Loving In The Dead escrita por Miss Jackson


Capítulo 12
Calendário sem dias




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Depois do banho eu saio, me sentindo cheirosa e limpa pela primeira vez em semanas, e encontro-me com Rick e Carl na sala do chalé. Foi a vez de Carl tomar banho. Eu digo para Rick que estou morrendo de sono e que não ficarei para conhecer pessoas secundárias do vilarejo. Peço para que ele diga “boa noite” ao Carl por mim e me acorde quando for a hora do café da manhã, às oito. Então me arrasto para a parte de cima do chalé e me deito na grande cama que ocupa o cômodo todo e deixa apenas um pequeno espaço para um guarda-roupa com portas com espelhos. Me jogo na cama, ignorando o fato de que em pouco tempo dois homens dormiriam ao meu lado. Adormeço em questão de minutos, ou até mesmo em segundos.

Quando acordo estou sozinha naquela cama enorme. Levanto-me em um salto, assustada com a solidão, mas ouço a risada de Carl vinda lá de baixo, o que me faz deitar novamente, aliviada. Eles estão bem. Carl está bem. Então eu também estou bem.

Apesar de estar bem por causa deles, meu corpo todo dói, e sei que ainda estou muito cansada, muito mesmo.

– Bom dia, bom dia! – exclama Carl, e ele e Rick entram no quarto cantando “Happy birthday to you!”. – Feliz aniversário, Linddie!

– Eu... O quê? – pergunto.

– Seus quinze anos – ri Rick. – Hoje é treze de outubro, Lindsey, seu aniversário.

– Como vocês...?

– Temos um celular, encontramos em um armário ali embaixo. Está funcionando direitinho – explica Carl, puxando-me. – Quem diria, Linddie, quinze anos, hein?

– Isso indica que há dois meses atrás o Carl também fez quinze anos – diz Rick, animado.

– Uau, não posso acreditar – comento. – A vida no apocalipse é mesmo um calendário sem dias.

O despertador do celular no bolso de Rick nos indica que são oito horas e que é hora do café da manhã. Abro o guarda-roupa e encontro um vestido no estilo que todas as mulheres usam por ali. Dou de ombros. Rick e Carl se retiram para que eu possa trocar de roupa. É estranho ver meu corpo no espelho, mas eu sorrio. É, Lindsey.

O vestido é simples, cor bege com estampa de florzinhas. É bem vintage, se querem saber. Calço uma sapatilha e coloco uma bandana bege nos cabelos. Me sinto normal novamente. Saio saltitando para a parte de baixo do chalé, e Rick e Carl me encaram com aprovação.

– Você fica linda assim, tão natural – comenta Carl, e cora em seguida. Eu rio e agradeço. Olho para a minha espada.

– Não vamos precisar das nossas armas – diz Rick antes que eu possa pegar minha espada. – Esse lugar é seguro.

E nós saímos para a rua. Aos poucos todos os habitantes do vilarejo se dirigem à um único chalé, que percebo ser o refeitório. Quando entramos lá eu sou surpreendida com tamanha organização em um lugar tão pequeno – já que Rick e Carl jantaram aqui na noite anterior. A comida é produzida nos chalés das cozinheiras e trazida para o refeitório, onde era repleto de mesas e cadeiras, desde a parte de baixo até a de cima. Eu, Rick e Carl nos sentamos em um canto, observando todos os habitantes conversarem animadamente. Quando Walter entra no chalé ele se senta primeiramente na nossa mesa.

– O que achou, Lindsey? – pergunta ele, sorridente.

– Perfeito – respondo. – Estou surpresa com tanta organização, não só do refeitório, mas do vilarejo inteiro, e da harmonia em que vocês vivem.

Comemos e Walter propõe:

– Podemos conseguir uma perna mecânica para você.

Sinto meu rosto se iluminar, Carl e Rick sorriem.

– Quando? – pergunto.

– Ainda hoje. Uma perna mecânica é moleza para ele. Rick e Carl falaram muito bem de você ontem no jantar, disseram que você tem uma agilidade invejável e que você é essencial para qualquer grupo, e eu acredito, você realmente tem cara de ser durona. Seria essencial para nós alguém com tamanha agilidade como você, Lindsey – diz ele, agora olhando para um homem perto de nós. – Você quer?

