O apartamento de Davi já tinha se tornado a segunda casa de Megan, ela já tinha ali roupas e muitos objetos pessoais, por todos os cantos tinha seu toque feminino. De manhã, abrindo o armarinho do banheiro levou um susto ao se dar conta de que ali seus produtos de beleza reinavam absolutos enquanto Davi só guardava ali o aparelho de barbear, uma loção e um gel de cabelo que ela nem sabia porquê estava ali, já que ele não usava.

Se olhou no espelho e percebeu que se sentia realmente em casa. Caminhou até a porta do quarto e ficou ali parada observando Davi enquanto ele amarrava os sapatos, sentado na cama. Até que ele notou a presença dela ali e sorriu.

–O que foi?

Ao invés de responder, a garota fez outra pergunta:

–Você acha que eu passo tempo demais aqui?

–Ahn?

–Olha só pra isso! -Ela apontou para o próprio corpo.

Davi percebeu o que ela queria dizer: estava só de toalha, chinelos, o cabelo preso no alto da cabeça e segurando uma escova de dente na mão. Sorriu de novo e caminhou até onde ela permanecia parada.

– Eu entendo onde você quer chegar. E realmente, algumas pessoas diriam que nós fomos rápido demais.

–E então?

–Ah, de verdade, isso não me incomoda, e nem me importaria se você ficasse permanentemente aqui.

–Sério?

–É. Mas fica tranquila, eu não te pedindo em casamento. - os dois riram -Só tô dizendo que é muito bom te ter por perto e eu adoro ter seu cheiro no travesseiro ou ver seus perfumes misturados com os meus, acordar de manhã e te ver dormindo do meu lado. Eu não tenho mesmo do que reclamar. -Ela sorriu com a declaração, mas ele continuou -Mas por que tá perguntando isso?

–Não sei, talvez porque percebi que essa é a primeira vez que eu me ligo de verdade assim com alguém, que eu deixo as minhas prioridades de lado pelas da outra pessoa. E só hoje hoje me dei conta disso. Só tô me sentindo meio culpada...

Davi franziu a testa.

–Culpada?

–É, por mom. Ela tá naquela casa o tempo todo aguentando tudo sozinha.

–Claro, será que não seria bom você ir até lá hoje conversar com ela? Pelo que eu percebi do Jonas, eles não tão nada bem...

–Por culpa dele mesmo! Mas você está certo, eu vou hoje, só espero não me encontrar com ele -Davi abriu a boca para contestar, mas ela interrompeu -E nem adianta defender, Davi, por favor.

Nessa altura, eles já estavam abraçados.

–Você... tem falado com o Herval sobre o Jonas?

–Oh sim e ele parece ser a única pessoa que me entende!

–Pois eu continuo achando que você tem que sentar e conversar é com o Jonas e não com quem não tem nada a ver com isso.

E-Mas você sabe que o Herval é de confiança.

O rapaz ficou sério.

–Eu já não tenho tanta certeza se... -Começou a falar, mas foi interrompido outra vez.

–Ah Davi, eu não funciono com sermão, eu funciono com beijo! -Falou dengosa fazendo o namorado sorrir e apertar o abraço em volta da sua cintura.

–Ah é? Pois eu só beijo se você prometer que vai agir como adulta adulta e conversar com o Jonas. E aí?

–Hum, chantagem? Você tá mais parecido com ele do que eu imaginei, sabia? -Brincou, sorrindo.

–É pegar ou largar!

–Tá bom, eu aceito, mas... só se o beijo valer a pena!

Ele riu.

–Você sabe mesmo como jogar não é?

–Baby, você nem imagina!

Ele deu um sorriso de lado e a apertou com uma intensidade maior. Porém, Megan já estava acostumada a esses ímpetos de Davi que o tornavam tão irresistível, outros homens não eram nem a sombra dele. Davi a surpreendeu com um beijo arrebatador que ela não teria como reclamar. Sua boca era pequena e o sabor do beijo era novo a cada vez que se repetia. Foi difícil para ele soltá-la, já que adorava aquele cheiro que ela exalava logo após o banho, então teve certeza que falava sério quando disse que não se importaria se ela resolvesse ficar.

*** *** ***

–Megaan!! -Pamela correu até a filha com entusiasmo quando a viu entrar pela porta. Mãe e filha se abraçaram intensamente. Depois Pamela a puxou pela mão para ela terminar de adentrar na casa.
–Mom, como você está?
A mulher passou a mão no cabelo antes de responder dando um longo suspiro.
–Ah, filha, eu estou... aguentando como posso. -Megan se entristeceu e as duas sentaram no sofá.
–Esse homem que acabou de sair era o investigador?
–Sim, me fez tantas perguntas! E o pior é que sou eu quem mais precisa de respostas.
–Dad ainda não te disse nada??
Pamela cruzou as pernas e endureceu o olhar.
–No, porque eu não dei muitas oportunidades para conversar.

– E como vocês estão convivendo nessa casa?

–Ele está dormindo em outro quarto, falamos apenas o necessário. Tenho focado em trabalhar na Parker e isso tem me ajudado muito. Ainda estou brava por Jonas ter me escondido tanta coisa. Estou magoada porque achei que não havia segredos entre nós.

–O pior é ele ter matado uma pessoa!

Pamela a olhou rapidamente e arregalou os olhos.

