Opostos escrita por Mari


Capítulo 37
03x5. Você é o próximo.


Notas iniciais do capítulo

I G U A I S - Opostos Pt. III



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Desde que entramos no carro, não trocamos uma palavra e Ethan dirigia mais devagar que o normal, escolhendo sempre o caminho mais demorado. Parte de mim sabia que sua curiosidade sobre minha amizade com Seymour, mas não ousei tocar no assunto, por mais torturante que fosse o grande e terrível silêncio. Estar ali, ao lado dele, dentro de um carro em movimento me trazia um turbilhão de lembranças, e eu não sabia se sorria ou se me sentia um lixo. Feliz porque são pensamentos bons dos quais gosto de lembrar. E um lixo porque Jolene está com ele agora, e parece ruim pensar sobre isso na presença dela.

Encaro Ethan que estava sério, observando as ruas como se lutasse contra os mesmos pensamentos ruins. O céu ainda estava claro, as folhas balançando junto com o vento e já estávamos próximo à mansão. Ethan estaciona alguns metros da casa e descemos quase que em sincronia, destravando o gatilho da arma e a segurando com força, prontos para o caso de algo acontecer. Corremos até o local, arrombando a porta e mirando para o nada. Inspecionamos o local por alguns segundos até ver que realmente não havia ninguém ali, então soltamos nossas armas, prestando mais atenção nos detalhes da casa. Vejo Ethan sorrir de esguelha.

— O que foi? – Quebro o grande silencioso que reinava e ele me encara, se aproximando com os braços abertos.

— Dá para acreditar que moraríamos aqui? Juntos? – Balbucia. Nego com a cabeça.

Era realmente impossível acreditar nisso. Nunca parei para pensar em como tudo seria diferente, mas imaginando agora, não parecia uma realidade tão ruim. Arqueio a sobrancelha sugestiva e Ethan pareceu entender, correndo pelos extensos cômodos até chegar ao último, que imaginamos ser a cozinha, com todos os armários desgastados e grande parte, queimados. Ele senta no pequeno banco, e eu me deito sobre o balcão de mármore deixando seu rosto próximo do meu. Tão perigosamente próximo do meu. Mordo o lábio inferior.

— Seria tudo muito diferente... Por exemplo, comeríamos sempre juntos e é bem provável que eu fosse legal o suficiente ao ponto de fazer algo para você quando chegasse das corridas, cansado. – Imaginei com um sorriso no rosto.

— Não sabia que era boa na cozinha, Sophie Hamswere. – Murmura e eu rolo os olhos, ficando sentada.

— Eu não era, mas Blair não me ensinou a manusear somente punhais. Saber cozinhar algo que gosta também é bastante útil. – Respondo.

Ele se levanta do banco correndo até o cômodo do lado, onde haviam sofás empoeirados e um piano quase intacto. Era incrível como o incêndio não havia o danificado. Ethan e eu fazíamos o estilo gato e rato, brincando de viver presos a um futuro não existente. Deito-me no sofá sem me importar com a sujeira e ele toca algumas notas.

— E quando estivesse estudando? Eu amaria te irritar tocando piano durante esses horários. – Sussurra.

— Está aí uma coisa na qual você é muito bom. – Dou uma risada sendo acompanhado por ele. Um som tão familiar agora.

Ouvimos um barulho alto e levantamos em um pulo, completamente alertas. Nos encaramos quase que em sincronia ao nos lembrar de um pequeno detalhe: Não olhamos o porão. Praguejamos baixinho, aquilo era erro de iniciante. Que ridículo! Quando finalmente pensamos em fugir, Sônia aparece com seu ar debochado.

— Olha só Andrew... Parece que voltar aqui e pegar nossas coisas acabou nos trazendo visitas. – Murmura com um sorriso no rosto e quanto ir voar em seu pescoço, Andrew, Logan, uma mulher loira e todos os seus capangas aparecem em nossa volta. Engulo em seco.

— Que honra recebê-los aqui. – Diz Andrew alto. A voz parecida com um amplificador para os meus ouvidos. – Opa! Acho que essa frase deve vir de vocês, afinal, a mansão não é minha. Bela decoração.

— Seu filho da... – Foi a minha vez de segurar Ethan. Logan o encarava com o olhar tão cheio de ódio que chegava a ser irreconhecível.

