Ele chegou em casa atrasado, provavelmente Sara e Thomas já estivesse dormindo a muito tempo, trancou a porta tentando fazer o menor barulho possível, colocou a sua chave no aparador e sorriu ao admirar a foto dos três. Encontrou Sara dormindo no sofá em posição que parecia muito desconfortável, com o corpo esguio todo torto sobre o grande sofá, ela dormia agarrada a babá eletrônica, na televisão passava um filme que possivelmente Sara não havia começado assistir.

Ele suspirou e deu um grande sorriso. Céus! Como amava aquela mulher.

Com todo cuidado ele desligou a televisão, pegou alguns brinquedos de Thomas que estavam no chão e colocou na grande caixa que estava ao lado de sua poltrona. Sentou-se ao lado de Sara, abraçando seu corpo e deixando um rastro de pequenos beijos sobre o seu braço e acariciando sua face.

A morena despertou um pouco assustada, mas quando viu Grissom deu um sorriso cansando e endireitou-se no sofá e capturou seus lábios para um beijo apaixonado.

_Acho que chegou um pouco tarde para o jantar.- Ela disse, ainda sonolenta.

_Me desculpe querida, fiquei preso no laboratório, hoje tivemos uma reunião com o xerife e você já sabe o resto.- Ele suspirou e aconchegou Sara no seu colo que aninhou a cabeça em seu peito, ali mesmo ele se livrou dos sapatos e cruzou suas pernas na dela.- Você me parece bastante cansada, o pequeno Tom está dando muito trabalho?

_Esse rapazinho está acabando comigo, hoje ele brigou com o sono até praticamente dormir sentando. Talvez estivesse querendo esperar o pai acordado- Ela levantou a cabeça para encarar Grissom que parecia decepcionado.- Querido não fique assim, eu e o Tom sabemos que você precisa trabalhar.

_Mas mesmo assim Sara, eu sinto que estou perdendo algo, não quero que o Thomas cresça com a ideia que eu sou um workaholic.

_Grissom, não é nada disso, não coloque minhocas em sua cabeça. São apenas algumas ocasiões que você precisa se ausentar mais tempo, em vista do que você era antes você reduziu em quase 70% o tempo que você passava trancado naquela sala do laboratório, então não se cobre tanto. E não teime comigo.

Eles riram quando ouviram um resmunguinhos vindo da babá eletrônica e depois um chorinho baixinho.

_Parece que alguém acordou.- Sara já ia levantar quando Grissom a impediu.- Não querido, você está cansado.- Ela relutou

_Sar, eu acho que ele descobriu que cheguei e não fui vê-lo, sabe como é coisas de pai e filho.

Grissom deu um rápido beijo em Sara e subiu as escadas indo até a porta do quarto de Thomas, o pequenino estava em pé se apoiando no berço. Com os cabelinhos bagunçados e usando seu pijama com pequenos desenhos de foguetes, ele esticou as mãozinhas quando viu Grissom na porta.

_Astronauta, o que faz acordado essa hora?- Ele cautelosamente o retirou do berço, dando um beijo na bochecha gordinha e rosada, apoio a cabeça dele em seu ombro e ficou fazendo delicados movimentos na pequena cabecinha.- Estava esperando o papai?

O menino coçou os olhos e levantou ficando de frente para Grissom, aqueles olhos quase cinzas que ele havia herdado de seu avô, encantava Grissom todas as vezes. O pequeno levou uma mãozinha até a barba de Grissom que mexeu o queixo fazendo cócegas mão dele, ele soltou um risinho e Grissom brincou novamente e dessa vez ele levou as duas mãos na bochecha dele.

_Hey pequeno, não está na hora de brincar. Precisamos dormir e deixar a mamãe dormir também, já fiquei sabendo que você deu uma canseira nela hoje.

Tom colocou um dedinho sobre os lábios de Grissom que logo capturou e deu leves mordidas e ele parecia gostar. Grissom estava com medo de despertar completamente Thomas e Sara precisar iniciar todo o trabalho novamente.

_O que combinamos rapaz? Que não íamos dar muito trabalho para a mamãe, certo? Eu estou tentando cumprir a minha parte do acordo, mas de vez em quando eu falho, por exemplo tem dias que eu esqueço de dizer que eu a amo para deixar o dia dela melhor.- Grissom encontrou com os olhos de Thomas que parecia estar prestando atenção no que ele falava.- Agora você precisa fazer sua parte também, astronauta. O que acha de uma música para dormir?

