61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 13
Capítulo 13 - Quatro pessoas - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Vish, a escola tá complicada mesmo. Quase não tá dando pra postar no dia certo, mas tá aí!

Ah, dessa vez vou sugerir uma música (farei isso em alguns capítulos), que é Who We Are, do Imagine Dragons. Espero que gostem!



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Roseline vai andando na frente pela mata sem problemas, como se soubesse se guiar sozinha. Essa parte da floresta é mais densa, e as árvores são maiores, algumas atingindo vinte metros de altura. Também é possível ver uma variedade maior de plantas e animais, o que seria bem útil numa caça.

Astrid e eu nos entreolhamos diversas vezes, tentando entender onde Roseline está tentando nos levar. Ao nos aproximarmos de uma clareira, ela para e começa a olhar para o topo das árvores, batendo nas bases dos troncos com a lança e gritando muito alto:

— Saia daí imediatamente!

Permaneço calado, assim como Astrid, sem entender muito bem o que acontece e por quê Roseline está gritando com árvores.

— Não tenho o dia inteiro! — grita ela novamente.

E então as plantas lá no topo começam a se movimentar, fazendo aquele som de folhas se chocando umas nas outras. Aquela movimentação vai descendo cada vez mais, e assim que chega quase na base, me preparo para ver o que é.

Um garoto de pele cor de chocolate e cabelo afro aterrisa no chão, uma zarabatana presa ao seu cinto é decorada com penas prateadas de galinhas bestantes. É Graham, que se aproxima de Roseline e despeja algumas frutinhas em sua mão (ela as engole de uma só vez, o que me lembra do meu estômago roncante) antes de apontar sua zarabatana para mim e para Astrid. Abaixo meu facão em sinal de paz, e ele faz o mesmo com sua arma.

— Geoffrey e Astrid, esse grandão é Graham, Distrito 9, meu aliado que vive nas árvores — diz Roseline, o apresentando para mim. — Ele pega comida para mim e eu o dou proteção, basicamente. Enfim — ela se vira para o aliado. — Graham, esse loiro de olhos cor-do-céu é o Geoffrey, Distrito 5, e essa baixinha invocada é Astrid, Distrito 6 — "Ei", ouço Astrid reclamar em tom baixo.

— Certo — responde Graham, indiferente. — O que quer e o que a faz trazê-los aqui?

— É um plano. Você quer a morte dos Carreiristas, não? — Graham faz que sim, enquanto Roseline aponta um dedo para mim e para Astrid. — Esses dois precisam de aliados que os ajudem a colocar um certo plano em prática. Tudo o que você precisa fazer é chamar a atenção dos Carreiristas para um celeiro que possui touros bestantes. Não é nenhuma aliança duradoura.

— Preciso saber dos detalhes antes. Não posso aceitar qualquer aliança.

— Foi isso o que pensei, Graham, mas esse pode ser a nossa única chance de acabar com os Carreiristas.

— Ou pode ser uma cilada.

— Se confiam em nós, por que não podemos confiar neles?

Graham entorta a cabeça, pensativo. Depois de alguns segundos de silêncio, ele resolve concordar. Astrid sorri.

— Certo, então temos os quatro aliados — diz ela. — Vamos retornar ao nosso acampamento para planejar as coisas e então começar a execução do plano.

Astrid vai pela frente, nos guiando por entre as árvores para a saída daquele lugar. No caminho, ela e Graham vão conversando sobre o plano, ela contando cada detalhe com perfeição e ele escutando cuidadosamente. Roseline anda ao meu lado com a velocidade lenta e utilizando a lança como bengala.

— Poupando o fôlego? — pergunto à ela.

— Não posso deixar que minha doença atrapalhe o plano.

— Deve ser difícil.

Seu tom de voz soa diferente quando responde, nem um pouco feliz.

— É, mas não posso ficar me lamentando sobre isso para sempre.

