Estava indo pra aula de carro, com minha tia. Eu não queria estar ali. Na verdade eu não sei o que queria... Não. Eu sei. Queria Marcos vivo, mesmo que não fosse ao meu lado. Queria que Julian não fosse um vampiro, queria ter certeza que não foi ele que...

- Clara, o que há com você? - perguntou Isabel, me tirando de meus devaneios.

- O que?

- Aff. Você sabe, você está tão triste. Nem parece você. - ela me olhava pelo retrovisor – Aconteceu alguma coisa? - ela estava preocupada. Esses dias, são as únicas pessoas que me rodeiam: pessoas preocupadas, não, coisas preocupadas.

- Eu estou legal – menti, dando um sorriso amarelo.

Na sala de aula, a única alma vida lá era eu. Se passaram cinco minutos desde que cheguei e Helena apareceu na porta. Eu ainda era a única coisa viva lá.

Ela olhou para mim deu sorriso largo e andou toda animada até mim.

- Clara – disse – eu vou pra sua casa hoje – disse saltitante de tão feliz.

Eu bifei.

- Que ótimo. - usei sarcasmo - Nem permissão precisa pedir, não é?

O sorriso dela murchou.

Eu ri.

- Posso ir na sua casa? - disse revirando os olhos.

Fingi pensar por uns estantes.

- Pode sim.

Ela ficou elétrica novamente.

Achei estranho a mudança de humor dela de ontem pra hoje. Ontem ela ainda estava tristonha, ficando longe de mim e hoje ela está assim.

- Helena você está feliz hoje – constatei.

- Sim! - disse mais do que feliz.

- Não vai me pedir desculpas?

Ela murchou de novo.

- Precisa? - ela suspirou triste – Achei que você já tinha me perdoado. Então me des...

- Não! - a interrompi – É que... AFF! Só achei estranho a sua mudança de comportamento, só isso.

Ela ficou feliz de novo.

- É que Julian e Juan foram para São Paulo – eu gelei -, e Nick tinha coisas a resolver – ela refletiu por uns estantes, e seja lá o que for que ela pensou, a aborreceu um pouco. Mas logo o sorriso voltou – Com Julian e Nick fora quem vai te vigiar sou eu – ela estava animada.

- Ra ra – disse com cara de “morri”. - E só por isso que você está feliz?

- Não. Ontem eu arrumei a bagunça daquela confusão.

- Que?

- Eu acabei de arrumar o jardim! - disse orgulhosa. - Quer dizer – ela fez uma careta, como se pedisse desculpas -, menos a caminhonete. Não achamos olha antiga igual aquela... então compramos uma novinha em folha e colocamos no lugar! - disse já sorrindo.

Eu tive que rir. Eta posso que gasta dinheiro a toa!

- Também colocamos outras arvores lá.

Uma pergunta veio à minha mente.

- De onde vem essas arvores?

Ela exitou por uns estantes. Puxou uma cadeira e se sentou.

- Algumas nós tiramos da floresta do Parque das Mangabeiras – ela refletiu por uns estantes -, duas delas são da Parque da Serra do Cipó e... Ah! O pinheiro era do vizinho. - parecia orgulhosa de dizer isso.

Eu ria enquanto processava a informação.

- Vocês roubaram arvores. Humanos roubam dinheiro, joias, bolsas, carros, comida... e vampiros roubam arvores.

Ela fez uma careta e eu ri.

Helena tinha passado o recreio comigo e com as meninas hoje. Gina planejara trazer uma lagartixa amanhã. A colocaria dentro da bolsa da professora de matemática.

Fomos todas para a mesma esquina de sempre, no final da aula.

Minha mãe parou o carro ao nosso lado.

- Vamos Clara – disse Helena toda animada.

Ela passou na minha frente. Segurei a mochila dela e tentei a puxar pra traz. Só depois de alguns segundos, comigo usando toda a minha força para puxa-la – que não consegui mexe-la nem um centímetro – ela notou minha tentativa e fez uma encenação muito da falsa, querendo que parecesse que eu tinha a jogado para traz.

Eu bufei.

Andei ate a janela do carro.

- Mãe, a Helena pode ir lá pra casa?

Ela me lançou um olhar de “não”.

- Ah. Deixa! Por favor! - fiz uma cara triste muito da falsa também.

Raquel deu uma risadinha.

- Você é uma péssima atris, Clara. Sinto muito.

Nós rimos.

- Está bem. Mas os pais dela disso?

- Sim sim! - disse Helena toda feliz. Com a cabeça atras do meu ombro.

O sorriso de Helena contagiou Raquel, que abriu um sorrio.

Helena abriu a porta de traz do carro e entrou, puxado o meu braço pra entrar em seguida.

- Qual o seu nome? - perguntou Helena para Raquel, enquanto o carro dava a partida.

- Raquel Soares. Você é Helena, não é?

Ela assentiu com a cabeça.

- Helena Serra. Como sabe?

- A Clara falou sobre você.

- A é? O que?

- Que você é muito, muito mesmo, muito feliz – respondeu Raquel.

Cheguei perto do ouvido de Raquel e murmurei:

- Mãe, olha a VA!!

Raquel riu.

- O que é VA?

É claro que ela tinha escutado.

- Vergonha Alheia – disse Raquel.

Helena riu e eu bufei.