– Bom dia, cavalheiros.

Não passava das nove horas da manhã quando o dono da pousada recepcionou o grupo de jovens que pareciam ligeiramente alcoolizados.

– Bom dia pra você também, Sr. Freeman! – Ward respondeu com um enorme sorriso enquanto lia o crachá do senhor de uniforme vermelho à sua frente. – Eu quero a melhor suíte que vocês tiverem aqui.

– Alguma ocasião especial?

– A melhor que poderia existir – Ward exibiu a aliança falsa na mão direita. – Eu vou me casar em uma semana.

– Meus parabéns senhor... Connor. – ele recebia os documentos adulterados das mãos de Ward. – Você e seus amigos vieram curtir seus últimos dias de solteiro, eu presumo.

– Isso mesmo, Sr. Freeman. – Ward bateu no ombro de um dos rapazes. – Por isso, peço a melhor suíte que tiverem. À noite vamos trazer algumas garotas para tornar essa ocasião um pouco mais divertida.

– E a noiva, onde está agora? – o dono da pousada perguntou, apoiando-se no balcão, logo após entregar um molho de chaves para Ward.

– Shopping, massagem, spa... Deixei tudo pago para ela se divertir com as amigas o final de semana inteiro. Sabe o que dizem: “Esposa feliz, vida feliz.”

– É isso mesmo, meu jovem. – o mais velho acenou positivamente com a cabeça. – Aqui está. Quarto número 312. Aproveitem o final de semana.

– Obrigada, Sr. Freeman.

– Fiquem à vontade. Se precisarem de algo a mais, o número da recepção está no cartão ao lado da porta do quarto.

– Obrigada mais uma vez. Tenha um bom dia.

Ward subiu entre gargalhadas, explorando o seu disfarce o melhor que podia. Os agentes tomaram o quarto e, como só se encontrariam com os outros comboios em dois dias, resolveram aproveitar a estadia tranquilamente para não levantar suspeitas dos seguranças locais.

– Foi fácil como tirar doce de criança. – Ibrahim jogou-se em uma das camas e abriu a porta do frigobar logo ao lado, procurando uma bebida. – Isso aqui é o paraíso.

– Não acostume-se com isso, Ibrahim. – Ward alertou, levantando-se da cama e indo em direção à janela. – Lembre-se que ainda estamos em missão.

– Mas você nos mandou descansar e fingir que estamos nos divertindo... Não custa nada fazer isso de verdade.

– Tudo bem, desde que não coloque tudo a perder.

Ward olhou os prédios lá de cima, como se procurasse por alguma coisa em especial. Sentiu um choque de temperatura e quando olhou para trás, Ibrahim colocava uma cerveja em sua mão.

– Relaxa, cara. Nós somos especialistas em disfarce.

– Ótimo – Ward deu um gole na sua cerveja e tirou o telefone do bolso. – Se me dão licença, preciso ligar pra minha futura esposa.

Todos os homens riram com a brincadeira e Ward saiu em direção ao corredor. Precisava checar se tudo estava correndo como o planejado.

– Pousamos no alvo número um.

– Ótimo, eu já cheguei à base da S.H.I.E.L.D, mas os seus amiguinhos quase me ferraram na passagem pela fronteira.

– Você foi seguido? – Ward quase gritava ao telefone.

– Não, não fui. Mas um dos seus pelotões levantaram suspeitas. Eu quase fui revistado quando fazia um pouso para reabastecer a aeronave em solo canadense.

– Idiotas... Mas e aí, você conseguiu? Como está a base Providência?

– Do jeito que queríamos: lotada até os dentes com os soldados do Coronel Talbot. Já os informei para se prepararem para o ataque. Nenhum soldado da HIDRA permanecerá livre depois dessa.

– Ótimo. E na S.H.I.E.L.D, como estamos?

– Eles estão seguindo as suas pistas como esperávamos. Estamos indo para o Canadá em algumas horas.

– O localizador na arma de Fitz?

– Ainda operante. A base em Washington está sendo vigiada e a outra pistola está levando-nos até vocês. Está tudo nos conformes.

– Perfeito. Vou me comunicar com Alfa e Bravo pra descobrir quem deixou as informações vazarem. Isso não pode mais acontecer.

– Faça isso, Ward. Só teremos essa chance pra acabar com eles.

– Preciso desligar – Ward sentia a aproximação de alguém pelo corredor. – Manterei você atualizado.

– Certo. Pode ir, eu vou agilizar as coisas por aqui também.

