Coração Indomável escrita por Drylaine


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Espero q o capítulo compense. Tentei caprichar e fazer um cap especial.
Que vcs se encantem com ele!!!"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/504254/chapter/13

LEAH

"Você é a culpada disso. Está infeliz e quer arrastar todo mundo com você." Jared rosnava furioso pra mim. Nós havíamos acabado de retornar de mais uma madrugada de patrulha.

"Você é um hipócrita! Quer me culpar por um problema que você criou. Aliás, você lá no fundo queria se livrar dessa ligação com ela. Você se sente preso aqui e se pudesse fugiria na primeira oportunidade." Ele quer me culpar por Kim ter o rejeitado, ou melhor, ter rejeitado essa coisa de imprinting. Jared acredita que eu a influenciei em suas últimas decisões.

Jared estava tremendo, eu sei que ele estava procurando alguém pra descontar suas frustrações. Mas, eu não tinha medo dele. E sim, ele também queria me ferrar.

"Vamos lá, quer me bater? Me enfrenta de igual pra igual. Eu não sou como Kim." Eu disse lhe enfrentando cara a cara. "Mostre pra mim o quanto você é covarde." Repentinamente, sua expressão de fúria mudou para um ar de cinismo.

"Sabe, você se acha tão forte, tão segura de si... Mas, no fundo, é apenas uma garota digna de pena." Ele disse se aproximando mais de mim e me causando um tremor de raiva. "Você vai continuar aqui presa, somente assistindo Sam e Emily ser feliz, tendo uma família completa, com os filhos que VOCÊ sonhou em dar pra ele, porque agora você é uma mulher seca e frígida." Deixei a fúria me dominar e lhe dei um soco certeiro. Mas, isso não fora suficiente pra acalmar o fogo da ira que me queimava por dentro.

"Filho da puta!" Eu saltei sobre ele, com todos os golpes possíveis e impossíveis, mas Jared propositalmente não se defendia. Em questão de segundos, Seth me arrancou bruscamente de cima dele, Paul também chegará nessa hora e foi logo ajudar seu querido amigo. Eu olhei para a cara ensanguentada dele e o vi sorrir debochado. Eu queria acabar com ele, queria parar essa fúria voraz que me invadia. Mas, acima de tudo, queria parar a dor que se abriu no meu peito.

"Sabe harpia, é triste ver que você nunca será uma mulher completa. Mas, se lhe serve de consolo, você ainda servirá para uma trepada rápida ou um bom sexo selvagem." Como num flash vi uma mão voar direto para o queixo dele, o deixando inconsciente.

"Tava na hora dele calar a boca." Seth disse com uma mistura de raiva e vergonha.

Sobrou para Paul ter que carregar Jared pra casa. Eu e Seth caminhamos em silêncio. Às vezes, percebia alguns olhares dele pra mim.

"Lee, não fica assim. Ele é um idiota e..."

"Eu sei que o bando tem comentado sobre mim, ouvi algumas piadinhas sem graça. Mas, vou ficar bem. Então, pare de ficar com esses olhos cheios de pena. Eu não preciso disso!" Minhas palavras foram ríspidas. Estava tão cansada de tudo.

Cheguei em casa e corrido  logo para o banheiro me trancando lá. As roupas foram tiradas brutalmente, liguei o chuveiro e deixei que a água lavasse meu cansaço e minhas dores. A água foi se misturando com minhas lágrimas. Ali eu chorei de soluçar. Estava tão cansada de fingir estar bem, quando no fundo eu estava gritando. Um grito de socorro.

Há exatos dois dias, o conselho teve uma reunião, Sue também havia participado, foi ela quem me dera a notícia. Segundo os anciões, não havia nada concreto sobre uma fêmea metamorfo. Eles pesquisaram várias histórias antigas e lendas que levassem há algumas respostas concretas. No fim, a única conclusão certa e real é que eu sou um beco sem saída, presa no corpo de uma jovem de 19 anos por tempo indeterminado. A parte pior era que a cada vez mais meus sonhos e planos estavam sendo destruídos um por um.

Eu sonhei em ir pra faculdade ser professora ou médica, ou ainda as duas coisas. Eu sonhei em ver o meu pai cheio de orgulho de mim me levando até o altar, me entregando aos braços do meu futuro esposo e depois nos dando sua bênção. Eu fiz planos com Samuel Uley, o cara que eu achei ser o amor da minha vida e não via o meu futuro sem ele.

