Coração Indomável escrita por Drylaine


Capítulo 5
Capítulo 5




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JACOB

As coisas na reserva andavam meio estranhas. O pai andava de segredos com Harry e o Velho Quil. Meu primo disse que ouviu uma conversa do seu avó e parecia que tudo estava ligado ao desaparecimento do Sam. Isso me irritava porque na casa dos Clearwater, Leah estava abatida, não dormia e nem comia direito, tudo de nervosismo e ansiedade. Se tio Harry ou o Velho Quil sabem de algo, eles deveriam dizer logo e acabar com todo esse tormento.

Conforme foi passando os dias, mais as coisa ficavam tensas, eu e os garotos estávamos voltando da praia, quando por acaso esbarramos com Sam e Jared. Os dois caras estavam completamente diferentes, seus  cabelos compridos foram cortados bem curto, agora andavam por aí apenas de shorts e descalços, eles pareciam mais velhos e tinham um ar hostil, sem falar o quão grande ambos pareciam ter crescido em poucas semanas. Uley até ficou parado por um tempo nos olhando com um olhar assustador, como se estivesse esperando algo ou fosse nos atacar, mas em seguida os dois brutamontes se conversaram, silenciosamente, entre si e correram para a mata. Quando eu contei isso para meu pai, ele tratou do assunto com muita calma e naturalidade, o que me incomodou muito.

As reuniões do conselho passaram a ser constantes e independentemente da hora, até de madrugada Billy saía pra se encontrar com Velho Quil,  fazendo-me sentir que havia algo muito estranho acontecendo.

No dia seguinte, Charlie ligou pra minha casa, ele estava muito aflito, Bella havia desaparecido o dia inteiro. Ela também não apareceu no colégio e todo mundo se mobilizou para encontrá-la. Harry conseguiu reunir um pequeno grupo daqui de La Push que conhecia muito bem as áreas próximas da reserva e até a floresta. A polícia ficou responsável por Forks, tentando coletar alguma informação que levasse ao paradeiro dela, enquanto Charlie ligou para todos os amigos, mas ninguém sabia nada dela. O dia se tornou noite, todo mundo já estava exausto. Eu me sentia completamente perdido, queria ajudar, só que não sabia como. O único jeito que encontrei pra tentar amenizar um pouco as coisas foi tentar dar apoio moral ao Chefe Swan.

"Ela vai estar bem. Daqui a pouco ela chega com seu sorriso tímido e envergonhado, toda desajeitada." E, nesse instante, Sam aparece trazendo ela em seus braços.

O clima tenso foi substituído pelo alívio de todos. Sam passou  Bella para os braços do pai e, enfim,  todo mundo ficou grato por ele tê-la a encontrado, o cara virou o salvador. Entretanto, para mim, Uley continuava sendo alguém que eu nunca iria confiar. Para mim, Sam Uley era o inimigo, uma hora ou outra, todos iriam perceber isso.

***/ /***

Havia chegado o natal, o momento de se passar com a família e confraternizar com os amigos e até os desconhecidos. O momento em que dividimos também nossos desejos de paz, felicidade, amor, esperança, união e todo aquele blá, blá, blá... Isso também me fez pensar num tempo em que La Push era um lugar mágico. Eu me lembro que nossos natais eram divertidos com todo mundo festejando junto e era o meu feriado preferido. No entanto, o tempo passa e tudo muda, as pessoas já não são mais as mesmas e, para mim e meu pai, o natal acabou  se tornando sinônimo de saudade e uma pontada de melancolia que só se suavizou quando fomos surpreendido pela ligação de Rachel.

Rachel havia ligado apenas pra desejar um FELIZ NATAL. Acabamos ficando um bom tempo no telefone falando com ela. A conversa até que rendeu, minha irmã ainda não tinha mudado seu jeito falante e animado de ser e sua ligação fez muito bem ao pai. E ainda havia a minha outra irmã Becky que apenas decidiu enviar cartões, fotos e outras lembrancinhas do Havaí. Ela disse na carta que estava feliz. Eu sei que no fundo, Billy queria escutar a voz dela, mas ele se conformou em ter pelo menos, suas fotos.

