ponto e eu esperei no outro. Faltam dois minutos para o ônibus chegar, e logo estarei na U. T. M.

Não tardou a chegar, e eu subi as escadas do ônibus, peguei cinco reais da carteira, paguei, cumprimentei o motorista com um sorriso e me encaminhei para sentar. Havia um lugar no fundo.. sentei-me.

– Olha quem resolveu aparecer? A garota do ponto de ônibus! - E lá estava ele, aquele estranho que me irritara. Me virei para encará-lo. Ele tinha olhos verdes, pequenas esferas verdes, na verdade. Seu cabelo preto bagunçado, caindo em seus olhos. Tinha um piercing no nariz; Ele não tinha espinhas, assim como eu; Ele aparentava ter dezesseis anos ou dezessete. - Por favor, pára de me olhar assim.. você 'tá' me assustando...

Balancei minha cabeça, saindo do devaneio.

– Desculpa. - Olhei para os passageiros dos bancos da frente.

– Para onde vai, é... Margareth?

– Como sabe? - Fitei-o, assombrada. Como podia?

– O crachá.. - Ele apontou para um ponto próximo à meu peito. Eu havia esquecido de tirar aquela mensagem "Olá, eu sou a... MARGARETH, e você?".

– Ah. Já que foi tão esperto, terei de respondê-lo, não é? - Droga, por que eu disse isso? - Vou para a Universidade Tulley Monroe.

– Desculpe, você vai? Pelo que eu saiba, as pessoas dormem nas universidades...

– Foi um problema pessoal, e deixaram eu ficar um mês em casa. Mas já que agora sabe meu nome, onde eu estudo, tenho o direito de saber ao menos seu nome e o seu destino.

– Claro, como fui rude, meu nome é Jacob, Jacob Martin. E eu vou... para onde este ônibus me levar.

– O quê? Como assim? Você não tem lugar fixo?

– Não.. já tem até um tempo.. estou acostumado. Mas, de alguma forma, me senti preso à Manhattan, e vou ficar por aqui, então, esse ônibus não vai me levar muito longe. - Ele riu.

O ônibus parou, e estranhamente eu olhei para a janela. Vi dois sujeitos subindo, e eu estava em um lugar que eu totalmente desconhecia. Os sujeitos, após subirem, um magro e alto e um gordinho baixo, trajando roupas negras e máscaras ninja. Aparentemente pareciam otakus (Aqueles caras que gostam de desenho japonês* [n/a: *Anime]), mas depois que o gordinho sacou a arma, pude notar que eram ladrões.

– TODO MUNDO PRO CHÃO! - Gritou o gordo, apontando a arma para quem quer que se recusasse. Obedeci e puxei Jacob para o chão. Ele parecia paralisado, e seus olhos estavam lacrimejando.

Onde está seu jeitão badboy agora, Jacob? Quase comecei a rir, na verdade, dei uns risos baixos, olhando para o chão.

Mas não foram baixos o suficiente. O gordo se aproximou de mim.

– Ei, você. Olhe pra mim. - Olhei. - Por que diabos você está rindo? Vamos, conte, todos queremos rir também.
Fiquei calada. O gordo, apesar de gordo, tem uma arma na mão, e eu não quero mexer com um gordo com arma, não, não. Abaixei meu olhar, fitei o chão.

– Bom mesmo.

– AGORA, TODOS VOCÊS, ENTREGUEM CELULARES E TODO O DINHEIRO QUE TIVEREM NO BOLSO! - Ordenou o magro.

Tirei minha carteira de emergências - que continha o dinheiro para o caso de um assalto, no caso dez pratas - deslizei para perto do olhar dos assaltantes. O magro abaixou-se e pegou, acho que o gordo não conseguia nem ver os próprios pés, sequer abaixar o corpo.

Jacob também arrastou a carteira até a visão dos assaltantes, e com um olhar traiçoeiro oculto pela feição apavorada, ele tinha colocado doze pratas no objeto.

Os ladrões pegaram nossos pertences e saíram. Mas antes, pegaram o dinheiro contido na caixa do cobrador. Jacob tinha lágrimas secas no rosto, não tenho certeza se foi um sentimento real, ou se foi encenação.

Olhei para o meu relógio de pulso e quase enfartei: eram oito da manhã. Além de perder o ponto, perdi a primeira aula, a de matemática.

Jacob parecia notar minha angústia. Mas ele nada podia fazer. Terei de me ausentar da universidade este dia.

– Aquela hora... você estava chorando...

