Quando Davi olhava para Megan, esquecia de qualquer coisa que o impedisse ou o censurasse de amá-la mais ainda. Ele apoiou o queixo fixo na mão, os olhos percorriam cada detalhe do rosto perfeito. Como era bom observá-la... Vê-la só trazia sorrisos ao rosto de Davi e esvaziava completamente sua mente. Os lábios pareciam perfeitamente desenhados para um beijo, os olhos... "Droga, Davi, para de pensar nisso!" Sua mente ordenou.

Ela experimentava o açaí pela primeira vez e parecia gostar, pois sorria.

–E aí, o que achou?

–Uma delícia! O Brasil é cheio de delícias, tenho que admitir...

Dizendo isso, ela arrancou um riso dele, ao mesmo tempo em que o deixou sem graça.

–Megan, você realmente é uma caixinha de surpresas, sabia? Eu confesso que gosto de conhecer todas elas, inclusive esse lado de professora que eu conheci agora há pouco. -Ele lembrou.

–Oh! Sabe que eu gostei? -Confessou, animada. -O ambiente na Plugar desperta em mim um lado criativo. Sabe o que me deu vontade de fazer? Escrever! Yeah, faz tempo que eu não escrevo!

–Nossa! Parece que você falou mesmo sério quando disse que ia voltar... -Davi estava impressionado. -...Melissa!

Ela riu.

–Of course! Claro que eu volto! Você acha que o seu amigo vai se incomodar se eu aparecer mais vezes?

–O Herval? Imagina! Ele só vai ficar com um pé atrás por você ser filha de quem é...

–Why? Ele não gosta de dad ou mom?

–Digamos que se não fosse pelo Herval, o Golias talvez não tivesse feito aquele protesto contra o Jonas.

–E também não existiria o Júnior, right?

–Exatamente!

Ela experimentou mais um pouco do açaí.

–Quando você vai apresentar esse projeto ao meu pai?

A expressão de Davi ficou séria e ele cruzou os braços.

–Já apresentei e ele vetou!

–What?? Mas ele é... amazing!

O elogio inesperado o fez sorrir.

–É?

Vendo a expressão dele, ela tentou diminuir o entusiasmo.

–Sim, é... É muito bom...

–Pode ser, mas acho que eu me precipitei. De qualquer forma, minha primeira tentativa de fazer alguma coisa realmente produtiva com a Marra, falhou.

Ela ficou pensativa por alguns instantes e se lembrou de que Jack lhe pedira para tentar se interessar mais pela empresa, pois um dia teria uma grande surpresa.

–Davi, eu amei a Plugar, quero de verdade investir meu tempo lá! Mas eu quero que você me ajude na Marra também. Posso não entender nada de tecnologia, mas mom também não e, a parceria dela com meu pai já dura quase 20 anos.

–Mas eles são casados... -Davi lembrou, franzindo a testa.

Nesse momento ela percebeu o que acabara de dizer e corou.

–O que eu quis dizer foi que...

Ele riu e interrompeu.

–Megan, eu te entendi e tudo bem, eu te ajudo! Só quero saber o que vai sair disso, nós somos diferentes demais.

Ela riu, puxou a pequena cesta de frutas sobre o balcão.

–Look, pensa rápido! -Jogou uma laranja que ele segurou no ar e sem que ele esperasse pegou um pequeno morango e arremessou que, por pouco não caiu. Ela ria sem parar.

–Tá maluca?

Ela parou de rir para perguntar.

–Você gosta de laranja, Davi?

–Hã?

–Gosta?

–Ahn... gosto...

–E morango?

–Acho... que sim, porquê?

–Me too, eu adoro! E quando eu misturo os dois, o resultado é ainda mais delicioso.

Enquanto Davi, apesar de seu QI altíssimo ainda tentava entender aquele enigma de Megan Marra, ouviu uma voz conhecida, com um tom um pouco zangado.

–Muito bonito, Davi! Me deixou plantada ontem fora da tua casa pra me trocar por esse bicho de goiaba loiro aí...

–Luene, por favor... -Ele tentou se defender.

–Admite! Admite que me deu bolo na maior cara de pau. Que é? Tá achando que pode tudo agora?

Megan olhou para a garota. Para estar cobrando explicações de Davi desse tipo, devia ter com ele alguma relação. Sentiu o ciúme falar mais alto, a morena era bastante bonita. Então ela se levantou, pegou a bolsa, chegou mais perto de Luene.