Já na casa dos Clearwater, as coisas estavam num clima pesado. Sue e Leah discutiam com frequência. A maior parte do tempo, a irmã mais velha de Seth preferia estar no quarto sozinha. Eu às vezes me desentendia com aquela garota teimosa, que sempre parecia descontar as suas frustrações em todo mundo. Ela lidava com o rompimento com Sam da forma mais agressiva possível.

Enquanto isso, em Forks na casa de Charlie, Bella entrou em depressão e, ao contrário de Leah, a garota de olhos castanhos chocolate guardava suas dores dentro de si, sofria em silêncio  e fazia tudo mecanicamente, tudo por causa do idiota do Cullen.

Mas, quer saber? Ele não era o cara certo pra ela. Eu sou e vou provar pra Bella.

"Feliz Natal, Bella!" Ela estava escondida em seu quarto, parecia tão abatida, sua pele estava mais pálida, os cabelos bagunçados e seus olhos... Aqueles olhos castanhos que me encantavam tanto, não tinham o mesmo brilho e vida.

"Jake, feliz natal pra você também." Ela me deu um sorriso fraco.

"Uh, Bella que desânimo. Tá parecendo um zumbi." Eu consegui roubar um sorriso dela. "Eu posso me sentar?" Eu estava ansioso pra falar com ela, mas ao mesmo tempo, eu também me sentia inseguro. "Se você quiser que... eu saia. Eu não quero forçar nada. Eu só..."

"Não. Tá tudo bem." Ela me deu um espaço na cama. Me sentei ao seu lado, era o mais próximo que já estivemos. "Os velhos tão se divertindo lá embaixo?" Ela diz com a voz baixa.

"É. Eles vão assistir uma partida de beisebol." Eu não resisti e peguei a mão dela que estava fria, mesmo sabendo que era muita ousadia e isso poderia afastá-la de mim. A garota parecia tão frágil e, ao mesmo tempo, desconfortável com a minha aproximação, porém resolvi ignorar isso.

"Bella, eu sei como é difícil superar a ausência de alguém que é tão importante pra nós." Eu olhei bem no fundo dos seus olhos. "Pessoas que são insubstituíveis. Mas... eu acho que a solidão não é uma boa aliada. Dê uma chance pra novas pessoas entrar em sua vida. Eu posso ser uma delas." Enfatizei cada palavra sem perder contato visual. "Me dê uma chance de ser seu amigo. Eu prometo que serei uma melhor companhia que a solidão."

"Eu tô bem... é só uma fase. Logo, vai passar." Ela tirou a mão da minha e desviou o olhar. Suas palavras não me convenceram.

"Bella, eu... só quero que saiba que eu me importo com você... de verdade!" Vi em seus olhos dor e agonia e no fundo percebi que, também, havia um pedido silencioso de socorro. "Bella me deixa chegar até você... Ser seu amigo." Eu me aproximei e lhe dei um beijo na testa. "Só pense nisso. Eu prometo que não vou invadir o seu espaço. Leve o tempo que precisar." Eu deixei Bella ter seu tempo pra pensar. Na hora certa, sei que ela virá até a mim. E eu seria paciente, mesmo sentindo que seria um grande sacrifício.

Os dias foram passando, eu fui me distraíndo com meus amigos, com a rotina de volta a escola e, pra minha felicidade, consegui a carteira de motorista, agora só faltava terminar o conserto do Rabbit. Pra minha alegria ser completa só faltava Bella.

Enquanto estava arrumando as coisas na garagem, escutei um barulho de carro e, para a minha surpresa, lá estava ela parada ao lado da sua picape com uma expressão bem melhor que a última vez que a vi. Parecia mais animada.

"Bella, sua maluquinha, seja bem-vinda a La Push!" Eu a puxei pra um abraço que, para a minha surpresa, a garota cara-pálida retribuiu. Esse foi um abraço de verdade e ela parecia tão perfeita em meus braços. 