— Que boca suja. – Fala a mulher loira ao lado de Andrew. Encaro-a mortalmente. – Acho que merecem uma lição em relação a isso... Sorte a de vocês que já tenho uma ideia.

Observo minha arma no chão da sala de estar e corro de imediato dando de cara com dois grandalhões, que seguram meus ombros me arrastando para o andar de cima. Vejo mais de vinte caras segurando Ethan enquanto Andrew lhe dava uma boa surra e isso só aumentava meu ódio por ele. Os grandalhões abrem uma porta. Observo o quarto vendo marcas de sangue no chão e meus olhos se arregalam ao ver que foi onde meu pai foi morto. Ver aquele cômodo era torturante. Eles tiram os punhais presos em meus tornozelos e me jogam no local com brutalidade. Trancando a porta. Levanto-me com dificuldade e já ia pensar em uma maneira de sair dali quando observo uma câmera presa no canto da parede e uma caixa de som junto a um microfone presos a ela. Não havia notado aquilo desde de a última vez em que estive ali, e nem tive tempo.

— Sophie... – Meu pai sussurra com dificuldade engolindo em seco e eu sinto lágrimas saírem por todo o meu rosto, deixando à velha Sophie, ingênua e covarde invadir todo o meu sistema nervoso. – Eu... Eu sinto...

— Eu sei... – Murmuro fungando e assentido variadas vezes. – Eu também. Eu também sinto muito pai... Por favor, olhe para mim. Você vai ficar bem, ok? Eu vou dar um jeito...

"Você não conseguiu salvá-lo Sophie. Ficou ocupada demais pensando no quanto sentia falta de Ethan que mal notou que meu alvo acabou se virando para você assim que decidiu entrar na vida de Anthony. Assim que decidiu entrar para a máfia.

Mas ele não te explicou uma coisa muito importante quando se está na máfia: O amor, a família, filhos... Tudo isso se torna sua maior fraqueza."

Arregalo os olhos ao ouvir as gravações da voz de meu pai, acompanhada da voz de meu pai. Eu sabia o que Andrew estava fazendo. Tortura psicologia. Respiro fundo, sinto meus pés bambearem e caio no chão agarrando meus próprios pés.

— Você está errado. – Grito. – Você está completamente enganado.

"Olhe para mim e deixe de ser ingênua. Eu amei Blair e olhe onde isso me levou..."

Sinto as lágrimas escorrerem em meu rosto.

— O que você tem por Blair é obsessão. Não amor. – Murmuro e ouço-o xingar baixinho.

"O que eu tenho por Blair agora é ódio. O mesmo que você deve sentir por Ethan agora não é? Afinal, ele também te trocou. Jolene o nome da garota..."

Limpo as lágrimas com as costas das mãos fungando, o meu ódio por ele era tão grande e eu jamais iria mostrar meu lado fraco, sensível. Me levanto vagarosamente até uma pequena cadeira acinzentada em função do incêndio e a seguro com força.

— Eu ainda amo o Ethan, Andrew. Mas amar não é só querer que a pessoa esteja do seu lado. É querer que ela seja feliz. – Digo me aproximando mais da câmera, sabendo que ele estava do outro lado. – Desde que entrei para a máfia, me deparei com milhares de homens ambiciosos, que não viam um pingo da realidade mesmo que estivesse embaixo de seus narizes. Mas nenhum é tão repugnante quanto você. Porque eu nunca disse que estava nessa guerra entre os dois. Nunca fiz nada que pudesse se tornar motivo de tanto ódio seu. Mas você se tornou motivo do meu ódio. Você, Andrew, acordou algo em mim que eu desconhecia. Se queria tanto que eu estivesse no meio dessa briga, conseguiu. Só espero que aguente as consequências...

"E que consequências isso me traria?"

Jogo a pequena cadeira pela janela, quebrando o vidro em pedaços, alcanço um enorme e pontiagudo, me escondendo atrás da porta. Um dos capangas de Andrew entra desesperado correndo até a janela, achando que eu realmente havia fugido daquela forma. Me aproximo dele enfiando o enorme caco de vidro em seu pescoço, lhe dando uma rasteira e deixando-o estirado no chão. Observo a câmera com um sorriso diabólico no rosto me deliciando com o silêncio de Andrew.

— Você é o próximo. – Balbucio saindo do quarto.


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