Antes quando eu podia sonhar com o meu futuro, eu me via casada com Sam, tendo uma vida perfeita, com uma casa grande, com um jardim bonito e, sobretudo, com crianças correndo pela casa. Eu poderia ouvir os sorrisos, os gritos infantis de felicidade delas brincando no nosso jardim. Eu poderia me ver grávida esperando cada filho de Sam e imaginando como seriam seus rostos, quem eles iriam puxar. Talvez, os olhos e o sorriso do pai e a personalidade da mãe, ou a beleza de ambos. Nós escolheríamos os nomes juntos.

"Que tal um time de futebol?"

"Ei, eu vou virar uma baleia. Você quer uma esposa, ou uma máquina de bebês."

"Ah, você é tão linda. Eu aposto que como mãe será mais linda e radiante."

"Que tal três filhos, o resto podemos adotar. Meu amor é imenso e sempre haverá espaço pra mais. Ainda teremos um time de futebol completo."

"Eu realmente tenho muita sorte ou... azar. Você será uma grande mãe e vai mimar um por um dos nossos pequenos." Nós sorrimos e fizemos tantos planos. Tudo parecia tão certo e imutável.

As lembranças foram voando soltas por minha mente. Elas eram tão fortes e se desprendiam de mim, aumentando mais o vazio em meu peito. Cada sonho foi se desintegrando diante dos meus olhos me colocando nesse abismo sem fim que se tornou a minha vida. Meu único desejo era que alguém me desse um sinal. Que me indicasse o caminho de volta pra vida ou uma luz que me salvasse da escuridão que me consome. As lágrimas continuaram a cair incessante.

"Lee, querida. Você está bem?" A voz de Sue me despertou dos meus devaneios. Fecho meus olhos, engulo as lágrimas e coloco uma máscara dura e indiferente, camuflando todas as minhas dores e inseguranças. Novamente, vou fingir que nada pode me abalar e se algo me atingir, irei retornar com ainda mais força destrutível, pois  não posso ser fraca e nem quero pena de ninguém.

"Lee!"

"Eu estou bem, só me dá um tempo." Falei inflexível.

Sai com uma toalha enrolada no corpo, minha mãe estava me esperando no correr. Eu decidi ignorá-la e ser direta.

"Eu só estou um pouco cansada, preciso dormir." Me fechei no quarto, coloquei a primeira roupa que vi e me joguei na cama, porém minha mente ainda estava pesada, cheia de pensamentos que persistiam em me atormentar. E quando o sono decide me dominar, abruptamente, me vejo sendo transportada para outro lugar:

Eu estava caminhando na floresta quando um vento forte e incessante começou, eu não tinha como lutar contra a sua força invisível que foi me arrastando até o topo de uma montanha, onde logo  constatei que não estava sozinha, pois havia alguém por perto e estava chorando e murmurando coisas na língua antiga Quileute. Conforme fui me aproximando, mais as palavras se tornavam compreensíveis.

"Eu não posso mais viver assim. Acabou pra mim." No topo da montanha encontrei uma jovem de cabelos negros jogados ao vento. Eu não vi seu rosto, apenas escutava a sua voz. "Não há vida sem você, meu amor. A única coisa que me restou foi esse imenso vazio e essa dor que me domina, dia após dia." 

Eu me senti estranha de estar ali e uma sensação de déjà vu se apoderou de mim, como se já estivesse estado nesse lugar e essa sensação familiar também me causou um medo. 

"Eu não posso viver mais sem ti. Por isso estou desistindo dessa vida, em busca de uma nova chance ao seu lado." Cada palavra parecia penetrar mais e mais em minha mente, porque suas palavras pareciam pertencer a mim. "Ele me condenou a 100 vidas atormentadas pela dor e desilusão. Mas, não importa! Eu posso sofrer em cada uma delas, eu posso ter meu coração quebrado em mil pedaços, mas aqui faço a minha promessa: Eu irei viver 100 vidas condenadas por Utlapa e em cada vida eu lutarei para lhe encontrar. Não importa os obstáculos... Sou Chiara de coração indomável e só serei livre quando estiver de novo em seus braços... Nos braços de meu Kenae." E, então, a jovem sem rosto se aproximou da beirada da montanha.

"Espera, não!" Eu gritei desesperada, antecipando o que estava pra acontecer. Foi nesse instante, que seus olhos me encontraram e neles eu me vi ali refletida tão intensamente, como se estivesse olhando para o meu próprio reflexo.  Mas, era tarde demais... Consequentemente,  ela ignorou o meu chamado e tomou uma decisão tenebrosa, indo de encontro com o abismo da morte. Eu não pude salvá-la, me senti sufocar, estava sem ar e meu coração pulsava sem forças, causando uma nova dor dilacerante.

A escuridão foi me invadindo...

"Lee, vamos... acorda!" Eu acordei agitada e desnorteada, rapidamente, se deparando com Seth sentado do meu lado com um olhar preocupado.