"Jacob!" Quando a soltei, Bella tinha um olhar avaliador sobre mim. "Você sabia que esteróides anabolizantes fazem mal a saúde?"

"Eu não preciso dessas coisas Bella. Eu só estou em fase de crescimento." Falei orgulhoso. Ela me deu um sorriso simpático e alegre que eu adoro.

"Um crescimento desenfreado, eu diria."

"Eu acho que na verdade... é você que parece baixinha perto de mim. Quase uma anã."

"HAHA, muito engraçado." Ela parecia ter ficado um pouco ofendida. Eu achei adorável o jeito dela.

"Mas, falando sério Bella. Você não iria notar tanta diferença se a gente se visse mais." Ela me deu um sorriso de satisfação, como se eu tivesse feito uma grande descoberta.

"É pensando nisso que eu trouxe uma coisa. É meio maluco." Ela disse hesitante. Atrás da caminhonete, havia duas motos bem detonadas.

"Uau, você me trouxe duas motos velhas."

"Eu peguei isso no ferro-velho. Achei que ia gastar muito pra consertá-las mais do que elas valem. Aí eu pensei... se um amigo mecânico me ajudasse."

"E eu sou esse amigo mecânico?"

"Exato." Eu fui até a picape e peguei cada moto sem esforço nenhum. Ela ficou um pouco chocada.

"Elas pareciam muito pesadas pra mim." Nós dois trocamos um sorriso.

A princípio achei um pouco imprudente a questão com as motos. Mas, essa era minha chance de vê-la todo dia. Então, Bella e eu fizemos um trato: Charlie e Billy não poderiam saber sobre as motos. Esse era o nosso segredo. E, assim, começaram nossos encontros na garagem de casa. Todas as tardes trabalhávamos no conserto das motos. Bella sempre sendo muito atenta a tudo, me ajudando e trocando ideias. Nós dois interagimos muito bem em nossas conversas. Cada dia mais me sentia feliz de tê-la por perto, de ver seu sorriso cada vez que eu dizia uma coisa boba ou descobria as suas manias. E ela também parecia querer saber mais sobre as coisas que eu gostava.

"Então, esse é o famoso Rabbit?" Bella estava bem curiosa.

"Sim. Ainda falta algumas peças para ele ficar totalmente pronto. Mas, assim que ficar pronto, quero te levar pra dar uma volta nele."

"Ele é veloz?"

"É... da pro gasto." Falei hesitante. Nós começamos a rir. É gostoso ouvir a risada dela.

Eu já havia desvendado muitas coisas sobre Bella Swan. Eu sabia descrever cada sorriso, gesto ou um olhar. Eu descobri que ela não gostava de música. Pra mim era algo estranho, porém me lembrei que todo mundo tem algo estranho dentro de si. Aos poucos, Bella parecia confiar em mim. Eu estava conseguindo conquistar um espaço na vida dela e Bella também se preocupava comigo.

"Temos que reservar um tempo pra lição de casa, Jake. Não quero te prejudicar. Billy pode pensar que eu sou uma má influência pra você."

"Você, me influenciando?! Fala sério!" Falei com irônia.

"Eu sou a mais velha, portanto, sou a influenciadora e você é o influenciável."

"Não, não... Meu tamanho e experiência me tornam mais velho que você por causa da sua pálidez e sua total falta de noção." Eu continuei mexendo na roda de uma das motos, ouvindo ela bufar do meu lado.

"Eu te convenci a construir máquinas mortais de duas rodas. Isso te torna um jovem ingênuo!" A nossa pequena discussão só terminou com a chegada de Embry e Quil.

"Bella, esses são Quil e Embry meus amigos."

"Você é a garota do Jake?" Eu queria matar o Quil.

"Nós somos só amigos." Bella disse tranquilamente. Eu tive que impedir Quil de fazer mais comentários desastrosos. Começamos a se provocar e, assim, foi passando a tarde com os meus dois amigos sem noção e Bella. Foi uma tarde agradável.

