Era sexta-feira. Á tarde. E Percy me buscaria daqui à uma hora. E novamente eu estava enlouquecendo por que não sabia que roupa usar. Já tinha experimentado mil e uma roupas e nenhuma havia ficado boa, eu estava perto de cair no choro quando minha mãe entrou no meu quarto, trazendo biscoitos.

– Mãaaaae – eu disse, fazendo chilique – mãe, por favor, me ajuda a escolher uma roupa, eu não sei o que vestir, eu vou desistir de ir só por isso.

– Annabeth, para de drama. Eu sei que você está apaixonada por ele e etc, mas não precisa de tanto drama. Vou escolher uma roupa para você.

– Eu não estou apaixonada mãe! Nossa, já disse que somos só amigos. Para de inventar coisas – eu disse, aborrecida. Ok, talvez eu tivesse uma queda pelo Percy, mas não gostava de ver minha mãe comentando isso.

– São amigos por enquanto – ela disse ironicamente. Revirei os olhos e fiquei observando-a, olhando minhas roupas.

Depois de uns cinco minutos ela disse pegou umas peças e disse:

– Experimenta isso.

Era uma saia longa, azul e branca toda bordada, bem solta, bem hippie. Eu nem lembrava que tinha ela. Ela pegou uma camiseta branca colada e um cinto de couro, cheio de pedras.

Resolvi experimentar. Depois de uns dois minutos me olhando, vi que não havia ficado ruim, e eu nem tinha tempo de tentar experimentar mais roupas. Abracei minha mãe e ela sorriu, meio irônica.

Deixei meu cabelo solto mesmo, com os cachos louro-acizentados caindo pelas costas e fiz uma maquiagem bem leve, por que além de serem quatro da tarde, eu não sabia me maquiar muito.

Assim que terminei de me arrumar, a campainha tocou. Meu coração começou a bater forte como um tambor, pois eu sabia que era ele. Peguei minha bolsa de mão e desci.

Minha mãe já conversava com ele no portão, e assim que apareci, ela piscou para ele, me deu um beijo e sussurrou “divirta-se” no meu ouvido.

Olhei para Percy e sorri, sentindo todo o meu corpo se arrepiar, só de vê-lo na minha frente. Ele estava com uma calça jeans azul escura, e uma camisa branca dos Beatles. Seu cabelo estava bem despenteado e úmido, como se ele estivesse acabado de sair do banho. Seus olhos verdes estavam iluminados e divertidos, me passando uma sensação de alegria maravilhosa. Dava para sentir seu perfume de longe, um cheiro amadeirado forte misturado com um aroma marinho, uma fragrância puramente masculina. Ele se aproximou de mim e me abraçou forte, encaixando meu corpo perfeitamente contra o seu. Minhas células estavam eufóricas, cada parte de mim gritando por mais e mais contato com ele. Quando ele me soltou senti uma onda de prazer percorrendo toda minha extensão.

– Você está linda – ele disse com a voz rouca, que era como a mais pura melodia para os meus ouvidos.

Minhas bochechas esquentaram e me senti ruborizada, de tanta vergonha e timidez.

– Obrigada – respondi baixinho.

Ele tocou meu pulso, me conduzindo para o seu carro. Era uma BMW preta, lustrosa, linda. Ele abriu a porta do passageiro para mim e eu me sentei, no banco de couro negro. Ele se sentou no banco do motorista, colocamos os cintos e ele começou a dirigir, sem dizer nada.

– Annabeth, você gosta de música? – ele perguntou, depois de uns cinco minutos.

– Sim – respondi sorrindo, tentando ser simpática.

Ele ligou o rádio e começou a tocar “Simple As This”, do Jake Bugg. Fiquei feliz, primeiro por que eu reconhecia a música, segundo por que eu amava a música e terceiro porque parecia que tínhamos gostos parecidos. Percy notou minha expressão e perguntou:

– Você conhece essa música?

– Claro, eu adoro ela.

– O Jake é demais né?

– Sim, as músicas dele são perfeitas.

– Tried institutions of the mind and soul – Percy começou a cantar, acompanhando a música – it only taught me what I should not know. Oh the answer, well, who would have guessed. Could be something as simple as this – terminamos cantando junto. Percy olhou para mim e sorriu, e em cada pedaço de mim senti que aquele momento foi mágico. Eu e ele cantando a mesma música, nossas vozes vibrando em uníssono. Foi perfeito sentir isso, eu nunca havia sentido nada assim antes.

– Você canta bem – Percy disse, quando a música acabou e “All My Loving” dos Beatles começou a tocar.

– Canto nada, eu sou péssima.

– Você precisa se valorizar mais Annabeth. Você é cheia de qualidades, mas às vezes tenho a impressão que você não as enxerga – ele disse e eu não entendi muito bem o porquê ele disse aquilo, mas nem tive tempo de perguntar, afinal o Starbucks já estava bem na nossa frente.