"Lee, você está bem?"

"Foi só um pesadelo." Falei num fio de voz tentando também me convencer disso.

"Quem é Kenae?" Inesperadamente, ouvi a voz rouca e forte de Jacob me questionando.

"O quê?" Continuei perdida em minhas confusões.

"Você estava chamando alguém. Você disse..." Ele franziu a testa e fechou os punhos como se estivesse com raiva. "Meu Kenae... Quem é ele?" Havia um certo comando escondido em sua voz, quase como uma ordem alfa.

"Eu não sei." Fui sincera, apesar que bem lá no fundo, talvez, eu soubesse a resposta, mas necessitasse guardá-las somente para mim. Jacob continuou me olhando de um jeito estranho.

Me levantei ignorando as presenças dos garotos e entrei no banheiro trancando a porta, depois joguei água no meu rosto e molhei a nuca, havia uma sensação nauseante que só piorou quando olhei para o espelho sobre a pia. O que encontrei lá foi o reflexo do índio de feições sombrias e olhos furiosos sorrindo com escárnio pra mim.

"Quem é você?" Foi a única coisa que veio a mente.

"Eu sou seu Carrasco!" Então, ele assoprou meu rosto me deixando tonta e me causando um enjoo forte. Só deu tempo de levantar a tampa do vaso sanitário e vomitar tudo o que tinha no estômago.

"Lee, abra a porta!" Seth chamava nervoso. Eu não conseguia me mover, apenas continuei ainda ajoelhado no chão sentindo meu corpo tremer de frio e pavor. Pavor de algo que eu nem sei, mas que me dava um medo insuportável do desconhecido.

"Leah, você está bem?" Jacob bateu na porta persistente. "Eu vou arrombar." Não deu tempo de lhe responder, num segundo a porta se abriu bruscamente. Eu o olhei com raiva e tentei me levantar, mas minhas pernas fraquejaram, quase achei que fosse cair, mas mãos fortes me seguraram firme. "Seth vai ver se tem um antiácido." Seth sem questionar nos deixou ali sozinhos.

Apenas o toque de suas mãos em minha pele parecia aquecer todo o meu corpo e acalmar meu coração. Seus olhos eram tão intensos nos meus, havia preocupação e um brilho indecifrável em suas órbitas negras. Jacob parecia ver a minha alma e naquele momento me senti sendo atraída para os seus braços. Sem conseguir me controlar o abracei, desesperadamente, colando minha cabeça em seu peito, depois fechei os meus olhos e me deixei levar pelas batidas do seu coração. Mesmo por cima de sua camiseta, ainda pude sentir sua pele febril e seu cheiro amadeirado me causando uma sensação imediata de paz e segurança. Todo o sentimento ruim que antes sentira havia sido esquecido.

Jacob começou a acariciar os meus cabelos e beijou docemente meu ombro por cima da alça da regata deixando minha pele arrepiada. Dessa vez, era um arrepio gostoso. Ficamos assim por um momento, num silêncio bom, até que nossos olhos voltaram a se encontrar. Mais uma vez, senti uma forte atração me impulsionando a ele, estávamos tão perto.

"Eu achei isso." A voz de Seth me fez despertar pra realidade, então, me afastei abruptamente de Jacob. Quando me desprendi dos seus braços, senti um vazio tão grande que chegava a ser inexplicável. Eu não entendia o porquê me senti assim, era como se eu fosse algo frágil que poderia quebrar e precisava dele pra me manter protegida. Isso me deixou atordoada e, ao mesmo tempo, com raiva, pois não gostei dessa sensação. Nunca gostei de ser a garota delicada, frágil e dependente.

"Leah, o que você tem?" Jacob tocou meu rosto e tentou se aproximar de mim, mas eu decidi me afastar dele.

Chega de frescura!

Eu já me sentia melhor e não havia necessidade de todo este drama.

"Eu tô legal. Vou tomar um banho." Jacob continuou me olhando desconfiado. "Caramba, eu preciso de um pouco de privacidade. Será que dá pra ser!" Já estava irritado com os olhares dos dois garotos.

"Tudo bem, Lee. Qualquer coisa estamos lá embaixo." Seth disse se dirigindo para as escadas. Jacob relutante seguiu logo atrás. Para a minha irritação ficar pior, a porta do banheiro agora se encontrava com a fechadura detonada. Tive que tomar banho com a porta apenas encostada. Dessa vez, preferi água morna pra relaxar os músculos e de uma certa forma me aquecer. Ao terminar me enrolei numa toalha branca e ainda hesitante resolvi dar uma olhada fugaz na direção do espelho, para o meu alívio não havia mais nem um vestígio daqueles olhos obscuros, ali só havia meu reflexo. Soltei a respiração tentando me controlar.