– Aquilo? Era pura encenação! - Afirmou com um sorriso no rosto. - Você acreditou?

– Acreditei! - Dei um soco leve em seu ombro. Estávamos nos divertindo: eu e um estranho que acabara de conhecer.

Ele riu, abriu a mochila (Que eu nem havia notado que ele tinha uma) e tirou um boné. Tinha um símbolo estranho... [N/a: )( ] ... mas até que ficava bem nele. Não que eu goste, é claro que não gosto.

– E agora, Margareth? Para onde vai?

– Eu já disse para você não se intrometer na minha vida! Mas.. até onde esse ônibus me levar. - Dei uma piscadela. Ele retribuiu.

Jacob se levantou, e enquanto o resto do ônibus estava aflito, nós estávamos nos divertindo, e ele foi até o motorista:

– Onde é o último ponto?

O homem assustou-se, creio eu pelo experiência um tanto recente com os ladrões. Mas respondeu, pouco simpático:

– No O Museu Metropolitano de Arte.

Jacob abriu um sorriso, virou-se para mim, veio.

– Já foi em um museu? - Perguntou, um sorriso de lado no rosto. Sentou-se.

– Acreditaria se eu dissesse que não? - Perguntei.

– Não. - Ele riu. Demorou um pouco, mas ele notou que era verdade. - Nunca foi a um museu?

– Não. Mas adoraria conhecer um.

– Então, cabeça erguida, sorriso no rosto, nós vamos ao O Museu Metropolitano de Arte.

Abri um sorriso, ri, um riso puro, e o abracei. Eu queria abraçá-lo a ponto de sufocá-lo, mas logo me soltei.

– Ei, ei, fica de olho, daqui a pouco passamos do ponto.

***

As ruas que eu desconhecia eram tão belas. Fontes d'água, ruas recém-reformadas..

Tão glorioso quanto um palácio, o museu estava exposto, pilares seguravam o teto, como o Partenom, a cor rústica porém bela de sua entrada, as janelas azuis acima das enormes portas, a bandeira estadunidense balançando ao vento matinal e frio, combinado com chuva. [N/A: Mais ou menos 10:00].

A porta principal, banhada de turistas e cidadãos curiosos na fila da bilheteria. Virei-me para Jacob, tentei fazê-lo pagar:

– Meu Deus! Nós acabamos de ser roubados, como espera pagar o ingresso?

– Relaxa, tenho quarenta pratas escondidas, mas tudo graças a você que me deu a ideia, mocinha. - Ele me olhou, malicioso. - Mas tudo bem, eu pago.

E demorou. Demorou. Demorou. Só tinha um caixa aberto, e a chuva penetrava na nossa pele e nos fazia gelar. Estava frio até demais. E quando um andava, o passo não era o bastante para cobrir-nos.

Até que Jacob me pediu pra ficar na fila, e foi até o caixa.

– Mas que droga, hein? - Reclamou o homem atrás de mim para uma mulher que o acompanhava.

– Pois é, por que tanta gente veio justo quando nós decidimos vir? - A mulher estava ansiosa, podia-se notar pela voz e pelo pé sendo debatido no chão.
Jacob voltou, a cara pasma.

– A mulher que 'tá' atendendo é uma velha surda e sem voz que tenta gritar para a pessoa repetir mas não consegue, por isso a demora.

E aqui estou eu, conversando com um desconhecido, entrando em um museu com um desconhecido, andando com um desconhecido, minha mãe me mataria se soubesse.

– Quantas pessoas têm na frente?

– Umas... vinte?

– Vamos ter que fazer algo..

– Eu vou esperar aqui, na fila. - Ele disse, pouco animado.

– Tá. - Eu fui para o começo da fila, pedi um papel e uma caneta pra velha, que deu a contragosto.

Escrevi "GRITE" e coloquei o papel na bancada. O primeiro da fila não entendeu muito bem, mas gritou mesmo assim.

– DOIS ADULTOS E UMA CRIANÇA!

Assim, a fila foi andando mais rápido, pois os que estavam atrás perceberam a deficiência da velha e gritaram por ser divertido.

Chegamos à então velha, que agora estava mais alegre por conseguir 'ouvir'. Jacob gritou:

– DOIS ESTUDANTES!

Ela nos entregou os bilhetes, e nós entramos. Por dentro... era tão bonito que me fazia perder o ar dos pulmões. Ao centro, plantas protegidas por um murinho circular rústico, onde poderíamos sentar. A decoração de fora estava refletida adentro, fazendo parecer que estávamos em um castelo.

