Opostos escrita por Mari


Capítulo 7
7. "Você e o novato"




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Caminho vagarosamente encarando seu rosto sem desviar o olhar para ver qualquer coisa que me interessasse ou deixasse de interessar. Ele também não desvia o olhar, como se nossos olhares travassem uma batalha dolorosas de palavras. Eu não sabia o que iria dizer para Ethan, afinal, ele sempre teria um argumento melhor que o meu. Essa era uma de milhares de coisas que me irritavam nele. Paro em sua frente, ainda encarando-o estupefata, apontando para Sônia que, por incrível que pareça, ainda tinha lágrimas para derramar. Seu grito agudo já estava começando a irritar apesar de não querer confessar isso para mim mesma.

— Não consegue sentir nenhum remorso sequer? – Pergunto e ele sorri de lado.

— Quer mesmo discutir isso agora que tivemos uma conversa decente? – Devolve ele a pergunta e eu fecho os olhos, somente para abri-los de novo e dar de cara com seu rosto muito próximo do meu, quase que implorando para que eu não dissesse como resposta um grande e enorme sim.

— Não. – Murmuro me sentindo derrotada. – Mas quero que me entenda. Acha que é fácil encarar Sônia gritando que o namorado dela foi brutalmente assassinado, sabendo que eu estava lá, que eu vi...

— Ei. – Ele me interrompe, pousando uma de suas mãos em meu queixo, forçando-me a olhá-lo. Agradeço-o internamente, pois eu sabia que eu acabaria chorando ali também. Era tanta coisa para assimilar. O sinal toca para piorar um pouco mais a situação de meus ouvidos. Ethan sorri, coloca um de seus braços envoltos em meu quadril, me movendo conforme ia em direção à sala de aula.

— Irá estudar na mesma turma que eu? – Pergunto, com uma pontada de medo e ansiedade da resposta.

— Sim. Eu teria outro motivo para continuar aqui? – Diz ele me encarando e eu fico boquiaberta enquanto ele me solta e entra na sala quando já estamos na porta.

— Posso saber o que foi isso? – Pergunta Olívia se aproximando ao lado de Pietro que ria.

— O quê? – Me finjo de sonsa.

— Vocês quase se comem com os olhos. – Diz ela e eu engasgo com minha própria saliva arrancando mais risadas de Olívia que parecia indignada, com os olhos arregalados. Repreendo-a com o olhar enquanto ela dá de ombros entrando na sala, puxando tanto a mim quanto Pietro para dentro da sala. Sento-me ao lado de Olívia e Pietro, já que a professora deve escolher as duplas, com quem devemos trabalhar até o fim do semestre. Ela diz isso, mas na verdade a pessoa acaba sendo nossa dupla todo o ano letivo. Esse ano, porém, parecia ser diferente. Sempre me sento ao lado de Olívia e Pietro para que eu fique com um dos dois, mas se eu pudesse escolher, faríamos um trio. Encaro o fundo da sala e vejo Ethan sentado ali, afastado de todos, que sempre preferiram sentar na frente. A professora Brianna entra quase como contando os passos, usando seu velho salto de cor preta. Seus cabelos eram negros e possuía olhos verdes intensos. Seu velho sorriso esbranquiçado demonstra que a aula já está começando.

— Como todos aqui sabem, eu devo escolher as duplas para serem seus pares até o fim do ano letivo e, também seu colega de quarto no acampamento do colégio durante as férias de verão. – Seu sorriso é delicado e ela apoia a mão direita na mesa, encarando todos ali.

Ouço um pequeno barulho próximo de mim e vejo um lápis ao meu lado jogado no chão como se não tivesse dono, olho em volta e pego lápis esperando que a dona ou o dono se aproxime para pegá-la. Ethan se levanta de sua carteira e caminha até mim sorrindo de uma forma gentil da qual desconhecia, ainda parado em minha frente.

— Sophie. – Encaro a professora assustada pensando que ela havia chamado minha atenção. Quem dera se fosse. – Você e o novato. Escolham seus lugares.

Aperto com força o lápis enquanto Ethan o segurava também dando uma pequena risada. Ele sabia que ela nos transformaria em dupla se estivéssemos próximos. Ele queria me irritar. Pego minha mochila e saio da sala sendo seguida por ele.