Percy tinha pedido um capuccino, e eu pedi um café expresso com creme de chocolate e muffins. Estávamos comendo até então em silêncio, e ele disse:

– E como você está quanto aquilo? Do Luke?

– Melhor. Ainda estou um pouco traumatizada, mas estou fazendo o que posso para esquecer.

Ele me olhou por um momento e depois disse:

– Annabeth, o Luke é um pouco psicopata. Você não foi a primeira menina que ele violentou.

A declaração me deixou chocada:

– Como assim? Ele estuprou outras?

– Estupro não. Mas ele já agrediu várias meninas. Quando eu cheguei aqui ele namorava a Effy, e depois ela me contou que ele batia nela sempre, e grave. Essa semana minha tia Hera, mãe de Thalia viu hematomas no corpo dela. Ela mentiu dizendo que foi queda de skate, mas eu sei que foi o Luke.

– Nossa, ele é horrível.

– Sim, já brigamos uma vez, antes daquela. Por causa de Effy, e depois por causa de Thalia. Aliás ele não bate só em meninas, ele bate em qualquer um. Ele é um animal.

– Porque ele é assim? Ele tem algum distúrbio ou algo assim?

– Não sei, dizem que ele é violento desde criança.

Respirei fundo com a revelação e comi mais um pedaço de muffin.

– Mas e então, garota-que-desmaiou-na-minha-festa, além de Jake Bugg você curte o quê? – Percy perguntou, sorrindo.

– Pensei que você tinha esquecido esse apelido! – eu disse – ah eu gosto de Arctic Monkeys, Beatles, The Strokes, Lana del Rey, Florence and The Machine, Arcade Fire e por aí vai.

– Você é indie, hipster ou quê – ele perguntou, divertido.

– Não sou nada ué, para com isso – respondi sorrindo.

– Bem, com essa roupa aí acho que você é hipster.

– Eu não sou hipster!

– Tudo bem, garota-que-não-é-hipster. Depois daqui você quer ir para o Central Park?

Refleti por um momento. Era óbvio que eu queria ir, mas não sabia se era o certo. Talvez ele estivesse me achando fácil demais, ou oferecida demais. Pensei por uns segundos e foda-se, eu queria ir, eu iria.

– Ué, vamos – respondi.

Pagamos a conta e voltamos para o carro. Percy ligou o som de novo e fomos para o Central Park cantando “It’s True”, também do Jake Bugg.

When the stars ask of love. Do you love me enough? When I’ll go, I’ll know it’s you. Know it’s you. When hope has all gone, will tell me how long, it will be when it is you?

Chegamos ao Central Park no entardecer. Fomos direto para o Strawberry Fields, o jardim de lá que homenageava John Lennon. Sentamos em um banquinho e ficamos apenas observando a paisagem, e o edifício Dakota que se erguia na nossa frente.

Percy se sentou bem próximo á mim, nossos corpos quase se tocando. Sua mão se aproximou da minha, nossos dedos a milímetros. Eu sentia toda a sua presença ao meu lado, todas as minhas células agitadas em busca de um contato dele. Seu cheiro me deixava tonta, sua presença me deixava em chamas, e meu coração batia como nunca havia batido antes, como se eu estivesse morta e só agora, que o encontrei, tivesse voltado a vida.

Seus dedos tocaram os meus, e eu senti uma descarga elétrica percorrendo o meu corpo, como acontecia sempre. Ele olhou para mim, seus olhos me encarando, como esmeraldas brilhantes em uma joia. Seu olhar parecia me atravessar, como se ele conseguisse ver além de mim, além do meu exterior, além da minha alma.

Seu rosto se aproximou alguns centímetros do meu, e eu pude sentir sua respiração quente se misturando com a minha, seu cheiro ficando mais forte a cada centímetro de aproximação.

De repente senti seus lábios chocando contra os meus, hesitantes. Um espasmo de prazer percorreu todo o meu corpo, quando seus lábios encontraram o meu. Sua língua pediu passagem e eu deixei, correspondendo o beijo. Sua língua acariciava cada canto da minha boca, nossos lábios colados, e eu fazia o mesmo. Nosso beijo era calmo, lento, como se quiséssemos absorver cada milésimo desse momento. Eu não tinha pressa, e explorava a boca de Percy com calma. Ele fazia o mesmo, passando a língua delicadamente por cada parte da minha boca.

Suas mãos seguravam minha cintura com força, e eu me apoiava em sua nuca, acariciando sua pele delicadamente. Infelizmente o ar entre nós acabou e tivemos que romper o beijo. O beijo acabou gradativamente, e quando por fim nos soltamos, nos encarando. Seus olhos verdes sugando cada centímetro das minhas orbes cinzentas. Verde no cinza. Cinza no verde. Prata e esmeralda. Mar revolto e nuvens de tempestade. Uma combinação de cores única no universo.