Quem foi seu primeiro amor?

Eh? Estou confusa.

Ele perguntou esse tiop de coisa do nada e de um jeito tão sério que é praticamente impossível ignorar.

B-Bem... Boa hora pra começar a gagejar. É...um pouco complicado...mas... Não sei bem se eu conto ou não, já fazem anos que eu vi aquele garoto e contar isso para Ame é o que me deixa menos confortável no momento.

Se não quiser falar tudo bem eu vou entender não---

Não! Interrompo deixando a mim mesma surpresa, tremendo um pouco eu respiro fundo e começo a botar ra fora toda a história.

Flashback:

Já fazem dez anos que isso aconteceu. Eu morava na capital junto da minha mãe e meu pai vivia no palácio trabalhando para a coroa, quando o víamos era por alguma ferida ou enfermidade que ele tivesse arrumado.

Em um dos dias em que eu resolvi deixar a curiosidade tomar conta de mim, fui até os portões de ferro nos fundos do palácio e fiquei observando o movimento que se passava lá dentro. Estavam todos agitados por algum motivo e gritavam o nome de alguém enquanto uma equipe de médicos era levada pra dentro.

Mas o que está acontecendo aqui? Me perguntei tentando entrar escondida atrás de uma das carroças.

O que pensa que faz aqui? Uma voz grossa e até amedrontadora pra uma criança de oito anos começou a gritar comigo. Era um homem alto e com uma armadura, talvez fosse um soldado da guarda. Fora daqui sua rata! Ele me agarrou pela parte detrás da camiseta e me jogou para fora em uma outra saída.

Acabei me melando toda de lama, e ficando com raiva daquele cara. Naquela época ainda não tinha nenhum tipo de dominação, se não fosse por isso eu com certeza teria dado uns tabefes nele.

Um barulho me chamou a atenção vindo de bem perto na verdade. Me levantei e virei para trás quando fui atropelada por um vulto de alguém que passou correndo e me jogou de novo na lama.

Ei toma cuidado...! Gritei pro garoto que também caiu na lama bem do meu lado, aparentemente ele tinha se molhado ou algo do tipo porque a cara dele estava encharcada, mas é claro que sem pensar direito eu já começei a pensar em tudo que poderia ter acontecido. Você está chorando? Perguntei, ele virou a cara e começou a esfregar as mangas do casaco dele no rosto todo. Ei! Me responde!

Não! Ele gritou comigo. De primeira eu não tinha visto, mas assim que ele me encarou com raiva e com os olhos vermelhos, que eu entendi que foi porque ele estava chorando, eu vi que ele tinha o cabelo meio prateado e orelhas de raposa.

Não sei se foi a inocência de como eu era na época, mas assim que eu me levantei começei a falar em um tom diferente com ele enquanto o garoto ficava lá jogado na lama.

Você é muito mal educado mesmo! Sabia que não é certo pra um homem gritar com uma dama? Ele deve ter pensado que eu era uma louca. Além do mais... Estendi a mão na frente dele oferecendo ajuda para levantar. Não é errado admitir que está chorando, mesmo que um monte de gente diga que garotos não devem chorar é normal se sentir triste.

O garoto começou a me encarar surpreso, demorou um pouco, mas ele aceitou minha ajuda e se levantou, só que estava todo sujo.

Acho melhor você se limpar antes que sua mãe te ache... Disse olhando para as roupas dele que pareciam ser bem caras. Praticamente ele me ignorou, mas não rejeitou quando eu o chamei para se arrumar lá em casa.

Minha mãe quase teve um surto quando viu o garoto, mas não disse nada que não precisasse saber na época. Ela serviu um chá e arrumou umas roupas para ele enquanto a suas secavam depois de limpas.

Você não vai dizer nada não é?! Indaguei encarando o garoto, já fazia meia hora que eu estava ali tentando fazê-lo dizer alguma coisa, mas não adiantou muito. Ah! Não ligo! Fique ai com seu silêncio---

Meriu... Ele murmurou alguma coisa assim

O que? Pensei por alguns segundos. Ah! Esse é o seu nome não é? Um pouco estranho, mas parece nome de alguém da realeza. Levou algumas horas, mas ele começou a se abrir um pouco, disse que morava no palácio e que seu pai era alguém importante pro reino. A única coisa que ele não me disse foi o que o deixou daquele jeito quando nos encontramos.

Foram dois anos nos encontrando nos fundos do palácio e conhecendo todo tipo de coisa, inclusive eu até ensinei a ele como o mercado funcionava depois que aprendi com a minha mãe e começei a ajudá-la na nossa pequena barraca de frutas frescas.

