Jovens e Heróis II escrita por Gistar


Capítulo 6
Tabu


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora gente! Meu computador estragou e perdi várias coisas, entre elas a fic nova que eu estava escrevendo :( Mas consegui recuperar esta, então vou sobreviver hehe
Boa leitura!



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“Eu deixei o certo de fora

E deixei as coisas erradas invadirem.

Havia um anjo de misericórdia...

Para ver-me através de todos os meus pecados.

Houve tempos em minha vida...

Em que eu estava ficando louco

Tentando atravessar a dor...”

Bella

Assim que pronunciei as palavras, a vela se apagou e, a julgar pelo alvoroço que se seguiu, eles não estavam esperando que voltasse a ser acesa. Alguém se inclinou e sussurrou no meu ouvido:

— Lembre-se bem, mas fique calada em relação ao que ouviu aqui.

Quando finalmente cheguei cambaleando à parede e senti o azulejo frio debaixo dos meus dedos, todo mundo havia ido embora. Acendi a luz. Eu estava num banheiro, sozinha, com nada além de máquinas de camisinha e cimento mofado como companhia. Então, aquele era o cheiro. E nem era na minha entrada. Humm, ei? Eles não deviam me carregar para seu mausoléu de pedra e me apresentar a uma vida que fosse além dos meus sonhos mais alucinados? Franzi a testa, abri a porta do banheiro e saí.

Cerca de meia dúzia de estudantes perambulava pelo corredor me olhando. Um desses caras — há um em todo dormitório — que nunca se acostumara com a idéia dos banheiros mistos, pulava para cima e para baixo na ponta dos pés, como se estivesse esperando que a garota saísse antes que ele pudesse entrar no banheiro.

— Já acabou ou vai haver outra festa aí dentro?

Controlei meu rosto para ficar com uma expressão neutra.

— Alguém tem um rolo de papel higiênico?

Viu? Eu ainda ia ser uma especialista nesse negócio de segredo. Ignorando os espectadores, caminhei de volta para o meu quarto, onde presumi que Jane estaria esperando para ouvir toda a truncada experiência nos mínimos detalhes. Mas Jane havia sumido — convocada, talvez, por outra sociedade na minha ausência. Ela não sairia por nenhum outro motivo, certo? Não esta noite.

Esperei por 15 minutos, imaginando que, se sua convocação funcionasse da mesma forma que a minha, ela estaria de volta num instante. Bebi uma Coca e tentei ler uma edição da Cosmo que estava largada em cima da cômoda.

Logo me entediei e levantei para ir até a janela, mas não havia sinal de Jane ou de um bando de silhuetas de capa. Pensei em ir procurar alguns dos meus outros amigos, mas sabia que nenhuma conversa ia durar dez minutos antes que eu soltasse: "Uma sociedade secreta convocaria alguém e depois desapareceria? Hipoteticamente, é claro." Ah, eu era ridícula.

Resolvi ligar para Edward pra descobrir se ele também havia sido convocado para a Skull & Bones, mas o celular estava fora de área. O mesmo com o de Alice, Jasper e todos os outros que tentei.

Depois de mais um exame minucioso do pátio (durante o qual me deparei com uma poça de vômito, uma pilha de livros não-identificados e uma amiga dando uns amassos com um cara que definitivamente não era seu namorado — mas sem nenhum sinal de figuras encapuzadas), encaminhei-me de volta ao meu quarto.

Eu não iria conseguir dormir tão cedo, então resolvi ir até o quarto de Edward e tentar investigar se ele estava lá.

O quarto dele ficava no terceiro andar. Eu bati na porta e aguardei, mas nenhum sinal dele ou de Alec. Fui até o quarto de Jess e Alice e deu no mesmo. Não perdi meu tempo indo verificar os outros que provavelmente também haviam sumido, então voltei para o quarto.

De acordo com todas as lendas que já ouvi, a Noite de Convocação não era para ser assim. Que decepção! Vesti meu pijama e andei até o banheiro para escovar os dentes. Passar o fio dental, felizmente, me deu a oportunidade de me observar longamente no espelho. Eu não parecia um membro de uma das mais famosas sociedades secretas nos Estados Unidos. Eu não parecia alguém que podia alegar irmandade com o chefe da CIA, o presidente dos Estados Unidos ou o novo diretor-executivo da Fox.

— Arrmita — gargarejei para o meu reflexo com o fio dental entre os dentes. —- Vorrê caiu nuha egadinha.

Eu tinha toda a intenção de estar fora do quarto antes de ver Jane e ser obrigada a lhe contar tudo sobre o que não havia acontecido comigo na noite anterior. Até me vestira de acordo, com um jeans escuro missão secreta e um moletom preto de capuz. O que eu não previ foi que ela estaria me esperando no refeitório com o resto dos meus amigos.

