Entramos de forma nervosa no salão. O príncipe estava sentado em um dos muitos sofás, parecendo bastante tranquilo e principesco.

— Olá, senhoritas. Por favor, sentem-se.

Ele esperou até que todas sentassem para prosseguir.

— Pois bem, infelizmente meu tempo é pouco e só poderei fazer uma curta entrevista com cada uma de vocês. Não é necessário que se preocupem. Desejo apenas conhecê-las.

Ele então foi até a garota mais próxima e chamou-a para um par de sofás mais afastados. Os dois conversaram por um tempo e então se despediram com reverências. Ela voltou a seu lugar e sussurrou algo para a menina a seu lado. Foi sua vez de ir em direção ao príncipe.

Depois de a maioria das garotas terem a sua vez, chegou a minha hora.

— Senhorita Alexia — saudou de forma formal.— Devo dizer, esse vestido fica muito bem em você.

Ele certamente tão nervoso quanto eu, apesar da aparência calma. Tive que segurar o riso. Sim, eu fico louca em situações constrangedoras.

— Obrigada, Alteza. — Adotei um tom sério. — Então... sobre o que você quer falar?

Ele pareceu momentaneamente surpreso.

— Fale-me sobre você.

Franzi as sobrancelhas.

— Não tenho muito a dizer. Moro com meu irmão mais novo e meu pai quase nunca está em casa. Sou cantora em uma banda com meus amigos.

— O que mais gostou no palácio até agora?

— Não tive tempo para vê-lo muito bem, mas os instrumentos musicais são maravilhosos — comentei de forma sincera.

Ele pareceu ponderar minha resposta em silêncio. Resolvi incentivá-lo.

— Mais alguma coisa que gostaria de saber?

— Você poderia me explicar porque todas as meninas estão vestidas assim? — questionou baixinho, fazendo um gesto quase imperceptível abarcando o salão.

Eu tive que cobrir a boca para não explodir em gargalhadas.

— Pelo que ouvi dizer, estão tentando te impressionar.

— Eu estou impressionado. — Pausa. — E aterrorizado também. Meu Deus, nunca pensei que escolher uma mulher pudesse ser tão assustador. Algumas parecem que são capazes de me matar com aqueles saltos.

Rimos juntos.

— Tenho quase certeza que, se isso acontecesse, certamente alguém iria para a cadeia.

— Certamente — murmurou.

Pisquei para ele.

— Se alguém tentar te matar eu protejo-o.

Caleb sorriu fitando o infinito, como se visualizasse a cena.

Peguei sua mão num gesto inconsciente que eu aprendi com a sra. Steelway.

— Depois que o número de meninas diminuir você vai ver que isso tudo é até divertido. Não se preocupe.

Soltei sua mão rapidamente, enrubescendo.

— De toda forma — prossegui encabulada com meu lapso —, quase todas as meninas daqui são loucas por você. Algumas querem ficar aqui tanto que até se fantasiaram de árvore de Natal!

Isso o fez rir um pouco, mas ainda parecia muito sério e pensativo. Era meio esquisito estar brincando com o futuro rei de Illéa.

— E você não é louca por mim? — Ele fez uma expressão falsamente magoada. — Pensei que todas vocês fossem. Fui enganado.

— Lamento estragar seu sonho, Alteza, mas nem todas nós nos apaixonamos por pessoas desconhecidas.

Isso o fez sorrir um pouquinho. Só um pequeno erguer do canto da boca.

— Se não está apaixonada por mim, por que está aqui?

Eu pensei em dizer algo como “Você não ficou sabendo? Meu nome apareceu na televisão e eu tive que vir para cá. Aparentemente eu fui Selecionada. Loucura, né?” mas o sarcasmo às vezes não é muito bem compreendido e poderia dar certo trabalho consertar caso ele não entendesse.

— Hum… Escapar um pouco do meu mundo e ver como é viver na realeza, parece divertido quando você está vendo de fora. E também porque eu apostei com Kim, minha amiga.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Apostou?

— Eu não tinha muita certeza se queria ser Selecionada e Kim sabe que eu aceito qualquer desafio, por mais idiota que seja. Nós apostamos no pôquer que se eu perdesse teria que colocar a ficha de inscrição para o sorteio. Se eu ganhasse, ela iria fazer o que eu quisesse por uma semana — balancei a cabeça, rindo da minha própria estupidez.

— Obrigado, senhorita Alexia. Você é muito divertida e espero poder conhecê-la melhor durante sua estadia aqui — disse se levantando.

Fiz uma reverência e voltei a meu lugar.

Quando voltei, vi Kayla franzindo as sobrancelhas. Aquela garota me assustava um pouco. Será que ela estava pensando em mil maneiras de me tirar da competição? Não. Pare de achar que tudo que ela faz é pra te ferrar. Você não a conhece.

— O que vocês conversaram? O príncipe não riu com nenhuma outra garota — a voz de Pietra tinha um toque de acusação.

— Humm... — estalei os dedos. — Falamos um pouco de mim. Acho que ele me achou boba.

Pietra bufou.

