POV. Leo Fitz

– Seria possível colocar a tetrodotoxina b em uma pistola, de algum jeito? - Perguntei, olhando para Jemma. Estávamos tentando desenvolver algumas novas toxinas e aperfeiçoar outras para que os agentes de campo pudessem ter uma ajudinha nas lutas.

Tique na mão. Quase derrubo um tubo de ensaio.

– Hum, não sei, Fitz. Tem que ter. Isso seria super útil pra nós. Conseguir diminuir os batimentos cardíacos de uma pessoa para um por minuto seria...

– ...Útil tanto ofensivamente quando defensivamente, estou ciente disso. - Completei a frase por ela. A mania que temos de completar a frase um do outro tem se tornado bastante evidente para mim esses dias.

Tique no olho. Pisco rapidamente por alguns segundos.

– Nós podíamos fazer o que fizemos com a... A... - Comecei a mexer a mão, nervosamente. Eu tenho esquecido algumas palavras fáceis ultimamente, além de trocar alguns termos simples por outros. É o que chamam de afasia. Eu estou tendo crises da mesma - Me ajude aqui, qual é o nome? A pistola, a...

– A Boa-Noite? - Chutou Simmons.

– Exato! Ela mesma. Nós não a equipamos com tetrodotoxinas? Podemos fazer de novo.

– Claro, claro. Não vai ser difícil, tenho certeza. - Disse Jemma, se abaixando por sobre o microscópio.

Tique na perna. Dou um pequeno impulso numa cadeira sem querer.

Eu olhei bem para Jemma. Eu sabia o que ela estava planejando fazer quando saísse daqui, e essa sua mania estava me preocupando. Podia ser perigoso para ela, afinal, eles são perigosos. Eu não gostava dela naquele meio.

– Ah, Jemma... Você está planejando descer e ver os prisoneiros, não está? - Perguntei, cauteloso. Eu já havia percebido como ela ficava... Como ela ficava... Qual o nome? Ah, sim, apreensiva. Como ela ficava apreensiva quando tocávamos nesse assunto. Simmons suspirou.

Tique na sobrancelha. Ela se ergue rapidamente.

– Sim, Fitz, estou. - Eu a espero falar mais alguma coisa, mas ela não abre mais a boca. Decidi bater na mesma tecla.

– Jemma, eles são perigosos. Você não devia se meter nesse meio. O que você está fazendo lá, afinal? Eles são os caras maus.

– Fitz, eu sei o que estou fazendo. Não se preocupe. - Disse ela, com um tom de quem encerrava o assunto.

Claro que continuei preocupado.

POV. Wanda Maximoff

Eu lanço um raio escarlate contra Ultron e ele é lançado contra a parede. Olho para o lado e vejo o Capitão América erguendo a Viúva Negra, me fitando com uma gratidão no olhar. Vejo que o Gavião Arqueiro está caído e o ajudo a se levantar.

– Quebrou a asa de novo, passarinho? - Provoco, ofegando. Ele me fita, um sorriso maroto brincando nos lábios.

– Pelo menos pude voar um pouco. - Eu deixo escapar um sorriso brincalhão e o coloco num canto seguro da parede. Olho para Fitz, o agente de quem Simmons tanto falava, e peço:

– Dê um jeito nele, por favor. Só o que me faltava agora é ver esse homem morrer. - Quando me viro, recebo um murro de Ultron bem no queixo. Eu bato na parede oposta e sinto que desloquei algum osso. Assim que me levanto, vejo que Simmons está sendo encurralada pelo robô. Ele iria matá-la.

– Simmons! - Grito. Tento me mover, mas sinto uma dor tão forte no "x" do peito que não consigo mexer um músculo. Ao meu lado, sinto Pietro correr para salvar a vida de Jemma, me deixando um pouco mais calma.

Porém, quando ele consegue derrubar Ultron e pegar Simmons nos braços, o robô se ergue rapidamente e pega Pietro pelo pescoço, erguendo-o; meu irmão solta Jemma, que sofre o mesmo que ele pela mão de Ultron.

– Idiotas. - Diz o humanoide, as mãos se acendendo com raios. O último vislumbre que tive de Simmons e Pietro antes que eles fossem incinerados, foi meu irmão olhando para mim e soltando um sorrisinho meigo. Então ele desaparece.