Grissom deitou o corpinho de Thomas em seus braços pensou em sentar-se na poltrona mas optou por ficar em pé embalando. Lembrou-se de uma antiga canção que seu pai costumava cantar quando ele acordava assustado ou simplesmente não conseguia dormir, embora tenha perdido seu pai aos 9 anos, tinha aquela imagem paterna muito bem guardada.

_Bem, eu nunca fui um homem de muitas palavras, e não há nada que eu poderia dizer que você nunca ouviu falar.- Tom permanecia bem acordado, com a mãozinha sobre o peito de Grissom, sentindo seus batimentos cardíacos.- Mas eu vou cantar canções de amor até o dia que eu morrer,a maneira como eu estou me sentindo, eu não posso deixar guardado.-Grissom abriu um sorriso quando viu que ele estava quase dormindo, sua respiração já estava ficando mais calma.- Eu vou cantar uma serenata doce sempre que você estiver se sentindo triste, e uma canção de ninar todas as noites antes de ir para a cama, eu vou cantar para você para o resto de sua vida.

Nesse momento, Grissom não conseguiu evitar suas lágrimas, eram raríssimas vezes que ele se lembrava de seu pai, mas estar ali cantando para seu filho, aquela que era a música que praticamente ele escutava todos os dias antes de dormir, o fez sentir uma falta enorme de seu pai.

_A maneira como eu estou me sentindo, eu não posso deixar guardado.

O pequeno Tom já havia adormecido, mas Grissom queria o curtir em seu colo por algum momento, embalou o pequeno e agradeceu internamente pela a vida dele. Desde o nascimento de Thomas ele era outro, completamente um pai “babão”, fazia questão de saber de tudo que ele fazia, quando estava no laboratório ligava praticamente de hora em hora para saber como ele estava. Achou melhor coloca-lo no berço para ele ficar mais confortável, deu um beijo na testa e o cobriu com sua manta azul.

_Eu te amo meu filho e não se esqueça do nosso combinado.

Puxou um pouco a porta e encostou-se na parede ao lado da porta, passou a mão sobre o rosto tentando aliviar seu cansaço, fechou os olhos e tentou se lembrar do rosto de seu pai.

Os olhos acinzentados e o cabelo preto muito bem aparado, sua sempre dizia que ela havia se casado com o sósia do James Stewart. Lembrou-se de uma ocasião em que seu pai estudava a evolução de uma planta encontrada apenas na América do Sul o chamou para ajudar a identificar as diferentes espécies, aquela havia sido a melhor tarde que ele passou com ele. Seu pai, Arthur, contava história das expedições que ele fazia antes de se casar com Beth e das descobertas que ele já tinha feito ao longo da vida.

Sorriu ao se lembrar que seu pai sempre falava que não interessava a ocasião, que se uma mulher estivesse estressada com você por algum motivo que a melhor coisa a fazer era deixar ela falar e logo depois dar um beijo e dizer o quanto a amava.

E ele via seu pai fazendo isso. Arthur havia sido um grande exemplo para ele e agora ele tinha a missão de passar tudo isso para o pequeno Thomas.

Voltou a sala e encontrou Sara com os olhos marejados, sentiu seu coração falhar e rapidamente se aproximou dela.

_O que aconteceu querida?- Ele se agachou na altura de seus joelhos, segurando suas mãos.

_Griss, você é um pai maravilhoso. Você tem noção disso?

_Sar...- Ele que já achava que já tinha conseguido conter o choro, deixou algumas lágrimas teimosas escorrerem, Sara limpou as lágrimas e ali depositou um beijo.- Eu preciso cumprir minha parte do acordo- Ele sorriu.- Eu te amo e prometo proteger vocês para o resto da minha vida.

Ela estava radiante, Grissom era um pai e um marido maravilhoso e ela tinha tudo o que não teve quando uma criança: Uma família.

_Griss, acho que eu também vou querer escutar uma canção para domir.

_Por acaso andou escutando minha conversa com o Tom?

Ela sacudiu a babá eletrônica e ele riu.

_Você faria isso por mim?- Ele fez o seu famoso biquinho que fazia Grissom se render, ela arqueou a sobrancelha e abriu um lindo sorriso.

_ Eu vou cantar para você para o resto de sua vida. A maneira como eu estou me sentindo, eu não posso deixar guardado.

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