61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 3
Capítulo 3 - Sobrevivendo à Capital


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários, vocês são os melhores leitores desse mundo!



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— Geoff?

Abro os olhos, e ainda muito zonzo, deparo-me com Dominique (que usa um vestido dourado tão cheio de glitter que quase queima meus olhos), que me sacode gentilmente para acordar.

— Já chegamos? — pergunto, levantando-me e lamentando por ter saído de uma cama tão quentinha.

— Daqui a uma hora desceremos do trem. Tome um banho rápido e então nos encontre na mesa do café da manhã.

E então ela sai do quarto.

Como já tomei um banho antes de dormir, nem precisei me lavar de novo. Coloco uma calça jeans escura, uma camisa de botões azul e sapatos de camurça. Depois de me vestir, faço minha higiene e vou até a mesa do café da manhã.

Lá, encontro Dominique, Bree, Taylor e Jass, que já estão se deliciando com uma maravilhoso café da manhã. O cheiro e a textura dos pãezinhos são simplesmente incríveis, e isso abre meu apetite.

— Quer? — diz Bree, me oferecendo um pote de geleia de framboesa.

— Claro — aceito.

A comida, mais uma vez, é saborosíssima. Bebi copos e mais copos do suco de laranja, que amei por ser completamente diferente das frutas que comia em casa.

— Estamos chegando — diz Taylor. — Olhem para a janela.

Estiquei o pescoço para ter uma melhor visualização da Capital. Ainda não tínhamos chegado, mas podia ver os enormes edifícios e luzes daquele lugar. Nunca tinha visto algo semelhante, as usinas de energia do Distrito 5 eram bosta comparadas àquelas obras da arquitetura.

Assim, logo depois de tomarmos o café da manhã, o trem se aproxima da estação da Capital. Já posso ver a multidão de pessoas estranhamente coloridas daqui. Estão berrando, ansiosos para a chegada dos tributos.

— Os tributos estão começando a desembarcar — fala Dominique, observando a multidão da janela. — Melhor irem se aprontando.

Então eu e Jass ficamos parados diante da porta do trem. Daqui, consigo ver os primeiros tributos descendo de seus trens. A menina bonita do Distrito 1 parece menor ainda de perto, e ela e o garoto acenam e mandam beijos para o povo da Capital. O Distrito 2 também é bem aplaudido, os tributos nem precisam fazer muitas graças para chamar a atenção. Já os outros distritos são indiferentes para mim.

— Agora é a hora — fala Bree, dando tapinhas nas minhas costas e nas de Jass. — Vocês devem ser amigáveis, ok?

— Ok — respondo.

As portas do trem se abrem, e então descemos dele. A multidão colorida que é a Capital dá gritos de felicidade pela nossa chegada. Berram, acenam, tiram fotos, batem palmas. Ao meu lado, Jass acena timidamente, e não parece ser muito confiante. Não chama tanta atenção. E isso não é o que quero, minha vida depende desses momentos. É agora a hora de atrair os patrocinadores.

Aceno e faço minha cara de olhem-eu-tenho-um-olhar-maligno, que não funciona tão bem porque não aparento ser uma ameaça (meu corpo tem o físico de uma garota de doze anos). Mas, mesmo assim, aplaudem mais à mim e Jass do que os tributos dos Distritos 3 e 4.

Assim que terminamos de passar pela estação, somos levados diretamente à minha Equipe de Preparação, que me preparará para o desfile de tributos, que é quando vestem os pobres coitados com roupas ridículas para chamar a atenção dos patrocinadores.

Quando chegamos ao lugar, me separam de Jass e me mandam tirar as roupas e vestir um robe transparente.

— Fique na maca, sweetheart — diz uma mulher que parecia ter vitiligo, mas nas cores rosa e azul. Suas roupas eram na mesma cor da pele, assim como o cabelo. Ela parece seguir o padrão rosa e azul em tudo o que usa (inclusive seus olhos são rosa e azul). — Caso precise me chamar, sou Matilda, da sua Equipe de Preparação. Aqueles ali são Eruka e Edério — ela aponta para mais dois caras estranhos.