Nos dias seguintes, Bella começou a frequentar mais a reserva, assim como eu passei a ir a Forks. A casa dela era o lugar onde se reuníamos pra estudar. Charlie ficava muito feliz de nos ver juntos. Ele me confidenciou que minha amizade fez muito bem a sua filha. Entretanto, nem tudo é perfeito ou só alegria. Descobri mais duas coisas essenciais sobre aquela garota tímida, como por exemplo, ela tinha problemas com a idade, o que causava uma certa barreira entre a gente.

Eu tenho 16 e ela 18, pra mim são apenas números. Sou tão imprudente quanto ela e qual a diferença?! Poderia enumerar mil coisas que ambos temos em comum ou não e, no fim, dá tudo na mesma coisa.

Mas, há uma outra barreira muito mais impenetrável que Bella colocou entre nós. Uma barreira chamada CULLEN. Ao simples nome e sua expressão de alegria muda, eu vejo a dor e agonia irradiar dela. Aí eu percebo que Edward Cullen se tornou um fantasma na vida da garota, uma assombração. No entanto, eu farei qualquer coisa pra tirá-lo da sua mente e... do seu coração.

***/ /***

Hoje era aniversário da Leah, eu havia comprado uma camiseta que na frente vinha estampado o nome NICKELBACK, a banda que ela curte. Eu só esperava que isso fosse alegrá-la um pouco. Para a minha surpresa Charlie apareceu com a Bella. No início, a sua filha parecia um pouco deslocada, mas aos poucos o pessoal começou a interagir com ela, principalmente Emily e Seth. 

A aniversariante demorou pra descer e quando decidiu se juntar a nós, Ela parecia meio carrancuda. Seu rosto só se suavizou quando viu a sua prima.

Leah e Emily não se viam há quase dois anos, talvez, por isso ter a prima por perto, lhe faria bem.

"E aqui está o meu presente." Eu disse me aproximando de Lee. Por um instante, um lindo sorriso se desenhou em seu rosto quando viu o seu presente.

"Que legal. É lindo Jake!" Ela se jogou nos meus braços toda entusiasmada e até colocou a camiseta por cima da outra. Caramba, eu senti falta desse abraço.

Horas depois, a expressão de Leah havia mudado, drasticamente. Ela voltou a ficar carrancuda, depois passou a ser sárcastica e agressiva com Bella.

"Bells! Eu sinto muito pela Leah. É só o modo dela de... " 

"De lidar com a dor?" Bella me interrompeu. "Eu  sei o que é isso." Nós estávamos na frente da casa dos Clearwater, nesse instante, começou a cair uma chuva bem fininha. Eu queria dizer mais alguma coisa, mas na hora Charlie apareceu e eu tive que deixá-la ir embora.

"Qual é o seu problema?" Eu encontrei Leah na cozinha.

"Nenhum. Por quê?" Ela parecia nem se importar.

"Cara, você não precisava ser tão hostil com a Bella. Ela não fez nada pra você." Eu estava com raiva dela.

"Eu só não fui com a cara daquela criatura. Ela também não gostou de mim. A diferença entre nós é que eu não finjo pra ser civilizadada ou simpática. E, além do mais, ela não é a garota certa pra você."

"Assim como você não é a garota certa pro Sam. Ele merece alguém melhor." Abruptamente, Leah me deu um tapa na cara. Meu rosto queimou de vergonha, raiva e dor. Eu senti uma coisa feroz me corroendo por dentro e uma dor no peito.

Leah não tinha o direito de fazer isso!

"O que tá acontecendo aqui?" Sue nos interrompeu. Eu precisava sair dali e esfriar a minha cabeça. Eu senti um ódio tão grande por ela.

Naquela noite eu não dormi direito. E quando dormi sonhei com o lobo castanho avermelhado. Nós apenas ficamos nos olhando até que a escuridão nos engoliu e eu despertei com o bip do célular. Era hora de levantar.

