O reflexo da Princesa escrita por Lola


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora!! Sinceramente, nem eu mesma sei o por quê de eu ter demorado tanto. O capítulo já estava pronto, só estava esperando a internet colaborar para eu enviar para minha amiga revisar (estou postando sem a revisão dela, então qualquer coisa, me avisem!). Esse mês foi meio louco para mim, muito corrido. Lembram que no cap anterior eu disse que minhas provas iam começar? Então, elas já começar de novo. Pois é... ;---; De qualquer jeito, espero que a demora tenha valido a pena.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/509808/chapter/17

"Sydney: Talvez seja tão maluco que dê certo." - Coração Ardente

O beijo de Felipe é como uma droga. Não que tenha sido ruim – longe disso. É viciante e me deixa leve, feliz. Porém, minha paz é momentânea.

Escuto batidas na porta e atendo. Do outro lado, está um guarda com baixa estatura e físico esguio. Sua pele é branca como mármore e seus traços são finos. Seu uniforme está sujo e amassado – pelo combate, imagino. Seu rosto é inexpressível e seus olhos parecem sem vida.

– Alteza. – Ele me cumprimenta solene. – O Rei está te chamando na sala de reuniões.

Engasgo. Onde é a sala de reuniões?

– O senhor poderia me acompanhar? Sabe como é... Depois do ataque eu não me sinto segura andando por ai só.

– Claro. - Um fantasma de sorriso passa pelo seu rosto e seus olhos exprimem compreensão.

Sozinha foi tudo que eu não fiquei durante o trajeto até a parte leste do castelo, onde, aparentemente, fica a sala de reuniões. Por todos os lados, há pessoas trabalhando em apagar as marcas deixadas pela batalha. A tensão é evidente, está estampada em cada rosto e em cada postura rígida. É sufocante. Eu quero fazer uma piada e descontrair o clima, como eu sempre fazia com minhas amigas, mas nada me vem em mente e não seria muito apropriado uma princesa fazer uma piada. Eu acho. Pelo menos é assim nos filmes da Barbie que eu assistia.

Subimos uma escadaria (muito grande, por sinal) e atravessamos um corredor silencioso que ficou intocado pelo ataque. Paramos em frente a uma porta dupla de madeira. O guarda abre-a para mim e eu agradeço. Entro no cômodo grande com uma mesa de mogno no centro. Nela estão sentados vários homem que eu não conheço, porém seus rostos me parecem familiares. Não tenho certeza, mas acho que são os mesmos homens que eu vi naquela reunião secreta. O Rei está na cabeceira da mesa e o Conde, Steven, Eduardo e Felipe também estão presentes.

Pigarreio e a atenção de todos se volta para mim. Troco o peso de um pé para o outro, sem saber o que fazer. Por fim, sento em uma cadeira vazia entre dois caras que não conheço. Um é barbudo e cheira a tabaco, o outro é magrelo e suas roupas parecem grandes demais para seu corpo.

Os olhos de Felipe encontram os meus. Uma onda de calor percorre minha espinha, minhas bochechas enrubescem lembrando o beijo. Ele me encara por alguns segundos e depois volta a atenção ao Rei. Faço o mesmo.

– Convoquei vocês aqui para discutir o que acabou de acontecer e as consequências disso. Claramente, não estamos seguros. Precisamos de mais homens. Um exército maior. Houveram poucas baixas e isso é um ótimo resultado. Surpreendemo-los com o nosso contra-ataque. De qualquer jeito, convoquem mais homens.

A forma como ele fala isso me deixa em choque. Ele nem pediu a opinião dos conselheiros! Afinal é para isso que eles servem, certo? Passo os olhos pelo local, incrédula. Ninguém vai contestar? Isso é sério?

Antes que eu possa me deter, minha mão está erguida. Como em uma aula quando eu vou tirar uma dúvida com o professor. Todos me olham como se eu fosse um animal exótico.

– O senhor pode ter o maior exército do mundo, isso não vai impedir que os magos ataquem.

O Rei me fitou por alguns segundos e dava para sentir o ódio em seu olhar, escondido atrás de um sorrisinho falso e irônico.

– Você tem uma sugestão melhor?

– Conversar com eles, chegar a um acordo. Afinal, o líder deles está aqui. – Aponto para Steven. Este me lança um olhar surpreso. Passa a mão pelos cabelos grisalhos e limpa a garganta antes de responder.

– Não é tão simples assim, minha princesa. Esses magos... Eles são um Estado paralelo. Estão longe do meu alcance. Desculpe-me.

