— E sempre promovendo a reputação de Bruno, impressionante. — Gabriel divertiu-se.

— Claro. Com certeza o errado deve ser esse tal novato, Bruno jamais faria algo para prejudicar um '' suposto '' amigo sem ter motivos. — Falei certa do que dizia. Bianca olhou-me por alguns segundos e depois suspirou, desistindo do que provavelmente iria falar. Melhor assim.

— De qualquer forma, esse assunto não nos interessa. Temos coisas mais importantes pra nos preocupar do que o suposto motivo deles não se darem bem. — Bianca interviu. Assentimos, concordando com o que ela havia dito.

No meu caso, eu tinha que pensar como abordaria Bruno para ao menos trocar algumas palavras com ele. Seria estranho e eu tinha medo de não conseguir falar, o som sempre fugia quando eu estava a frente ou na reta dele.

De repente, toda a atenção dos alunos foram em direção ao garoto que vinha andando em direção a cantina. Ele ainda não me via e parecia não se importar e até estar acostumado com a atenção voltada para ele. O que de certa forma de fez invejá-lo por saber se comportar e agir normalmente como se não fosse nada demais, normalmente eu tropeçaria e cairia no chão pagando o maior mico da minha vida. Isso seria a melhor das alternativas das coisas que poderia me acontecer, então, supostamente, a pior me aconteceria por minha falta de sorte e coordenação motora. Embora soubesse que o melhor a se fazer era fingir que não havia o visto, virei meu rosto para poder vê-lo melhor. Agora sem nervoso, sem preocupação com blusa manchada ou estar no meio da rua apenas de sutiã, consegui observá-lo com mais atenção; observei seu cabelo levemente bagunçado e seu rosto perfeitamente desenhado. Seu jeito de andar despojado e indiferente, dando-lhe mais charme do que o comum. Bem parecido com o jeito de Bruno, porém era óbvio que Bruno jamais andaria sem duas garotas agarradas em seu pescoço. O que me irritava de vez em quando.

Quando percebi que ele viraria o rosto e poderia me ver, abaixei-me um pouco pedindo que dessa forma ele não me visse, o que foi em vão. Ele sorriu de lado ao ver que eu o encarava, e eu apenas continuei séria. Fingindo que não era comigo. Esperando que ninguém tivesse reparado, esperando que ele fizesse isso com qualquer garota que ele praticamente salvasse. E senti o tom avermelhado dominar aos poucos todo o meu rosto.

— O que foi isso? — Perguntou baixo pra mim quando o garoto desapareceu do campo de visão de todos, do nosso também.

— Isso o quê? — Indaguei fazendo-me de desentendida.

— O sorrisinho dele pra você. E nem tem como negar, foi visível, porque ele sorriu pra você por uns dez segundos. — Olhou-me com mais intensidade e sem deixar sua aparência de séria.

— Contou mesmo os segundos? — Arqueei uma sobrancelha.

— Não, quis dizer que ele demorou pra desviar a atenção. — Revirou os olhos. Quando ela fez menção de fazer mais alguma pergunta, o sinal tocou. Perfeito. Pela primeira vez agradeci o pouco de sorte que ainda sobrava pra mim. Caminhamos em direção a sala e pude vê-la gesticular com a boca que nossa conversa ainda não tinha acabado. Suspirei feliz por ter um tempinho em paz.

(...)

— Então, me conta o que foi aquele sorrisinho. E não me esconda nada. Conhece ele? Como ele se chama? — Bianca já começou com o interrogatório.

— Calma, eu não o conheço. — Reclamei. Ela cerrou os olhos. — Quer dizer, eu o vi apenas uma vez antes de chegar na escola hoje. Não sei o nome dele pois não perguntei, e nem pretendo perguntar. — Dei de ombros, não era importante pra mim.

— O que aconteceu? — Deitou-se na minha cama ligando o meu notebook.

— Folgada. — Reclamei, logo em seguida, joguei-me na cama também ficando ao seu lado só que em posições contrárias. Coloquei minhas mãos sobre minha barriga.

— Fala logo.

