O plano de Lynn naufragou cerca de cinco segundos depois que o colocamos em prática.

Mal pisamos no corredor quando a rainha America se materializou ali, vermelho e azul nos corredores cor de creme.

Fizemos nossas reverências, igualmente nervosas. Eu não sabia os motivos de Lynn, mas eu tinha uma boa ideia de porque a rainha estava ali e não gostava nada daquilo.

— Lynn, se importa de me ceder a senhorita por alguns momentos? Preciso falar com ela em particular. Desculpe o transtorno.

— De forma alguma — Lynn sorriu. — Alexia eu, hum, vou tentar ajeitar as coisas para você. Vou te esperar no foyer.

— Tudo bem, Lynn. Majestade — indiquei a porta.

Rainha America entrou em meu enorme quarto e sentou com graça na cadeira diante da escrivaninha.

— Sei que é uma surpresa, a rainha não costuma aparecer assim nos quartos de seus hóspedes — sorriu. — Mas eu resolvi fazer algumas visitas e ajudar vocês, já que algumas... incluindo a senhorita... parecem esquecer de alguns detalhes da Seleção.

— Não estou compreendendo, Majestade — murmurei torcendo as mãos.

— Eu já estive no seu lugar, já passei pelo nervosismo de ser uma Selecionada e também cometi meus erros, todos sabem disso.Para uma pessoa que esperava um sinal é notar que a sua decisão foi tomada e eu acho, senhorita Alexia, que você deveria pensar bem nas suas escolhas e ter em mente que elas são irreversíveis. Algumas pessoas podem se ferir com elas.

Impressão minha ou a rainha achava que eu tinha escolhido outro cara? Ah. Caleb. A conversa dela com seu filho.

Senti meu sangue ferver ao lembrar as palavras que ela havia usado para me descrever: dissimulada e carente de atenção.

— A decisão não está em minhas mãos — bufei. — Majestade — completei.

— Talvez você não saiba o que tem em mãos — retrucou calmamente. — Preciso ir. Bom dia, senhorita.

Depois de a rainha ter saído eu ainda fiquei alguns minutos no quarto tentando entender que diabos acabou de acontecer ali.

Sacudindo a cabeça me dirigi ao foyer do Grande Salão onde Lynn esperava impaciente.

— Que demora! A rainha passou por aqui agorinha, então nem tenta me enrolar. O que ela queria?

— Me aconselhar. Não deu certo, claro.

Lynn sorriu.

— Não se preocupe, meus conselhos são melhores que os dela — brincou. — Repassando: você tenta encontrar seu amigo Jay e convence ele a vir até aqui. Vou achar Caleb e quando ele estiver calmo eu busco vocês e levo até ele. Jay explica a cena e você e Caleb se entendem.

Do jeito que ela falava até parecia simples.

— Você sabe que não é tão fácil assim, não sabe?

Seu sorriso se largou.

— Todas as melhores coisas da vida são complicadas. O amor é a mais complicada de todas.

Com essa frase motivacional, Lynn saiu serelepemente pelo corredor leste.

Fiquei olhando-a por algum tempo. Eu gostava muito de Lynn, ela era muito confiante, tinha o jeito de uma princesa e era uma rebelde que não tinha problemas para se resolver com a pessoa que ama. A vida dela era perfeita!

Suspirei e fui ao quarto de Jay. Bati por uns bons dois minutos antes dele aparecer, todo amarrotado, na porta.

— Te acordei?

Meu amigo passou a mão pelo cabelo escuro, tentando domá-lo.

— Errr… não — ele fechou a porta atrás de si. — Qual o problema?

— Hum.. então… sabe o que aconteceu hoje mais cedo? Aquela confusão toda? Você poderia, sei lá, me ajudar a consertar aquilo?

— Te ajudar a fazer as pazes com o príncipe? — Jay ergueu as sobrancelhas.

— Hã, é. Não me entenda mal Jay, eu gosto de você — falei tudo rapidamente. — Mas Caleb… eu o amo! Não quero te deixar triste, você sabe que não, mas… isso é errado. Você não pode gostar de mim e…

— Alexia, calma. Respira. Agora, lentamente, me diga o que você quer dizer.

— Você me beijou — sussurrei. — E todas aquelas coisas… você não pode nutrir sentimentos por mim, porque eu não retribuo.

Jay me olhou embasbacado.

— Alexia… Quando disse que estava apaixonado, eu não estava falando de você.

Levei uns dois segundos para assimilar aquilo. Cara, eu estava ficando lerda.

— Não?

Ele sorriu um pouco, encabulado.

— Não.

— Graças a Deus — murmurei mais para mim mesma. — Menos uma preocupação, agora só tenho a outra.

Jay riu.

— O homem que você ama.

Corei levemente.

— É. Vamos.

Eu o puxei para a escadaria mais próxima e uma fragrância suave pareceu tocar meu rosto. Virei-me tentando encontar a fonte do cheiro.

— O que foi?

— Cheiro de hortelã. Você também sente isso?

Jay virou o rosto, olhando ao redor.

— Não. Vamos continuar? Não queremos que o homem da sua vida ache que vamos fugir para nos casar.

— Rá! Hilário.

Jay e eu ficamos em silêncio o caminho todo.