— Eu concordo com você, sabe — fico um pouco pensativo por um instante, logo voltando a falar. — Nunca tive nem um grão de comida e não é por isso que fico o tempo todo sofrendo por isso. Tento ser forte. Se eu ganhar esses Jogos, terei uma mansão na Aldeia dos Vitoriosos e dinheiro até o momento em que for enterrado. Procuro sempre pensar nessa maneira. Agora, no seu caso, se você vencer, pode pagar um dos melhores tratamentos da Capital para melhorar sua asma. É assim que se consegue as coisas, lutando.

Roseline suspirou profundamente.

— Uma coisa que você me disse me incomodou, Geoff. Falou que se vencer, terá dinheiro e uma linda e maravilhosa casa. Sei que você é morador de rua e que vive só com um cachorro. As pessoas que convive agora, como eu, Graham e Astrid, estarão mortas em pouco tempo. Então se você vencer, terá uma casa maravilhosa e dinheiro para aproveitar sozinho. É isso que realmente quer?

Sinto-me um pouco incomodado, porque talvez essa fosse a verdade bem lá no fundo. Quando vencer, não terei ninguém mais para conviver. Dominique estará na Capital, Astrid estará morta, e até mesmo minha queridíssima Frida estará distante. Ao menos terei Castiel, porém ele não pode falar. Essa ideia começa a me corroer por dentro, machucando o meu lado sentimental.

Volto-me para Roseline:

— Ou é isso ou morrer.

— Grande coisa — fala ela, friamente. Ela aponta para Astrid, que conta a Graham como descobriu o celeiro dos touros. — Olha sua baixinha. Ela não estará mais aqui para te ouvir. O que quero dizer é que será uma tortura psicológica.

— Todos estão passando por isso agora mesmo, não? Só que se eu vencer os Jogos, poderei superar isso, e quem morreu, já era. É óbvio que sentirei falta da Astrid, mas me lamentar não a trará de volta! Argh. Isso aqui é uma tortura! Não ter o que comer é uma tortura! Ter que acabar com a vida dos outros é uma tortura!

Quando percebo que meu tom de voz fica alto o suficiente para que Astrid se vire para mim com uma sobrancelha erguida, calo minha boca. Tenho certeza de, se estivesse falando com ela, teria sido interrompido por um shhh.

Roseline abre um sorriso um tanto medonho, deixando à mostra seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.

— É por isso que mato as pessoas rapidamente. Para acabar logo com essa tortura.

— Delicada como um tijolo — digo baixinho, para que ela não me ouvisse.

Por um momento, tive a impressão de que Roseline iria fincar aquela lança em meu corpo. Ela me encara de maneira tão fria que meu corpo endurece como gelo. Apesar disso, ela apenas ri da minha reação por um momento e depois não faz absolutamente nada. Ela apenas fica quieta pelo resto do trajeto até o celeiro.

Quando chegamos e nos sentamos na pilha de feno, são aproximadamente quatro da tarde. Minha barriga ronca como nunca, e tento disfarçar a fome empurrando água para dentro de meu organismo. Obviamente, isso não funciona.

Astrid parece uma máquina, trabalhando na montagem da bandeira para o plano. Ela dá um nó cuidadoso no meu cobertor, prendendo-o com firmeza no tronco. Eu, Graham e Roseline apenas a observamos, sentados na pilha de feno.

Astrid também prepara uma mochila de emergência para mim e para ela. Dentro, coloca água e divide os outros suprimentos, como as facas. Isso me deixa pensativo, porque ela realmente está se preparando para qualquer coisa que pode acontecer durante o andamento do plano. Mas ela sabe que o nosso ponto de encontro é a Cornucópia, não nos separaremos tão cedo. E, para ser sincero, não quero me separar dela até o final.

— Ok — diz Astrid, tirando aquela atadura da sua testa. Um corte longo está exposto agora, mas as mechas castanhas de seu cabelo o cobrem. — Graham, você vai primeiro. Chame os Carreiristas para cá enquanto Roseline vai se posicionando com a bandeira — dizendo isso, ela entrega o tronco para Roseline. — Geoff, vamos nos posicionar um em cada porta do celeiro e abrir na hora que os Carreiristas estiverem quase nos alcançando. Estão prontos?

