Uma nova princesa para uma nova Illéa escrita por Snow Girl


Capítulo 23
Quando a esmola é demais


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo: obrigada Lady, minha parabatai gatosa, pela recomendação.

Hoje é um marco importante para a fic. É o dia no qual a minha cabeça vira prêmio, é o dia das revelações... Enfim, é O dia.


Música do capítulo: Human - Christina Perri (quem conhece a letra da música vai ter um spoiler gigante do capítulo)



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Faltavam pouco mais de 24 horas para Jay e Patrick chegarem, eu estava tão nervosa que provavelmente poderia botar um ovo. Eu não conseguia ficar no Salão das Mulheres, não consegui ficar no quarto e nem em lugar nenhum. Era como se o chão estivesse quente e eu precisasse me manter em constante movimento para não me queimar. Bem, até Diana aparecer com um bilhete de Caleb.

Estava escrito apenas Saia.

Sério, ele não podia apenas pedir a ela para me levar até o corredor?

Mesmo contrariada por aquele uso inútil de papel eu saí sorrindo.

— Alteza!

Caleb sorriu do meu entusiasmo.

— Vejo que acordou de bom humor — observou. — Geralmente a esse horário você é mais do tipo irritadiça.

— Tenho muitos motivos para estar de bom humor, mas se está incomodando eu posso ficar brava. Certamente eu tenho algumas coisas que podem me deixar irritada — fiz uma cara de irritação.

Caleb riu.

— Não. Deus que me livre. Está ótimo assim. Venha, quero te mostrar uma coisa.

— Defina “uma coisa”.

— Surpresa.

— Lembrando que a última vez que você disse “surpresa” para mim nós ficamos quatro horas conversando em uma câmara secreta.

— Quatro horas muito bem gastas, acredite.

Eu ri enquanto ele me guiava. Depois de alguns lances de escada eu percebi exatamente onde estávamos indo.

— Terceiro andar?

Ele concordou com a cabeça.

— Meu quarto.

Ergui as sobrancelhas. Por essa eu não esperava.

— E o que nós vamos fazer no seu quarto? Tem alguma coisa a ver com as suas fantasias onde eu ficava nua? Se sim, pode tirando seu pônei da garoa.

O rosto de Caleb ficou escarlate. Até fiquei com um pouco de dó do seu embaraço.

— Já disse meus sentimentos por você são completamente puros.

— Eu sei, Caleb — apressei-me a dizer. — Só estava brincando.

Ele voltou quase à cor normal. Apenas suas bochechas estavam vermelhas.

Ele abriu a porta de um quarto para mim.

O quarto de Caleb era surpreendente. Muito diferente do quarto de Jay.

As paredes eram de madeira quase da cor de seus olhos, havia um grande armário, algumas poucas fotos coladas sem nenhum sentido em um quadro, alguns instrumentos musicais, uma cama gigantesca, uma mesa com cadeiras, a escrivaninha… Tudo meticulosamente arrumado, com exceção de um monte de cadernos espalhados desordenadamente na mesa de cabeceira.

Sentei-me na cama e comecei a folhear um deles. Havia todo tipo de coisa ali, desde desenhos muito realistas até dados de guerra.

Por algum motivo Caleb tomou o caderno da minha mão, o rosto novamente corado.

— Poderia parar de xeretar? Preciso te dizer uma coisa. Um assunto sério.

Levantei-me. Quanta falta de educação a minha.

— É só dizer.

Ele baixou os olhos, os cílios lançando sombras claras em seu rosto. Eu podia ver claramente a luta interna sendo travada através daqueles olhos.

Ele apenas sacudiu a cabeça.

— Você já viu a vista do meu quarto? É uma das melhores do palácio.

Ele meio que me arrastou até a sacada e mostrou.

A vista era mesmo deslumbrante: dava para o jardim que mesmo no inverno parecia florido e lindo, a cidade ao longe e as muralhas que nos protegiam tornavam a imagem ainda mais pitoresca.

Enquanto apreciávamos a paisagem, Caleb passou os braços envolvendo minha cintura. Alguma coisa na forma como ele me segurava dava vontade de nunca querer sair dali.

Suspirei.

— Algum problema?

Olhei para cima.

— Não. Eu só... não consigo entender o que sinto por você.

— Por que não? — sua voz baixa fez cócegas em minha orelha.

— Porque eu sei que no fim alguém vai acabar magoado e isso é errado. Porque eu quero estar com você o tempo todo e isso é errado! Você não , Caleb?

Ele me virou me modo que eu olhasse em seus olhos. Graças aos saltos que eu usava ele não precisou se abaixar muito para ficarmos no mesmo nível.

— Estar apaixonado por você não é errado para mim. O que eu sinto por você é a melhor e mais certa coisa que eu jamais pude imaginar sentir e sou grato todos os dias por isso. Por ser merecedor tê-la aqui.

Apenas olhei para ele.

— O quê?

— Estou apaixonado — repetiu lentamente. — Por você.

Esqueci completamente de que havia uma competição, esqueci que ainda tinha outras 14 meninas tentando conquistá-lo e esqueci todas as minhas preocupações. Caleb estava apaixonado por mim.

Joguei-me contra ele, minhas mãos estavam em seus cabelos, minha boca encontrou a dele e eu suspirei lá dentro. E então eu soube.

Eu não queria mais lutar contra aquilo.

— Ah, Caleb — sussurrei quando nossas bocas se afastaram.