— Onde está indo? – Pergunta ele curioso, segurando sua mochila.

— Escolher nossos lugares na sala de aula. Aquela sala é só para separar as duplas dos alunos. – Murmuro ainda irritada por ser dupla dele. Paro abruptamente e encaro-o. Estávamos perigosamente próximos. – Posso te pedir um favor?

— Sophie Hamswere me pedindo um favor. Posso gravar isso? – Ele me retruca sorrindo.

— Como sabe meu sobre...? Esquece, só quero te implorar para não me decepcionar. Quero que se esforce esse ano, não quero te carregar nas costas. – Digo voltando a caminhar.

— Acha que não sou inteligente? – Pergunta ele fingindo estar bravo enquanto entrávamos na sala. Escolho o primeiro balcão com duas cadeiras. – E eu quero sentar no fundo.

Bufo e me levanto caminhando até o balcão do fundo para me sentar.

— Eu não disse que não é inteligente, simplesmente pedi pra se esforçar. Estudar. – Resumi tudo em uma palavra. – As regras em relação à dupla é que: Ou as duas passam de ano ou as duas repetem o ano. Já tenho todo um futuro planejado para ele ser simplesmente jogado pelo ralo. – Confesso aos sussurros.

— Ei, eu não vou te decepcionar. – Disse ele se sentando ao meu lado e me encarando intensamente.

— Obrigada. – Suspiro.

— É uma promessa. E eu sempre cumpro minhas promessas. – Murmura encarando mais uma dupla entrando na sala e escolhendo seu devido lugar.

— Isso é algo que devo escrever na minha pequena lista sobre o que sei de você? – Pergunto tentando quebrar o clima. Ele sorri de lado. Funcionou.

— Você tem uma lista? – Devolve-me a pergunta.

— Não, mas é uma ótima ideia. – Respondo cruzando os braços.

— Não a nada de interessante sobre mim. – Sussurra cabisbaixo, pegando um caderno e jogando sobre o balcão.

— Ah! Você é misterioso Ethan. Qualquer coisa que alguém descubra sobre você acaba se tornando interessante. – Digo apoiando os cotovelos no balcão, após também pegar um caderno. Ele simplesmente sorri dando de ombros. – Depois da aula vamos estudar.

— Isso está nas regras em relação às duplas? – Pergunta.

— Não, mas está nas minhas regras em relação às duplas. – Vocifero baixinho. Olívia e Pietro entram resmungando e acabam se sentando em frente a nós dois. Sorrio.

— Então será assim? – Murmura brincando e eu dou de ombros. – Certamente deve haver regras minhas também.

— Se elas forem convenientes. – Digo.

— Sophie e sua velha mania de me subestimar. – Sussurra abrindo o caderno e pegando um lápis para desenhar. Presto atenção em um de seus desenhos na folha ao lado. Havia um campo de flores, junto com um casal e seu filho que corria com um sorriso estampado no rosto.

— Você desenha bem. – Murmuro e ele me encara sorrindo. – Então... Quais são as suas regras?

— Saberá depois dos estudos. – Diz ele voltando a desenhar algo que ainda não consegui decifrar. Dou uma risada. Encaro-o. Seu velho olhar cinza, como sempre, sereno, decifrando cada detalhe de meu rosto.

— Desenhos, assassinatos... Há mais alguma coisa que você goste e eu não sei? – Pergunto brincando, temendo mais uma vez receber uma resposta da qual não goste.

— Sua risada. – Arregalo os olhos e ele sorri, mostrando suas covinhas. – Gosto da sua risada.

— Essa é uma ótima resposta. – Murmuro.

— Há outras coisas também, mas vou deixar esse mistério para você descobrir. Essa noite... – Diz ele sorrindo. Por que eu achava que isso ia dar errado?

— O que tem essa noite? – Pergunto.

— Minhas regras. Depois dos estudos. Você está em terreno perigoso Sophie Hamswere. – Comenta brincando.

— Talvez não seja tão perigoso quanto queira parecer. Afinal... As aparências enganam, não?


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