Opostos escrita por Mari


Capítulo 9
9. A Verdade




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A água quente do chuveiro percorria um caminho prazeroso por todo o meu corpo, tirando dali todo o cansaço existente nele. Meus pés ainda doíam muito, mas só provavam que tudo aquilo que todo o ocorrido da noite passada foi bem real. Desligo o chuveiro e abro o boxe, pegando minha toalha branca de seda para secar a pele molhada. Enrolo-me na mesma e vou até o guarda-roupa pegar uma roupa simples: Calça escura, blusa branca e sapatilha da cor da calça. Eu não estava nem um pouco animada para ir ao colégio hoje. Me encaro no espelho e, pela primeira vez na vida, ouso passar um pouco de maquiagem, somente para esconder as olheiras. Pego minha mochila e mais alguns livros que teria que levar hoje e desço as escadas ouvindo mais vozes do que o normal. Havia mais alguém aqui. Caminho seguindo o barulho e vejo dois policiais ao lado de um homem de terno. Eu já havia o visto pelas redondezas. Ele era o delegado. Arregalo os olhos e viro os calcanhares, pronta para sair dali quando ouço um pigarreio vindo de meu pai. Encaro-o com um sorrisinho. Por favor, não me faça perguntas difíceis. Por favor, não seja sobre Dave. Mordo o lábio inferior.

— Eu estou atrasada para o colégio pai. – Murmuro a maior mentira que já disse em toda a minha vida. Um sorriso sacana sai do delegado que, até agora, tinha o nome desconhecido.

— Na verdade, são 7 horas. Suas aulas começam às oito. – Diz o delegado com um sorriso no rosto.

— E você é...? – Pergunto, lançando-lhe um olhar interrogativo, mas eu estava o desafiando a ir embora para nunca mais voltar. Só não tinha pensado na consequência caso ele ficasse. Considerando que não sei matar nem uma mosca... Era um desafio sem consequências.

— O delegado. – Ele dá uma risada irônica. Ele sabe muito bem o que eu quis dizer. Solto a risada mais falsa que já dei e ele fecha a cara. Sorrio vitoriosa.

— Sabe muito bem o que eu quero dizer... – Murmuro e meu pai lança-me um olhar nervoso. Provavelmente estava perguntando que droga eu estava fazendo. Que droga eu estou fazendo, pai? Estou tentando puxar assunto até realmente estar atrasada para o colégio e poder usar essa desculpa de novo. Penso.

— Travis Seymour. Delegado há um ano e meio e com um caso importante a tratar. Motivo esse de estar em sua casa, o que parece lógico. Mais alguma pergunta? – Diz ele sorrindo e eu travo engolindo em seco. Camille desce às escadas e se posiciona atrás de mim encarando todos ali. – Pelo visto sabe de algo...

— O quê? Eu? – Pergunto me fazendo de sonsa. – O que eu deveria saber?

— Dave Porter. 17 anos. Estuda no mesmo colégio que você. O seu olhar demonstra que sabe mais do que realmente vai falar agora, e a forma nervosa que se movimenta confirma isso. Então... Diga a verdade. – Diz ele se sentando no sofá.

— Eu não sei de nada. – Murmuro. – Pai...

— Isso é ridículo Travis. Minha filha estava na festa de uma amiga no dia do assassinato. – Diz ele se interferindo e eu confirmo a história. Travis não encara meu pai em nenhum momento, estudando qualquer movimento que eu faça.

— Pastor Hamswere, eu sei a posição social e religiosa na qual o senhor se encontra, então com todo o respeito, apesar disso, para você, continuo sendo Delegado Seymour. Eu também tenho uma posição social na cidade, seja mais importante que a sua ou não. – Meu pai arregala os olhos e bufa baixinho. – Sophie. – Ele chama minha intenção e eu o encaro. Ele era musculoso, e aquilo dava para perceber mesmo usando um terno. Seus olhos eram castanhos e sua pele era bronzeada, e mesmo sem sorrir, conseguia mostrar os dentes iluminados. Se não me estudasse tanto e não soubesse tanto de mim só pela minha forma de olhar, eu diria que ele era bonito. Muito bonito. – Sei que estava na festa de uma amiga, assim como sei que saiu mais cedo dela justamente com a vítima. Você foi à última a vê-lo...

— Está me acusando? – Pergunto nervosa.