Sua voz é doce, apesar de cansada. Ele solta um suspiro, frustrado por não poder fazer nada a respeito.

– Isso é... – o Rei tenta achar uma palavra. – Loucura. Negociar com os magos rebeldes é impossível.

Ele diz isso com a voz pingando de escárnio e começa a rir da minha cara. Todos, menos Felipe e Steven, o acompanham. Sinto um coquetel de vergonha e raiva. Tudo que eu quero é cavar um buraco na terra e me esconder. Nos olhos de Steven há um brilho estranho, há um sorriso discreto em seu rosto e ele parece feliz consigo mesmo. Ele murmura uma coisa que poucos escutam:

– Ela trará a luz, ela trará a desordem.

O tempo se arrasta como um elástico. O que dura segundos para mim parecem horas, aos poucos as pessoas vão parando de rir e voltam a se concentrar na reunião. O Rei pigarreia e todos se calam.

– Ainda há outra questão a ser tratada. Envolve a princesa.

Meu coração congela. Sinto uma pontada de desespero crescer gradativamente no meu peito. Eles descobriram, penso. Tô fodida. Quando o Rei retorna a falar, já pensei em milhões de planos de fuga com Felipe. Um deles envolve voltar para o meu mundo e abrir uma miojaria.

– Durante o ataque, a líder dos rebeldes, Ana, lançou um feitiço em Bianca. Mas, para surpresa de todos, ele não funcionou.

Ele deixa de fora o fato que ela jogou o feitiço em Felipe e eu me joguei na frente, e eu prefiro assim.

– Por isso chamei alguns magos, vamos fazer testes e tentar descobrir o porquê disso.

Respiro aliviada, mas o alivio só dura até eu descobrir que esses “testes” envolve pessoas lançando feitiços em mim para ver se funciona. Tento protestar, mas ninguém parece notar minha existência. Eu me sinto uma ratinha de laboratório. Já vi muitas coisas estranhas desde que eu cheguei aqui e magia é uma delas. Tentei me acostumar com a ideia de que magia existe, só que isso é um pouco... Assustador.

Guardas ajeitam a sala para os experimentos, eles afastam a mesa, colocando-a no canto da sala. Ninguém fala comigo então eu fico sem saber o que fazer. Sabe quando você está em uma festa, não conhece ninguém, quer dançar, mas está com vergonha de parecer idiota dançando sozinha? É mais ou menos isso que eu estou sentindo agora. Só que é bem menos divertido que uma festa. E não brigadeiro para eu fingir estar muito interessada nele.

Pego uma mecha do meu cabelo e fico analisando-a até que alguém finalmente vem falar comigo. Um homem me explica o que eu tenho que fazer. É uma tarefa muito árdua que consiste em ficar parada.

Os magos se reúnem em um semicírculo na minha frente. Um dele dá um passo à frente. Ele é baixo, gordo e tem uma barba grande e grisalha.

– Alteza, eu vou lançar um feitiço bem simples em você, fique calma – ele fala gentilmente.

– E Bia, lembre que você não quer que esse feitiço te atinja – Steven fala. Ninguém parece entender o comentário dele. Nem mesmo eu.

Eu estou calma. Muito calma. Um homem que eu nunca vi na vida vai usar magia em mim. Por que eu não estaria relaxada? Não há nada a temer. Eu só descobri há um tempinho que tem uma galera fazendo fila para me matar. Espero que tenha bolo no meu enterro.

Percebo que meus punhos estão cerrados e minhas unhas estão cravadas na minha pele. Respiro fundo e meus olhos varrem o recinto e pairam sobre Felipe. Ele está tenso. Seus lábios formam uma linha reta e seus músculos estão contraídos por baixo da sua camisa branca lisa (e que músculos! Nossa Senhora! Como eu me arrendo de não ter continuado aquele strip. Se bem que ele ainda está com a maldição...). Seus olhos também encontram os meus. Mexo os lábios formando a palavra “socorro”.

O carinha gorducho se prepara cara lançar o feitiço, quando a voz de Felipe corta o silêncio.

– Acho que eu deveria lançar o feitiço. A Princesa já me conhece, sou o cunhado dela. – por uma fração de segundos, ele para e eu consigo sentir o tom amargo que ele usa para falar “cunhado” – Assim ela fica mais tranquila e não perfura as mãos.

Ele aponta para minhas mãos e percebo que estou cerrando os punhos tão forte que as juntas dos meus dedos estão brancas e minha pele sangra um pouco.

– O que você acha, Bianca? – o Rei pergunta.

– Eu prefiro assim.