– Desligando, Trip.

(...)

– Aqui estão as plantas como pediu. – Skye e Steve entregaram os arquivos para Coulson, ligeiramente corados.

– Estranho ter demorado tanto – Coulson podia farejar alguma coisa estranha no ar. – Você geralmente faz isso num piscar de olhos.

– Eu tinha cochilado no quarto, daí o Capitão precisou esperar eu tomar banho...

– E de quem era aquelas risadas que a base inteira podia ouvir? Você e Kate não ficaram caladas nem por um minuto sequer! Acho que vou ter que pensar em colocar portas à prova de som no quarto de vocês duas.

– Sério? – Kate aparecia atrás deles, às gargalhadas. – Eu tinha gravado nossas vozes e fiquei repetindo esperando essa preguiça hibernante acordar.

Skye revirou os olhos e agradeceu mentalmente por ela ter aparecido naquela hora. Kate tinha uma enorme facilidade em inventar histórias em momentos de tensão.

– Estou surpresa dela estar de pé. Preciso ver com Simmons o que ela faz pra tirar essa criança da cama todos os dias. – Kate continuou.

– Hey, garota! Você é mais nova do que eu!

– Parou aí, as duas! – Morse ouviu os gritinhos e chegou ao corredor, juntando-se à algazarra. – Sério, Phil? Achou pouco ser diretor da S.H.I.E.L.D, aí resolveu achar uma irmã pentelha pra fazer par com essa outra matraca?

– Hey! – as duas meninas protestaram juntas.

– “Hey!” coisa nenhuma! – Morse andou até elas e colocou cada uma de um lado. – Vocês precisam aprender a se controlar.

– Qual é, Bobbi... Num vou nem mencionar o que você fazia até algum tempo atrás...

– Calada, Katiezinha. A conversa ainda não chegou no Bronx.

Kate e Skye cruzaram os braços simultaneamente, fazendo Coulson e Steve esconderem um sorriso lá atrás ao assistir a cena.

– Você, Skye – Morse apontou pra ela com a mão espalmada – É ótima com comunicações, códigos, algoritmos e pra ser sincera, eu não entendi metade do que você fez com aquela máquina agora a pouco, minha especialidade é outra. – Skye sorriu levemente e respirou fundo. – E você, Katiezinha... Você sabe o quanto pode ser útil em um grupo desse. Além de atirar super bem, você também não é nada mal numa luta corpo a corpo. Mas... Vocês duas juntas... Okay, é quase como ver Nova York pegando fogo.

– Tenho que concordar com a agente Morse, Skye – Coulson se pronunciou. – Vocês estão juntas não faz nem uma semana e Natasha e May nem andam mais perto de vocês porque dizem não aguentar mais ouvir risadas estrambólicas o tempo todo.

– Tá bom, tá legal! – Skye levantou as mãos pra cima. – Nós vamos melhorar, okay?

– Duvido – Harpia deu de ombros, sorrindo levemente. – Mas, o que posso fazer a não ser acreditar na palavra de vocês?

– Vamos nos comportar – Kate cruzou os dedos e os beijou em sinal de juramento. – Palavra de escoteiro.

– Acho bom mesmo – Coulson seguiu na frente e chamou o pequeno grupo para segui-lo. – Já estamos de saída.

Steve e Skye deixaram os outros irem na frente e Kate piscou um olho para ela enquanto engatava uma conversa com Coulson e Bobbi para distraí-los.

– Hey... tipo – Skye enrolava a ponta dos cabelos com os dedos, um pouco nervosa. – O que aconteceu na sala dos computadores mais cedo...

– Olha, Skye, me desculpa... Eu não quis fazer nada que...

– Espera – Skye colocou uma das mãos sobre o peito dele, tentando fazê-lo ficar calado. – Você não fez nada que eu não tivesse deixado.

Steve sentiu seu coração acelerar. Sua vontade agora era pegar a mão que estava em seu peito e beija-la, acolhendo-a com as próprias mãos até que ela se sentisse perfeitamente segura e protegida.

– Então?

– Eu queria aquilo também, Steve... – ela aproximou-se dele mais um pouco e o encarou séria. – E continuo querendo.