— Não. Sei que não teria coragem de fazer uma atrocidade dessas, principalmente por causa da educação que recebe em casa. Estou querendo dizer que você sabe de alguma coisa... Aliás, poderia até dizer que sabe quem é o assassino. Dizer que, sei lá, presenciou a cena. – Vociferou me encarando com um sorriso maquiavélico.

— Você não sabe do que está falando. – Digo mudando de assunto.

— Eu sou delegado. Treinei para investigar crimes muito piores do que aqueles, até. Me dê os créditos Sophie. – Diz ele pela milésima vez. Sua voz era tão suave ao sussurrar meu nome... O que está dizendo Sophie? Afasto aquilo da minha cabeça. Meu pai me encara. Engulo em seco. – Você sabe quem o matou, não é? Estava lá...

Camille me encara já com a feição nervosa. E eu nem sabia o que eu fiz, afinal, ela não é o tipo de pessoa que ficaria brava com o fato de ter escondido aquilo.

— Hm...

— Sophie, eu preciso de um nome, não finja incerteza... – Diz ele mais uma vez.

Ethan iria ficar bravo comigo. Provavelmente jamais olharia na minha cara e eu odeio dizer isso, mas a verdade é que eu morreria se isso acontecesse. Eu gostava dele e todo aquele mundo que me proporcionou noite passada. As pessoas que pertencem aquele mundo não são tão ruins o tempo todo. Estremeço. Encaro mais uma vez Travis que esperava ansioso pela resposta. Eu não sabia o que iria acontecer. Suspiro. Por favor, Ethan, não me odeie.

— Ethan. Seu nome é Ethan. – Digo baixinho e Travis sorri se levantando.

— Isso é tudo, obrigada pastor Hamswere. – Murmura ele pronto para sair. Camille me dá um tapa enfezada.

— Eu te odeio Sophie. – Ela corre rapidamente para fora de casa com as mochilas sobre as costas.

— Ei... Não vai me perguntar o motivo dele tê-lo matado? – Pergunto brava encarando Travis.

— Nunca precisei de motivos para prender assassinos. O fato de ser ele o cara quem o matou, é o suficiente para mim.

Ele e os outros dois policiais saem dali rapidamente e eu fecho a porta bufando alto. Fecho os olhos com força até sentir alguém atrás de mim, muito próximo.

— Christopher Hamswere, se fizer isso, eu jamais irei te perdoar. – Grita minha mãe, que até agora não havia protestado em nada, ela estava chorando e pude ver o porquê assim que virei para encarar meu pai. Ele estava bravo, muito bravo. Sempre tentávamos ao máximo deixá-lo calmo, pois meu pai tinha um transtorno psicológico Borderline, onde os sintomas principais eram a agressividade e impulsividade fora de controle. Isso não iria dar certo. Respiro fundo.

— Pai... – Murmuro seu nome e ele bufa.

— Cala a boca Sophie. Cala a droga dessa boca. – Grita ele. – Maria, saia daqui se não quiser ver isso...

— Christopher...

— Sai daqui Maria.

Ele nunca chamava minha mãe assim. Ela me lança um olhar de desculpas e sai correndo dali, chorando alto e agudo.

— Pai, eu tenho aula agora. – Sussurro vendo-o arrancar seu cinto. Estremeço. Ele iria mesmo me bater de cinto como se eu tivesse seis anos? – Pai...

Ele me dá um forte tapa no rosto e eu cambaleio para trás, me apoiando na porta enquanto recebia um segundo tapa, mais forte e ardido que o primeiro. Começo a chorar baixinho enquanto ele joga o cinto com força sobre meu ombro. Uma. Duas. Três vezes.

— Como pôde esconder de mim que viu a morte do garoto... Ele não fez nada a você. – Grita ele. – Isso nunca aconteceu até conhecer aquele delinquente. Eu não quero ele com você mais. Estou falando sério Sophie Hamswere.

Ele me dá um murro forte na cara. Fecho os olhos sentindo a pancada mais vezes do que posso contar. Sentia minha bochecha arder. E minha boca sangrava. Ele não sabia o que estava fazendo.

— Pai... Você vai se arrepender disso. Vai por mim. – Sussurro levantando-me enquanto e abraçando-o. Sinto ele se acalmar aos poucos, mas rapidamente ele já me empurra para longe e eu caio no chão. Minha cabeça doía. E eu agora estava brava. Ele não tinha o direito de me espancar assim.

Levanto-me rapidamente e vejo ele com a expressão mais suavizada. Pego minha mochila e meus livros que estavam jogados sobre o chão. Limpo a boca com minhas mãos e caminho para a porta.