Aquela imagem só podia ser fruto da minha imaginação distorcida.

Depois de escovar os dentes e pentear meu cabelo molhado, segui rumo ao meu quarto, sem perceber que lá já havia alguém me esperando.

"Droga! O que você tá fazendo aqui?" Jacob estava deitado em minha cama. Seus olhos logo ficaram vidrados em mim. "Garoto, você é folgado." Ele ainda parecia focado em meu corpo. Seus olhares me perturbavam e me faziam sentir calor por sobre minha pele. "Acorda, Black. Eu preciso me trocar." Eu disse estalando os dedos na sua frente.

"É... desculpa... eu..." Ele gaguejava me fazendo rir do seu jeito. Jacob se levantou e permaneceu me olhando como se estivesse hipnotizado. Só com o seu olhar ele era capaz de causar tantas sensações em mim. Sensações que a muito tempo eu não sentia e outras que eram inexplicáveis.

"Para com isso!" Eu disse sem graça, estávamos nós dois em pé nos olhando.

"Ah, desculpe. É que você... é linda." Sua voz rouca sussurrada me causou um arrepio na espinha e um certo revoar de borboletas na minha barriga. Eu precisava quebrar essa coisa entre nós, que eu nem sabia como nomear, mas tinha certeza que isso tinha que parar agora.

"Tá bem. Agora que tal você me dar espaço. A menos que você me queira ver pelada." Eu disse atrevida mexendo na toalha. Tudo bem que ele já havia me visto nua, mas naquele dia eu estava quase inconsciente e numa situação diferente. E aqui estávamos nos dois muito conscientes da nossa proximidade. Percebi que seu coração batia acelerado, assim como sua respiração e seus olhos que se arregalaram. Só pra lhe sacanear eu me aproximei mais dele. "Então, o que vai ser?" Eu lhe sussurrei tocando seu peito.

Merda! Eu não devia ter feito isso, pois assim que o toquei senti meus dedos formigarem. Nossas batidas do coração batiam juntos num ritmo descompassado.

"Tá, eu já tô saindo." Nos afastamos, Jacob se atrapalhou todo na hora de sair do quarto. "Ai... Que droga!" Ele havia batido a cabeça sem querer na parede. Foi inevitável não rir. Troquei mais um olhar com ele, antes de fechar a porta.

Agora eu estava sozinha em meu quarto tentando acalmar meu próprio coração.

Isso tudo era muito surreal.

 

 

***/ /***

 

 

Depois de vestir uma calça de moletom e uma camiseta qualquer, desci pra encontrar os garotos lanchando na cozinha. Os dois conversavam animadamente e só pararam quando perceberam minha presença.

"E aí mana, tá se sentindo melhor?" Seth veio em minha direção e, inesperadamente, me deu um abraço de urso e depois me pegou no colo.

"Ei Seth, tá maluco." Eu disse tentando me livrar dele, mas parecia uma luta perdida sem contar que isso só serviu pra fazer Jacob rir de mim. Idiota!

"Seth, dá um tempo pra ela respirar." Jacob veio em meu socorro.

"Obrigado!" Disse irônica.

"Tá com fome? Adivinha, temos um arroz com almôndegas e molho, frango grelhado, batata frita, salada de verdura bem temperada, gelatina com creme de leite e muffins." Seth disse em tom tímido. "Bem, a Emily sabia que nós passamos a madrugada inteira em patrulha e quis ser gentil. Nós almoçamos com o bando lá e ela mandou te trazer um pouco da comida."

"Muito gentil, mas estou sem fome." Preferi beber apenas um iogurte. Vi que eles trocaram um olhar, talvez, pensando que eu não queria a comida de Emily por birra. "O que foi? Realmente estou sem fome, ainda me sinto enjoada. Não é nada pessoal."

"Tudo bem. É que eu..." Interrompi Seth.

"Tá, eu sei o que você achou. Se lhe deixa aliviado, depois eu como." Me sentei na mesa de frente para Jacob que tinha um olhar que me pareceu ser de preocupação. Tratei de desviar o olhar e me concentrar em qualquer outra coisa. Lá fora começara uma chuva forte, fixei meu olhar na janela vendo as gotinhas de água escorrer pela vidraça.

Seth e Jacob começaram uma conversa de garotos, falando sobre carros e seus motores e o desejo de voltarem a estudar, pois com a nossa transformação, os meninos que estavam na escola, acabaram sendo obrigados a se afastarem do colégio.

"Velho Quil disse que há chances de voltarmos a escola no ano que vem." Seth disse otimista.

"Isso é pura bobagem." Jacob falou frustrado.

"Por quê?"

