O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, fiquei sem internet! ;-; P.S.: Obrigada a todas as leitoras do Twitter! Esse capítulo é para vocês



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Economia, matemática, francês, inglês e geografia. Essas foram todas as aulas que eu tive hoje. Pensei que fosse morrer. Cada aula durou aproximadamente uma hora e eu só tive uma pausa de vinte minutos para almoçar e ir ao banheiro. Quando a aula de geografia acaba, jogo os braços para o alto e dou graças a Deus. A professora me lança um olhar mortal que congelaria até larva. Junto meus cadernos e penas. (Sim, eu uso penas! Isso é muito legal!) Me despeço da professora saio do escritório que eu tenho aulas e vou direto para meu quarto. Na verdade, vou correndo para meu quarto com medo que alguém me ache no caminho e diga que eu tenho alguma coisa para fazer. Entro no quarto e (para meu desgosto) encontro as criadas terminando de decorar um vestido.

“Por favor, digam que eu não tenho um compromisso agora.”

“Infelizmente, você tem um chá com o seus pais e a família do Conde.”

“Que merda! Dá tempo de um cochilo?”

Solto um resmungo preguiçoso quando escuto a resposta negativa dela. Depois de um banho, sento-me em minha penteadeira e elas começam a arrumar meus cabelos. Tento fechar os olhos para dormir pelo menos um pouco, mas os puxões de cabelo são tantos que esse ato se torna impossível. A verdade é que não consegui dormir direito na noite de ontem. Estava com saudades de casa e com medo de não conseguir voltar. Até chorei um pouco, o que é bem raro de acontecer.

Depois de vinte minutos, mais ou menos, elas terminam de arrumar o cabelo e passam para a maquiagem. Fazem uma maquiagem bem natural e conseguem, milagrosamente, esconder as minhas enormes olheiras. Quando elas acabam, eu visto o vestido que elas costuraram para mim e vou para o jardim, onde será realizado o chá. Só quem chegou ao local foi Eduardo, acho que isso foi proposital. Sento-me na cadeira ao lado da sua. Assim que me vê, ele me cumprimenta e tenta puxar assunto, minhas respostas às suas perguntas são curtas e chegam a ser grossas, não porque essa seja minha intenção, é só que eu estou com muito sono.

“Peço-lhe mil desculpas, é que hoje eu não estou com vontade de conversar, estou morrendo de sono, não dormi direito esta noite. Você se importaria se eu dormisse um pouco? Só até as outras pessoas chegarem.”

“Por mim tudo bem.”

A cara dele mostra que não está tudo bem, mesmo assim encosto-me à cadeira e fecho os olhos. Sou acordada com trombetas tocando bem próximas ao meu ouvido, cinco minutos depois. Abro os olhos e vejo os pais de Eduardo chegando ao jardim, eles se sentam em cadeiras vizinhas na mesa. Logo em seguida vêm os meus pais e o guarda toca a trombeta mais uma vez, viro e percebo que ele está bem atrás de mim.

“Enfie. A. Porra. Dessa. Trombeta. No. Seu. Cú.”

Falo pausadamente, tentando controlar minha raiva. Todos me olham horrorizados, mas não comentam nada. Percebo uma cadeira vazia na mesa e então eu me lembro dele.

“Onde Felipe está?”

“No quarto, ele não pôde vir. Está doente.”

A mãe dele responde.

“O que ele tem? Ele está bem?”

“Sim, não precisa se preocupar. É apenas um resfriado.”

“Que estranho, ele parecia muito bem ontem à noite... Digo, no jantar.”

Completo a frase para não pensarem que o encontrei ontem à noite sozinha na biblioteca com um vestido minúsculo.

Logo eles esquecem a minha presença e começam a falar sobre alguma coisa que eu não presto atenção. Tudo que eu quero é minha cama.

Um homem idoso chega ao jardim trajando um elegante terno preto, ele é estranhamente familiar. Ele tem cabelos e barba brancos e olhos castanhos amigáveis, ele é alto e magro. Aparenta estar muito fraco pois anda apoiado em uma muleta. Ele é apresentado como Steven Lington. O sobrenome dele não me é estranho e minhas suspeitas são confirmadas quando Eduardo Lington o chama de avô. Assim que ele me vê, seu rosto perde a cor e fica ainda mais branco.

“Você... Como você veio parar aqui?”

Ele murmura, me olhando com os olhos arregalados.

Ele sabe. Eu tenho certeza disso.

“Pergunto-me a mesma coisa há uma semana, desde que cheguei.”

“Do que vocês estão falando?”

O Rei pergunta e Steven me olha como se estivesse me alertando a não falar nada. Steven olha nos olhos do Rei e o mesmo fica confuso por um momento e depois parece esquecer o que estava perguntando. Estremeço quando percebo que ele usou magia.

“Vossa Alteza gostaria de dar uma volta?”

Eduardo me pergunta, não estou nem um pouco afim de dar uma volta. Porém, estou muito menos afim de ficar sentada sem fazer nada, tomando um péssimo chá enquanto todos conversam animadamente sobre alguma merda. Então, acabo aceitando. Ele levanta em seguida me ajuda a levantar e me guia pelo jardim. Ele me leva até uma fonte e sentamos em um banco de madeira em frente a ela.

“O que você gosta de fazer?”

Ele me pergunta.

“Eu gosto de ler, cuidar de animais, cantar, tocar instrumentos, muitas coisas.”

“Eu gosto de estudar. Sou muito bom em matemática, história, física, ciências, economia. Também sou bom em fazer discursos e mantenho a calma em situações tensas. Tenho as qualidades perfeitas para um bom governante.”