A mulher, Eruka, usa um vestido com vários ursos de pelúcia costurados. Tem uma tiara com orelhas de gato e olhos grandes e brilhantes, apesar de serem puxados. Seu cabelo é rosa pastel, encaracolado e preso em lacinhos. Já o homem, Edério, tem uma gravata com luzes em formato de notas musicais e seu cabelo verde tem um topete muito alto.

— Ok — digo. — Prazer em conhecê-los. Sou o Geoffrey.

— Purazer, Geoffurey! — fala Eruka, em uma voz fininha que me lembra um gato. Ela tem um sotaque fortíssimo. — Vamos purepará-lo.

E então começam. Após tirarem o robe de mim, fazem uma limpeza geral na minha pele e me banham num líquido que deixa minha pele impregnada de glitter prateado. Isso pinica muito, mas não comento. Também tiram meu "excesso de sobrancelha", fazem minha barba (que, na verdade, quase não existia) e depilam minhas pernas. Os três continuam a fazer seu serviço silenciosamente.

— Precisamos cortar esse cabelo — diz Matilda. — Está longuíssimo. Oh, um desastre.

— Ah, qual é — reclamo. — Só está na altura dos ombros, e ainda por cima é dourado e lisinho. Não vão arrancá-lo de mim.

— Eu acho é que ele deveria mantê-lo — comenta Edério. — Eu acho super tudo homem com cabelo grande.

— Dá até para purender e fazer um penteado — fala Eruka. — Aposuto que fica bonito.

— Pois é. Não mexa no meu cabelo.

— Que seja — diz Matilda, emburrada.

E, depois de apenas pentearem meu cabelo, colocam meu robe novamente e me mandam para a sala do estilista. Lá tem um sofá grande, e uma mulher me espera sentada.

Sua pele é clara, tem o cabelo laranja cheio de cachos dentro de uma grande cartola. Usa roupas rasgadas cheias de brilhos e spikes, o que me dá um pouco de medo. Seus saltos azuis são enormes, maiores do que os de Dominique. A mulher nem faz questão de me cumprimentar e logo diz:

— Vamos andar logo, estou com tédio.

Fico irritado com sua atitude. Acho que está assim porque se deu mal na vida e ao invés de conseguir um Distrito Carreirista para ser estilista, apenas ficou com o 5. Seu olhar, expelindo nojo, me enfurece.

— Pode pelo menos ter um pouco de consideração comigo? — falo, enquanto ela revira os olhos amarelados.

— Olha, querido, você sabe muito bem que eu queria um Distrito Carreirista. Então vamos cooperar logo e terminar com isso de uma vez. Meu nome é Frida.

— Geoffrey.

— Vamos logo, então.

Frida me traz um pacote com a minha roupa e o larga de qualquer jeito em cima do sofá. Em seguida, aperta uns botões e uma mesa aparece de um buraco no chão, com uma refeição completa acima.

— Vá se trocar, George — diz, mordiscando a comida que acabou de aparecer. — Depois fazemos os ajustes.

— Meu nome é Geoffrey — digo de forma rude, pegando o pacote e indo me trocar.

Esperava que pelo menos Frida não me deixasse como uma antena parabólica.

[...]

Frida me deixou como uma antena parabólica.

Ok, Distrito 5, energia. Só que por que todo ano nos fazem de antenas parabólicas?

Minha roupa é composta de um traje prateado de uma peça só (que cobre do meu pescoço aos calcanhares), com as mangas longas imitando o formato da antena parabólica. As calças boca de sino também são assim, e a gola do pescoço também. Tenho até uma capa com alguns relâmpagos que faíscam. É ridículo, simplesmente terrível, porque Frida não inovou em nada as roupas. Como ela quer ser promovida à estilista de Distrito Carreirista se nem pra um distrito bosta consegue ser boa? Raiva. É o que sinto de Frida.

Antes de ir encontrar Jass para subir na carruagem, Frida se aproxima de mim com um sorriso malicioso no rosto e uma sacolinha na mão.

— Que merda vai fazer agora? — pergunto, ainda furiosíssimo.

— Olhe.

Frida tira da sacolinha uma tiara com duas antenas de abelha prateadas, e a coloca na minha cabeça.

— Se não fosse tão mal educado, nem teria colocado as antenas. Mas, como você é ridículo...

— Cale a boca! — grito. — Se você é mal sucedida, o problema não é meu!

E então saio andando.

[...]

