Divergente's Refúgio - Interativa escrita por MaryDuda2000


Capítulo 27
O que a noite nos revela


Notas iniciais do capítulo

Oi! Esse capítulo sairia um tanto antes, contudo sofri um susto por parte do meu maninho, perdi o foco e parei de escrever o capítulo. No entanto, cá está e espero que gostem e não se confunda.



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Narrador

Não muito se tempo se passou após a fuga de Katherine, Robert e Alek. Eles simplesmente tinham desaparecido. O plano de Luke em recuperar suas armas, pois não havia algo que detestasse tanto quanto pegarem-nas, foi aceito por Mia que igualmente não estava nada contente com os fatos que tinham ocorrido e certamente estava disposta a resolver seus assuntos pendentes.

Uma dessas vontades, além de acabar com Robert e rasgar com as unhas a pele facial de Katherine, era poder dar fim a Alek, no entanto, tinha em mente que esse era um trabalho para Lucy, aliás, fora o pai dela que Alek matou friamente.

Entretanto, o sol que nem mesmo podia ser visto naquele dia se escondei ainda mais por trás das nebulosas nuvens, as quais escureciam a cada momento, soprando ventos mistos, mornos e constantes. A claridade ainda era notada, contudo não duraria por muito tempo. Em questão de poucas horas ou quem sabe até minutos de uma, a escuridão foi emendada a noite que não tardaria em se estender pelo céu.

O que de fato, aconteceu! Nesta noite, a Estrela D’Alva parecia ter luminosidade semelhante a da Lua, ou quem sabe, até mais, contando que suas distâncias em leste-oeste não permitia de fato uma comparação mais certa.

Como de costume o jantar ocorreu, a luz de uma fogueira de chamas não muito espaçosas, somente o necessário para a noite ao relento ser classificada como outra qualquer, sem o aconchego de colchões macios como os do passado, ou abraços paternos apertados para se sentirem leves por um segundo. O último em questão cabia somente a poucos que o tinham sorte de desenvolver até o momento.

Não ao mesmo tempo o sono os atingiu. Quase que parcelas menores até todos entrarem em sonhos profundos e rigorosos, surpreendentes. Cada um qual seu. Outros, que se mantinham acordados, iniciavam curtas e nem tão proveitosas conversações com qualquer outro acordado, segurando os olhos abertos, esperando uns o sono bater a sua porta, outros pensando em assuntos sentimentais, outros simplesmente observando a estrela que ofuscava o restante dos corpos celestes.

***

– Como? – questionava-se Mia indignada – O que aconteceu?

Aquela que via, simplesmente, não era ela. Se fosse, reconheceria. Seus cabelos não estavam azuis e sim um castanho mel, a pele estava mais corada, o piercing na língua, tatuagens e a franja tinham misteriosamente desaparecido. Vestia camisa preta com alguma frase a qual não entendia, saia quadriculada igualmente preta com finas linhas verdes e azuis, salto plataforma alto. Uma estranha por completo. Se não fosse pelos olhos azuis vibrantes, altura baixa e lábios carnudos, não se reconheceria.

– Algo lhe incomoda, querida? – disse uma voz conhecida, mas que a própria não conseguia distinguir de quem fosse exatamente.

– Quem é? – ela tentou dizer e se virar para tentar encontrar a pessoa em meio à escuridão que a cercava. Era como se estivesse em uma pequena sala, somente com o espelho, e algo a tivesse segurando, manipulando e conseguindo. Nenhum músculo se movia. Nenhum som era emitido por sua boca.

– Onde está aquela menina determinada que conseguiu passar em quarta posição na Audácia? – soou outra voz, igualmente conhecida, porém sem decodificação.

Com força para se libertar, Mia tentava se debater. Era como se uma onda a segurasse. Respirou fundo, olhou fixamente para o espelho e notou então o curioso: realizava neste os movimentos que queria, contudo não de verdade.

Dando asas a sua imaginação como se fosse um simples Teste de Aptidão, caracterizou-se novamente. Os cabelos, a pele, as roupas, apresentavam ambos os lados seu. Um de cada facção que a definia Divergente, talvez?! Isso não era algo definido.

Sentiu seu corpo mais leve e agora solto. Passou a mão pelos cabelos coloridos pela mistura de azul e castanho, as roupas pareciam ser velhas e servido de refeição a centenas de traças de tão furadas que se encontravam, a pele manchada de certa forma. Uma dupla Mia encontrava.