— Bela roupa — ela murmurou por cima da xícara de café. — Está bem de acordo.

Dei um beijo de bom-dia em Edward e me esparramei na cadeira à sua frente.

— O que você quer dizer com isso?

Ela apontou a colher para a minha roupa.

— Cores escuras, capuzes misteriosos... é muito sutil — ela sorriu maliciosamente.

— Eu já usei esse moletom centenas de vezes.

— Nunca quando estava realmente em uma sociedade secreta. — Jane estava vestida com uma blusa rosa-claro e um par de calças cáqui e parecia tão misteriosa quanto um piquenique de igreja. Tudo bem, talvez eu não parecesse discreta, mas com certeza podia interpretar o papel.

— O que a faz pensar que eu estou numa sociedade secreta? — perguntei, dando uma colherada no meu cereal.

— A dúzia de figuras encapuzadas que a carregaram fisicamente para fora do nosso quarto na noite passada.

De repente a conversa ao nosso redor parou completamente e todos da mesa se viraram pra nós esperando ouvir a conversa.

Aha! Respirei fundo.

— Como sabe que eles eram de uma sociedade secreta?

Ela me lançou um olhar que dizia: eu tenho uma média de 9,7 e você sabe disso. Mas, de repente, eu queria muito saber o que eles pensavam sobre o assunto.

— Sério, gente, como a gente sabe? Como é que qualquer um de nós sabe que não era um bando de garotos de capuz passando um trote?

— Acho que se tinha o papel timbrado na carta da sociedade que a convocou é uma boa pista! – respondeu Jasper.

— Você olhou o envelope. - Continuou Jane — É bem difícil não ver, Bella. Caveira e ossos? — ela me olhou cuidadosamente.

De repente Edward se virou e olhou pra mim, perplexo. Não saiu som da boca dele, mas de acordo com uma leitura labial ele perguntara:

– Você foi convocada para a Skull & Bones?

Vi Alice me lançar um olhar-eu-te-disse do outro lado da mesa.

— Você vai se levantar e sair da sala agora? — perguntou Jane, pois para todo efeito, membros de sociedades secretas tinham que deixar o aposento se qualquer um mencionasse o nome de sua organização. Supostamente era para protegê-los de entrar em uma discussão a respeito da sociedade, mas sempre me pareceu uma injustiça. Digamos que você estivesse em uma festa maneiríssima e uma garota quisesse que você caísse fora para ela poder dar em cima do seu cara. Só o que ela precisava fazer era começar a listar as sociedades até chegar à sua. Acho que é nesse tipo de coisa que você tem que pensar quando entra em uma.

— Depende — falei, descansando minha colher. — Scroll & Key, Book & Snake, Wolf's Head, Eliahu e Berzelius. Vocês vão a algum lugar?

Ninguém disse nada. Ficamos sentados ali, olhando um para o outro. Ou eles não estavam seguindo a regra, ou eu não havia mencionado suas sociedades ou eles estavam tão inseguros quanto eu sobre o que estava acontecendo. Tentei virar o jogo.

— Jane, voltei para o quarto menos de cinco minutos depois que saí e você não estava mais lá. E não voltou pelo resto da noite. Foi convocada por alguém depois que eu saí?

— Sabe que eu não posso lhe dizer isso.

– E vocês? Eu tentei ligar pra vocês e ou o celular estava desligado ou fora de área. Eu fui até seu quarto Edward e não havia ninguém lá, nem você ou Alec!

– Nós fomos fazer um trabalho na biblioteca, eu te avisei e não podemos usar o celular lá, você sabia disso.

Vi Alec lançar um olhar rápido para Edward e depois desviar.

— Não, não sei! — percebi que minha voz elevada havia atraído a atenção de algumas pessoas das mesas próximas e inclinei-me para frente para falar com eles com mais privacidade. Por sorte, os refeitórios ficam mais vazios durante o café-da-manhã, principalmente às sextas-feiras.

— Não sei nada sobre como isso funciona. Não sei nem se aqueles caras com aquelas capas estavam falando sério ontem à noite. Até onde eu sei, não fui convocada por ninguém. Cavaleiros ou não. Ao ouvir a palavra "cavaleiros", eles se retraíram.

Um pensamento horrível me ocorreu então. Talvez algum deles tivesse sido convocado pela Skull & Bones — a verdadeira Skull & Bones — e o motivo de não estarem falando era que me contar que a minha experiência fora um trote significaria revelar exatamente como eles sabiam disso. Afinal de contas, eles não reagiram a nenhum dos nomes de sociedades que eu mencionara antes, mas eu não falara dos Cavaleiros. Ainda assim, Jane falara, o que provavelmente não faria se tivesse sido convocada... minha cabeça começou a doer. Eu sou paranóica ou o quê? Se eu não tivesse sido convocada, eles com certeza tinham perdido uma candidata da melhor qualidade. Inteligente, sexy e neurótica o suficiente para deixar orgulhosa qualquer organização clandestina.

