Divergente's Refúgio - Interativa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 49
Viver é risco em vermelho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/503896/chapter/49

Após escutarem a passagem de um dos carros da Audácia pelo antigo Complexo da Abnegação, Violet, Sarah e Raven, tendo Alyssa nos braços, desceram vagarosamente as escadas daquela singela casa, chegando enfim a pequena sala de estar sem mais incômodos ou sinais de perigo.

Ainda em meio ao silêncio, Raven assentiu para que as garotas a seguissem. A loira ia à frente para se certificar que estava seguro o suficiente para passarem, quando viu de relance outro carro de patrulha sumir na curva da esquina.

Num suspiro, pela primeira vez nas últimas horas se permitiu relaxar por alguns incontáveis e poucos instantes. O engatilhar de uma arma chamou-lhes a atenção e Sarah, a qual já estava ao seu lado, tratou de empunhar uma das facas com as quais vivia treinando o lançamento com Alice no acampamento.

– Não se aproxime! – alertou Sarah, em tom sério.

– Ah, garotinha! – gargalhou o homem – Me poupe e me economize, por favor! – encarou Raven – Sabia que não precisava estar aqui, nessa situação, não é mesmo?! Se tivesse escolhido ficar comigo ao invés de Josh, ainda estaria desfrutando do conforto da Audácia aos recém nascidos – com um sorriso macabro.

– Vocês não eram nada diferentes e assim como Josh morreu, você também não passará de hoje, Henry. – alertou Raven.

– Que pena, porque quem está armado aqui sou eu! - retruca.

O rapaz mira a arma para Raven, no entanto, Sarah pula na frente, agarrando em seu punho e mudando sua mão de direção, o que faz com que o tiro acerte pouco acima da janela presente do outro lado da sala. Raven esconde Alyssa dentro de um armário dentro da parede e corre para pegar a faca que Sarah deixou cair, mas, outra jovem baixa e de cabelos azuis quase raspados a agarra pelos cabelos e puxa, batendo com sua cabeça na quina da parede e cortando seu lábio inferior.

Ao encará-la, Raven sentiu um alívio interno por não ter nada mais em comum com Mia, a primeira pessoa que viera a sua mente assim que avistara o azul. Sendo assim, levantou-se logo, sendo novamente atingida com um soco no rosto.

Por outro lado, Sarah foi atirada para longe quebrando uma pequena mesa de centro presente ao lado do sofá de três lugares. Antes que Henry pudesse pegar a pistola, Violet que estava ainda escondida no corredor da escada, correu em sua direção e num pulo, agarrou-o pelo pescoço, cravando as unhas e fazendo o homem perder o equilíbrio.

Sem saber se teriam mais traidores da Audácia por perto, Raven puxou a adversária para dentro da casa, caindo ambas no chão. Em questão de instantes, ambas já estavam de pé novamente, tendo a loira retirado o coldre da inimiga com seus armamentos e atirado longe o suficiente para que não conseguisse alcançar. A outra tentou socá-la novamente na face, conseguindo Raven desviar, sem esperar o seguinte, o qual acertou em suas costelas, fazendo-a arfar e dar alguns intrépidos passos para trás.

Violet estava contra a parede a uma altura de no mínimo sessenta centímetros a se debater desesperadamente para conseguir se soltar das mãos cheias de calos de Henry que a sufocavam, deixando o rosto da ruiva cada vez mais avermelhada pelo esforço e a falta de ar. Sarah apressou os passos em sua direção, mancando devido ao corte de vidro que percorria sua panturrilha enquanto o sangue escorria, todavia o mesmo a estapeou no rosto, desequilibrando-a antes que pudesse fazer algo.

Caindo ajoelhada ao lado da pistola de Henry, Sarah pegou-a a com as mãos pouco trêmulas, fechou os olhos e atirou contra a luta de Raven e a adversária, tendo como surpresa, atingido de raspão o braço da colega, entretanto fincado por final a bala no abdome da outra, que deslizou até o chão, encontrada a parede, caindo sem vida.

Sem pensar duas vezes, Raven correu em direção a Henry, caindo sobre ele, conseguindo soltar Violet, a qual aparentemente estava desacordada no chão. Ambos rolaram e a loira foi puxada pelos cabelos para ficar de pé e antes que Sarah pudesse apontar a arma para o homem, ele já fazia um fino corte na garganta de Raven com a faca da própria, do qual descia finos fios de sangue em sequência desordenada.

Com poucas chances, a jovem se jogou para trás, batendo com as costas do rival na parede virando seu braço tão agilmente, deslocando-o e largando a faca no chão. Puxou a cabeça do mesmo, dando-lhe uma forte joelhada no rosto, contudo, tropeçou no cabo da faca, caindo e batendo fortemente a cabeça no chão.