— Sim — dizem Roseline e Graham em uníssono.

— Posso comer alguma coisa? — pergunto. — Não quero morrer de fome durante o plano.

— Geoff, depois que acabar vamos arranjar comida — fala Astrid, me olhando com preocupação. — Eu prometo. Aguente, por favor.

Relutante, faço que sim com a cabeça.

— São aproximadamente cinco horas, então estamos no tempo certo, porque daqui a pouco começa a escurecer — Astrid calcula. — Vamos ao celeiro dos touros.

[...]

O celeiro não fica longe. É enorme, com portas duplas de dois ou três metros de altura, e sua pintura é avermelhada e descascada, decorada com madeiras brancas. De dentro do celeiro, são audíveis bufadas e mugidos dos touros. Parecem desesperados para sair dali.

À frente do celeiro, há um campo aberto, com uma camada fina de grama cobrindo-o. Esse campo só termina quando algumas árvores começam a se aglomerar, dando início à floresta. Basicamente, os touros irão para a floresta depois que libertados, mas é importante que Roseline fique com a bandeira para que eles não mudem o foco. Se eu e Astrid dermos a volta por trás do celeiro e rumarmos nessa direção, encontraremos a Cornucópia. Certo.

— Graham, você pode ir agora. Lembre-se de que os Carreiristas estão em algum celeiro por aí, é só procurar. Boa sorte — diz Astrid. Silenciosamente ele concorda e arma sua zarabatana, correndo para longe de nossas vistas.

— E eu? — pergunta Roseline.

— Vá para as árvores do início da floresta, ali na frente. Os Carreiristas virão por ela, então esconda-se até eu e Geoff abrirmos os portões.

— Certo.

Silenciosamente Roseline corre até perto da entrada da floresta. Ela levanta a lança como um sinal que chegou, e com sua outra mão prepara a bandeira. Eu e Astrid ficamos frente à frente, um em cada maçaneta das enormes portas do celeiro. Ela parece concentrada, olhando fixamente para a floresta.

— Finalmente chegou a hora — diz. — Só espero que nada aconteça de errado. Por Deus, se isso acontecer...

— Para de ser pessimista, Astrid. Não vai dar errado — encaro seus olhos verdes, que estão elétricos e mais vivos do que nunca. — Você calculou tudo com o máximo de cuidado, pensou em cada possibilidade. Se alguma coisa falhar, definitivamente não será culpa sua, tenho absoluta certeza. Quem pensaria em soltar uma manada de bestantes em cima dos Carreiristas? Só você tem a capacidade mental para isso. Por isso que não deve duvidar de si mesma. Estou muito orgulhoso de você.

— Sério?

— Sério mesmo.

— Obrigada — percebi suas bochechas ficando rosas. Sorrio ao ver que ela tenta disfarçar jogando o cabelo para o lado.

— É só a verdade, Astrid. Não disse nada além disso.

— Obrigada outra vez.

Perto da floresta, Roseline começa a pular desesperadamente e a mover os braços para chamar nossa atenção. Depois, ela se esconde atrás de um tronco. Vejo Astrid de relance e ela abre um sorriso um tanto sádico, como se estivesse esperando para matar alguém há anos. E então as pessoas começam a chegar. O primeiro é Graham, correndo à velocidade máxima e sendo seguido por Leonard, Flora, Roy e Trina. Ele se aproxima do celeiro dos touros e nos dá um sinal com a mão, o momento em que devemos finalmente abrir os portões. Lá atrás, na entrada da floresta, Roseline balança a bandeira de um lado para o outro.

— Agora! — grita Astrid.

Juntos, eu e ela abrimos os portões, fazendo os touros avançarem para cima dos Carreiristas.


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Notas finais do capítulo

E aí, o plano vai dar certo? Será que os Carreiristas vão morrer? Não se esqueçam de comentar!