Ele abriu um sorriso que eu não pude compreender enquanto beijava meus dedos, um a um, sempre delicado.

Senti um choque percorrer meu corpo.

— Lembra-se quando eu te disse, há algum tempo, que já tinha alguém em mente?

Fiz que sim, incapaz de abrir a boca.

— Era de você que eu estava falando, sempre foi você. — Seus olhos se fixaram em mim com determinação. — Desejo conhecer a sua família amanhã. Quero fazer isso como se deve.

Olhei em seus olhos, uma ternura quase insuportável se apoderou de mim.

— Sim, nós faremos isso.

Permanecemos juntos por muito tempo conversando em seu quarto. Caleb só faltou mijar nas calças de tanto rir quando contei que tinha medo do escuro.

Dei um tapa em seu ombro.

— Eu não tenho medo do escuro — Expliquei me sentindo boba. — Tenho medo do que pode se esconder nele — como tubarões terrestres, por exemplo.

Caleb riu.

— Não se preocupe, eu vou protegê-la. Serei sua luz na escuridão.

Beijei seus lábios.

— Então não terei medo.

Sim, gente! Eu consigo ser fofa!

Alguém bateu à porta.

— Entre — ordenou.

Rainha America olhou atentamente para nós dois. Minha cabeça encostada no ombro de seu filho, a mão dele em minha cintura. Ela parecia estar resolvendo um enigma de cabeça.

— O almoço está pronto. E seu pai está bravo porque você perdeu outra reunião do comitê de guerra.

— Eu estava doente — mentiu descaradamente. Nem mesmo a pessoa mais inocente no mundo acreditaria nele. — Alexia esteve cuidando de mim.

— Posso ver — ela sorriu carinhosamente para ele. — Vamos.

Deixei-me ficar para trás no segundo andar, não precisa de outro motivo para ser alvo de fofocas. Caleb beijou minha mão antes de acompanhar a rainha para a sala de jantar.

A única pessoa no corredor dos nossos quartos era Pietra. Ela sorriu docemente para mim enquanto me acompanhava. Pela primeira vez na história do mundo ela não comentou nada sobre eu e Caleb. Deveria estar furiosa comigo. Hum…

Tomei como um bom sinal ela preferir sentar a meu lado em vez de procurar um lugar próximo a Caleb, apesar de não falarmos absolutamente nada, a quase-discussão parecia nunca ter acontecido.

Assim que o almoço acabou eu fui barrada de seguir para o Salão das Mulheres por Georgie.

Caleb piscou para mim enquanto seguia o seu caminho ao escritório.

— Lexi! Vamos jogar? Faz tanto tempo que eu não te vejo.

Eu ri. Não fazia nem um dia que ele me viu pela última vez.

— O que você quiser, maninho.

Ele sorriu de orelha à orelha.

— Eba!

Georgie colocou o mesmo jogo do outro dia, dessa vez eu não fui tão mal.

Depois de umas duas horas de jogo ele enjoou e pediu para irmos à sala de música.

Não entendi exatamente qual era a diferença entre tocar no quarto e na sala de música, mas Georgie fez aquela carinha de cachorro que caiu da mudança então não pude recusar.

Ele estava meio que me arrastando pelos corredores que levavam à sala de música.

— Georgie, calma. — pedi enquanto ele saltitava feliz à frente.

Estávamos em um dos inúmeros corredores do primeiro andar quando ouvimos alguns sons à esquerda, próximo à sala de música. Passei Georgie delicadamente para trás de mim.

— Vamos ver o que é — sussurrou sério, todo principesco. — Parece alguém doente.

Tal como Caleb, Georgie se preocupava mais com a segurança alheia do que com a própria.

Revirei os olhos. Ele não viu isso, dã.

Andei cautelosamente à frente, os olhos semicerrados esperando ver alguém inconsciente no chão, gemendo por ajuda.

É claro que não foi isso que eu encontrei.

Peguei Georgie pelos braços e tapei seus olhos apenas com uma mão. Certo que ele já tinha visto algumas agarrações pela vida, mas aquilo era quase sexo na vertical. Não era o tipo de coisa que eu gostaria que meu irmãozinho visse.

— Recomendo o uso de um quarto — minha voz saiu glacial —, em especial quando há crianças em casa.

Caleb e Pietra se soltaram, ambos vermelhos como dois tomates.

— Alexia… — a voz de Pietra estava arfante. — Não é o que você está pensando.

Tenho quase certeza que é sim.

Me senti mal por estar sendo mesquinha. Pietra gostava de Caleb, ela não tinha culpa de eu ser uma anta que se apaixona pelo primeiro cara que aparece pela frente com duas palavras gentis, alguns sorrisos e um pôr do sol na torre.

— Não é meu dever pensar nada sobre o príncipe e menos ainda sobre as outras garotas.

Olhei para baixo, onde Georgie estava se mexendo irrequieto. Soltei-o e destampei seus olhos.

— Acho melhor levá-lo até a sala de música, não Georgie?

— Sim!

Nós seguimos em silêncio enquanto eu sentia algo muito parecido com dor atravessando-me só que mil vezes pior, porque fui eu que permiti isso. Fui eu que permiti meu coração ser partido quando sabia que isso iria acontecer.

Você demonstra sentimentos e só se fode. Muito bem, Alexia!


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Notas finais do capítulo

Não curti essas facas voadoras! #CorreNegada