Conforme o tempo foi passando, eu me sentia bem ao lado dele, e nós dois mudamos nosso comportamento de um para com o outro enquanto nos conhecíamos. Foi pouco antes de completar dois anos do dia da lama como apelidamos que eu começei a pensar nele de outra forma.

Minha mãe disse que um dia ela me diria o que era aquele jeito que eu pensava no Meriu, mas infelizmente nunca tive chance de perguntar, ou talvez só tenha esquecido disso.

Mas como nem sempre as coisas são como a gente quer...

Quando você vai se mudar? Ele me perguntou logo depois que eu anunciei que não viveria mais na capital.

Em dois meses a casa já vai estar pronta, só vai levar alguns dias depois disso até que a gente mude. Disse de cabeça baixa, eu não entendi bem, mas começei a chorar do nada, acho que foi uma revanche por tê-lo visto chorando.

Então...que tal a gente fingir que isso não vai acontecer até o dia em que você for embora? Sugeriu. Eu limpei a trilha que umas duas ou três lágrimas deixaram com a manga da blusa e assenti com a cabeça.

Tá...

Mesmo que eu não quisesse pensar na mudança, aquilo não saída da minha cabeça nem por um decreto, até o dia em que eu realmente estava pra mudar, saí escondida e fui encontrar com Meriu nos fundos do palácio.

Kiki... Ele me chamava assim porque achava Yuki um nome estranho pra uma garota. Você vai voltar pra me ver não é?

Mas é claro que vou! Não posso deixar que você acabe em uma poça de lama como aquela de novo. Sorri.

Então é uma promessa não é? Ele ficou sério do nada.

Sim. Estendi minha mão para a dele e fizemos uma promessa de dedinhos. Saí correndo logo dalí, mas não deu nem 40 metros de distância entre nós e ele me gritou.

Kiki! Parei de correr e me virei pra conseguir ver o rosto um pouco vermelho dele.

O que? Gritei de volta.

Eu gosto muito de você!!!! Me lembro de sentir o rubor começar a se formar no meu rosto, mas tomei coragem e com um sorriso um pouco tímido eu gritei de volta.

Eu também!!!

Você não me entendeu!!! Ele gritou de volta, não me pergunte, mas não entendo ainda porque ficamos só gritando nem chegamos perto um do outro.

Eh?! Realmente fiquei confusa depois disso, até aquele dia gostar de alguém era o mesmo que gostar de uma comida ou sei lá o que.

Eu amo você!!! Quando você voltar...eu quero que se case comigo!!! Na hora me foi um choque um pouco grande, mas não sei o que me deu na cabeça que eu simplesmente gritei de novo.

Siiiim!!!

Presente:

É claro que na época eu não entendia bem o que ele quis me dizer, mas ele sendo mais velho que eu, devia saber o significado de um casamento e do que é amar alguém de verdade. Fiz uma pausa enquanto relembrava desses momentos com um sorriso no rosto. Infelizmente eu nunca voltei a vê-lo, nem descobri se o que eu sentia era mesmo algo que respondesse aos sentimentos dele de uma forma apropriada.

Voltei o olhar para Ame e ele parecia confuso e até com raiva enquanto encarava o chão.

Ame? Chamei, mas ele não se mecheu. Ame! Quase gritei até que ele saíu de seu transe.

Uh?! Ah...Desculpe eu só... A campainha tocou.

Deve ser o Ushio. Me levantei e fui direto atender a porta, Ushio já tinha preparado uma embarcação como aquela que eu usei no dia em que visitei o castelo, só que era duas vezes maior.

Arrumamos tudo dentro da embarcaçãoe e então partimos, o que realmente me deixou intrigada é que Ame ficou sério a maior parte do tempo e também houveram outros de seus momentos em transe.

O que será que se passa na cabeça dele agora? Me perguntei. Talvez tivesse sido melhor se eu não tivesse contado issopra ele... Caí no sono.

.........................

Ame

Faz alguns minutos que Yuki caiu no sono enquanto olhava o sol sumir no horizonte.

Alteza... Ushio me chamou.

Sim?

Só mais algumas horas até que cheguemos na capital meu senhor. Ele anuncia.

Ok, obrigado por avisar. Ele se curva e em seguida se retira para outra cabine.

Continuo olhando para a lua subindo no céu até que alcance o nível das montanhas. Olho para trás e encontro Yuki deitada em uma das duas camas que existem nessa cabine. Vou até ela e me agacho perto dela.

Será que você é...aquela garota que ele tanto falou ou seria...? Me perguntei enquanto aproximo minha mão de seu rosto, no último segundo eu a recolho para perto de mim novamente me afastando e em seguida saíndo da cabine para tomar um pouco de ar.