Identidade Homicida escrita por ninoka


Capítulo 36
Cigarros e nostalgia :: 10:30


Notas iniciais do capítulo

Olaaar de novo hfudhf
Esses números estranhos do lado, caso esteja meio "?", é o horariozinho que se passa, ok?

Boa leitura!



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[Jennifer]

Nathaniel deu um sinal de aprovação com as mãos, retornando para trás da parede, escondendo-se. Estávamos prestes a botar nosso plano em prática.

Respirei fundo para frear os ânimos, depois, fitando o algarismo “42” talhado no topo da porta de madeira - a suíte dos músicos, Castiel e Lysandre.

Mais um daqueles cartões cor de cereja foi encontrado. Estes papéis têm nos perseguido desde a falsa morte de Jade Klippel. Encontramos na cena de seu homicídio, alguns na mochila de Kentin, no sanitário da suíte que divido com Elsie, e agora.. um sobre o palco. Diferentemente dos outros, este último possui um poema à caneta - a caligrafia visivelmente pertencente ao poeta grego -, no entanto, o tom e tamanho são exatamente iguais aos primeiros encontrados - o que os mantém teoricamente conectados. E agora, Nathaniel e eu decidimos nos fazermos de sonsos para averiguar o que pode acontecer quando temos uma peça dessas em mãos.

Acabamos por apelar pra esse tipo de prática quando notamos a constância com que esses cartões aparecem - precisávamos achar um significado para tudo isso; ou ao menos, nos certificar de que não passava de mera coincidência e paranoia nossa.

Dei três batidas suaves à porta, transpirando inquietação. Não demorou pra maçaneta girar.

Quem abriu foi Castiel, o cão, vestindo uma jaqueta, um cenho carrancudo, e um roxo no olho esquerdo. Tsc.

Esse cara é horrível. Soube que mantinha um esconderijo na antiga lavanderia do colégio pra comercializar informação e cigarro com gente daquele tipinho. Ele também já criou bastante confusão com Nathaniel e a Cotton - não sendo expulso somente porque Shermansky lhe poupou o couro.

— O que você quer? - rosnou.

Esbugalhei os olhos, estufei o peito, e tentei aparentar o mais dócil quanto o possível:

— Mm, é que.. Lysandre está por aí?

O rebelde pareceu remoer alguma mágoa ao ouvir o nome daquele. Desviou o olhar em silêncio, torcendo os lábios:

— Ele não tá. - transmitia uma estranha melancolia em suas feições, embora o tom agreste na fala.

Continuei encarando aquele rostinho murcho, remexendo os olhos acinzentados de um lado para o outro. Me engasguei para prosseguir com o teatro:

— Bem.. Eu só vim entregar isso aqui. Parece que pertence ao Lys. E aliás, vocês estavam ótimos ontem!

E estendi o pequeno papel vermelho a alguns centímetros de seu nariz, esperando alguma reação. O rapaz tomou-o com impaciência.

— Hm.. E o que é isso no seu olho? - aproveitei a brecha da situação.

Castiel me encarou por um tempo. Parecendo saturado com meus questionamentos, ele fez um estalo com a boca, recuou para trás, e cerrou a porta na minha cara.

 

[Castiel]

— Inferno…

Deveria não ter atendido.

Fazer o quê? O sono já tinha ido embora mesmo. O jeito era romper com o tédio.   

Desativei o keypass para qualquer alarme pré-programado e liguei o radinho vagabundo sobre o criado-mudo - o cd tinha parado em Paid in Full, de Eric B and Rakin. Um bom hip-hop antigo a volume baixo pode ser útil pra relaxar os ombros às vezes.

Por fim, empurrei o interruptor de luz - que, ao clarear todo o ambiente, evidenciou toda a porquice que se acumulou durante alguns dias antes do espetáculo.

Ainda haviam alguns comprimidos de Lysandre sobre sua penteadeira, e até um copo de vidro com alguns mililitros de água. Um pente preso de fios brancos, uma caneta estourada. Caminhei até o móvel, onde deixei o papel entregue pela mocinha alta.

Voltei, e afundei o corpo na cama - ainda quente e desarrumada - junto a um suspiro. Aproveitaria o sono perdido pra me afogar em fumaça.

Olhei para o outro lado do cômodo, a outra cama; onde haveria de ter Lysandre, onde, há poucos dias, ainda havia Lysandre.

Conheci ele durante o primeiro ano, logo nos primeiros dias, enquanto fui à procura de uma sala longe de inspetores, livre pra exercer a válvula de escape que o tabaco me proporcionava há muito. O keypass me indicou uma sala sem tranca, e esse foi o meu alvo. Ficava no segundo andar: um depósito de livros usados, iluminação meia-boca. Ninguém perderia seu tempo por lá - ninguém que não fosse tão perturbado quanto Lysandre.

Ele dizia que o silêncio o acalmava. Sua mente e sua criatividade se expandiam naquele escuro, e então, não havia quem ou o que o impedisse de rabiscar seu bloco de notas até que o grafite estourasse.

Tínhamos a mesma paixão pela música e por algo que nos isolasse do convívio humano. Coincidentemente calhamos no mesmo dormitório.

Huh... Se eu me sinto incomodado por ter participado desse covil de monstros? Honestamente, nenhuma dessas pessoas valia a pena - nem mesmo qualquer idiota que tivesse se aliado aos meus interesses no passado. Se eu pudesse arrancar algum proveito, não haveria porque me lamentar.

Mas Lysandre... ele valia a pena, no final das contas.

Suas ambições se moviam à sadismo e vingança, porém, acho que eram esses os fatores que o tornava tão diferente.

Sairíamos milionários desse inferno. Nem precisaríamos mais nos preocupar com nada - escola, pais, carreira forçada; e passaríamos a nos dedicar à única coisa que nos motiva.

Mas o plano foi pro esgoto. Tudo por causa deles - o gêmeo e sua namoradinha.

Sempre achei que fossem estranhos, mas não a ponto de vê-los metidos nessa brincadeira insana da Shermansky. Uma prova disso? Quando ameacei a Cotton no esconderijo, mesmo com o gêmeo e seu capanga militar vindo na cola pra tentar ajudá-la, nenhum deles foi de fato um problema. Muito pelo contrário; caíram no chão em menos de 15 segundos de combate.

E, justamente, relembrando essa ocasião, pensando sobre o quão fácil foi encurralar Elsie e torná-la um voodoo, me questiono: Que demônio teria lhe possuído durante nosso último reencontro?       

E agora? Não sei. Talvez eu continue aqui na cama por mais algumas horas, com todos esses cigarros; toda essa... Nostalgia.

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro ;|

Kissus e até breve!!