Por via das dúvidas, Henry aproveitando a incapacidade de Raven, cambaleou até Sarah, agarrando, apertando e torcendo cruelmente o pulso da menina, o que fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas. Seu sorriso macabro em triunfo assustou a mesma, que começou a se debater assim que teve a pistola arrancada da mão. Antes que o mesmo pudesse pegar a arma, Violet o perfurou a altura do pulmão com um quebrador de gelo, três vezes seguidas, até que ele soltasse a amiga.

*******

– Os trilhos do trem não passam muito perto do Complexo da Amizade e tem uma espécie de parede de árvores, um curto espaço, pouco antes de entrarmos nas plantações de milho, que dá para podermos atravessar e se por acaso algum dos carros de patrulha da Audácia passar, podemos despistar sem problemas – trajou Mia uma espécie de plano para continuidade.

– Mas para isso acho melhor pegarmos logo a parte pouco mais alta da cidade. – sugeriu Lucy – Já que chegaram alguns traidores da Audácia aqui, podemos subir perto do chafariz, aquele ao final do pântano. Quase nunca tem gente lá e ainda podemos encontrar alguns escombros da antiga cidade.

– Ótimo! – pronunciou-se Katherine de forma presunçosa – Vamos logo! Quero logo chegar a Amizade – estremeceu e seguiu na frente, com Alek ao lado sem dizer nada a mais – O calor hoje está insuportável!

– Ainda sim melhor do que você jamais será – provocou Mia em sussurro.

Luke, Mia e Lucy se entreolharam e não contiveram uma leve risada, sem que a outra pudesse notar. Tyler que se apoiava em Clarissa, Tanner e Miguel iam logo atrás, seguidos por Alice e Scott que de tempo em tempo trocavam uma ou duas palavras. Dean e Reyna vinham por último, como base costeira da equipe, com armas em mãos e encarando todos os lugares onde possivelmente uma pessoa poderia se esconder.

*******

Recobrando o equilíbrio, Raven levantou com a ajuda de Sarah, enquanto Violet segurava Alyssa nos braços.

– Você está bem? – perguntaram as duas simultaneamente e a jovem somente assentiu, ainda arfando com a dor nas costelas.

Pegando um pedaço de tecido sobre a mesa da cozinha, a jovem amarrou cuidadosamente na cintura de Alyssa com um laço e a prendeu a si com outro na própria cintura. Por fim, para garantir mais sustentação, vestiu a jaqueta que tinha pegado com Tanner pouco antes de partir com as garotas e fechou, ficando firme, sem apertar nenhuma das duas e conseguindo mais segurança e mobilidade.

Violet e Sarah, já prontas e mais recuperadas do então susto, seguiram Raven pela rua, aparentemente vazia, enquanto o entardecer já começava a judiar qualquer um com roupas grossas e escuras com raios fortes de sol direcionados diretamente a elas, como espécie de provação.

O Complexo da Abnegação era incrivelmente diferente do Complexo da Audácia, desde as residências, as ruas e tudo mais. Sem fosso, sem aquele cheiro clássico ou barulho da água do Fosso. Talvez Raven esperasse algo do tipo, assim como Sarah, que já passaram tempo suficiente por lá e estavam em busca de uma espécie de alívio. Já Violet, aquele lugar lhe trazia uma espécie de contentamento e pavor, simultaneamente, ao lembrar-se de todos aqueles corpos nas calçadas no dia do Ataque planejado por Jeanine, quando teve a sorte de esbarrar em Nathalie Prior e se manter escondida, até perder-se novamente e encontrar Lena e Isabela pelo caminho. O coração das três se apertava só de pensar como poderiam estar aqueles que deixaram para trás.

Estava se aproximando de uma espécie de galpão grande e simples, sem adornos, característicos do senso altruísta da Abnegação. Não chegaram a entrar, porém conseguiram ver o seu interior com algumas cadeiras ordenadas, outras derrubadas, alguns papéis em pastas jogados, um clima mórbido.

– Aqui era o Conselho – explicou Violet como se soubesse quanto as perguntas das outras duas, que se mantiveram caladas e seguiram.

– Como vamos fazer para chegar a Amizade? – indagou Sarah, indo direto ao ponto primordial de sua preocupação. Será que Alice já tinha chegado e se estivesse desesperada achando que pudesse ter acontecido algo com ela?