"Por que enquanto estivermos condenados a perseguir os Frios, não haverá futuro pra ser planejada." Fui direta e firme entrando no meio da conversa.

"Sua irmã tem razão. Todo mundo passa pelo colegial já pensando numa boa faculdade. Como você pode ver, nenhum de nós pode ter isso em mente. Tudo o que nos resta é proteger La Push desses sanguessugas malditos." Jake disse entre dentes.

"Parem de ser pessimista!" Resmungou meu irmão chato.

"Falou o garoto que tem medo de dizer: Oi! a menina que ele gosta. Sabe, cadê essa sua confiança na hora da conquista?" Seth raramente fica irritado e agora é uma dessas vezes. Jacob conseguiu atingir um nervo.

"Faz de conta que você é um expert na conquista."

"Eu enfrentaria meu medo e falaria com a garota dos meus sonhos."

Merda! Essa conversa não ia dar certo.

"É mesmo?!"

"Ei, parem com isso." Disse severamente para eles. Mas, fui ignorada.

"Então, por que você não atende as ligações da Bella? Ou vai visitá-la em Forks? Isso não é nada corajoso..." Seth parou ao perceber que tinha falado demais.

"Cala a boca! Você não sabe nada pirralho." Jacob rosnou, fechou os punhos e com ódio bateu na mesa fazendo-a tremer.

Eu sabia que a sonsa da Bella ligava pra ele, porém na maioria das vezes, eu é quem atendia os telefonemas, sempre sendo fria e dura com ela, pra ver se Bella se tocava. Obviamente, isso não foi suficiente, pois as ligações continuaram. Jacob casualmente atendia os telefonemas, mas a garota estúpida ficava muda, como se quisesse torturá-lo mais. Então, ele desligava o telefone e dava de ombros indiferente. Entretanto, lá no fundo, só pelo olhar dele era nítido que o garoto sabia quem estava do outro lado da linha, tentando fingir não se importar, mesmo que por dentro seu coração estivesse em pura agonia.

"Jake, eu sinto muito." Jacob ignorou Seth e se levantou pronto pra ir embora. Lá fora a chuva continuava a cair sem parar. Me senti inquieta com isso. Não podia deixá-lo sair assim de cabeça quente e, pior ainda, pensando nela. Seth quis ir atrás dele, mas eu o parei.

"Deixe que eu falo com ele." Antes que Jacob abrisse a porta eu parei em sua frente o impedindo de sair.

"Fique!" Eu disse quase suplicante. Seus olhos se estreitaram e uma expressão carrancuda se formou em seu rosto.

"Eu preciso esfriar a cabeça, estou perdendo o controle aqui." Ele travou e destravou as mãos, nervosamente. Inconsciente, eu segurei os seus braços, deslizando as pontas dos dedos pra cima e pra baixo tentando acalmá-lo. Eu só percebi o que estava fazendo, quando seus olhos desviaram a atenção para uma das minhas mãos em seu braço, me fazendo seguir o mesmo caminho até que voltamos a fazer contato visual. Esse simples toque parecia causar uma conexão forte entre a gente. Quando me dei conta do que estava fazendo, novamente me afastei. Jacob me olhou de uma forma estranha, como se estivesse chateado ou... magoado por eu ter me afastado.

Mas, isto não fazia sentido.

"É melhor eu ir." Ele disse cabisbaixo. Foi, então, que me lembrei do nosso trato.

"Jake, lembra o que combinamos? Nada de lamentações ou lágrimas. Sem Sam e... ELA." Eu disse hesitante. "É a nossa terapia. Vem!" Ele me deu um sorriso torto.

"Você me chamou de Jake?"

"É, talvez." Falei encabulada.

"Estamos evoluído. Nossa! A quanto tempo você não me chama de JAKE." Sua expressão se tornou suave e ele me deu seu sorriso iluminado e contagiante.

"Tá Black, não fique se gabando. Foi um momento de fraqueza da minha parte." Eu lhe dei um murro no braço num sinal de camaradagem.

"Aí, essa doeu." Jacob começou a massagear o local.

"Para de ser molenga, vem logo. Vou fazer um chocolate quente pra nós." Nós voltamos pra cozinha que estava sem sinal de Seth, trocamos um olhar travesso.

Nós dois decidimos subir cautelosamente para o quarto de Seth. O garoto se encontrava deitado de barriga pra cima e olhos fechados. Subitamente, pulei em cima da cama assustando meu irmão.

"Que droga, Leah!" Segundos depois estávamos na maior guerra de travesseiros que deu origem a outra guerra particular entre os meninos. No fim, eles se entenderam.

Após um lanche rápido com direito a chocolate quente e os muffins da Emily, eles decidiram se divertir no vídeo game.