Abro os olhos. Estou suando, estou chorando também. Desesperada, procuro por Pietro ao meu lado, e o encontro cochilando apoiado na parede. Um alívio grande como nunca senti preenche meu peito, enquanto agradeço por tudo não ter passado de um sonho. Tiro a minha jaqueta vermelha (n/a: ALÔ EMMA) e enxugo meu rosto com ela, enquanto reflito.

Eu não tinha achado um jeito de me livrar do feitiço ainda, mas eu queria - e é muito estranho pensar isso - mudar de lado agora, já que Simmons, o Capitão América e até o Gavião Arqueiro, de certa forma, me mostraram a diferença entre os dois lados. Eu pude, pela primeira vez, pesar o bem e o mal. Talvez seja a hora de pedir ajuda. Talvez seja hora de perceber que, ao menos uma vez, não somos só eu e Pietro juntos nessa história.

Num timing perfeito, a porta se abre e Simmons entra com comida e água para nós. Coloco a jaqueta de novo rapidamente.

– Boa tarde! Trouxe o de sempre. - Ela se sentou a nossa frente e colocou a cesta entre nós. Eu engatinhei até Pietro e o chacoalhei, fazendo o mesmo com Ward depois. Ambos abriram os olhos. Os olhos quase se fechando e mãos indo até os queixos para limparem o fio de baba que caía, eles se arrastaram até a comida. Simmons logo desatou a falar sobre as toxinas e substâncias que estava desenvolvendo com Fitz e eu, como sempre, fingi estar entendendo tudo. Ela estava colocando o sanduíche na minha boca quando solta a única coisa interessante na conversa:

– ...E, ah! Eu esqueci de contar! Vocês não têm ideia do que aconteceu. A Viúva Negra tá grávida do Capitão América!

– O QUE?! - Soltei de boca cheia, enquanto Pietro cuspia o pão que comia, tamanho o susto, e Ward começava a tossir, engasgando.

– É, eu sei, não é? - Simmons concordou, indo até Ward para ajudá-lo a desengasgar - Ninguém esperava isso. Foi um choque para todos nós. - Grant finalmente tossiu o pedaço de maçã que o entalava e Simmons voltou ao lugar que estava para me dar de comer.

Não dava pra acreditar nisso. Eu riria se não estivesse tão chocada, pois seria uma situação extremamente cômica se não fosse tão surpreendente. Meu Deus, esses Vingadores são os mais loucos possíveis.

Eu observei Simmons rir de nossas reações. Ela é responsável por eu estar assim, querendo mudar. Ela merece saber o que está acontecendo.

E eu vou me certificar disso.

POV. Natasha Romanoff

Abro a porta de meu quarto e fico feliz em ver minha cama. Estava exausta com tudo o que aconteceu.

Vi meu celular em cima da bancada e automaticamente o peguei; notei que tinha uma mensagem, era de Steve.

"Tive que sair para resolver umas coisas, logo volto. Preciso falar com você depois".

Visto que a mensagem tinha chegado há algum tempo, presumi que logo, logo ele estará de volta. Decidi tomar um banho para despertar.

Quando a água quente atingiu meu rosto me senti relaxada como há muito não me sentia. Incrível o que uma boa ducha não pode fazer com você. Num gesto automático, levei a mão à barriga.

Menino ou menina? Bem, seria legal ter uma garota. Quer dizer, vê-la passar por coisas que qualquer garota passa, como a escolha de roupas, a primeira menstruação, o primeiro amor. Claro que vão ser coisas completamente diferentes do que eu passei quando jovem, já que ela viveria uma infância normal. Porque sim, eu iria querer que ela vivesse como qualquer garota. De qualquer forma, eu gostaria de estar lá para ajudá-la a passar por essas coisas, já que eu nunca tive alguém para fazer isso por mim.

Mas se bem que ter um garoto também não ia ser algo tão ruim. Meus principais interesses são mais masculinos que femininos, admito. Seria bom ter alguém com quem dividir, especialmente esse alguém sendo, sabe, meu filho. Ia ser divertido falar com ele sobre as séries e filmes que gostamos, além de poder jogar Xbox - porque acho melhor que Playstation - com ele os melhores jogos de tiro, pensando em como eu vivi uma realidade próxima àquela. Eu gostaria.