***/ /***

"Embry! Você sumiu cara. O que aconteceu com o seu cabelo?" Fazia três dias que Embry não aparecia na escola. Eu liguei pra casa dele, haviam me dito que ele estava com uma virose e ninguém podia vê-lo.

"Eu estou bem, mas eu tenho que ir." Eu o impedi entrando em sua frente.

"Tem certeza? Você tá diferente. Tá aderindo ao estilo de vida do Uley?" Eu já havia o visto com Sam e seus discípulos. Primeiro foi Jared, depois Paul que, aliás, passou a faltar aula também, assim como Embry. "Sam fez alguma lavagem cerebral em você? Me fala cara e eu vou te ajudar. Nós somos amigos!" Eu percebi que ele estava abatido e tão sombrio quanto Sam e os outros.

"Jake tenha paciência. Logo, você vai entender."

"Embry, vamos!" Sam apareceu com os seus seguidores. Ele me olhou de novo daquele jeito estranho.

 

 

Uma semana depois...

 

Eu consegui terminar o conserto das motos. Agora eu me encontrava ansioso por ensiná-la a dirigir e, sobretudo, pela possibilidade de não vê-la mais por aqui. Eu senti um certo medo, Bella fazia parte da minha rotina. Eu não sei como seria sem ela.

Bella foi a melhor coisa que aconteceu pra mim!

"Bella, se eu te dissesse que não sabia consertar as motos, o que você diria?" Nós estávamos na caminhonete dela, passando pela estrada próximo ao penhasco. Eu estava sentado no banco do passageiro enquanto a garota  dirigia.

"Eu diria... que pena! Mas nós temos que arranjar outra coisa pra fazer. Quem sabe mais deveres de casa. Ou outra coisa menos louca!" Ela me deu a resposta certa pra mim.

Bella também me provou que eu era importante em sua vida:

"Eu não vou deixar Sam fazer nada contra você. Você pode contar comigo, sempre." Eu senti que podia desabafar pra ela sobre Sam e Embry e todo os meus medos e inseguranças. Havia uma relação de muita cumplicidade entre nós.

Após o show de exibicionismo de Sam e seus discípulos no penhasco, seguimos para a próxima parte... Ensiná-la a dirigir as motos.

Após algumas tentativas, Bella conseguiu um corte na testa, o que nos levou direto para o Pronto-Socorro. Apesar do susto não foi grave.

Então, naquele dia percebi um novo olhar surgindo em seus castanhos chocolate: Ela começou a me notar, talvez... mais que apenas um amigo.

Na sexta-feira recebi um telefonema dela convidando eu e Quil para o cinema. Quil não pôde ir, então, sobrou pra mim ir sozinho.

Quando Bella me viu parado na frente da sua casa encostado no capô do Rabbit, ela ficou toda surpresa e muito animada.

"Eu não acredito. Você conseguiu!" Ela me deu um abraço me parabenizando. "Você terminou o Rabbit?"

"Sim. Na noite passada. E parte disso é graças a você."

"Era o minímo que eu devia fazer." Bella havia me dado uma das peças que faltavam, como pagamento, ou como ela gosta de dizer "Um PRESENTE pelo tempo perdido com ela" que pra mim foram meus momentos favoritos.

"Hoje é a viagem de inauguração." Eu disse abrindo a porta do passageiro pra ela.

No fim das contas os amigos que ela havia convidado não apareceram. Estavam com algum tipo de virose. Então, só sobrou eu, Bella e seu amigo petulante Mike. Eu não fui com a cara de Mike e o sentimento foi recíproco.

O filme era muito cheio de efeitos especias e visuais um tanto exagerados. Gostei das partes de ação que incluiam velocidade em quatro rodas. Em vários momentos, minha mente viajava para a garota do meu lado, eu queria poder tocar as suas mãos, mas mesmo estando lado a lado, senti que havia alguma barreira entre nós.