Bom por hoje eu fiz a minha boa ação.

 

 

***/ /***

 

"Olha só pra vocês. São realmente lerdas." Eu disse toda convencida. Quil, Jacob, Collin e Paul haviam me desafiado pra uma corrida em forma de lobo. E, adivinha quem venceu? Sim, euzinha. "Isso foi tão fácil pra mim. Na próxima vez, vamos apostar pra valer." Eles me olharam irritadinhos.

"Cara eu não tenho dinheiro nem pra comprar uma cueca nova." Disse Quil fazendo todos rirem.

"Eca que nojo." Os outros falaram em uníssono.

"Caramba, isso foi injusto, eu tô enferrujado. Mas, mesmo não querendo admitir, foi bom voltar a correr. Se sentir livre de novo." Jacob falava animado por poder se transformar em lobo. Foram duas semanas e meia sem se transformar. Primeiro porque seus ossos precisavam de tempo pra se recuperar de vez e se regenerar corretamente. E segundo pra manter a mentira de que fora um acidente de moto que o deixou ferido.

Após a corrida nos transformamos de volta. Mais uma vez a patrulha fora tranquila sem vampiros na área. Tenho que dizer que também foi divertido, sem nenhuma tensão entre eu e o bando. Claro que houve provocações, principalmente de Paul e Quil, mas nada que eu não respondesse a altura. Os garotos foram seguindo seus caminhos pra casa, enquanto eu e Jacob seguimos o nosso, já que moramos na mesma rua.

"Sabe, isso foi muito legal. Nós deveríamos ter mais momentos assim, sem levar tudo a sério." Jacob disse entusiasmado.

"Você tem razão foi bem legal." Ele começou a andar de ré na minha frente olhando pra mim. "O que foi?" Continuamos a andar de frente para o outro.

"Você deveria sorrir mais vezes. Você fica mais jovem, alegre e... muito mais linda." Ele me deixou sem palavras, fazendo-me sentir desconcertada. "Quando você sorri, me faz lembrar a velha Leah. Eu sinto saudade dela." Suas palavras foram tão sinceras e, ao mesmo tempo, me perturbaram.

Uma coisa era fato, nada seria como era antes. Mesmo que eu quisesse voltar a ser aquela Leah, seria algo impossível. O garoto na minha frente também não era o mesmo. Nós mudamos muito, não por escolha, e sim por sermos forçados a mudar. E, ao mesmo tempo, por ser o ciclo da vida: nascer, crescer, envelhecer e morrer. Tudo está relacionado as mudanças, sejam para o bem ou para o mal.

"Para de ser uma garotinha sensível. É a coisa mais bizarra que eu já vi." Ele caiu na gargalhada.

"Quem é que se jogou nos meus braços toda chorona no outro dia?!" Empurrei ele da minha frente e continuei andando. "Aliás, sempre que precisar de um abraço gostoso, eu tô aqui." Ele correu na minha frente de novo e abriu os braços como se estivesse esperando por mim.

"Vai sonhando!" Eu juro que tentei ser indiferente e passar por ele. Mas, ele tinha outros planos.

"É assim que você vai me tratar, ingrata!" E então sem que eu esperasse ele me jogou em seu ombro e continuou andando como se nada tivesse acontecido. Eu me debatia tentando me livrar dele, porém ele era muito mais forte.

"Black, seu idiota. Me solta agora ou..." Ele começou a fazer da minha bunda o seu pandeiro.

"Não, este é o seu castigo. A menos que você seja uma boa menina." Ele continuou o seu trajeto calmamente, rindo da minha cara. "Eu já disse que você tem uma bela bunda. Da até vontade de apertar." A parte pior da minha situação, era que os vizinhos pararam pra nos olhar.

Se eu já estava na boca do povo, imagina agora?!

"Jacob!" Eu rugi irada e, então, eu fiz a única coisa que eu podia fazer. Eu consegui morder as suas costas.

"Filho da... Então, você quer guerra?" Ele me deu um tapa forte na minha bunda que ardeu.

"Seu desgraçado!" Jacob começou a gargalhar e a girar comigo em seu ombro. Eu já estava numa posição nada confortável, sentindo o sangue correr todo pra minha cabeça e uma leve tontura até que ele decidiu parar. Agora estávamos na frente da minha casa.

"Você quer que eu te solte?"

"É óbvio." Eu revirei meus olhos. Minha mãe abriu a porta com uma expressão confusa.

"Oi tia Sue. Nós só estamos trocando uma ideia aqui." Eu olhei pra minha mãe que estava com uma expressão de deboche.

"Mãe, por favor! Faz alguma coisa." Eu supliquei.