Ele falou de uma forma tão orgulhosa e cheia de si que tenho vontade de falar que eu não perguntei.

“Legal, cara. Eu sou boa em tudo isso também! Isso significa que eu também tenho qualidades para uma boa governante, ou seja, eu não preciso de um marido.”

“Claro que você precisa de um marido! Senão você não pode assumir o poder!”

“Posso sim! Eu não preciso de um homem! Posso fazer tudo que você faz e ainda de salto alto!”

A essa altura, eu já estou gritando.

“Não! Você não pode!”

Ele também altera a voz.

“Por que? Por que você tem um pinto e eu não? Ah, vá se foder, cara!”

“Mulheres não têm a capacidade de governar, elas sempre foram e sempre serão submissas.”

Essa é a gota d’água. Estou prestes a bater nele, quando um guarda segura meus pulsos. Tento me soltar, porém meu esforço é em vão. Ele é bem mais forte que eu. Chuto sua parte íntima, ele grita e me solta. Jogo-me em cima de Eduardo, prendendo-o contra o chão. Aperto seu pescoço, tornando sua respiração uma coisa impossível e grito:

“Repita isso agora, seu imbecil!”

O guarda se recupera e me tira de cima dele, quando o guarda me puxa, minha cabeça bate no banco e sinto a pele sendo rasgada, ignoro o sangue que começa a escorrer pelo meu rosto. Ordeno que ele me solte, todavia ele não o faz.

“Está tudo bem, eu cuido dela.”

Ouço Felipe falar atrás de mim, ele soa calmo e ao mesmo tempo firme. O guarda me solta e ele me segura, de uma maneira muito mais delicada que o guarda. Seu toque é bom e relaxante, deixo que ele me guie até seu quarto. Entramos e eu sento em sua cama.

“É assim que você pretende acabar com o machismo no mundo?”

Não respondo porque sei que ele está certo, agi de forma precipitada e involuntária.

“Você não estava resfriado? Por que apareceu lá?”

Tento mudar de assunto.

“Escutei uma gritaria e fui ver o que era. Você deu sorte que eu cheguei primeiro, se fosse o Rei, você provavelmente teria algumas marcas nessa pele de neném. E não precisava nem ler mentes para saber disso, dava para ver só pela cara dele. Agora me deixe limpar esse seu machucado.”

“Não preciso de um homem cuidando de mim.”

Digo sem dar o braço a torcer.

“Poupe-me, Bia. Eu não penso como Eduardo, na verdade, acho ele um idiota. Estou do seu lado.”

A forma como ele pronuncia meu apelido faz meu coração dar um salto mortal triplo. Sei que ele está falando a verdade, eu confio nele apesar de uma parte de mim (a que tem juízo) gritar que eu só o conheço há dois dias.

“Nesse caso, vá em frente.”

Felipe vai buscar o kit de primeiros socorros e eu me deito. Ele volta com algodão, álcool e curativos. Não consigo segurar o gemido de dor quando ele começa a limpar a ferida, ele tenta agilizar e termina o processo em pouco tempo.

“Pronto.”

Ele termina e deposita um beijo em minha bochecha. Ficamos nos encarando e eu me perco na imensidão azul dos seus olhos.

“Acho melhor eu ir.”

“Cuidado, ok? Evite arrumar confusão por esses dias. Qualquer coisa grite e eu vou te ajudar.”

“Ok, mas pra que tudo isso?”

“O Rei parecia muito estressado hoje. Tenho medo do que ele pode fazer.”

Seu olhar é tão sério que sinto um calafrio percorrer meu corpo. Saio do quarto um tanto atordoada.

(...)

Só saio do meu quarto no outro dia pela tarde, quando os ânimos se acalmaram. Ainda assim, estou um pouco receosa. Sento em um banco aleatório do jardim, fecho os olhos e sinto a brisa suave da tarde me tocar. A luz do sol se pondo deixa tudo mais bonito e isso consegue renovar meu humor cem por cento. Procuro uma posição confortável no banco e abro o livro que peguei na biblioteca no dia do incêndio.

Folheio as páginas amarelas tentando achar algo, porém está tudo em branco. Ou melhor, em amarelo. Assopro a poeira da capa e passo a mão pela mesma, contornando com o dedo o desenho da rosa.

“Largue isso agora.”

A voz do Rei me assusta e eu rapidamente entrego-lhe o caderno. A voz de Felipe não sai da minha cabeça.

“O Rei parecia muito estressado hoje. Tenho medo do que ele pode fazer.”

“Onde você conseguiu isso?”

“Na biblioteca.”

Tento parecer confiante, entretanto o olhar de ódio dele faz meus músculos se transformarem em gelatina.

“Nunca mais toque neste livro.”

Ele sai e eu sento/ me jogo no banco. Tento controlar minha respiração. Mãos me seguram pelo ombro.

Merda, é o Rei. Ele vai me matar. Penso.

“Você está bem?”

Respiro aliviada quando escuto a voz de Felipe. Ele senta ao meu lado no banco.

“Sim. Ele não fez nada.”

“O que ele queria?”

“O caderno.”

“Por que?”

“Não faço a mínima ideia. Não tinha nada escrito! Precisamos descobrir, precisamos pegar esse caderno de novo.”

“Você tá doida?!”

“Você ainda não entendeu, Felipe? Ele só agiu assim porque provavelmente tem algo importante nesse caderno e eu preciso saber o que é. E, aliás, eu sou doida!”


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Notas finais do capítulo

O que acharam?! Comente, favoritem, recomendem, me sigam no Twitter: @_lorealves (amo conversar com pessoas no tt)! Eu já tenho outros capítulos prontos, posto o próximo amanhã, mas se esse tiver comentários, eu posto ainda hoje!