— Filha. Como eu pude fazer isso? - Ele parecia voltar à consciência do que havia feito. Um choro agudo se forma em seu rosto e ele tenta se aproximar, mas eu o afasto apenas com meu olhar. – Eu não...

— Chega pai. Qual é o seu problema? Sei muito bem que teve consciência do que fez. A doença psicológica que você tem é impulsividade não amnésia. – Nunca havíamos tocado nesse assunto de seu problema e ele me encara se sentindo culpado. – Eu estou cansada de me passar pela filha comportada e perfeita somente por temer os seus atos impulsivos. Eu quero me divertir droga. E se quer saber, Ethan matou Dave sim. Porque ele tentou abusar de mim. Mas é lógico, você não pensou na possibilidade de que sua filha guardaria um segredo desses pelo simples motivo de ter sido em autodefesa e não por um motivo qualquer. Não pensou que sua filha teria vergonha em dizer que quase foi abusada por um idiota alcoólatra e que o delinquente talvez tenha motivos de matar alguém.

— Eu sinto muito... – Diz ele.

— Eu também sinto. Sinto muito pelos médicos terem dito que o senhor conseguiria passar por isso apenas com remédios, mas tudo bem, isso só serviu para provar que você precisa mais do que remédios para te segurar. Vai se tratar.

Abro a porta e fecho com força, andando com dificuldades até o colégio. Envio uma mensagem para Pietro e Olívia não irem para casa hoje, que eu queria ir sozinha para o colégio ao ver no relógio que não perdi o primeiro horário. Não queria que eles chegassem lá e vissem um lado do meu pai que ninguém nunca viu além de nós. Viro a última esquina e corro para dentro. Todos ali encaravam a minha situação. Nem olhei no espelho também para não receber o mesmo susto. Bato na porta vagarosamente umas duas vezes e a abro entrando na sala. Todos ali sussurravam coisas sem nexo e a professora se vira para me encarar se assustando.

— Sophie, está tudo bem? – Perguntou ela e eu sorri com dificuldade.

— Eu só tropecei enquanto vinha para cá, sabe como é. Perdão pelo atraso. – Sussurro.

— Por que não vai para casa cuidar desses machucados querida? – Sugere ela se aproximando. Encaro Ethan que estava sentado no último balcão me encarando sem entender. Seu olhar demonstrava que pelo visto nenhum policial havia o visitado ou coisa relacionada.

— Está tudo bem. – Murmuro caminhando até o meu lugar.

— Certo pessoal, onde estávamos? Oh! Sim... – Ela encara o livro lendo um trecho de certa página.

Abro o meu livro vagarosamente. Ethan parecia pálido ao meu lado, mas não me encarava. Olivia jogou várias bolinhas de papel amassadas em mim com algo escrito. Ela sabia que eu não havia caído. Ninguém ali era idiota. Ignoro todas as bolinhas, fingindo estar prestando atenção na aula. O sinal toca e todos se levantam. Olivia me lança um olhar questionando e eu faço um movimento com a cabeça para que ela saísse. Eu precisava falar com Ethan. Ele continuava ali parado. Olhando o lugar onde a professora até agorinha estava. Todos haviam saído. Ele se levanta e eu começo a chorar enquanto ele vai até a porta colocando uma carteira em frente à mesma para que ninguém nos incomodasse. Levanto vagarosamente gemendo de dor e ele corre até mim. Abraço-o de imediato sentindo seus braços envoltos em minha cintura.

— Eu sinto muito. Por favor, não me odeie. – Sussurro apertando-o forte contra mim sem me importar com a forte dor que eu possuía.

— Quem te espancou desse jeito? – Pergunta secamente.

— Os policiais chegaram do nada e começaram a me fazer perguntas e eles sabiam que eu estava na cena do crime. Eu jamais teria coragem de acusar qualquer pessoa que não tivesse cometido tal coisa então eu precisava dizer que foi você e eu sinto muito. Sinto muito mesmo. – Ele me aperta mais contra si. E eu afundo meu rosto no vasto espaço entre seu pescoço e ombro.

— Quem te espancou desse jeito? – Pergunta novamente.

— Meu pai. Ele... Ele ficou bravo por eu não ter contado e...

— Eu sinto muito. – Sussurra. – Eu não previ isso...

Sorrio apesar da dor aguda.

— Está preocupado comigo? Ethan você será preso... – Murmuro e ele sorri de lado mostrando suas covinhas.