Jass não estava muito diferente de mim. Usava um vestido prateado cuja saia era uma antena parabólica. Mas ao menos fizeram bem sua maquiagem, seus olhos dourados estão contornados com uma sombra brilhante, e ela alisou o cabelo. Ao contrário de mim, ela não tinha uma tiara com antenas.

Estávamos nos preparando para subir nas carruagens, e enquanto isso, fui reparando que os trajes dos outros tributos estão muito melhores que os meus.

— Porcaria de estilistas — revoltado, digo para Jass. — Não fazem nada direito.

— O Distrito 1 ficou incrível — ela responde, olhando ao redor para checar os outros tributos. — Aquela garota, Flora, está usando um vestido esvoaçante coberto de pedras preciosas.

— Ela é incrível.

— Sim. A menina do 2, Trina, também está muito bonita com a roupa dourada.

Dou uma olhada geral nos tributos. Aquela menina do Distrito 6 que me chamou a atenção no dia da Colheita por não ter esboçado reação ao ser sorteada está vestida de semáforo. Os tributos do 10 estão vestidos de vaca, e aqueles irmãos asiáticos do 7 estão vestidos de árvore, com galhos cheios de glitter. Engraçado.

— Geoff — chama Jass. — Temos que subir.

— Ok.

E então todos os tributos sobem em suas carruagens. Os portões se abrem e as carruagens começam a aparecer para o público. Quando chega a vez do Distrito 5, eu e Jass ficamos acenando para o público, tentando parecer fortes. Espero que isso traga algo de bom para nós.

[...]

O desfile foi bom, e eu realmente estou confiante de conseguir alguma coisa.

Dominique me contou que fui muito bem. Sinceramente, acho que Dominique é a melhor pessoa de nossa equipe, e eu desenvolvi um laço forte com ela. Bree e Taylor são legais, porém indiferentes para mim. Já Frida desenvolveu um ódio por mim e eu por ela. Jass não é de falar muito, chora mais do que abre a boca para soltar alguma palavra.

Nosso apartamento no prédio de treinamento é ainda mais luxuoso que o trem. Eu e Jass temos um andar só para nós, e toda a arquitetura do lugar é colorida e moderna.

O desfile estava sendo reprisado na TV. Enquanto Jass, Bree e Taylor assistem os elogios de Claudius Templesmith aos tributos (disseram que eu estava com um dos melhores olhares de determinação dos distritos não-Carreiristas!), eu e Dominique comemos bolo de chocolate com morango na mesa.

— Você foi incrível, Geoff, não ligue para aquela estilista idiota — acalma-me ela.

— Eu tento não ligar, mas realmente, fico com muita raiva! — digo tão furioso que mordo meu bolo com mais força, como se isso fosse aliviar minha frustração. — Preciso relaxar!

Então Dominique aproxima-se de mim e fala em meu ouvido:

— Pegue o elevador e vá para o terraço. Poucos tributos conhecem aquele lugar, é realmente relaxante. Me agradeça depois.

— Ok.

Vou até o elevator e aperto um botão que me leva ao último andar. Chegando lá, encontro um sofazinho e a vista mais maravilhosa da Capital: todos os arranha-céus brilhando ao luar, as coloridas luzes da cidade encantando minha visão e os sons das comemorações lá embaixo. O cheiro de liberdade do lugar realmente me acalma ("obrigado, Dominique!"). E então ouço uma melodia e uma voz incrível vinda de um canto.

Aproximo-me.

Ali, sem perceber a minha presença, está a garota do Distrito 6. Seu cabelo (liso e longo, porém volumoso) é castanho claro, e seus olhos são verdes. Sua pele é tão pálida que mesmo no escuro posso distinguir o branco de sua face. Suas feições são delicadas, só que suas sobrancelhas são grossas, o que acaba com sua graciosidade. A garota canta e toca alguma coisa em um violão. Termino de ouvir sua canção e digo:

— Você toca e canta bem.

Ela parece se assustar com a minha presença.

— Com licença — diz, agarrando-se à seu violão como se eu fosse roubá-lo. — Quem é você?

— Geoffrey Stanley Monroe, Distrito 5. A antena parabólica.

Estendo a mão para cumprimentá-la.

— Astrid May, Distrito 6. O semáforo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem!



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