Te amar não estava nos meus planos escrita por Ana Bobbio


Capítulo 20
Perigo.




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Notei que estava a observando demais, levantei-me para ir até o quarto de hóspedes e dormir lá. Quando estava abrindo a porta, ouvi Tônia se virar na cama acomodando-se apenas no lado esquerdo, deixando o outro lado totalmente disponível pra mim.

E ela ainda parecia dormir.

O que me fez ter coragem de continuar no meu quarto, em vez de ir para o outro, o que consequentemente me fez deitar no lado vazio.

Ela estava encolhida ainda, quando sentiu meu lado da cama pesar, a mesma virou-se abrindo a boca de sono e encostou a cabeça no meu ombro. Sem jeito, atravessei sua cintura com meu braço e seu rosto chocou-se contra o meu. Somente a poucos centímetros de distância. Mas ela dormia e, portanto, não imaginava como nossos rostos estavam pertos.

E nem como eu queria que soubesse disso. Embora eu soubesse que mesmo estando acordada eu não seria corajoso o suficiente para dizer algo além da racionalidade.

Desviei meus pensamentos e fechei meus olhos, tentando dormir. Senti Antônia subir a cabeça pousando-a sobre meu peito e me abraçou sem nenhuma delicadeza, e antes que eu dormisse também, lembro-me de ter beijado sua testa e ter sussurrado palavras ilegíveis.

E, incrivelmente, aquela seria a primeira noite que eu não teria pesadelos ou insônia. Talvez a culpa não fosse da Antônia, e sim da lua que insistia em estar mais luminosa e cheia que o comum.

Acho que colocaria a culpa na lua mesmo. Apesar de saber que não era.

Antônia

Foi estranho dormir ali. Geralmente quando durmo em algum lugar desconhecido, fico inquieta. Porém, dessa vez, por estar estrategicamente entre os braços fortes de um alguém de cabelos claros, ombros largos e mãos grandes, — notei esse detalhe mais uma vez ao vê-las sobre minha coxa, tampando-a quase inteiramente — parecia tão mais confortável que a minha própria cama. Deitei minha cabeça de lado, para poder vê-lo melhor. Ele dormia ainda, e pelo visto, se estivesse sonhando, era um sonho bom. Queria que seus olhos verdes cor de esmeralda estivessem abertos, são tão lindos que não merecem nem por um segundo ficarem escondidos.

Lamentavelmente, não poderia dizer o mesmo dos meus, pareciam tão mais chatos e apagados que os dele, eu parecia ofuscada naquela cena por ter uma beleza tão comum perto da dele.

Sua mão estava pesando sobre minha coxa, por isso, movimentei-a gentilmente para a minha cintura, onde mesmo dormindo, Eduardo assegurou-se de deixar aquela localidade protegida, espalmando sua mão o suficiente para preencher a maior parte daquela área que conseguisse, como se ele estivesse protegendo-me de terceiros e guardando-me perto de si. Isso soou muito egoísta da sua parte, apesar de eu ter amado essa proteção e o ar de não há como fugir de mim. Mesmo sendo coisa da minha cabeça.

A questão era óbvia, todos os motivos que me levavam a conclusão que as coisas estranhas que eu sentia não podiam estar ligadas a qualquer tipo de envolvimento além da amizade.

Apesar de eu estar me achando totalmente sem noção por pensar em algo além do único ponto que nos interessada: A amizade.

Mas, a princípio, minha aparência totalmente comum, perto dele eu era só um pontinho preto no meio de do nada, tinha cabelos escuros, lisos, que terminavam de cair nos meus ombros, olhos castanhos e pele branca. Nada interessante, um nada perto dele.

Um ponto pior ainda era que eu jamais conseguiria olhá-lo sem aflição por saber que tudo era fruto de uma armadilha, na qual nada fazia mais sentido. Eu não sabia ao certo o que sentia e por que sentia, só sabia que eu estava muito próxima de descobrir. Mesmo na amizade, às vezes me doía lembrar que meu objetivo inicial era, de certa forma, usá-lo.

Não que minha intenção fosse usá-lo, mas essa era a palavra certa para definir a maneira como eu quis colocá-lo em um plano medíocre e sorrateiro, que no final das contas, não me trouxe Bruno e nem ninguém.

Eu sei que eu poderia continuar, ainda tinha chance, e pelo que eu me lembro da festa, talvez eu pudesse ter alguma esperança, mas eu não queria.

Simplesmente eu não queria mais.

Eu não queria continuar com nenhum plano medíocre ou sorrateiro.

Porque eu havia me aproximado demais de Eduardo, estava gostando da nossa amizade, e estar com Bruno, lembraria-me a cada segundo que eu fui uma Margareth da vida com eles. Porque eu sabia que ela tinha usado não só um, como o outro.

E no final das contas, eu me igualaria a ela, eu também estaria usando os dois. Eu também seria uma vadia.

Sentia-me na obrigação de ser diferente dela para ambos, porque, de repente, só de imaginar Edu machucado mais uma vez, fez com que algo chutasse o meu estômago e uma dor totalmente torturante e dolorosa se alastrasse por todo o meu corpo, como se estivesse destruindo tudo o que tivesse vida dentro de mim, como se a dor que ele pudesse vir a sentir fosse contagiosa e me contaminasse também.

Mesmo que o meu troféu fosse Bruno. O garoto que por tanto tempo tive uma paixão platônica e inconsciente. Mesmo que fosse, o simples fato de ver o peito desnudo de Eduardo inflar e soltar o ar, pareceu ser mais importante do que qualquer paixão que eu viesse a ter ou qualquer outro tipo de troféu.

Porque ele estaria bem, então eu também ficaria.