– Olá, desejam um tour? - Me assustei, recuando, quando uma guia apareceu em nossa frente.

Olhei para Jacob, ele olhou para mim, perguntamos:

– É de graça?

Rimos.

– É claro, está incluso!

***

Ficamos no museu a tarde toda, e quando anunciaram que estavam fechando, eu e Jacob fomos para a saída. Agradecemos à guia, e eu dei duas pratas pela atenção dela.

– Só deu duas pratas pra ela? - Perguntou Jacob, indignado.

– Pelo menos eu dei alguma coisa, você não.

– Ei, ei, eu paguei os ingressos!

– Tá bom, vai.

– E agora, onde vamos? - O céu já escurecia no horizonte urbano.

– Eu preciso ir...

– Tudo bem, então. Mas pelo menos me passa o seu celular, né?

Eu peguei um papel com a velha e deixei meu número com ele e vice-versa. Ele disse que ia me ligar.

Antes de pegar o ônibus de volta para casa, lembrei: Se eu voltasse, ficaria claro que não fui à universidade.

Corri em direção à Jacob, que virava as costas e andava em direção à sei-lá-onde-de-Manhattan.

– Ei!

– Oi! Já é de manhã?

– Não, palhaço. - Eu comecei a rir. - Não posso ir pra casa, minha mãe me mataria por ter faltado na universidade.

– Ah, e agora?

– Vou ter que ir pra sua casa.

– Eu não tenho casa...

– Então onde você mora e arruma dinheiro?

– Eu... moro numa loja, o dono deixa eu dormir lá depois de limpar.

– Pelo menos é algum lugar, eu acho. Eu posso ir?

– Se você quiser... - Ele pegou na minha mão, eu corei. Ele me puxou, correndo.

– Por aqui. - Entramos num beco escuro. Ruídos de ratos, barulho de lixo sendo movido, e Jacob pegou uma lanterna. Entregou-a para mim. - Segure-a mirando aqui. - Ele apontou para a caçamba de lixo.

Mirei. Ele soltou minha mão e empurrou a caçamba enquanto eu colocava a luz da lanterna no ponto onde ele mandou. Revelou-se uma portinha atrás da lixeira, uma porta bem pequena mesmo. Ele pegou uma chave, abriu a porta, e me convidou para entrar.

Eu me abaixei e entrei, o corredor era pequeno porém alto. Ele puxou o lixo de novo e fechou a porta.

– Lar, doce lar. - Ele disse, rindo. - Agora, se quiser dormir aqui, vai ter que pegar uma vassoura e me ajudar. - Ele parecia um chefe, mas ele dizia tudo em tom irônico. Ele pegou uma vassoura e entregou outra para mim.

Eu o segui até a loja (Estávamos perto do depósito), e nós varremos. Era um brechó, e estava tudo bagunçado.

Pegamos roupas caídas, varremos.

– Até que terminamos rápido. - Ele disse, orgulhoso.

– Pois é. - Eu já estava exausta. - Onde eu posso dormir?

– É... temos só uma cama.

– Então dorme no chão! - Eu brinquei, ele riu.

– Vamos dividir a cama!

– O QUÊ?! - Agora chega, eu já falei com um estranho, passeei, segui, varri, mas dormir já é demais, né? - Não!

– Então vai pra sua casa, né?

Assenti, emburrada. Ele começou a tirar as calças.

– O que você PENSA que está fazendo? - Gritei, fechando os olhos.

– Eu durmo de cueca, e você vai ter que se acostumar, ou vai dormir no chão.

Ele tirou as calças, a camisa, o tênis e a meia, e jogou perto da cama. Sentou-se.

– Você vem?

Pensei. Não tenho certeza se posso confiar nele. Ele deitou-se, sem esperar por minha resposta. Ele virou-se, e eu deitei-me à seu lado. Ele apagou a luz (tinha um interruptor em cima da cama, na parede), e eu fechei os olhos. Mas não conseguia dormir.

Cerca de uma, duas horas depois, ele virou-se para ver se eu dormi. Fingi que estava, mas não era o bastante. Ele acendeu a luz, e eu sentia seu calor corporal contra o meu. Ele beijou minha bochecha.

Levantei, mas não foi como planejado. Eu planejava levantar e dar um tapa na cara dele, mas quando levantei, não sabia oque estava acima de mim, e meus lábios foram contra os dele.