Deus. O que eu estou fazendo? Eu já estou pensando no sexo da criança! Céus! Eu nunca pensaria nisso em minha vida. Eu já imaginei como seria ter filhos, - toda garota pensa nisso uma vez, qual é - mas não dei muita importância. Eu não ligava, não dava a mínima. Agora estou fazendo planos para uma criança ainda não nascida. Jesus. Isso está me afetando, afetando mais do que pensei afetar. Eu só não sei ainda se isso é uma coisa boa ou má. Eu só sei que essa criança ainda vai me dar muita dor de cabeça.

Saio do banho e troco de roupa já no banheiro. Uso a toalha para enxugar o cabelo e, enquanto o faço, abro a porta para voltar para o quarto. Assim que guardo a toalha, a porta se abre e Steve entra com uma sacola na mão.

– Hey. - Cumprimento - Onde estava? O que quer falar comigo?

– Ah, é um assunto sobre Ultron do qual precisamos tratar. E eu saí porque... Porque eu tinha pensado numa coisa, sabe. Parando agora, não tenho certeza se é foi uma boa ideia, mas... - Ele abre a sacola - Bem, veja o que acha.

De lá, ele tira um par de sapatinhos rosa minúsculos, com um lacinho branco na ponta. Eram lindos. Eu me comovi, não irei mentir. Peguei os sapatinhos e coloquei em minha mão, admirando-os. Steve era um gênio, um fofo. O que eu senti ao olhar aquele par de sapatos foi algo muito próximo da ternura.

Então me ocorreu uma coisa.

– Sabe, Steve... Eu estava pensando. Se fosse uma menina, bem que podíamos nomeá-la de Peggy. O que acha? - Perguntei, meio cautelosa. Quando olhei para Steve, vi que ele estava abobado, os olhos marejados, a boca entreaberta. Então limpa a garganta e abre um sorriso emocionado:

– Parece perfeito.

POV. Wanda Maximoff

Eu tinha que contar à Simmons. Já decidi isso.

– Ah... Jemma? - Pergunto enquanto ela guarda as coisas que usamos na cesta.

– Sim, Wanda? - Ela diz, sem erguer os olhos.

– Eu... Eu preciso te contar uma coisa. Uma coisa... Séria. - Sinto o olhar abismado de Pietro sobre mim, mas finjo que não percebo. Simmons me fita.

– O que foi que aconteceu?

– Então... Não sei se você percebeu, mas todas as vezes que você vem aqui eu estou com a jaqueta vermelha. Notou? - Ela assentiu - É que eu a coloco de um jeito que você não veja o que eu tenho aqui. É só que... Eu não queria te preocupar. Mas acho que não posso mais esconder isso. - Eu ajeito a jaqueta e mostro o "x". Simmons olha interessada - Esse é um feitiço que eu fiz há algum tempo, antes de ser presa pelos Vingadores. Esse "x", ele... Ele me matará se eu não matar todos os Vingadores. - Simmons soltou o prato de plástico que segurava, abismada - Isso não fazia diferença pra mim a princípio, mas... Agora você me mostrou um lado diferente do que eu costumava ver. E todas as vezes que eu penso em mudar para esse lado, o "x" faz questão de me lembrar de que eu não posso, pois dá pontadas fortes em mim. Só que agora eu sei em que lado quero lutar, e isso pode me matar. Por isso, Simmons, eu tô te pedindo ajuda. Você sabe de alguma coisa que pode me salvar?

Ela passa um tempo me encarando, e eu me arrependi de tê-la contado. Seus olhos estavam cheio de lágrimas, ela não parava de me olhar. Então ela limpa a garganta e diz:

– Tem um jeito... Mas não é bom seguirmos esse jeito, não é bom tentarmos, é complicado e arriscado... Muito arriscado...

– Fala logo, Simmons. - Disse Pietro. Ela suspira.

– Tem um homem, eu li sobre ele. Eu acho que ele pode nos ajudar.

– Quem? - Pergunto. Ela me fita, pesarosa.

– Stephen Strange.