Acordei feliz, mas não podia dizer o mesmo de Zoe. Desci as escadas e a vi vasculhando as gavetas.

— O que aconteceu? - Perguntei com a voz sonolenta.

— Minha cabeça está latejando e eu não consigo me concentrar para fazer a tarefa. Estou procurando um remédio.

Eu já senti isso uma vez. Sorri.

— Pode tirando esse sorriso bobo da cara e me ajudar a procurar um remédio. - Ela disse resmungando.

— Eu acho que alguém vai deixar de ser um filhote. - Falei bagunçando seus cabelos.

— Sério?

— Sim, senhora.

Ela correu pro quarto. Abri a porta devagar e sentei na cama do lado dela.

— Correr para o quarto não resolve os problemas.

— Eu vou ter que ir pra floresta, né? Já percebi que você não tem um lugar para se esconder. - Ela olhava para o nada enquanto falava.

— É não temos, até tem uma na cidade mas existem pessoas que a conhecem e vigiam na lua cheia.

— Eu não sei se consigo. - Seus olhos já estavam marejados de lágrimas.

— Ei! Você é uma garota forte, e também não pode andar pela cidade já rolam boatos e se dois lobos aparecerem em plena lua cheia?

— Eu vou tentar, mas não sei se consigo.

— Você consegue. Mas agora temos que ir a escola.

***

Já eram seis horas da noite e nunca tinha à visto tão imperativa quanto hoje. Seus pés balançavam enquanto estava sentada na cama e suas mãos batucavam o ritmo de alguma música. Seu olhar ia da janela para porta. O que ela estava esperando? Acho que nem ela sabia.

— Pronta para uma festa do pijama na casa da Shan? - Essa era a desculpa para podermos sair.

— Não.

— Certo, então vamos.

Fomos a casa da Shannon, ela é claro já sabia de tudo. Mas tinha uma novidade o Tom estava lá.

— Oi. - Shan atendeu a porta.

Nós entramos e deixamos nossas mochilas em cima de sua cama, mas sabia que não ia usá-la.

— As oito horas mesmo.

— Sim. - Confirmei.

Conversamos, rimos e contamos de novo nossas histórias. Lembramos de quando o Tom gostava da Maddy. Do namoro da Shan. E até mesmos de todos os problemas que nos metemos com Jana.

Mas Zoe nem ouvia olhava para o nada como na primeira semana que a conheci.

— Nada de ruim vai acontecer.

— Minha mãe também falou isso no dia em que viemos pra cá.

Quando ia falar algo Tom avisou que era oito horas Shan gritou para os pais que estavam na sala que todos iam dormir. Depois de apagar as luzes eu e Zoe pulamos a janela, que pelo o que percebi já tinha feito isso várias vezes.

Quanto mais perto chegávamos da floresta, mais rápido seu coração batia.

Parei de correr numa espécie de clareira no meio da floresta. Que por precaução era bem longe de onde a mãe de Zoe tinha morrido.

— Pronta? - Perguntei dando minha mão pra ela segurar.

— Mesmo não estando vai acontecer, né? - Ela pegou minha mão.

Senti os cheiros ficando mais fortes e os barulhos mais altos. Pisquei. Quando abri os olhos novamente só via uma loba rodeando e cheirando tudo em volta.