– Eu também, Skye

Ele colocou as duas mãos em volta do rosto dela, retirando uma mecha que insistia em ficar na frente dos seus olhos castanhos. Skye, sentia suas pálpebras pesarem e fechou os olhos ao sentir o toque quente das mãos de Steve na sua face. Ele era incrivelmente lindo e aquela camiseta branca apenas revelava o quanto ele era forte. Mas nada comparado àquela bondade nata que ele trazia dentro de si. Um simples olhar dele a fazia sentir-se insuportavelmente vulnerável.

– Você... Simplesmente... Não sei explicar... – ele continuou olhando firme nos olhos dela. – Eu sonho com o seu rosto todas as noites, às vezes acordo ouvindo sua voz... Eu estou ficando louco, eu acho...

– Você não está louco, Steve – ela sussurrava sorrindo e com o coração acelerado novamente. – Eu também ando pensando em você ultimamente... – ela admitiu e se xingou mentalmente por ter dito algo tão brega.

– Por favor... Me ajude a fazer isso passar – ele aproximou-se dos lábios dela, mas não a beijou dessa vez.

– Sim... Ajudo – ela pronunciou quase sem voz, e acabou com a tortura de manter os lábios separados dos dele.

Ele não pôde mais controlar-se, e era apenas a segunda vez em menos de duas horas. Suas mãos seguravam os cabelos da garota quase a ponto de machuca-la, mas Skye não estava muito preocupada com o fato de ter seu cabelo bagunçado e muito menos saberia dizer se aquilo causava dor ou não. Ela o buscava como se não houvesse tempo para mais nada, como se toda pressa do mundo consistisse em tê-lo consigo. Suas mãos percorriam o cabelo dele que já não estava tão perfeitamente alinhado como antes e ela sorria ao sentir a barba mal feita tocando o seu queixo.

– O que foi? – ele parou o beijo sorrindo e olhou para ela, que estava nitidamente envergonhada.

– Nada – Skye sorria, ainda com os braços em torno do seu pescoço – Só a barba...

Ele sorriu e voltou a beijá-la, dessa vez ternamente e depositando beijos por todo o rosto da garota, que sorria ao sentir os lábios dele pelo seu rosto e descendo para o seu pescoço.

– Tenho que confessar uma coisa. – ele disse, enquanto depositava inúmeros selinhos nos lábios dela.

– O quê? – Skye não conseguia mais parar de sorrir naquele instante.

– É apenas a segunda vez que eu te beijo e eu devo dizer que adoro isso.

– Acho que foi o tempo que você ficou no gelo... – ela brincou, apenas para ver a cara engraçada que Steve lançou para ela. – Brincadeira. – dessa vez, foi ela quem encheu o rosto dele de beijos, parando por beija-lo demoradamente mais uma vez.

– É sério – ele voltou a falar, agora [e finalmente] alisando a mão dela que estava em seu peito. – Eu amo estar com você... Eu sinto como se eu não conseguisse parar de sorrir quando eu estou com você.

– Sério? – Skye perguntou, sorrindo. – Por que eu me sinto do mesmo jeito...

Ele a beijou novamente e a abraçou como se pudesse ficar para sempre daquele jeito até lembrar-se novamente da missão.

– O que vamos fazer com isso? – ele perguntou, ainda a abraçando.

– Não faço a mínima ideia... Isso não é contra...

– O protocolo? – uma terceira voz surge no meio deles. – Creio que sim.

May e Romanoff flagraram Steve e Skye, fazendo os dois corarem instantaneamente.

– May... Não é... – Skye tentou livrar a barra dos dois.

– Agora não, Skye. Precisamos ir até à entrada, já estamos de saída. – ela recolocou a mochila sobre os ombros. – Depois nós duas teremos uma conversinha.

– E nós também, Rogers – Natasha não o deixaria escapar ileso daquela. - Como sua agente de encontros, é meu dever deixa-lo a par dos riscos nessas circunstâncias.

– Tudo bem, então. – Skye e Steve responderam em uníssono.

Para Steve, ficar longe de Skye era como afundar lentamente num oceano, sem a mínima possibilidade de sobrevivência. Sentia-se sem ar, sentia seu peito enchendo de água... Ela era o oxigênio que seus pulmões precisavam para fazê-lo voltar à superfície.

A despeito do que tinha acabado de acontecer, os quatro seguiram em silêncio até a entrada do Bunker, encontrando os demais agentes devidamente fardados e prontos para embarcar no Bus para aquela força-tarefa. A porta principal se abria, revelando o último membro daquela equipe: Cabelos escuros muito bem penteados, óculos escuros e um sorriso de tédio estampado em seus lábios.

– Alguém aí encomendou um gênio?