No dia seguinte ao encontro com o príncipe, as meninas queriam saber tudo sobre o que aconteceu entre Caleb e eu.

Falei a verdade: nós saímos para ver o pôr do sol em Angeles e conversar um pouco. Não falei que o príncipe havia saído para treinar com o amigo misterioso.

— Nada de beijo, mão boba e nem nada? — questionou Emily. A descrença tingia sua voz.

— Nós nos conhecemos há três dias!

Ela deu de ombros.

— E ele tem que escolher uma de nós. Não pode ficar enrolando, tem que ir direto ao ponto.

Embora eu preferisse morrer, tinha que admitir que ela tinha um ponto. Caleb não podia se dar ao luxo de demorar. Indecisão faria ele parecer fraco e, sendo o futuro rei, essa era uma coisa que ele não podia.

— Mas ele não precisa escolher isso tão rápido. Faz sentido que ele queira nos conhecer antes de sair enfiando a língua na boca de qualquer uma — Pietra falou na intenção de me ajudar, mas ser chamada de qualquer uma não fez muito pelo meu moral.

— Acho que isso é cavalheiro da parte de Caleb — opinou Beatrice. — Eu não iria gostar de um cara que só quer saber de enfiar a língua na minha garganta.

Todas rimos um pouco, até mesmo — pasmem! — Kayla.

— Você tem razão — concordei.

— Quando ele me chamar para sair eu vou investir pesado — desdenhou Emily. — Além de ter uma coroa, Caleb é gato.

— Boa sorte com isso. Depois que você for chutada não esqueça de me mandar cartas.

O sarcasmo na voz de Kayla era forte. Emily ergueu as sobrancelhas.

—Você está do lado delas?

— Eu estou sendo prática. Se o príncipe quisesse se agarrar por aí teria dito. Não acho que qualquer uma de vocês o rejeitaria.

— Você seria a primeira a querer se oferecer a ele — Pietra bufou.

— Desculpe, a intenção era me constranger? Eu sei perfeitamente os motivos pelos quais estou aqui.

— Dar o seu rabo ao Caleb.

— Pietra, já chega — falei tentando evitar a briga prestes a se formar. — Kayla, acalme-se.

Fiquei meio surpresa com minha atitude. Eu não era do tipo que apartava brigas, geralmente eu as começava.

Kayla estava com as mãos em punhos cerrados, como se preparada para socar a cara de alguém.

— Vou dizer ao príncipe — ameaçou Pietra, a voz fina.

Apesar de ela ser minha amiga, tive que lembrá-la:

— Pietra, foi você quem começou. E discussões verbais fazem absolutamente parte da Seleção, não acho que uma discussãozinha boba mereça sequer ser lembrada por nós, menos ainda ser contada ao príncipe.

Beatrice concordou com a cabeça. Nada mudava sua expressão de calma. Acho que era porque ela queria ser advogada. Nos tribunais você tem que ter o controle da situação.

—Alexia tem razão. Se não podemos nos resolver sozinhas significa que nenhuma de nós está pronta para ser a princesa.

— O assunto aqui não é o príncipe ou a coroa. Ela me chamou de vagabunda!

— Você é mesmo. Quer que eu diga o quê?

Isso ia dar merda.

— Pietra, já chega. Você não a conhece, então não fale sobre ela. Kayla… — não terminei a frase. O que eu diria? Se alguma delas me chamasse de vagabunda provavelmente reagiria exatamente como ela.

Ela me olhou com seu olhar padrão superior.

Emily, graças a Deus, resolveu tirar Kayla dali, pude ouvir perfeitamente as maldições que ela proferia.

Perguntei se Pietra queria falar sobre aquilo, ela negou e saiu emburrada para o quarto.

Não queria ficar ali onde o clima estava tão pesado, então voltei a meu quarto. Minhas criadas estava tranquilamente sentadas no chão e conversando.

— Moças, finjam que eu não estou aqui — falei deitando na cama com a ponta da cabeça para fora, de modo que pudesse olhar para elas.

— Algum problema, senhorita?

— Duas meninas quase caíram no tapa no Salão das Mulheres. Gosto muito de uma delas, mas sinceramente não sou boa para confortar as pessoas e não soube bem o que fazer.

— Qual foi o motivo? — Gabe se aprumou, aparentemente querendo saber da fofoca.

— Pietra chamou Kayla de vagabunda disse que ela estava aqui para tentar seduzir o príncipe… E Kayla quase bateu nela — concluí.

Nenhuma delas gostou do meu resumo. Tive que narrá-lo umas três vezes até elas desistirem do assunto e passarem a outros temas que não envolviam o príncipe e nem um casamento arranjado. Eu gostava das meninas da Seleção, mas gostava mais ainda das minhas criadas. Me perguntei se ter irmãs era assim.

Não sei quanto tempo fiquei deitada na cama conversando com as meninas antes de adormecer. Em algum ponto a realidade se confundiu com meus pensamentos e eu acabei tendo um sonho estranho no qual misturavam-se pessoas da minha antiga vida e do palácio e eu e Caleb estávamos novamente na torre e ele estava me beijando. Senhorita...

— Senhorita… Senhorita Alexia — murmurou uma voz suave.

Olhei para cima, piscando.

— Hmmm?

— Senhorita, hora do jantar. Você está atrasada.

Saí bruscamente do meu sonho com os braços do príncipe e o pôr do sol em Angeles.

— Droga! Estou indo.

— Mas, senhorita... Não vai sequer lavar o rosto? E seu vestido está todo amassado….

Fiz que sim. Sempre que eu dormia acordava parecendo um panda. Olhei no espelho. Meu cabelo estava totalmente impossível então eu simplesmente fiz uma trança frouxa. Joguei água no rosto e o sequei com batidinhas leves da toalha macia. Enquanto isso, Gabe, Marcie e Diana estavam tentando fazer o vestido parecer menos amarrotado.

Ainda tinha cara de sono, mas o quê eu poderia fazer à essa altura? Corri para a sala de jantar.

Derrapei diante das portas de madeira pesada. Eu, como a anta que sou, não pensei antes, mas agora que tinha dezenas de cabeças viradas para mim percebi que deveria ter inventado uma dor de cabeça para ficar no quarto.

— Mil perdões pelo atraso, Majestades.

Os rostos das Selecionadas variavam de diversão ao triunfo.

Percebi que o único lugar vago era entre Kayla e Beatrice. Sentei-me perguntando se o dia poderia piorar. É claro que podia.

Caleb me observava e ele tinha uma ruga entre as sobrancelhas.

— Senhorita Alexia — chamou o príncipe.

— Sim, Alteza?

— Está tudo bem?

Estalei os dedos.

— Sem dúvida, Majestade. Tive apenas um pequeno contratempo.

Ele sorriu mas não disse nada.

Comi muito pouco, não sentia muita fome e só podia imaginar a minha cama confortável me esperando. Pela primeira vez eu nem vi o que estava colocando na boca. Terminei muito rápido de comer e me joguei na cama macia de vestido e tudo.

Pude ouvir as risadas divertidas das minhas criadas, mas estava tão cansada que apenas sorri enquanto elas saíam e apagavam a luz.