Vinha a sua mente a imagem de seus irmãos mais novos, gêmeos pequeninos, magrinhos e de olhos esmeralda como os da mãe, entretanto isso era a única coisa que se lembrava dela. Já do pai, nada! As imagens se torciam e aos poucos se formavam e sumiam no espelho.

Sua mão direita se ergueu em direção ao espelho. Parecia que algo a empurrada contra si novamente. Um calafrio percorreu toda sua estrutura óssea. Parou! Olhou seu reflexo indefinido e puxou a mão bruscamente, em conjunto a esquerda fazia o caminho contrário indo à direção do espelho.

Repentinamente, este se estilhaçou e com tal impulso, jogando-a para trás, caindo sentada ao bater de costas na escuridão. As moldura aparentemente vazia, saiam aos poucos pequenas aranhas e escorpiões, ágeis e peçonhentos, indo direto em sua direção. A escuridão diminuía internamente, apertando-os, quebrando a moldura âmbar do antigo espelho e ofuscando sua visão. Escutava as pestes zunir ao mesmo tempo em que viam a sua mente as vozes de Jack e Molly, os pais que nem mesmo pôde abraçar antes de sumir para sempre de suas vidas.

***

Ainda parada, abriu os olhos, surpreendendo Luke que ao seu lado estava a encarando, sem apresentar nada mais do que curiosidade em seus olhos. Olhou-se e percebeu continuar a mesma. As vistas ardiam. Os lábios pareciam rachar de secos. Suor percorria seu corpo por inteiro, tão quão os cabelos estavam ensopados.

– Tudo bem? – perguntou Luke baixinho.

– Sim. Eu acho. – respondeu revirando os olhos.

– Que bom! Agora pode me soltar já que o pesadelo passou?!

Só então reparou que sua mão esquerda estava com unhas fincadas na mão de Luke, retirando-a, reparando as marcas, quase em carne viva, úmidas pelo suor.

– Quer um abraço? – sugeriu Luke e para sua surpresa, Mia o aceitou e agarrou-o firmemente.

***

Um vento o atingiu pelas costas, fresco e puro assim como o ar, de encher os pulmões exageradamente somente pelo prazer de sentir sua pureza. Dando mais alguns passos, Dean avistou um rústico parque, no qual poucas crianças de nada mais que seis anos brincavam sorridentes e agitadas.

Ao balanço, reconheceu uma figura delineada pelo vestido branco até o calcanhar com sapatilhas de mesma cor de cabelos soltos ao vento. Raven!, rapidamente deduziu, e não muito longe desta, havia uma esbelta menininha que ao notá-lo, mandou-lhe um sincero beijo.

Dean sorri e acena para Raven que retribui, indo a sua direção. Quando próxima estava, um acidente: Alyssa tinha deixado o balanço para descer no escorrego, alto, no topo de uma casinha, entretanto foi empurrada por outra criança, desequilibrou-se e caiu.

Um choro cortou o ar. Raven virou-se e correu em direção da filha. Ao pegá-la no colo, pode ver em seus lábios um corte, do qual o sangue manchava o vestido de Raven. O próprio em poucos segundos já se sentava ao seu lado, contudo aparentemente, parecia não ser visto.

Não muito passou e sete homens vestido de preto com cintos equipados com munições e armamentos ficou defronte a Raven com Alyssa parando aos poucos de chorar ainda agarrada em si num abraço forte. Os momentos seguintes foram tão rápidos que nem o próprio, talvez nem Raven, conseguiu entender. Um dos homens, baixo, rechonchudo com enorme bigode acastanhado mostrou uma foto de Dean.

Para sua surpresa maior, a resposta de onde estava era negativa. Raven dizia e sinalizava com a cabeça afirmando não saber de seu paradeiro. Uma mágoa o atingiu. Como não poderia vê-lo se estava ao seu lado? Como todos pareciam não enxergá-lo? O pior de tudo era ver os olhos raivosos de Raven ao escutar seu nome. O que teria feito de errado?

Repentinamente, um homem que estava com um pano avermelhado amarrado a gola da camisa de manga comprida, tomou Alyssa dos braços de Raven de tal maneira que se pôde escutar ossos quebrando.