— É verdade que houve trotes no passado. Você acha que foi o que aconteceu com você? – perguntou Edward, interessado demais com o fato.

Eu encolhi os ombros.

— Como é que eu vou saber? Se foi um trote, não foi muito alto na escala da humilhação. Acho que eles tentariam pelo menos fazer algum tipo de iniciação de mentira.

Ele assentiu pensativamente.

— Então, o que fizeram? – perguntou Rosalie.

Abri a boca para lhe contar, mas aí fechei-a novamente. Por que eu deveria contar qualquer coisa para eles se eles não estavam dispostos a serem recíprocos? Além disso, o que eu podia dizer e o que não podia? Na chance improvável de que todo esse fiasco tivesse sido para valer, em que tipo de encrenca eu me meteria se relatasse a experiência? Havia opções demais para considerar.

POSSIBILIDADES

a) Eu havia sido convocada pela Skull & Bones e, portanto não devia contar nada a ninguém.

b) Ou eu fora convocada ou fora enganada, e contar a eles significava que podia descobrir qual dos dois havia sido.

c) Eu fora vítima de uma pegadinha e eles (provavelmente os homens, já que supostamente, as mulheres não são convocadas pra essa sociedade) eram membros da Skull & Bones e estavam apenas brincando comigo.

d) Nenhuma das anteriores.

— Sei lá — disse eu. — Não parece nada com as coisas que acontecem nos filmes, com certeza.

— Nenhum sangue de porco ou sacrifício de virgens? – perguntou Emmett animado.

— Onde eles encontrariam uma virgem por aqui? – perguntou Jess.

Ang cuspiu seu café. Depois de se recompor, colocou a xícara de volta na bandeja e olhou para mim.

— Sabe, se você realmente acha que é um trote, sugiro que faça uma pesquisa.

— Que tipo de pesquisa? — Eu realmente esperava que ela não estivesse prestes a propor uma excursão ao mausoléu da Skull & Bones. Eu ainda estava assustada, pois havia tido aquele pesadelo novamente depois da convocação.

— Na biblioteca. Eles têm muitas informações sobre sociedades secretas.

— Sério? — levantei as sobrancelhas. — Mas, e a parte "secreta"?

— Uma evolução surpreendentemente recente — ela se inclinou para frente. — Eles costumavam publicar a lista dos convocados pela Skull & Bones todo ano no New York Times.

— Isso não pode ser verdade. – disse Alice.

— Mas é. Os membros colocavam nos seus currículos. Eram muito abertos a respeito. Meio em desacordo com todo o negócio de "sair do local", não é?—ela fez uma pausa e olhou para seu prato. — Mas isso não torna tudo menos válido.

Estava tudo bem claro: ela e os outros não iam me contar nada sobre suas sociedades. E me magoou mais do que eu esperava. Nós sempre havíamos dividido tudo depois do seqüestro.

Eles eram meus amigos, Edward era meu namorado, mas isso estava mostrando ser maior do que a nossa amizade, maior que o nosso amor.

– Já que vai à biblioteca, pode entregar um livro pra mim? – Jane pediu. Eu deixei encima da cama.

Eu assenti. Edward me beijou e se levantou junto com os outros que saíram para suas aulas, deixando-me sozinha com meus sucrilhos e um apetite que diminuía rapidamente. Eu queria realmente passar minha manhã peneirando pilhas de documentos, só para descobrir que toda a minha experiência na Noite de Convocação fora um trote?

Evidentemente, eu adoro sofrer. No caminho para a Biblioteca, passei pelo quarto para pegar os livros da Jane, uns volumes velhos sobre História da Literatura com títulos que eu mal conseguia ler nas capas que se desintegravam. Havia um pedaço de papel saindo do meio das páginas de um deles, coberto com a caligrafia cuidadosa e retinha de Jane. Ela esquecera suas anotações. Mas, quando puxei o papel para fora, pude ver que era uma impressão do catálogo online, coberto de marcações e anotações. Eu estava prestes a largá-lo em cima da cama quando um dos títulos chamou minha atenção:

Kellogg, H. L. Sociedades secretas universitárias: seus costumes, natureza e os esforços para sua supressão. Chicago: Ezra A. Cook, 1874.

Como se para me convencer de que não estava ficando obcecada com toda essa história de sociedade secreta (afinal de contas, pelo menos 90% dos alunos de todas as turmas entram para uma!), carreguei “Medeia” para ler na biblioteca.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar e deixar uma autora feliz! Bjs