Na metade do filme Mike passou mal e correu para o banheiro. Aproveitando-se da sua ausência resolvi tomar um nova decisão que podia ser precípitada, mas eu tinha que arriscar. E, enquanto esperávamos pelo retorno do garoto, nós nos sentamos na escada próximo aos banheiros. Tentei pegar na mão de Bella, mas ela se afastou, ainda assim, eu não desisti, nossos olhos se encontraram e de novo vislumbrei olhos de agonia. Eu senti que era o momento certo pra desabafar,  precisava lhe dizer o quanto eu a amava, foi quando meu coração começou a bater irregular e senti minha pele aquecer.

"Me diz uma coisa Bella..." Eu a puxei pra mais perto. Eu precisava olhar no fundo dos seus olhos, não podia continuar sufocando meus sentimentos por ela. "Você gosta de mim, certo?"

"Você sabe que eu gosto." Havia sinceridade em suas palavras. "Eu não quero estragar as coisas entre a gente. Você é o meu melhor amigo." Isso me incomodou um pouco, mas eu sou persistente.

"É por causa dele, certo?" Ela tentou se afastar. "Tudo bem. Eu não vou desistir. Eu tenho bastante tempo."

"Você não devia perdê-lo comigo." Seu tom tinha uma pontada de incerteza. Eu tentei chegar mais fundo, porque eu sentia sua súplica. Ela me queria por perto. Havia o medo que, talvez, eu quebrasse o seu coração como o outro cara havia quebrado. Mas, eu queria ser a sua cura. Ser o caminho pra sua felicidade.

Eu apertei levemente sua pequena mão fria na minha. Fiquei facinado pelo contraste das nossas peles. Sentia-me estranho, com muito calor, mesmo a noite sendo fria, havia um ardor por dentro que eu ignorei.

"Há algo que eu quero te dizer..." Nossos olhos estavam fixos um no outro. "Eu sei que você provavelmente está muito infeliz. Talvez, isso não ajude em nada, mas quero que você saiba que estou sempre aqui. Eu nunca vou te decepcionar. Eu prometo que você pode sempre contar comigo. Eu nunca... jamais machucaria você, Bella. Confie em mim!"

"Uhhhh, eu acho que a nossa noite vai acabar aqui." Eu ouvi aquela voz irritante fazendo meu sangue ferver. Mike parou nos olhando com a sua postura arrogante.

"Você tá doentinho?" Falei entre dentes. Eu senti uma vontade voraz de atacar Mike como se ele fosse um inimigo.

"Jake, fique calmo!" Bella disse nervosa. "Jake, você tá queimando em febre." De repente era eu que estava me sentindo doente. Minha cabeça latejava como se fosse explodir.

"Eu preciso ir, Bella." Saí dali desesperado, sem nem me despedir direito, entrei no carro e saí desenfreado. A dor na minha cabeça era gritante, enquanto sentia o meu corpo se superaquecer. Cada célula do meu corpo doía e um tremor incontrolável me dominou.

Inexplicavelmente, me vi parar na floresta em La Push, parecia que ela me chamava. Eu sai do carro cambaleando, meu coração batia num fluxo frenético antinatural, o sangue pulsava intensamente por todo meu corpo. O Fogo por dentro se tornou insuportável ao passo que me embrenhava pela floresta. Eu senti a força da magia correr pelas minhas veias e, numa intensidade tão forte, assustadoramente, me vi sendo transformado num lobo selvagem.

Consequentemente, sinto  minhas patas tocarem a terra, a sensação é perturbadora e, ao mesmo tempo, implacável e arrebatadora. Meus sentidos pareciam mais apurados, assim, eu continuei correndo desenfreado, deixando a enorme criatura castanha avermelhada me dominar, até que minha mente é invadida por vozes conhecidas. 

De repente eu não era mais um lobo solitário, pois em minha frente me deparo com quatro lobos com cores diferentes olhando pra mim e, juntos, em coro uivamos para o céu negro estrelado.

Ali eu percebi o que havia acontecido.

"Merda!" Isso não podia ser real...

24 horas depois, como uma espécie de ritual, meus cabelos compridos foram cortados, no meu braço foi tatuado um símbolo tribal na forma de dois Lobos que significava a marca da lealdade, fidelidade, coragem e equilibrio entre o BEM e o MAL.