– Os trilhos estão pouco afastados daqui. – expôs Violet, deixando Raven pensativa, enquanto seguiam em direção a esquina, quando uma caminhonete em tom um tanto amarelado fechou o caminho delas.

As três andaram para trás em defensiva. Do carro, desceu um rapaz com vestes amarelas e cabelo pouco comprido, pegando pouco abaixo das orelhas. O mesmo, notando a feição desconfiada das jovens, enquanto Raven já empunhava a arma, mesmo desconfiada de todo o estilo que via no jovem. Violet foi a primeira a reconhecê-lo.

– James! – suspirou aliviada.

– Sim! – riu em desdém – Raven, não precisa atirar em mim. Eu... Já cheguei a Amizade e falei com Johanna que tem alguns dos refugiados do ataque indo para a Sede da Amizade.

– Como nos achou aqui? – inquiriu a loira, tocando a filha que se mantinha quieta por todo o tempo.

– Acho melhor explicar depois – abriu a porta da caminhonete – Membros da Amizade estão imparciais, por isso, não posso correr o risco de algum membro da Audácia me ver aqui. Entrem e explico no caminho.

*******

– Acho que somos muitos para ficar andando juntos assim – diz Tanner, recuperando certo ar sério, apesar de demonstrar deliberadamente ainda estar abalado em sua voz quase sem expressão – Somos onze! Acho que seria melhor se nos separássemos em dois grupos. Um vai pelo trem e outro pelo campo, a pé mesmo, pelos antigos túneis em destroços. É uma boa maneira de se esconder, e passa em proximidades da Franqueza. Duvido que Jeanine tenha reforçado a segurança lá.

Sem muitas opções, dividiram-se em dois grupos, sendo estes: Alek, Katherine, Clarissa, Tyler e Dean que seguiriam pelo trem e/ou trilhos; e Luke, Lucy, Tanner, Miguel, Mia e Reyna, os quais seguiriam o caminho a pé, passando despercebidamente nas fronteiras da Franqueza.

Aproveitando que não tinham mais sinais, o segundo grupo ultrapassou logo o restante do pântano, deixando o antigo e deteriorado chafariz para trás e seguindo por alguns destroços até enfim chegarem a um dos vários túneis antigos.

A entrada não permitia a passagem de um carro, mas por dentro era mais largo e alto, liberando o odor que em contato com a escuridão daria medo em qualquer um. Até o calor intenso fazia aquilo se assemelhar ainda mais ao inferno. O mais fundo onde já tinham ido, literalmente.

Estavam abaixo do nível das ruas da cidade que começavam a se estender. Possivelmente, após vinte minutos de caminhada, já se encontravam abaixo da rua principal que levava ao Complexo da Franqueza. Assim que chegassem a parte menos movimentada, não seria tão difícil para adentrarem o curto bosque e saírem nos campos de plantio da Amizade. O único problema era não serem pegos por nenhuma patrulha.

– Evitem usar armas aqui, porque o barulho pode chamar a atenção de quem estiver acima – lembrou Luke, guardando a pistola, se esgueirando ao trajeto pouco mais a frente, aberto em partes, por onde a luz do sol fazia alvos como holofotes.

Assim que chegaram na parte coberta novamente, depararam-se com uma frente com cerca de quinze pessoas, em sua maioria homens, vestindo roupas como uma mistura total das facções: preto, branco, azul, amarelo, vermelho e cinza, tendo qualquer todos algumas peças rasgadas, desgastadas, pequenas ou grandes demais para seus corpos, com cabelos pouco compridos, algumas cicatrizes e ainda sim armados.

– Sem-facção! – bufou Mia, recebendo uma cotovelada com Lucy para que se calasse.

– Acho – começou uma mulher com a barriga a mostra pela blusa intencionalmente rasgada em cor vermelha que batia até pouco acima do umbigo com uma calça cinza que cós baixo – Que vocês estão na área errada – olhou-os com os olhos semi-cerrados de cima a baixo.

– Escuta, nós fomos atacados pela Erudição assim como vocês! – Tanner tentou apaziguar, ainda demonstrar emoção alguma – Queremos somente encontrar alguns dos nossos que foram para a Amizade.

A mulher riu alto e estridente. Antes que voltasse a falar, um homem que possivelmente já fora da Audácia, a julgar pela tatuagem de cobra que rodeava seu pescoço se atreveu:

– Acho que isso não será possível. O atentado da Jeanine também foi contra nós e se não se juntou a gente naquele dia, não será agora que passará tão fácil.

O homem puxou Tanner pelo braço, puxando a blusa com a outra mão. O mesmo revidou com um chute no joelho do adversário, fazendo-o estalar alto, podendo jurar que tinha deslocado, mesmo que o outro conseguisse se manter de pé, enquanto outros membros direcionavam-se a Luke, Mia, Reyna e Miguel que estavam atrás do rapaz.