— A minha foi uma tragédia. Deus, terei sorte se durar uma semana.

— Não seja pessimista. Você não sabe o que ele está pensando.

— Ninguém sabe — concordou Beatrice Storekeeper. — Mas concordo com Pietra. Caleb certamente se divertiu mais com você.

— Nós não sabemos disso.

As duas sacudiram a cabeça como se eu tivesse ficado louca e eu dei de ombros.

Pietra e Beatrice não ficaram felizes com o meu desinteresse e se puseram a dissecar suas próprias conversas com o príncipe.

Depois de falar com a última garota, Caleb se voltou para nós todas.

— As garotas que eu pedi, sigam-me. As demais podem permanecer aqui.

Olhei quando dez meninas seguiram-no para fora do salão, uma delas parecia estar chorando.

— Lá se vão as primeiras perdedoras — falou Kayla fazendo um barulhinho com a língua.

Ninguém falou nada. Reparei que Aubrey tinha sido uma das garotas eliminadas.

Todas as outras pareciam esperar alguma coisa. Outra eliminação?

Aos poucos as meninas iam saindo das posições congeladas. Algumas sentaram diante da grande TV ou pegaram revistas. Outras ainda sentaram em grupinhos no chão. Lentamente a atmosfera ia ficando mais leve.

No dia seguinte tudo que se falava era sobre o príncipe. Era patético como algumas das garotas estavam afixionadas por um cara que tinha que escolher uma em 35, agora 25, para se casar. Mais patético ainda eram as que só queriam a coroa. E era fácil reconhecê-las: eram as que mais tentavam tirar as demais do sério (leia-se Kayla e Emily aqui).

Finalmente chegou a hora do almoço. Nem o rei e nem Caleb estavam lá. Me perguntei se eles estavam em reunião do conselho ou se era uma coisa de pai e filho.

A rainha America apesar de estar ali, também não parecia presente. Ela só fazia comentários vagos ao príncipe George e não disse nada quando Kayla elogiou suas joias na maior falsidade.

Aquele foi certamente o almoço mais longo da história do mundo. Todas pareciam refletir o humor sombrio da rainha.

Quando finalmente acabou, eu e algumas das garotas voltamos ao Salão das Mulheres.

Eu não gostava de ficar ali, aquela algaravia estava me deixando doida. Saí para tomar um ar puro no jardim e é claro isso foi uma ideia péssima.

Esbarrei na primeira pessoa que apareceu no caminho e que tinha que ser quem? A própria rainha. Fiquei completamente sem reação. A rainha estava chorando. Chorando!

— Majestade? — chamei com delicadeza, segurando-a para não cair. Vamos lá, Lexi, é só uma conversa normal com essa simpática senhora ruiva. — Está tudo bem?

Ela me olhou com surpresa, como se não tivesse reparado que trombou comigo.

— Sim…. eu só preciso falar com o rei Maxon — ela deu um sorriso débil. O que estava acontecendo ali?

Assenti. Aquele não era problema meu e ela certamente queria se livrar de mim o mais rápido possível.

— Ah, certo. Acho que vou continuar meu caminho. Espero que tudo dê certo para você.

A rainha concordou com a cabeça e seguiu seu caminho. Talvez eu devesse ter sido mais gentil com ela. Perguntado se podia ajudar… Isso não é problema seu, Alexia.

Sacudi a cabeça. Independente do que fosse, eu provavelmente seria a última pessoa a quem ela iria se reportar, abrir o coração ou o que fosse.

Passei por alguns guardas até um lugar mais calmo, um banco no meio do jardim. Era um lugar bonito, tinha que admitir. As flores brilhavam nas cores mais variadas e impecáveis.

Vi o vulto de um garotinho correndo para o bosque e sorri para mim mesma. Mesmo sendo da família real o príncipe George tinha um pouco daquela pureza infantil. Me perguntei se Caleb também tinha sido assim ou se ele era todo empertigado desde sempre.

Perdi completamente a noção de tempo nas minhas divagações no jardim, já estava pensando na minha mãe e como ela teria adorado aquela paisagem quando lembrei de uma hora para outra que supostamente deveria estar no Salão das Mulheres. Deus, às vezes eu era tão perdida!

Corri de volta para o salão só para trombar em um câmera que filmava tudo para o especial sobre a Seleção. Ele me segurou pelos ombros. Me desculpei umas mil vezes antes de entrar.

As conversas de repente haviam mudado totalmente de rumo.

Sentei casualmente ao lado de Pietra.

— O que perdi? — sussurrei.

— O príncipe chamou Kaleene para um encontro, as meninas estão apostando se vai ter beijo, mão boba ou qualquer coisa do tipo.

Kaleene era uma moça bonita que eu só conhecia de vista, mas ela foi apontada como doce e responsável. Uma boa aposta para o príncipe.

Deixei-me envolver pela conversa feminina. Todas elas pareciam estar esperando alguma coisa, notei que Kaleene não estava ali. Estava no encontro, disse-me Beatrice sem mover os lábios.

Todas esperavam para ouvir o que ela tinha a dizer. Ninguém ouviu.

Kaleene também havia sido eliminada.