As lendas se tornaram reais. Nós somos lobos, os protetores de La Push criados para matar vampiros — Os Frios, bebedores de sangue, que vem poluíndo e destruíndo o mundo e, agora querem invadir nossas terras. Eles tem se espalhados como pragas por onde passam, deixando um rastro de dor e morte.

Eu ainda me sinto desnorteado. Tudo é tão surreal. Eu me tornei aquilo que eu sempre temi. Eu sou o LOBO CASTANHO AVERMELHADO, predestinado a ser o lobo Alfa, o líder da matilha. Sou o herdeiro de Ephraim Black.

Eu escuto atentamente tudo o que eles dizem. Os Anciões me falam sobre as minhas responsabilidades, do quanto estou conectado à La Push. Billy parece fascinado e orgulhoso de mim. 

"Fiquei sozinho na floresta vagando sem rumo." Agora é a vez de Sam me ensinar tudo sobre os lobos. "Preso no corpo de um animal. Eu estava apavorado. Minhas emoções chegaram ao extremo. Eu estava descontrolado." Sam só entendeu tudo o que aconteceu quando Velho Quil o encontrou com Harry. Durante semanas ele não podia falar e nem se aproximar de ninguém, porque  era como uma granada preste a explodir, subitamente. Sam aos poucos foi aprendendo a assumir o controle sobre si. Então, começaram as próximas trasformações e o Alfa se tornou responsável por ensinar tudo, como um irmão mais velho. Primeiro foi Jared, Paul, Embry e... eu. Logo, será a vez de Quil.

"Droga! Eu não queria nada disso!" Digo enfurecido. É assim que me sinto, sempre com raiva.

"Ninguém queria isso, Black. Não temos escolha. É bom começar a aceitar isso." Paul diz petulante. Eu sinto uma vontande enlouquecida de atacá-lo. Nós dois nos olhamos ameaçadores. Prontos pra entrar em combate.

"Não. Lembrem-se: somos irmãos. Nossos inimigos estão lá fora, matando gente inocente." Sam disse tomando a postura de líder.

Então, vieram as primeiras patrulhas, que eram 24 horas por dia. Dividimos em três turnos com dois ou três lobos, tentando não nos sobrecarregar. Mas, era complicado, pois os desaparecimentos foram aumentando.

Charlie e Harry faziam suas buscas pela floresta e áreas vizinhas, com Harry sendo nosso apoio, sempre limpando nossos rastros ou até induzindo os policiais a seguir outra rota.

"Aqui. Ela correu por aqui!" Grita Sam. Nós estamos no rastro de uma vampira ruiva. Ela é muito veloz, mesmo assim, eu tento alcançá-la, deixando o instinto animal me dominar. Meu lobo é veloz e voraz, passamos as árvores num flash. Quando eu me torno o animal me sinto livre e invencível, me deixo me conectar com a floresta. Deixo a adrenalina e a fúria me guiar como uma força incontrolável.

A vampira continua seu caminho. Eu estou quase lá, só que ela é mais rápida e num piscar de olhos a maldita sanguessuga some. Esse era o seu jogo. Ela estava nos manipulando, criando rastros falsos e quando chegávamos perto, a mulher simplesmente se escondia nas sombras, esperando por uma nova presa. No entanto, uma hora seu jogo vai falhar. Quando isso acontecer, será seu fim da linha. E eu vou arrancar membro por membro e jogar para as chamas.

Contudo, quando o lobo dava lugar ao jovem Jake com suas dores e frustrações humanas, eu me sentia um prisioneiro. Não podia ir a escola, não podia falar com Quil, que se sentia traído por nós e tinha Leah que achava que Sam havia destruído minha mente.

"O que tá acontecendo? Isso não é normal. Tia Sarah nunca iria querer ver seu filho andando em maus caminhos. Aonde foi parar o bom Jake?" Ela havia puxado meu braço, me forçando a olhar pra ela.

"Pro mesmo lugar onde foi a velha Leah." Eu disse asperamente.