Olho para Carl e Rick, e eles concordam com a cabeça.

– Claro – respondo, e ele chama o homem. É baixinho e gordinho, tem a pele morena, cabelos grisalhos e olhos cor-de-mel.

– Esse é Martin – diz Walter. – Nosso curandeiro. Martin...

– Lindsey Halter – apresento.

– Por favor, me siga, senhorita Halter – sorri Martin, eu me levanto com a ajuda de Martin, lanço um último olhar para meus amigos e sigo o curandeiro. – Acho que Walter deve ter dito para você que alguém como Rick e Carl descreveram, alguém como você, é essencial para um grupo de refugiados. Resolvemos te presentear com uma perna mecânica, assim você nos ajuda.

– É, ele disse – concordo. Martin me leva até o seu chalé e me deita em uma maca, começando a examinar meu cotoco. Me sinto envergonhada, não sei o porquê, mas sinto.

– Vai ser moleza pra mim – garante, e começa a arrumar umas ferramentas. – Até o próximo bater dos sinos, sem ser o que vão tocar agora, sua perna estará pronta e firme. Vai ser como se você nunca tivesse perdido uma perna.

– Certo.

O sino bate, Martin acende um lampião e fecha todo o seu chalé, começa a arrumar suas ferramentas e ver o que ele vai ter que juntar para construir uma perna mecânica. Fecho os olhos e começo a pensar em alguns momentos que passei na Prisão.

– Muito bem, Judith – sussurrei, naquele dia eu dera uma folga para Beth passar com Zack e eu cuidaria da Judith. – Isso...

Judith adormecera naquela tarde, o que me deixava um pouco livre, mas ela permaneceria no meu colo. Eu e a balançava quando resolvi ver o que Carl estava fazendo.

– Violet está doente, Carl – disse eu para ele quando o encontro vigiando Violet, sua porca. – Ela morrerá em breve.

Ele se virou para mim, e eu lembro de ter ficado feliz ao ver aqueles olhos me encarando, os olhos mais bonitos que eu já vira.

– É, eu sei – disse ele, suspirando e se aproximando de mim. – Como está Judith?

– Dormindo – sorri. Carl tira seu chapéu e o ajeita na minha cabeça.

– Fica melhor em você do que na Beth – riu.

– Coitada da Beth, Carl!

– Ué, só estou dizendo a verdade – disse ele. – Lindsey, se um dia tudo isso acabar... O que você vai fazer da vida?

Dei de ombros.

– Não sei, eu não tenho mais ninguém para morar, talvez eu virasse uma sem-teto.

– Oh, não. Meu pai com certeza te levaria para morar conosco.

– Carl, eu não sou da família – suspirei. – Entenda isso.

– Não! – protestou. – Você é parte da família, sim! É minha amiga, nossa amiga, parte da família.

– Não, Carl – insisti. – Você levaria Greg para morar com vocês quando tudo acabasse? Ele é como eu.

– Não, porque ele não é mais tão meu amigo, mas você é.

– Errado.

– Lindsey...

– Carl, eu me viraria, não se preocupe comigo. E, olhe – disse, agora desviando o olhar para os Errantes. – Estamos todos infectados, isso não vai acabar tão cedo.

– Meu pai levaria você para morar conosco – insistiu. – Eu tenho certeza disso.

Me virei novamente para ele e toquei seu rosto.

– Você vê, Carl, não faz tanto tempo que estou com vocês. Por favor, entenda. E outra: Nós morreremos antes disso. Mas morreremos juntos. Ficaremos juntos no Céu, ok? Mesmo que tudo aconteça, nós vamos nos encontrar novamente, porque eu não quero ficar longe de você.

– Essa não é a Lindsey positiva que eu conheci.

– Lindsey – chama Martin. – Estou com as ferramentas aqui, encontrei uma perna mecânica do seu tamanho sobrando, graças a Deus, só vou precisar encaixar aqui e preciso de sua paciência e colaboração, ok?

– Ok, Martin.


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