Dean tentou fazer algo, entretanto continuava como inexistente naquele local. Raven tentava lutar, mas a seguraram e os gritos de Alyssa eram desesperados. Cada movimento parecia aumentar a tensão, aos poucos, lágrimas escorriam pela face de ambas desesperadas para se reencontrarem uma a outra.

Um barulho oco e abafado soou nada agradável e instantaneamente, mãe e filha param de grita, de chorar, de respirar. Lágrimas estavam formadas nos olhos de Dean, porém não desciam, estavam inválidas assim como o próprio o tempo todo. Raven caiu lentamente ao encontro do chão. O vestido branco não apresentava nenhum rasgo para evidenciar um possível tiro, todavia aos poucos o sangue rubro estranhamente escuro se espalhava. As chiquinhas de Alyssa já estavam com as pontas sujas do mesmi fluído e fora brutalmente largada pelo homem, sendo ambas abandonadas pelos sete ali.

O restante do parque se mantinha em uma atmosfera alegre com sorrisos de crianças por todos os lados, a minoria de adultos conversava normalmente, simplesmente ninguém mais percebia a presença de Raven e Alyssa. Era como se os três tivessem em uma bolha transparente, por onde podia ver o exterior, porém este não podia vê-los.

O sangue escorria rápido e em grande quantidade se aproximando cada vez mais de Dean, agora o tocando, sujando seus sapatos e mãos ao se agachar e segurar fortemente a mão de Raven e acariciar o rostinho dormente de Alyssa.. Um olhar assustado e suplicante era visualizado nos olhos de Raven como se o encarasse piamente, como se perguntasse “Por quê?”, mas por que o que?

***

Os olhos de Dean demoraram em se abrirem, mesmo já estando acordado novamente a uma questão de bom tempo. Virou-se para o lado e via a Raven com feição de sonhar as mais belas coisas, abraçada fortemente a Alyssa que com uma das mãos próxima a de Dean, como se tivesse afrouxado e escorregado ao cair no sono.

Alyssa por sua vez encontrava-se com os olhos levemente entreabertos como se a pouca luz da Estrela D’Alva agredisse seus olhinhos curtos. Ainda continuava a mesma bebezinha de antes ao sonho. Um sorriso fez-se nos seus lábios ainda sem demonstrar o surgimento cedo de dentes, contudo evidenciando tranquilidade e confiança tão puras que causou um leve arrepio que percorreu todo o corpo de Dean.

Virou-se de lado e acariciou o cabelo de uma de cada vez até enfim respirar fundo e segurar a mão solta e carente de Raven. Fechou os olhos de novo, sem certeza de que retornaria a dormir ou ter mesmo pesadelo. Odeiava a invalide, o poder de nada fazer, era sua pior característica, pior medo, perder novamente os que ama sem poder fazer nada.

***

– Você não devia ter feito isso. Não acredito que fez. – arquejou uma voz masculina.

– Foi preciso. – afirmou uma voz feminina.

Violet caminhou até a porta que por sua vez estava trancada por dentro. Reconheceu imediatamente as duas vozes que se pronunciavam e imaginou que deveriam ser os únicos ali. Tobias e Evelyn! Mãe e irmão juntos. Como seria possível? Não sabia como ambos poderiam se encontrar e começar uma discussão excluindo-a totalmente do que ocorria?

A própria se assustou ao perceber que a porta se abrira diante de si e nem mesmo teve tempo para se esconder. Uma garota que não conhecia saira de lá. Reconhecia seus traços, e, ao percorrer os olhos em seu corpo, da cabeça aos pés, notou então diversas cicatrizes roxas em seus braços desnudos de manga rasgada da camisa, no tornozelo esquerdo onde a calça estava um tanto mais curta, pela qual mancava um tanto.

A garota pouco mais alta que Violet após alguns passou, virou-se a encará-la. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção. Nem sequer parecia ser humana: seus olhos eram mortos e a ausência de esclerótica causava certo horror; sua pele tinha um tom meio cinza de tão pálida; seus lábios eram secos e cortados em toda a extensão, brancos e esverdeados; os cabelos eram curtos e desproporcionais. Em seguida, tornou o caminho se afastando da jovem.

Como se tivesse participado de uma maratona ou estivesse tendo um ataque asmático, começou a ofegar descontroladamente, caindo ajoelhada. Todo o percurso para enfim chegar aos pulmões ardia como se tivesse inalado ácido. A visão ficou turva e embaçada. Sentiu então alguém pegando-a no colo.