E por várias vezes, ela tentaria se aproximar de mim, só que no fim sempre acabávamos num confronto.

"Jake, não me trate como se eu fosse seu inimigo. Eu só... Se o Sam tá te forçando..."

"Esquece Leah! Isso não é problema seu." Dei as costas pra ela pronto pra seguir meu rumo. Porém, Leah não iria facilitar as coisas.

"Jake, olha pra mim!" Ela correu em minha frente.

"Saia! Eu falei pra você me deixar em paz." Agarrei seus braços, sem me importar em machucá-la. "Vá se esconder no quarto ou arranjar outro alguém pra descontar suas frustrações. Ou melhor... vá logo se enfiar em Seattle."

"Me solta! Você tá me... me machucando!" Sua voz saiu trêmula e seus olhos... tinham medo e talvez... decepção.

"Sinto muito." Quando a soltei, Leah evitou me olhar. Apenas foi embora.

"Não se preocupe, Jake. Eu vou sair daqui pra nunca mais voltar." Mesmo a distância, eu ouvi seu murmúrio. Aquilo mexeu comigo. Nós estávamos cada vez mais nos afastando.

Eu me sentia tão exausto de tudo. Pra amenizar meus sentimentos conturbados eu fugia para a floresta e deixava o lobo me dominar, correndo sem rumo até que minha mente era preenchida por lembranças de Bella e seus olhos castanho chocolate. A dor no peito só aumentava. Eu quebrei minha promessa de nunca machucá-la e, no entanto, fui obrigado a abandoná-la. Lembrar do olhar magoado dela me olhando quando disse que não podia ser mais seu amigo.

Meus pensamentos são interrompidos pela voz de Sam.

"Jake, vamos! Há um outro vampiro na direção da clareira." Diz Sam. Eu vejo a imagem do tal vampiro pela mente de Jared e Paul, que estão mais adiantados.

"Ele é o parceiro da ruiva." Grita Paul. Eu corro alucinadamente, desviando das árvores até que nos juntamos todos indo rumo a clareira. Posso sentir o cheiro nojento doce que faz minhas narinas arder. Sam chega primeiro e salta na direção do sanguessuga que contra-ataca jogando o lobo negro no chão e foge. De repente, sinto um cheiro de morangos no ar. Ali nos assistindo estava Bella com um olhar aterrorizado. Um olhar que me perturbou. Eu respirei fundo e retornei a perseguição. O vampiro é encurralado. Em questão de segundos seu corpo é dilacerado, membro por membro que depois é jogado pra queimar na fogueira.

Eu permaneço em silêncio, apenas observando as chamas e pensando em Bella. Eu tinha que consertar as coisas. Eu tinha que voltar a ter controle sobre minha vida. Eu não vou abrir mão de Bella. Decidi vê-la naquela noite.

Que se dane a ordem do Alfa!

Entrei pela janela do quarto dela. Quando nossos olhos se reencontraram, vi o estrago que causei. Seus olhos estavam avermelhados e inchados de chorar. Aquilo me fez sentir uma dor agoniante.

"Sinto muito Bella. Me perdoe!" A puxei para os meus braços, num abraço apertado. Bella se aconchegou mais perto de mim e chorou. Seu corpo parecia tão frágil junto ao meu, minhas mãos deslizaram pelo seu cabelo comprido com cheiro de morangos. Ficamos assim por um tempo.

Eu estava tão preso num segredo que não era só meu. Eu queria poder dividir com ela, mas não podia. No fundo eu desejava que ela pudesse ver por si só. Talvez, tudo se tornaria menos doloroso.

Eu senti seu corpo ficar mole em meus braços. Ela estava cansada e sonolenta, então, a coloquei na cama.

"Durma Bells, amanhã é outro dia. Talvez, as coisas mudem. Boa noite!" Sussurrei em seu ouvido e lhe beijei a testa. Dei mais um último olhar pra ela e, então, retornei para a escuridão da floresta.


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Notas finais do capítulo

É isso aí. Espero q tenham curtido.



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