Eram macios, suaves e quentes. Ele começou a tirar minha roupa, e eu tentei recusar, mas ele continuou. Tirou as roupas de cima, as roupas de baixo, minha calcinha... não muito depois, ambos estávamos nús, pele contra pele, calor contra calor, genital contra genital, e por fim, suor contra suor.

Eu gemia à contragosto. Não queria fazer barulho, afinal, mesmo por trás de um beco escuro, de uma caçamba de lixo e de uma porta trancada, éramos vulneráveis. Tão vulneráveis... eu gritei.

Ele soltou rajadas de um líquido veludíneo e fedorento (Muito fedorento) dentro de mim, e aquilo não era bom, queimava.

Eu levantei, coloquei minha roupa, gritei com ele.

– ERA PRA ME AVISAR! NÃO QUERIA QUE ISSO ACONTECESSE!

– O quê?!

– VOCÊ... ! - Saí, abri a porta, empurrei a caçamba. Deviam ser onze horas, mas quem se importa? Estou nervosa demais.

Atravessei a rua, não haviam carros. Ele corria atrás de mim, colocando a calça enquanto andava.

– Espera, Margareth!

Atravessei a outra rua, um feixe de luz vinha, mas eu não tive tempo de recuo. Eu cheguei à calçada, e ouvi um som de algo pesado impactando no chão. Virei-me. Jacob foi atropelado.

Meu coração batia mais rápido. O que eu fiz? Peguei o celular, disquei para a emergência.

– Número de Emergência, com o que podemos ajudar?

Procurei o nome da rua.

– M-meu amigo f-foi atropelado... venham! Rua Yellow Daves, em frente à loja vermelha, corram, ele está perdendo muito sangue!

E realmente estava. Eu desliguei, não me importavam as instruções. Eu queria ficar perto do estranho que me encontrara, cuidara de mim.

A ambulância não demorou a chegar, levaram-no e a mim também. Eu chorava, meu coração batia rápido demais.

Chegamos ao hospital, ele na maca, já tendo os primeiros socorros prontos, chegou na ala de emergência, disseram que ele quebrou as duas pernas e fez um corte profundo em alguma veia, mas eu não conseguia raciocinar.
***

20/03 Manhattan, 7:56 A.M.

Já se passaram três dias, e eu ainda estou sentada, esperando. Vez em quando uma enfermeira vinha me dar informações e me servir alguma coisinha. Disseram que ele estava bem, mas só pais e parentes podiam visitá-lo.

Uma mulher loira, gorda, e muito esnobe entrou procurando por Jacob Martin. Disse que era a tia dele. Mas tudo bem, depois ela saiu.

Fui autorizada a entrar, e ele estava cheio de injeções e roxos, além de pontos pelo corpo todo.

Ele me chamou. Eu disse que iria ficar tudo bem, mas ele balançou a cabeça bem lentamente. Puxou meu rosto próximo do seu, e disse:

– Eu te amo, Margareth. - O som agudo do seu batimento na tela fez-me desabar. Ele morreu.

Eu gritei de dor, os médicos vieram, tentaram fazer o coração dele bater de novo, mas eu sabia que já era tarde. Fui levada até minha casa, ainda chorando. Minha mãe estava pronta para gritar comigo quando abriu a porta, mas viu que eu estava chorando, e se segurou, falou para eu ir para o quarto. Eu fui, mas bem devagar. Ouvi a conversa dela e da enfermeira.

Coloquei minhas mãos contra o espelho, eu ainda o via na minha frente. Ele estava sorrindo com aquele seu jeito malicioso.

Eu chorei. Sorri, lembrei-me dos momentos com ele, naquele único dia que me conquistou e morreu, o dia em que ele me engravidou, o dia que eu causei a sua morte.

Aquele vidro que me observava, absorveu minhas lembranças, e era como se eu sentisse Jacob me olhando através do espelho, tentando me impedir de chorar.

***

8 Anos depois.

Aqui estou eu, no cemitério, com meu filho no colo. O nome dele é Jackie, não sei porquê. Ele deixou uma flor branca em cima do túmulo do pai, que desconhecia como ele morrera.

Lágrimas escorreram por meu rosto, Jackie aproximou-se de mim. Ele, com sete anos, inocente, secou minhas lágrimas e tentou me fazer sorrir. Minha tristeza era grande demais.

Eu não quero que meu filho me veja triste. Olhei para ele, sorri, ele tinha os olhos do pai, verdes. E eu finalmente aceitei a morte de Jacob.

E se aquele despertador nunca tivesse tocado...


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Foi um longo capítulo, né? Comentem!