— Vai me dizer quem é a sortuda? Ou o sortudo?

Meu amigo engasgou.

— Sortudo?

— Pode acontecer, ué.

— Lamento mas eu não curto a fruta.

Eu ri.

— Não desvie o assunto, James Arthur Steelway! Quero saber quem é essa pessoa.

— Longe de mim desviar o foco — ele sorriu torto. — Tudo bem, é a...

— Alexia, está tudo pronto. Oi, Jay — Lynn sorriu.

— Baaah! — reclamei. — Vamos lá.

Lynn sorriu.

— Interrompi alguma coisa?

— Jay ia me dar o nome da mais nova pessoa que eu provavelmente vou odiar.

— L'amour est dans l'air — Lynn sorriu.

— Não tenho a menor ideia do que você disse, mas concordo — Jay devolveu o sorriso.

E eu estava sobrando!

— É francês, significa o amor está no ar. Você está apaixonado, Alexia está apaixonada, eu estou apaixonada… Está no ar.

— Viu? Concordo com o que você disse.

Lynn sorriu e continuou tagarelando com Jay sobre o amor. Ela abriu uma porta e fez um floreio indicando que eu entrasse primeiro.

Havia uma pessoa parada diante das grandes janelas.

— Caleb — murmurei. O rosto dele ficou mais duro que o mármore.

— Por quê os trouxe aqui, Lynn?

— Porque você está agindo como um garotinho mimado de cinco anos de idade que não sabe dividir — ela franziu o nariz. — Isso ficou esquisito.

Que bom que você notou.

— Enfim… — continuou. — Alexia e Jay estão aqui para explicar tudo a você. Você não tem a obrigação de acreditar ou coisa parecida, apenas ouça.

— Estou ouvindo.

Jay deu um passo à frente, completamente deslocado.

— Então, você viu eu beijando a Alexia...

— Sim, eu me lembro.

— Então… não havia nenhum interesse de nenhuma parte ali.

Caleb ergueu as sobrancelhas, descrentes.

— Não é o que eu vi.

Corei levemente. Jay não se intimidou.

— Houve um tempo em que eu achava que estava apaixonado por ela, sabe? Meu primeiro beijo foi com ela e nós fazíamos tudo juntos. Eu fiquei maluco quando essa loucura de Seleção começou porque sabia que provavelmente você iria se apaixonar por Lexi, você seria um idiota se não fizesse isso — Jay respirou fundo.— No início eu fiquei com ciúmes, mas usei esse tempo longe para colocar meus sentimentos em perspectiva e percebi que realmente estava enciumado, porém não era diferente de como me sentiria se fosse uma irmã. E eu entendi. Eu amo Alexia como se ela fosse minha irmã, mas não poderia amá-la como você. Não sou um concorrente, cara. As únicas pessoas entre vocês dois são vocês dois.

Ao fim do discurso de Jay ninguém sabia o que dizer.

— Bem dito — Lynn murmurou, rompendo a bolha opressora e silenciosa. — Alexia? Quer que nós…?

— Saiam, por favor. O meu assunto com Caleb é particular.

Ficamos nos encarando por alguns segundos depois que Jay e Lynn, ambos parte da minha família, de certo modo, saíram.

— E então?

— Me desculpe, por ter sido má com você antes. Não que você precise me desculpar, mas eu preciso pedir desculpas. Não imaginei o quanto você deve ter sofrido com meu comportamento desprezível, mas você sabe que eu nunca tive muitos relacionamentos antes e bem… você tem dezenas de garotas aqui dentro que querem você de todo jeito. Eu... fiquei com ciúmes. O que é uma bobagem, considerando que você não é meu.

— Tem razão. Eu não sou seu. Estou aqui buscando uma mulher, não uma garota que não sabe o que quer da vida e fica fazendo dramas absurdos.

— Drama? Eu estava fazendo drama, Caleb? você disse que estava apaixonado por mim e sai quase transando por aí com outra! Que inferno de amor é esse? — minha voz aumentou de volume.

— Você saberia se não fosse cega e me ouvisse pelo menos uma vez na vida — rugiu. — Você saberia se não tivesse corrido para se consolar nos braços do primeiro que apareceu.

— Ah sim! Porque tem muitas explicações para aquilo! Não é a mesma coisa de eu e Jay, caso você não tenha visto, eu me afastei e ele não estava interessado. Você não fez nada para afastar Pietra.

— Só porque você não viu não significa que não aconteceu, porra!

— Eu percebi isso — sussurrei, de repente assustada por alguma razão que só Deus sabia qual era.

Caleb me encarou.

— Não faça isso, Alexia — ameaçou.

— Você é um idiota com mania de auto-afirmação, Caleb! Um imbecil que acha que o mundo gira a seu redor e que mente para conseguir o que quer. E eu sei o que você quer, aquilo que eu interrompi com Pietra. Mas não se preocupe, eu conheço a porta dos fundos, sei como ser discreta na hora de sair, Alteza — fiz uma leve reverência irônica me encaminhando para a porta.

Caleb pegou o meu braço.

— Você vai ficar aqui. Não terminei de falar.

Encarei-o e puxei meu braço de seu aperto férreo.

— Terminou. Terminou sim.