Minha voz soa trêmula e rouca. Antes que mudem de ideia, Felipe se aproxima de mim e lança o feitiço. Sinto a magia me preencher por dentro. É uma sensação boa. Minha pele formiga um pouco e eu solto um leve risinho. É bem rápido. Logo tudo se esvai. Como uma bexiga de assopro que sem querer soltamos e ela sai voando e murchando. Cambaleio um pouco e me apoio na parede para recuperar o equilíbrio, porém isso é tudo. Não começo a dançar, não caio, não desmaio, nem nada. Olho ao meu redor e o que encontro são olhares de espanto. O Rei me encara com a boca entreaberta. Até mesmo Felipe parece surpreso. Steven está no canto da sala com uma expressão de triunfo no rosto. Como se ele tivesse fechado uma prova para qual ele estudou muito.

– Fascinante – ele murmura.

– Acho que devemos tentar de novo – o Rei anuncia.

Felipe tenta. E de novo, de novo e de novo. Todas as tentativas são frustradas. Até que Felipe e eu ficamos exaustos.

– Você deveria tentar um feitiço mais forte – o homem magrelinho que estava sentado ao meu lado na mesa sugere.

– Qual? Eu estou ficando sem opções, nada funciona! – Felipe retruca.

– O da morte. Nenhum funcionou, é pouco provável que esse funcione.

Ele fala tranquilo como se aquilo não fosse nada. Felipe perde a cor. Um silêncio sinistro se instala no ambiente. Ninguém pronuncia isso em voz alta, mas tenho certeza que essa dúvida paira na cabeça de todos: e se funcionar?

Pigarreio e falo:

– Acho que ele deveria tentar, não funcionou até agora, não deve funcionar.

– Bia, você tem certeza?

Ele sussurrou de maneira que só eu pude ouvir. O fato de ele usar meu apelido faz meu coração dar um salto mortal de costas triplo. Assinto.

– Ok, então.

Ele se afasta um pouco de mim, respira fundo e se concentra. Uma coisa inesperada acontece. Nada acontece comigo, já não posso dizer o mesmo de Felipe. Ele cai no chão se contorcendo de dor. Corro até ele e me ajoelho ao seu lado. Steven e o Conde fazem o mesmo. Seu rosto está contorcido em uma careta e ele está encolhido em posição fetal.

Aos poucos, ele vai voltando ao normal. Seus músculos relaxam e ele deita no chão de costas com as mãos sobre os olhos, arfando.

– Eu nunca senti tanta dor na minha vida – ele admite. O Conde levantava e ajuda o filho a fazer o mesmo. Eu os sigo.

O homem gordo que inicialmente ia lançar o feitiço em mim se aproxima de nós, ele parece irritado.

– Você é um fracote! – ele fala se dirigindo a Felipe. Fracote? Quem usa essa palavra? – Eu vou fazer isso!

Ele me puxa com certa agressividade pelo braço. Cambaleio trôpega quando ele me solta sem cerimônia. Estabilizo-me e olho para ele, assustada. Atrás dele dois guardas se posicionaram prontos para o ataque, porém o tiozinho é mais rápido. Mais rápido e mais esperto, admito. Embora que essa inteligência quase tenha custado minha vida.

Eu aparentemente sou imune aos feitiços, certo? Entretanto não sou imune a o veneno de uma cobra.

Eu não pensei nisso, você não pensou nisso, Felipe não pensou nisso, Steven não pensou nisso, ninguém pensou nisso. Exceto esse tiozinho doido com tendências assassinas, para minha desgraça.

Quando uma naja brota no meio da sala, todos engasgam de pavor. Ninguém ousa se mexer. Não sei se é impressão minha. Talvez um efeito do pânico, mas as duas bolas verdes na cabeça triangular e achatada da naja parecem estar voltadas para mim. E elas brilham de uma forma sinistram e doentia.

Ela é bonita. Linda para falar a verdade. Linda e mortal. Seu corpo cheio de escamas tem uma cor de bronze e parece reluzir contra os restos de luz do dia que entram pela janela. Ela tem alguns detalhes brancos como os dois semicírculos no seu “pescoço”. Afasto-me lentamente e ela me segue na mesma velocidade. Esbarro as costas na parece e percebo que fiquei encurralada. Minha garganta seca, fecho os olhos, sentindo meu corpo estremecer de medo.

E então, a naja dá o bote.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram?? Comentem, favoritem, recomendem! Não é tão difícil, só precisa clicar em "recomendar essa história" e escrever palavras bonitinhas sobre RP



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O reflexo da Princesa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.