–Megan, é claro que nisso eu não acreditei! E me espanta que você diga isso com tanta naturalidade!

–Oh, mom... Será que não é melhor você olhar pra situação de uma outra forma, como eu estou fazendo?

–Condenado o Jonas? Não, Megan, eu não vou fazer isso com o homem que me deu os melhores momentos da minha vida, não seria justo, você entende? -A garota nada respondeu, apenas a olhou de maneira terna e Pamela continuou. -Eu não vou abandoná-lo nessa situação, ele precisa de mim, como sempre precisou. Mas, se a situação ficar insustentável pra você, talvez fosse bom continuar lá com o Davi, o que acha?

–Nós falamos sobre isso hoje. Tinha medo dele achar isso um pouco apressado, mas parece que ele não se importa.

As duas sorriram. A mãe acariciou o rosto da filha.

–Meu bebê está crescendo, right? Amando, me aconselhando, tomando um rumo na vida...

–Sabe quando eu vou crescer? Quando perceber que sou pelo menos um pouco parecida com você, quando chegar a seus pés, mom...

–Oh Megan! -As duas se abraçaram novamente. Era amigas, confidentes e companheiras e isso aquela tempestade de problemas não conseguiu abalar.

Passaram o resto da tarde no quarto de Megan, conversando e matando a saudade. Depois Dorothy chegou para animar o ambiente, tudo que aquela casa que agora parecia tão triste estava precisando.

*** *** ***

No terraço da Marra, Davi, Jonas e Brian discutiam diversos assuntos. O Regenera estava pra ser inaugurado, finalmente e, Brian insistira que a conversa fosse ao ar livre para, segundo ele, "clarear as ideias" dos dois gênios da empresa. Até que após ter discutidos esses assuntos de mais urgência, Jonas tocou no tema da substituição na Marra.

–Bom, não querendo mais adiar isso, Davi, eu vou direto ao ponto: Você vai aceitar de vez o controle da empresa ou não?

O rapaz suspirou fundo e olhou para Brian que parecia já estar a par do assunto e pôs-se de pé enquanto os outros dois permaneciam sentados. Davi colocou as mãos no bolsos e olhou lá pra baixo, onde os funcionários andavam de um lado para o outro, os 'nerds' sentados pelos cantos criando novas ideias sem parar, visitantes com suas credenciais admirados com a modernidade que estava presente ali até nas paredes. Pela primeira vez se sentiu parte daquilo tudo, sentia que Jonas estava lhe pedindo mais do que proteger seu patrimônio da falência, mas que colocava em suas mãos o destino de tanta gente que dependia de tudo aquilo.

Com o silêncio de Davi, Jonas e Brian apenas se entreolhavam tensos, até que foram surpreendidos:

–Eu aceito! -Davi disse sem encará-los, permanecendo quieto na mesma posição.

Brian sorriu sentindo que a decisão fora tomada da forma mais sensata possível.

–Aceita? Assim, sem mais nada a acrescentar? -Jonas perguntou. Davi se virou para os dois, encarando-os.

–Eu não posso impor condições, eu tenho consciência de que essa decisão é muito mais difícil pra você do que pra mim. Então eu vou apenas pedir, Jonas, que você tente não questionar muito as decisões que eu vou tomar. Você disse que tava na hora de mudar isso aqui, então é isso que eu vou fazer, a Marra vai mudar radicalmente a partir de hoje.

Jonas se levantou e foi até ele sorrindo.

–Davi, você tem carta branca, mas se precisar da minha ajuda, eu estou a sua disposição. Você acaba de salvar a Marra de ir pro buraco junto comigo. -O homem ofereceu a mão a Davi para simbolizar aquele acordo, que o jovem apertou prontamente.

–Oh My God! E eu acabo de presenciar o aperto de mãos que pode mudar a história da tecnologia mundial! -Brian disse animadamente. Se aproximou dos dois e continuou: -Que este acordo traga um sopro para a Marra respirar, livre do fantasma da crise.

Depois, os três desceram a sala que agora seria de Davi para que ele assinasse de vez aqueles papeis que diziam que tudo aquilo agora estava no nome dele. Murphy entrou, ofegante.

–Boss, repórteres, muito deles... lá fora!

Jonas mal ouviu o que ele dizia. E rindo, tocou no ombro do assistente, trazendo-o para dentro.

–Ah Murphy, eu já não sou o boss de ninguém!

–O que o senhor quer dizer?

–Davi acaba de aceitar aquela minha proposta. Ele é o seu novo patrão.

–Bom, se é assim, senhor... Davi, eu lhe dou os parabéns e se me permitir, prometo continuar cuidando de tudo aqui ao seu lado com o mesmo prazer de sempre, mas lhe peço que com todo respeito, deixe que eu continue tratando meu boss como sempre tratei...

Davi sorriu.

–Claro, Murphy, eu não esperaria que você agisse de outra forma.

–Viu só, Murphy? Escolhi ou não a pessoa certa?

–Claro que sim, o senhor fez certo como sempre. Mas e agora, quanto aos jornalistas, vão anunciar a grande notícia?

–Será que não é cedo demais? Eu ainda não falei com ninguém sobre isso, queria eu mesmo dizer. -Davi temeu a reação das pessoas, principalmente a de Megan, porém Brian insistiu:

–Se a imprensa está aí, acho a ocasião perfeita para dizer. É bom que vocês dêem a notícia em primeira mão!