Soltou um suspiro de alívio com os olhos esbranquiçados, entretanto escutando a conversa do que parecia ser a garota assustadora, as da mãe e do irmão. Pareciam conversar tranquilamente, enquanto Violet não conseguia entender uma palavra que proferiam.

Sentiu tendo o corpo disposto em uma superfície fria e intrépida que lhe atingia a pele com alguns arranhões desconfortáveis quando tentava se mexer, imaginando ser mármore. Cambalearam os olhos vendo que agora se encontrava numa sala de paredes escuras com cortinas nas janelas.

– O que fará com ela? – disse a menina sombria.

– Eu sei. Ela será nosso teste. – anunciou outra voz no recinto. A visão de Violet ainda estava turva, contudo viu outra pessoa se aproximando. De longe não podia constatar ou supor que pudesse ser. A voz era irreconhecível e a estrutura corporal também.

Se aproximou e a enquanto a figura ficou ao seu lado, viu ao fundo a imagem do irmão, mãe e a garota sombria. A “coisa” corria ao seu lado com os dentes tão brancos que era possível cegar alguém. Seu rosto era uma difusão de imagens, fazendo-a lembrar cada um do acampamento: os cílios de Raven, os olhos de Sarah, os lábios de Tyler, as orelhas de Reyna, o queixo de Luke, a maçado rosto de Miguel, o nariz de Lena, e a infinidade de outros traços que a lembravam outros que conhecera anteriormente como Isabela, Emily e Alek.

Sentiu enfim como se tivesse sido atingido por um tijolo na cabeça, uma pontada afiada que a fez fungar e ranger os dentes. A figura distorceu-se novamente e quando estava prestes a se tornar um rosto, com traços se revelando aos poucos, familiares, no entanto ainda não completamente nítidos para ser reconhecidos. Então, ela caiu.

Violet sentiu um vento grandioso que atingia suas costas enquanto cortava o ar numa queda. Com coragem não reconhecida, girou e viu cada vez mais perto o chão avermelhado como se queimasse em brasas. Estava congelada até se chocar com ele. Calor de fato não sentiu. Era como se seu coração e cérebro tivessem congelado, enquanto sua pele ardia levemente e se degradava com o fogo que se alastrava.

***

Ao contrário dos outros, Violet não abria os olhos. Exatamente o oposto! Forçava as pálpebras formando em seu rosto careta semelhante a nojo. As mãos cerradas em punhos fortes e avermelhadas de tanto serem esfregados contra o chão arenoso.

Sarah estava ao seu lado, notando a amiga sem ao menos conseguir fazer algo. Chamava baixo seu nome próximo ao ouvido, contudo aparentemente ela parecia não escutar. Pôs-se de pé e foi até Tobias que estava até então dormindo, despertando num susto inestimável.

Piamente, andou até onde Violet estava com repetidos movimentos sem emitir som ou nada distinto ao que Sarah tinha visto. Tobias colocou as mãos nos ombros da irmã, abraçando-a, tentando ao menos amenizar os “sintomas” até que pudesse acordar.

Os minutos que se sucederam não apresentaram resultado. Caleb que fazia papel noturno, pois em momento algum fechou os olhos se aproximou vagarosamente, ainda com o colar de Hiendi no bolso, e um brilho refletido na pedra passou pelo rosto de Violet enquanto se aproximava.

Com uma forte e desesperada arfada, Violet abriu os olhos sentando desesperadamente, olhando a sua volta para ter certeza do que acontecera e se por ventura ainda se encontrava com os outros. A visão era a mesma que se encontrava antes de dormir.

– O que aconteceu? – perguntou Tobias.

– Um pesadelo? – sugeriu Caleb sentado ao perceber os cabelos de Violet colados ao rosto pelo suor, mesmo sua pele estando fria e o rosto sem cor corada como de costume.

– Como foi? – colocou Sarah a mão no ombro da amiga.

– Sim... Quero dizer, não. Não lembro. – respondeu Violet com tom que expressava surpresa de si mesma e sinceridade, quem sabe até, alívio.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Estranho não? Ficou confuso? Por favor, respondam-me.
Senti falta de alguns leitores nos últimos capítulos. Espero que não tenham abandonado a história.
Bem, é isso. Até!