"Vocês são bem grandinhos. Vocês é que se entendam." Ela disse voltando para porta. "Só não se matem." Sue me abandonou a mercê deste Ogro.

"Pra você se livrar de mim, terá que falar as palavrinhas mágicas." Ele continuou deslizando sua mão pelas minhas pernas e retornando para minha bunda. "Eu quero que você diga: Por favor, Jake caramelozinho."

"Mas nem morta."

"Você quer mais uma rodada de giros ou um tapa gostoso no bumbum."

"Me diz qual é a erva que te deram? Porque você tá fora de si." Durou mais alguns minutos nessa discussão, até que eu me rendesse.

"Por favor, Jake caramelozinho!" Balbuciei furiosa. Mas, ele queria me humilhar mais. Isso não foi suficiente pra ele.

"Eu quero que você fale carinhosamente, num tom romântico."

"Por favor, Jake caramelozinho." Falei suavemente fingindo uma voz doce.

"Viu, não doeu nada." Ele me pôs no chão gentilmente e me deu um sorriso convencido. Mas, sua alegria durou pouco, pois num segundo ele estava ajoelhado no chão encolhido de dor. Eu havia lhe dado uma joelhada certeira no meio das suas pernas.

"Parece que doeu sim." Eu disse atrevida.

"Vaca!" Ele murmurou. Deixei ele caído ali e tratei de fugir pra minha casa. Vai que ele quisesse se vingar.

Pela primeira vez, em muito tempo eu estava sorrindo de verdade, genuinamente.

 

 

***/ /***

 

Mamãe me deixou uma lista compras para eu fazer. Eu teria que ir a Forks a pé ou de bicicleta já que o único carro que tínhamos era usado diariamente por Sue para trabalhar. Respirei fundo olhando pela janela, meus olhos pararam no Rabbit em frente a casa dos Black. Tava ali a minha solução.

Fechei toda a casa conferi se estava com o dinheiro e a lista no bolso da calça jeans, guardei a chave e segui rumo a casa do outro lado da rua.

"E aí Billy. O Jacob está?"

"Lá na garagem com os garotos." Agradeci Billy e segui para os fundos da casa. Encontrei os garotos rindo e falando suas bobagens habituais. Quando entrei no lugar todos ficaram paralisados me olhando como se eu fosse um E.T. Jacob estava sujo de graxa e com um expressão mal humorada.

"O que você quer?" Ele grunhiu pra mim. Provavelmente, ele estava com raiva pelo golpe baixo que lhe dei. Eu queria rir dele, mas decidi me controlar, afinal, eu precisava do carro e não ia conseguir nada mexendo com a fera.

"Bem, vou direto ao assunto. Preciso ir a Forks comprar algumas coisas. Será que você podia me emprestar o seu carro?" Falei de uma vez só. Ele arqueou as sobrancelhas e franziu a testa.

"Eu gosto muito do meu carro pra soltar na mão de... QUALQUER UM." Ele Enfatizou. Eu iria voltar embora e ir de bicicleta, pois eu ainda tenho o meu orgulho.

"Tudo bem." Fui fria e me virei para sair e seguir o meu rumo, mas ele me interrompeu.

"Eu empresto, mas eu dirijo. Sinto muito, não é nada pessoal, só que eu tenho ciúme das minhas coisas." Ele disse sincero. Eu não tinha muita escolha, então, aceitei. 

Tive que esperar ele tomar um banho. Embry e Quil já haviam ido embora. Fiquei sozinha com Billy na sala enquanto esperava o seu filho se arrumar.

"Acho muito bom vocês estarem juntos. Sua amizade tem feito muito bem a ele. Uma amizade que o meu filho nunca teria com a Bella. Porque ela nunca seria forte o suficiente para ser o seu apoio. Jacob sempre estaria lá pra ela, mas aquela garota desmiolada nunca estaria lá por ele." Sua palavras me aqueceram ao mesmo tempo que me confundiam.

"Bom, eu sei como ele se sente. E, aliás, eu fiz uma promessa a Sarah. Eu sempre farei de tudo pra honrar essa promessa."

"Obrigado. Jake tem muita sorte de ter você por perto." Jacob logo desceu as escadas e nos olhou desconfiado. Talvez, ele tenha ouvido parte da conversa.

Ele estava muito bonito com uma causa jeans preta e uma camiseta branca colada ao corpo, marcando bem seus traços fortes e bem tonificados e dando um belo contraste a sua pele acobreada. Jacob percebeu o meu olhar e me deu um sorriso presunçoso.

"Eu sei que sou lindo." Billy apenas riu da situação.

"Se cuidem crianças." Nos despedimos de Billy e seguimos nosso rumo.

