Opostos escrita por Mari


Capítulo 3
3. Bruto.




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Peguei o vestido delicadamente após sair de um banho relaxante. Encarei-o por alguns segundos e depois o coloquei. Ele era azul escuro, com uma abertura em V mostrando o vão entre meus seios e parte de minha barriga. Tomara que caia, com alguns detalhes na barra, dando uma impressão interessante ao se movimentar com o mesmo. Coloquei um dos meus saltos de cor preta, e fiz um coque trançado, finalizando com uma maquiagem bem leve. Camille se enchia de maquiagem, afinal, Pietro, um dos caras populares do colégio estaria lá. Aliás, Pietro era meu melhor amigo assim como Olívia. E ela tem uma queda por ele desde sempre. Desço às escadas e decido esperá-la na sala de estar. Ela era rústica, o sofá possuía uma cor bege bem clara, o que destacava ainda mais os travesseiros de cores fortes. Uma pequenina chaminé ficava em frente ao sofá, que se localizava entre duas poltronas de mesma cor. Um tapete peludo de cor branca dava um ar de paz. Uma mesinha de centro com uma bíblia finalizava a decoração.

— Você está linda querida. – Diz meu pai entrando na sala. Ele se senta ao meu lado. – Promete tirar sua irmã de qualquer confusão na qual ela for entrar?

Assenti baixinho e o abracei.

— Eu prometo que tudo ficará bem.

— Eu confio em você. – Camille aparece no batente da porta e meu pai sorri. – Voltem cedo.

Camille revira os olhos e eu dou uma risada, levantando-me e puxando minha irmã pelos braços. Liguei o carro e fomos ouvindo música sem trocarmos uma palavra até a festa de Clarice. Descemos do carro assim que estacionei. Minha irmã saiu praticamente quicando e abrindo a porta sem ao menos tocar a campanhinha. Clarice a encara de esguelha fazendo careta, quando seus olhos finalmente me encontram e ela fica envergonhada ao ver que havia feito aquilo em minha frente. Sorrio entregando-a o presente. Ela era loira e possuía olhos negros. Usava um vestido branco, bastante parecido com um que usei no ano-novo.

— Feliz aniversário. – Sussurro a abraçando.

— Obrigada. Temos sucos na geladeira e uma enorme pista de dança para utilizamos mais tarde. Vai ficar aqui para a festa do pijama, não é? – Pergunta animada.

— Sinto muito, meu pai só permitiu que viéssemos um pouquinho te prestigiar. Olívia já chegou?

— Está com Pietro na sala de estar. Entre.

— Obrigada. – Mordo o lábio inferior.

O local tocava uma música tranquila que poderia se tornar minha favorita um dia já que gostei bastante dela. Tudo estava iluminado por luminárias fofas e a pista de dança estava vazia. Havia vários grupos de amigos em cada lugar conversando sobre algo e todos seguravam um pequeno copo com suco. Isso sim é festa. Desço às escadas à procura de Olívia e Pietro com escuto a risada nervosa de meu amigo. Pelo visto Camille já estava o atormentando. Dou uma risada ao me aproximar de onde ouvi a voz. Pietro se afasta de Camille e me dá um abraço apertado. Ele havia chegado de viagem e fazia um bom tempo que não conversávamos.

— Eu senti sua falta. – Sussurrei.

— Eu também. – Ele sorri.

Olívia se aproxima e abraça a nós dois fazendo com que déssemos uma risada.

— O grupo mais legal daquela escola está unido de novo enfim.

— Continue sonhando, Olívia. – Diz minha irmã fazendo uma careta e saindo dali indo de encontro a Suzanna.

— Não reparem nela. Está chata porque Pietro não lhe deu moral. – Digo sorrindo.

— Talvez porque esteja interessado em outra pessoa. – Murmura Olívia arqueando a sobrancelha sugestivamente.

— Conte tudo em detalhes. – Falo sorrindo abertamente ao entender a indireta de Olívia. A última namorada de Pietro havia o traído e ele a amava muito. Faz tanto tempo, mas ele ainda sentia remorso. Foi a pior época da vida dele. Não que traição seja algo incomum, mas ela o traiu milhares de vezes, com vários caras, inclusive um grande amigo dele.

— Enquanto ele te conta a história mais clichê que já ouviu em toda história dos clichês, irei dar meus parabéns a Clarice e entregar a ela meu presente porque eu me esqueci de lhe dar.