A mulher que representara o grupo inicialmente correu em direção a Lucy, a qual se defendeu, desviando-o da mesma, que caíra de quadro e quando estava para se levantar, deu um forte chute em seu queixo, fazendo a mesma esguichar sangue pela boca.

Mia foi atirada contra algumas pedras da estrutura decadente, tendo um corte superficial na região dorsal, entretanto que ardia em contato com o sal do suor. Não chegou a se levantar quando o rival a puxou pela gola e atirou novamente contra os entulhos, agora de frente. Por maior o esforço da jovem em proteger a cabeça com as mãos, foi inevitável um corte leve no supercílio e próximo ao lado da orelha esquerda.

Reyna acabara de nocautear uma jovem, quando foi surpresada com um soco de outro homem que a fez cair. Luke, que acabara derrubar outro brutamontes, conseguiu dar uma rasteira neste antes que pudesse atingir Reyna de novo, contudo, o corpo pesado do homem caiu sobre si, e a jovem finalizou, retirando sua faca do cinto e afundando no peito do homem, soltando Luke.

Miguel conseguira derrubar num soco uma mulher, entretanto, o que mais parecia ser seu namorado zangado, o imobilizou, enquanto a mesmo levantava-se e num pulo conseguiu chutar a face do rapaz, o que fez seu nariz sangrar imediatamente. Quando se preparava para o segundo lute, Lucy agarrou a mulher pelo pescoço e deferiu duas joelhadas seguidas no dorso e virou rapidamente o pescoço desta em sentido horário, desmaiando-a. Aproveitando a chance, Miguel apoiou todo o próprio peso e do adversário nas pernas, para fazer uma alavanca, jogando-o de costas chão, o qual bateu com a cabeça, desacordando.

Com a visão embaçada, com a seguida queda e o raio que sol que se direcionou aos seus olhos, Mia, ao escutar os passos do homem, deu-lhe um forte chute ao cego, que acertou sua área peniana, e com um só impulso, pôs-se de pé, revidando com três golpes seguidos: um soco na mandíbula, um chute na bacia e uma cotovelada na orelha, que o nocauteou.

Outra mulher preparava-se para atingir Lucy pelas costas, quando um próprio Sem-facção, usando um pano amarrado na cabeça, cobrindo os cabelos a partir da testa, deu-lhe uma forte cotovelada na jugular, que a apagou. A jovem olhou assustada para o rapaz até enfim conseguir reconhecê-lo.

– Gabriel?! – sua voz quase não saiu e os olhos umedeceram. O garoto somente assentiu, fazendo sinal para que se escondesse.

Com uma raiva inconstante, Tanner quebrou o pescoço do primeiro concorrente, deslocando o braço do segundo, que desmaiou, e atirando uma mulher fortemente contra uma parede, a qual caiu sobre algumas pedras pontiagudas e barras de ferro, que a possivelmente resultaram sua morte por perfuração; conseguindo somente ser contido por Miguel, antes que pudesse atacar mais alguém, quando um jovem de pano amarrado na cabeça interveio.

– Por favor! Chega desse ataque! – a voz do rapaz era pouco oscilante Lucy se encontrava ao seu lado, exasperada – O que restou de nós – aproximadamente sete ou seis integrantes Sem-facções – vai ajudar vocês a irem até a Amizade, com uma condição. – o mesmo encarou Lucy, que assentiu e continuou.

– Que eles possam ficar com a gente lá! Não precisam saber que são Sem-facção e... eu o conheço – fez sinal indicando Gabriel, ao lado – Vai nos ajudar a chegar lá em segura.

Tanner ainda não estava completamente em si, então Miguel assentiu, mesmo temeroso em se unir quanto ao que restou de um grupo que acabara de atacá-lo. Entretanto, valia a pena dar um voto de confiança a Lucy, que até então não cometeu deslize algum.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi pessoal! Bom, penúltimo capítulo. Sofri muito escrevendo, porque essa é minha primeira fanfic que vou terminar. Tinha prometido que acabaria nas férias, entretanto ocorreu uma viagem no trabalho do meu pai e como ele precisava fazer alguns documentos e o notebook dele não estava funcionando, levou o meu. Espero que tenham gostado, por favor deixem suas opiniões e gostaria muito de saber qual música vocês utilizariam para representar a história num todo. Todas serão listadas nas notas finais do próximo capítulo, que espero sair brevemente! Até e obrigada a todos que chegaram aqui!