— Calma. Não foi nada demais. — Suspirei. — Hoje quando estava indo para a escola as cobrinhas passaram e jogaram lama em mim. Ai minha blusa sujou toda né. Ele provavelmente viu tudo e veio até mim e me ajudou, como ele era novo deu de boa a blusa do uniforme dele pra que eu pudesse usar, pois ainda não é obrigatório que ele venha uniformizado.

— Que cavalheiro. Se ele agiu assim, não parece ter o perfil que as pessoas descreveram. — Estranhou.

— Talvez ele ajude qualquer garota que encontre só pra ter uma recompensa no final da história. — Revirei os olhos, na defensiva.

— Não me parece. Todas as garotas do colégio estão pagando pau a ele e pelo que parece demonstrou estar nem aí pra elas. — Analisou.

— Conheço garotos assim. Deve estar analisando as carnes de qualidade do novo colégio antes de partir pra cima. — Continuei indiferente. Tinha algo nesse garoto que me fazia ficar na defensiva, não sei o porquê, acho que pelo fato do Bruno não ir com a cara dele.

— Bom saber que você conhece muito bem o amor da sua vida. — Brincou se referindo ao Bruno.

— Para Bianca! — exclamei, totalmente nervosa.

Irritava-me saber que Bruno se encaixava perfeitamente nesse tipo de rótulo. Não era idiota a ponto de fingir que não era verdade, ele é galinha a ponto de iludir três ao mesmo tempo. Todavia, eu tinha esperanças com ele por conta de uma pessoa: Margareth Johnson. Eu não sei muito sobre ela, mas pela pequena pesquisa que fiz, descobri que foi a única garota que conseguiu fazê-lo largar todas as outras garotas e o fez querer ficar apenas com ela. Não sei ao certo como e por que o relacionamento dos dois não deu certo — Se é que houve relacionamento. Mas a fonte era segura e, sim, ele foi capaz de amá-la. O que me fazia pensar que a fera poderia ser amansada caso houvesse esforço. Eu só não sabia como e queria conhecer essa Margareth para perguntar que tipo de feitiço fez.

— Você sabe que Bruno se apaixonar é como encontrar água no deserto. Improvável. — Olhou-me com receio.

— Mas não impossível. — Disse sem demonstrar algum receio, por mais que existisse muitos.

— É. Provavelmente deve ser mais difícil encontrar algum vestígio de juízo na sua cabeça. — Bianca finalizou revirando os olhos, desistindo finalmente de me fazer ''desapaixonar''. Deixou o notebook de lado, para deitar com mais conforto na cama, o Gabriel conversava conosco pela webcam.

—E se... — Sentei-me de repente na cama com um largo sorriso no rosto e com a ideia mais louca e instigante na cabeça.

— E se o quê? — Gabriel perguntou sem entender, com certeza me chamando de louca por pensamento. Olhei para ele alegre com a ideia que tinha acabado de ter.

— Talvez não seja tão improvável assim. — Não tirava por nada o sorriso mais bobo e extenso do meu rosto. Ela arqueou a sobrancelha, aparentando ainda não entender.

— Por favor, fale a minha língua para que eu possa entender a sua doença. — Bianca revirou os olhos.

— O novato! — Gritei, animada.

— O que tem o novato Antônia? — Bianca indagou impaciente.

— Ele pode ser minha ponte até Bruno. — Disse alegre. Estava me achando naquele momento o gênio do ano.

— Eles não são amigos, pelo que entendi. — Gabriel estranhou.

— Justamente por isso. — Revirei os olhos os olhos vendo como eles não eram óbvios. — Eles se odeiam. Posso usar a rivalidade deles ao meu favor. — Gritei mais uma vez alegre, levantei-me da cama batendo palma sem retirar meu sorriso estampado no rosto.

— Isso com certeza não vai sair nada bem. — Ela reprovou demonstrando medo pelo olhar, eu a olhei tentando provar que tudo estaria sob controle. E que, se tudo desse certo, eu chegaria até Bruno.

— Então, pelo que eu entendi, você vai usar o novato pra chamar a atenção do Bruno? — Gabriel perguntou receoso com a própria pergunta.

— Isso, garoto inteligente. E assim conquistarei Bruno e o farei cair sob meus pés. — Meus olhos brilharam só de pensar na ideia. Senti-me pela primeira vez bem. Eu não sabia direito como me aproximaria dele sem causar alarde, mas isso era o de menos agora.