Pietro e eu nos afastamos e vamos até a sacada da casa de Clarice, onde havia uma enorme piscina e um jardim repleto de flores lindas, juntamente com uma vista incrível da cidade. Ouvimos o barulho da campanhinha. Não me lembro de Clarice dizer que haveria mais convidado mais gente, considerando que ela disse que só convidaria o pessoal do colégio e todos estavam ali presentes. Um garoto todo tatuado que usava uma boina de cor verde e estava sem camiseta caminha até a piscina, jogando uma substância ali que formava muita espuma. Tento ignorar isso, afinal, deve ser algum idiota. Encaro Pietro que contou tudo sobre Anna, uma garota que conheceu em Paris e era o sinônimo de diversão. Ele diz que uma vez ela havia bebido demais e contou a ele que o amava, mas ele pensou que talvez ela estivesse alucinando ou coisa do tipo por causa de um ex no qual ela vivia falando. Ele supôs que ela ainda gostasse dele e estivesse imaginando que Pietro fosse o mesmo. Enfim, tudo que ele sabe é que se apaixonou perdidamente por ela e não vê a hora de chegar o ano que vem, quando ele irá se mudar definitivamente de nossa cidade. Claro que ele prometeu me visitar nas férias, mas ainda assim não parecia bom o suficiente para mim. Eu me sentiria vazia apesar de Olívia também ser uma ótima companhia.

— Pessoal, houve um problema. – Diz Olívia ao se aproximar com um copo de suco e a encaramos curiosos. – Esqueci de pegar o suco para vocês.

— Tudo bem, eu pego, fiquem aqui. – Murmuro para os dois e Pietro assentiu. Assim que me afastei vejo que Camille se aproximar para mais uma vez tentar algum contato físico com ele. Será que ele terá coragem de contar sobre Anna? Dou de ombros e continuo indo em direção à sala de estar. Paraliso. O local agora estava muito animado. Animado até demais. Havia tantas pessoas assim aqui e eu não percebi? Não. Não havia. Clarice estava estática, sentada num sofá, encarando o chão. Consegui ver algumas pessoas bêbadas ali. Pessoas se beijando prestes a ter uma relação sexual ali mesmo. Eu precisava ir embora. Decido pegar o suco de Pietro e avisá-los que já estava na minha hora. Todos os alunos do colégio estavam sentados. Apenas pessoas desconhecidas se divertiam. Isso é sério? Caminho até o pequeno bar improvisado que Clarice havia montado. Sinto uma respiração bem próxima de mim e tento ignorar. Talvez seja só o ar que estava abafado. Mas não era. Infelizmente não era.

— Eu me lembro de você. Esteve na minha casa esta manhã. – Era ele. O garoto apoia os braços no balcão e me encara detalhadamente.

— Algum problema? – Diz Pietro interrompendo a conversa assim que eu iria respondê-lo educadamente, mas de forma fria só para machucá-lo. Se bem que não adiantaria agora. A sala de estar parece estar completamente silenciosa agora.

— Está tudo bem Pietro. – Sussurro baixinho o encarando e lhe lançando um sorriso apaziguador.

— Viu só? Você sorrindo diminuí um pouco da sua feiura. – Murmura o garoto somente para que eu o ouvisse.

Por um impulso do qual eu desconhecia, peguei o copo de suco já cheio e joguei em seu rosto com força. Ele segura uma expressão de raiva e acaba sorrindo de lado e me pegando no colo. Debato-me. Pietro tenta intervir mais um dos amigos dele lhe dá um murro enquanto outro, segura Olívia e os outros com força.

— Solte a Sophie, Ethan. – Gritava Camille. Então o nome dele era Ethan. Por que eu estava pensando nisso mesmo? Continuo me debatendo e ele me segurando com força.

— Seu bruto. Idiota. – Xingo ele aos gritos enquanto me carregava até a sacada da casa de Clarice. Encaro a enorme piscina ali e meus gritos aumentam. Meu vestido era de uma marca famosa. Não queria molhá-lo. – Me desculpe. Eu não jogarei mais suco em você.

— O dano já está feito. – Diz ele se jogando na piscina enquanto me segurava com força. Debato-me dentro d’água, mas ele continua me segurando até o fundo da piscina.

Ele estava sem camisa e tive noção disso agora que o desespero parecia ter sumido. Seus olhos cinza estavam serenos e suas mãos continuavam em volta do meu quadril, mas não estavam mais tão fortes. Eu estava perdendo o ar, mas por que eu não queria sair dali? Era como se meu ar não estivesse lá fora e sim dentro dele. Ele parecia perceber que eu estava perdendo oxigênio, pois nadou guiando-me até a superfície. Continuamos a nos encarar, estávamos muito próximos e minha respiração estava descompassada e rápida. Todos a nossa volta ainda brigavam e o motivo de tudo aquilo era ele. Por que eu continuava ali? Depois de muito impulso saio de perto dele, nadando até a borda da piscina e saindo dali. Viro-me para ele.

— Você é um inconsequente e idiota. Isso aqui é Dolce & Gabana. – Murmuro brava encarando meu vestido encharcado. Ele dá uma risada depois de sair de sua hipnose após um longo tempo.

— Isso só foi um aviso da próxima vez que tentar me desafiar de novo. – Diz ele sorrindo. Bufo alto e viro-me quando ele me chama novamente. Como ele sabia que meu nome era Sophie? Arquei a sobrancelha e o encaro. – Avisa a esse tal de Dolce & Gabana que o vestido é bem melhor molhado.

Observo meu vestido que estava praticamente transparente.

—Seu bruto.


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