— Eles só têm você de testemunha e terá que dar um depoimento para o juiz no meio de várias pessoas. Só seja convincente. – Diz ele e eu me afasto.

— Quer que eu minta? – Pergunto. Não estava brava agora, pelo menos, não com ele.

— Não. Diga a verdade. Eu defendi você. – Murmura.

— Mas você mesmo disse que foi por causa do dinheiro que...

— Acha mesmo que o motivo era aquele? Eu teria ido cobrar dele, não matado. Quando vi o que ele pretendia fazer eu... Droga. Tenho uma mania boba de querer proteger você que nem eu mesmo entendo. – Sussurra confessando. – Por que seu pai fez isso com você?

Contei tudo para ele, desde o problema psicológico de meu pai até o porquê de nunca ter me divertido da forma que me diverti ontem antes. Ele ficou abraçado comigo o tempo todo, fazendo desenhos invisíveis em meu braço. Ethan ficou em silêncio sempre atento a tudo que eu falava e enxugou todas as lágrimas que eu derramava, depositando um beijo em minha cabeça sempre que eu soluçava ou queria chorar alto. O sinal novamente toca e me afasto. Os alunos já iriam voltar.

— Vamos embora. – Diz ele segurando minha mão e pegando a minha mochila e a dele. Ethan retira a carteira que havia ali e abre a porta me conduzindo até seu carro.

— Ethan eu não quero voltar para casa ou ir para a casa do seu tio. Já está sendo vergonhoso todos os alunos falando sobre mim. – Murmuro segurando o choro.

— Você não vai pra lá. Vai para o meu apartamento. – Sussurra.

— Mas você não mora com seu tio? – Questiono entrando no carro com ele. Porra, porque meu corpo tem que doer tanto quando eu sento? Me sinto tão fraca.

— A menor parte do tempo. – Sussurra. – Mas vou para o apartamento que comprei no centro quando quero ficar sozinho. Nunca levei ninguém lá.

Me afundo no assento enquanto ele liga o carro e sai dali em uma rapidez impressionante até finalmente estarmos no centro e ele ir com mais calma no volante. Agarro minhas próprias pernas e me permito chorar mais uma vez. A última vez que aquilo aconteceu, foi quando meu pai bateu em minha mãe. Na época, eles quase se separaram e eu insisti que ela o internasse. Mas ela disse que estava tudo bem e que aquilo nunca mais iria acontecer. Minha mãe e sua mania chata de ver só o bem nas pessoas. Meu pai precisava de tratamento, mas ela sabia que ele ficaria arrasado se tivesse que largar o cargo de pastor para se tratar. Ethan estaciona o carro e eu desço seguindo-o até um pequeno prédio dali.

Ele cumprimenta o porteiro que, claro, cumprimenta de volta depois de se assustar com minha aparência deplorável. Subimos quase seis lances de escada, pois o elevador estava quebrado. Ethan pega as chaves de seu apartamento, que era no final do corredor e abre as portas. Entro vagarosamente enquanto ele sorri de lado ao ver meu espanto. O lugar era espantosamente acolhedor e... Bonito. A cozinha era minúscula, e somente um balcão a separava da sala. A sala era espaçosa e as paredes não cobriam a vista lá fora porque era de vidro. Havia uma pequena escada onde Ethan subiu, levando-me até o seu quarto que era tão grande quanto à sala. As paredes também eram de vidro e a vista ali era incrível. Dava para ver toda a cidade, inclusive a minha casa. Sua cama ficava em frente à paisagem urbana. Suspiro sorrindo.

— Deve ser incrível dormir aqui. – Sussurro, admirada. Ele arranca os sapatos e senta na cama sorrindo, mostrando suas covinhas.

— Fique à vontade. – Ethan se levanta e caminha até uma pequena cômoda pegando uma de suas camisetas. Mas aquela era bem mais larga. – Tome um banho e vista isso. É melhor darmos um jeito nesses machucados depois.

Caminho até ele pegando a camiseta e vou em direção à única porta ali. O possível banheiro. Ele pigarreia e eu o encaro.

— Pode usar minha toalha. – Sua expressão séria me deu arrepios. Assenti entrando no banheiro e trancando a porta.