O caminho foi tranquilo, trocamos algumas palavras, rimos algumas vezes das suas aventuras desastrosas com Embry e Quil. Quase 45 minutos depois, chegamos ao nosso destino, já se deparando com o mercado bem cheio. Quando estávamos no fim das compras, indo para os caixas, nos cruzamos com Kim e Emily.

Como sempre Emily tentaria puxar conversa comigo e eu por mais que me sentisse desconfortável, sabia que não podia fugir. Afinal, eu não era uma criança birrenta, eu tinha que ser ao menos civilizada. Em certo momento, minha prima se sentiu mal, seu rosto ficou pálido e ela parecia que ia desmaiar. Por sorte fora somente um mal-estar passageiro. Eu e Jake acompanhamos as duas mulheres até o estacionamento.

"Bom, acha que você se saiu bem nisso. Não foi tão difícil assim trocar algumas palavras com ela, foi?"

"Eu sei ser pacífica. Eu poderia até ser uma dama." Falei entrando no carro.

"Você sendo uma dama, seria a coisa mais bizarra do mundo."  Depois de me provocar com isso, ele decidiu mudar de assunto. "Agora que tal um lanche? Eu pago." Acabei aceitando a oferta de Jacob. Escolhemos uma lanchonete que costumávamos a frequentar quando crianças. Comemos como loucos e ainda dividimos um sorvete de chocolate.

De repente, não éramos o Jacob e a Leah os protetores de La Push, mas sim apenas Jake e Lee, quase como nos velhos tempos. Eu e ele caminhamos calmamente lado a lado pela calçada, observando a movimentação da cidade e olhando para as vitrines das lojas. Me sentia bem em estar assim com ele, sem brigas e o ar tenso de La Push e, sobretudo, sem o bando.

Haviam várias coisas interessantes para se olhar. Nós conversávamos, distraidamente, até que Jacob ficou paralisado com os olhos vidrados, segui seus olhos e me deparei com ELA vestida num belo vestido branco delicado.

Ali na loja vestida de noiva estava a garota que perturbava os pensamentos de Jacob. Os olhos de Bella logo encontraram ele, seus olhares ficaram presos um no outro, me fazendo se sentir estranhamente perturbada. Voltei a me focar no rosto agoniado e sombrio de Jacob, seu corpo estava tremendo furiosamente, ele fechou seus olhos tentando se controlar.

Resolvi que eu tinha que fazer alguma coisa para ajudar aquele garoto. Afinal, nós não chegamos até este ponto, a fim de perdemos o que conquistamos. Além disso, ela causou tanto dor a ele que estava na hora dela também sentir o mesmo gosto amargo da dor.

 

Inesperadamente,  me aproximei dele, enlaçando meus braços em seu pescoço e o puxando pra mais perto. Ao meu toque ele abriu seus olhos e me olhou assustado e incerto. Neste exato momento, o meu coração pulsava frenético assim como o dele, mas eu não iria voltar atrás.

Tomei uma decisão arriscada...  Eu o beijei.

A principio ele ficou rígido, mas logo seus lábios passaram a se moldar junto ao meu, num beijo urgente e cheio de desejo. No momento em que nossos lábios se encontraram, eu esqueci de tudo. Eu esqueci de todas as dores e sentimentos que me torturavam e, de repente, já não importava mais nada, a não ser o garoto em meus braços.

Jacob me puxou pra mais perto, colando mais nossos corpos, com suas mãos segurando firme minha cintura. Eu senti como se uma corrente elétrica fluísse por toda a minha pele, me arrepiando toda. Seus lábios eram quentes e macios, e seu gosto era inexplicável. Ele me beijava com certa possessividade que me dominava e me deixava sem fôlego. Todas as sensações que sentia naquele momento eram intensas como fogo, que aquecia não apenas o meu corpo, mas também, a minha alma.

Ali nos braços de Jacob, senti que por instante reencontrei a minha paz. Era como se houvesse uma luz pairando sobre a gente, transformando o momento em algo incrivelmente mágico.

Entretanto, da mesma forma inesperada que o beijo aconteceu, ele foi interrompido. Quando nossos olhos se encontraram, não havia nada a ser dito. Pois, não haviam palavras pra descrever o que havíamos vivido.

Por um instante, seus olhos se desviaram dos meus voltando-se a vitrine da loja. Mas, já não havia mais nenhum vestígio de Bella ali. Nós trocamos mais um último olhar antes de decidirmos retornar pra casa. E o caminho de volta foi num silêncio triste.

Agora eu havia traçado um caminho sem volta. Eu havia cometido o meu maior erro. Um erro que iria me condenar para o resto da minha vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom é isso aí. Aguardando seus revews.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coração Indomável" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.