–Sabe o que aconteceu ontem à noite? One... -Ela indicou o número com o indicador -... Davi abiu a janela pra mim. Two: eu entrei, and... Three: nós nos amamos loucamente a noite inteirinha!! -Ela disse numa expressão sapeca, deixando Luene boquiaerta e Davi num misto de surpresa e diversão. Ele não sabia se ria da atitude dela ou se tentava desmentí-la, embora não devesse explicações. Megan ainda lhe deu um beijo no canto dos lábios em sinal de provocação a ele e Luene, mas quando ele viu que ela ia saindo com um sorriso vitorioso nos lábios, chamou e ergueu as frutas que ainda segurava.

–Ei, dá pra explicar isso?

Ela virou.

–Easy boy, os dois são diferentes, porém ficam uma delícia quando se misturam!

Ele resgatou o contexto da conversa e, se dando conta do que ela quis dizer, riu. Enquanto ela se afastava, cheia de atitude, acabou falando para si mesmo:

–Essa garota me deixa completamente burro... -Sorria feito bobo, até que... - Aaai! -Luene lhe deu um tapa no braço.

–Então é assim, Davi? Vai me trocar por essa periguete importada aí?

–Luene, a Megan não é periguete!

Ela deu uma risada alta.

–Não? Meu filho, essa daí não presta, o mundo inteiro conhece esse tipinho...

–Não como eu conheço...

Até ele se surpreendeu com aquela frase involuntária, mas como não tinha vontade e nem porquê continuar aquela discussão, simplesmente saiu deixando a morena possessa, mas no fundo ela sabia que não podia cobrar nada dele.

*** *** ***

Quando Davi acordou pela manhã e seus olhos se acostumaram com a claridade do dia, olhou do alto da cama beliche e percebeu o quão desarrumado estava seu quarto. Viu que sequer terminara de guardar as coisas que trouxera da viagem.

–Droga! –Caiu de novo na cama, sentiu o celular embaixo do corpo, se esgueirou para pegá-lo. Ao checar, percebeu uma mensagem que fora mandada um pouco tarde da noite anterior, certamente após ele ter apagado. Não conseguiu evitar um sorrisinho o ver que era de Megan.

“Nem pense em faltar o job amanhã! Você pode se livrar de Megan Lily, mas não de Melissa!”

Até que não seria má idéia vê-la interagindo novamente com as crianças.

–Caramba, garota! Desse jeito fica difícil te esquecer... –Disse olhando para a tela do celular.

–Falando sozinho, irmão? –Ao ouvir a voz de sono do primo vindo de baixo foi que Davi se tocou de que ele dormira ali.

–Liga não, cara! Dorme aí, eu tenho andado louco assim mesmo...

“Já to indo Megan/Melissa!”

Ele enviou essa mensagem e foi correndo se arrumar para ir à empresa, sequer tomou café, afinal ele podia comer na Marra.

O mesmo aconteceu na Mansão dos Marra. Após receber a mensagem de Davi, a garota deu um sorriso que chamou a atenção dos pais.

–Megan Lily, já tão animada assim na mesa do café?

–Eu tô impressionado é por ela ESTAR na mesa do café! –Disse Jonas, antes de levar a xícara à boca.

–Você não me quer na Marra, dad? Só estou lhe obedecendo! –Levantou.

–Ei, ei, ei! Termine de comer sweetie, please!

–Relax mom, eu faço isso na empresa. Agora preciso me arrumar, Just now!

Saiu, deixando Pamela em dúvida, sem se dar conta do óbvio, afinal ela sabia do que a filha sentia por Davi. Já Jonas, deu um sorriso de lado.

*** *** ***

–E aí Nacho, bom dia!

Davi cumprimentou o chef.

–Bom dia, Davi. Veio tomar o suco de sempre, certo? –Perguntou o homem com um forte sotaque.

–Exatamente, cê já aprendeu qual é, cara?

–Mas claro! Só que... hoje você tem cortesia!

–Cortesia? De quem?

–A pessoa me disse que ao tomar o suco, você saberia.

Nacho entregou a Davi o copo contendo o suco alaranjado. Ao provar o sabor novo, porém conhecido, ele sorriu.

–Megan...

Nacho assentiu ao mesmo tempo em que ele ouviu uma voz feminina atrás de si.

–Demorou menos pra entender dessa vez... -Megan disse sorridente, sentando a frente dele.

–Eu entendi o enigma de ontem. Onde você quer chegar com tudo isso hein?

–Só estou jogando o mesmo jogo que você, Davi.

–Eu não tô jogando!

–Oh no? Nunca diz o que sente, só vai me deixando enigmas... Só tenho medo de como eu vou sair desse jogo.

Assim ela saiu, deixando Nacho sem entender nada e Davi sem a mínima vontade de continuar a tomar o suco.