Dei de cara com o espelho e até eu me espantei. Meu rosto estava muito inchado e vermelho. Meus ombros estavam com marcas e minha boca possuía um pequeno corte. Retiro minha roupa com cuidado, para não sentir dor e abro o boxe, ligando o chuveiro e tomando um banho rápido. Limpando o pouco de sangue que escorria pelos meus lábios e as marcas que impregnavam em meus ombros e bochechas. Visto minha calcinha e meu sutiã usado, jogando por cima a camiseta de Ethan. De impulso, cheiro-a por um bom tempo. O cheiro de Ethan era embriagante e tão bom. Poderia ficar ali, sentindo o cheiro dele se misturando em minha pele por um bom tempo. Saio do banheiro segurando minha roupa. Ethan estava sem camiseta deitado em sua cama e encarando a paisagem através dos vidros. Caminho até ele e me sento em sua cama. Ethan possuía uma barriga definida e completamente hipnotizante. Quero tocá-lo; é o que penso. Não deve gostar dele Sophie; é o que meu consciente grita. Talvez seja tarde demais; é o que meu coração sussurrava. Não. Eu não posso e não vou me apaixonar por ele. Ethan só está sendo legal comigo para eu limpar sua barra. Ele sorri me estudando com cuidado e eu me lembro de Travis e a forma como murmurava meu nome durante seu interrogatório desnecessário. Por que estou me lembrando dele mesmo? Sorrio de volta.

— Você fica bem com minha camiseta. Deita aí. – Murmura ele e eu me deito, virando para o lado contrário ao dele. Sinto sua respiração pesada atrás de mim, em minha nuca. Arrepio.

— Ethan, eu sinto muito por ter confessado...

— Shh... – Ele se aproxima mais de mim envolvendo seus braços em mim. Estávamos deitados de conchinha e era tão confortante. Ele já iria tirá-los achando que eu havia me sentido desconfortável, mas eu os seguro, abraçando-os e tentando passar a confiança que ele tanto estava me dando. – Vai ficar tudo bem e se não ficar... Eu me viro. Sempre me virei. – Sussurra por fim. – Durma.

Fecho os olhos cansada, suspirando alto. Em questão de segundos estava em sono profundo. Acordo e vejo que o quarto de Ethan está escuro e apenas a luz do luar iluminava o local. Tento me levantar, mas sinto as mãos de Ethan ainda me segurando. Deus, eu desejava que aquilo nunca acabasse, mas eu sabia que estava tarde e tinha que ir. Levanto-me vagarosamente, mas acabo acordando-o.

— Desculpe. Preciso ir para casa. – Ethan ficava lindo com cara de sono e cabelos bagunçados. Ele se espreguiça e levanta em um pulo.

— Eu te levo.

Coloco minhas roupas novamente e pego minha mochila e livros enquanto saímos dali. O carro não corria em alta velocidade, na verdade, em uma velocidade impressionantemente normal. Um sorriso não escapava do rosto de Ethan e desejei saber o que ele estava pensando. Provavelmente no quão esquisito foi termos dormido literalmente... Juntos. E de conchinha ainda. Como um casal. Ethan estaciona em frente a minha casa e desce rapidamente caminhando até minha casa. Ele nunca havia parado em frente em minha casa e eu saí do carro correndo atrás dele. Nem sei onde arranjei forças para fazer aquilo, talvez eu estivesse melhor. Ethan bate na porta e minha mãe abre. Um alívio transpassa por seu rosto ao me ver, mas rapidamente um olhar de questionamento passa pelo seu olhar.

— Onde ele está? – Ethan não estava mais sorrindo. Ele estava bravo. Muito bravo. Minha mãe não responde. Fica estática me olhando e eu também não sei o que dizer.

Ethan não perde tempo esperando a resposta, entra em casa sem ser convidado, corro para dentro e o vejo em frente a meu pai na sala de estar. Meu pai me encara e tenta se aproximar de mim, mas Ethan o para. Ele dá um murro em meu pai tão forte que ele acaba caindo no chão praguejando.

— Você merecia bem mais do que isso. – Sussurra ele. Ethan caminha até mim e deposita um beijo em minha testa. – A gente se vê amanhã.

Assenti e ele saiu sem olhar para trás. Meu pai me encara e eu engulo em seco, levanto a cabeça e caminho até a escada. Ele respira fundo antes de se levantar do chão, ainda me observando.

— O que estava fazendo com ele? – Pergunta meu pai em uma calmaria da qual jamais vi.

— Eu estava dormindo com ele, pai. – Respondo de uma forma maliciosa para que ele pudesse entender da forma mais errada possível. – E eu gostei disso. – Sussurrei subindo às escadas correndo para meu quarto com um sorriso vitorioso no rosto. Sorriso esse, que não queria sair do meu rosto.


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