Olhei com mais ternura para Eduardo deitado sobre a cama, involuntariamente, pus minha mão sobre a dele, estendi-a tentando alcançar o topo de seus dedos. Mas não consegui, contentei-me em chegar apenas na metade. Porque o importante era tocá-la, sentir o calor das costas de sua mão esquentar a minha era inexplicavelmente impagável. Não aguentei me segurar e levei meu polegar até seu rosto, deslizei o dedo por toda sua pele sentindo-me bem. Um sorriso automático surgiu em meu rosto ao notar que estava vivo e tão perto de mim, feliz por ter o encontrado, feliz por ter conseguido fazer ele de certa forma se abrir pra que eu entrasse em sua vida.

Feliz por ter me dado a oportunidade de ser sua amiga.

Parei de acariciá-lo quando notei como havia me perdido nele e meus pensamentos viajavam de uma maneira sobrenatural.

Levantei da cama usando o pijama da mãe dele, me dei à liberdade de escolher uma camisa no guarda-roupa de Eduardo para usar, gostei de uma amarela, então a vesti. Pareceu um vestido para mim, só que eu não tinha nada melhor para usar. Dei passos lerdos até a janela e abri a cortina. O quarto antes escuro, agora estava iluminado graças aos raios solares matutinos, que chegaram até Eduardo e o fez abrir os olhos. Quando ele me viu, sorriu de maneira presunçosa.

— Bom dia chato. — Tentei parecer divertida, mesmo estando incomodada com a minha aparência nada gentil, não queria que ele me visse assim. Nem ninguém. Eu tinha acabado de acordar, minha cara provavelmente estava amassada, meus cabelos todos bagunçados e, sinceramente, não entendi o porquê de seu sorriso quando me viu.

— Bom dia garota da blusa manchada. Já manchou outra roupa? Estou vendo que é melhor eu tomar cuidado para não perder todas as minhas camisas. — Brincou, como se a culpa da minha blusa de uniforme estar manchada aquele dia fosse minha.

Senti-me envergonhada por ter sido totalmente cara de pau por pegar uma camisa sua, fiz menção de tirá-la, mas, ao perceber o que eu ia fazer, Eduardo levantou-se rapidamente da cama e me impediu de cometer tal loucura antes que fosse tarde demais. Franzi o cenho, totalmente confusa.

— Fique com ela, embora tenha ficado um pouco grande em você, valorizou muito mais os seus olhos. — Deu uma pausa, abaixando o olhar. — E, se não for muita petulância, as suas pernas. — É nesses momentos que geralmente há questionamentos se deve ficar totalmente vermelha, ou brigar com ele por seu atrevimento ao olhar as suas pernas. Felizmente, meu corpo respondeu por mim: Acho que jamais, nunquinha, meu rosto ficou tão avermelhado como agora. Eu tinha sérias dúvidas se eu não explodiria a qualquer momento.

Eduardo, depois de rir de mim, só pra completar, foi para o banheiro. Quando voltei a minha cor normal, ou melhor, estava me aproximando dela, eu fui também. Escovamos nossos dentes juntos, na verdade eu tentei escovar, porque Eduardo insistia em me atrapalhar jogando creme dental em mim. Não aguentando as provocações, entrei na brincadeira e joguei água do chuveirinho nele. Estávamos mais sujos de pasta do que nossos próprios dentes. Felizmente, quando saímos do banheiro, nos limpamos. Quando chegamos à escada, fiz com que ele parasse. Olhou-me sem entender nada, apenas arqueei uma sobrancelha. Ele finalmente pareceu imaginar a minha tramoia.

— Não, você é muito pesada. — Reclamou segurando risadas. Arqueei mais ainda minha sobrancelha, e só por raiva, pulei em suas costas. Ele fingiu uma dor, porém eu não saí, e percebendo que eu não sairia de suas costas, levou-me até a mesa para tomarmos café da manhã. Eu ficava fingindo que ele era o meu cavalo e reclamava da sua lerdeza, enquanto o mesmo fingia que ia me derrubar a cada degrau que me descia.

— Que cavalo mais lerdo eu fui arrumar, minha nossa! — Não consegui segurar a risada, então minha reclamação não soou tão insatisfatória quanto eu queria. De repente, fiquei envergonhada ao ver a mãe dele sentava em frente à mesa, com uma xícara de café na mão. Por um momento desejei me esconder atrás de Eduardo.

— Anda, saí das minhas costas, garota insuportável. — Ele queixou-se. Quando levantou a cabeça para me ajudar a descer de suas costas, viu sua mãe e, embora não tenha ficado com o rosto vermelho, pareceu intimidar-se como eu. Sentamo-nos à mesa, nos juntando a Fabiana. — Bom dia mãe.

— Bom dia dona Fabiana, desculpe-me pela nossa agitação matutina. — Desculpei-me ainda envergonhada.

— Bom dia, meus amores. E Antônia, fique à vontade para me chamar de Fabi, do modo que quiser. E não devia se preocupar com isso, eu que tenho o que agradecer por colocar um sorriso no rosto desse ai. Infelizmente tenho que sair correndo para o trabalho. — Disse. Sorri ao escutá-la, descansando o meu coração.

Fabi levantou da cadeira e pegou sua bolsa e mais um jaleco branco, despedindo-se. Antes de sair pela porta, quando o Eduardo foi pegar alguma coisa na geladeira, ela me chamou. Fitei-a confusa. Felizmente sua expressão estava suavizada.

— Quero que me desculpe por ontem a noite, Antônia. Apenas te confundi com outra pessoa. É... — Instiguei com o olhar que ela continuasse. — Queria te agradecer por me fazer ver o filho sorrir depois de tanto tempo, pode acreditar, e também é bem-vinda aqui sempre, ok? Fique super à vontade, infelizmente passo quase o dia todo no hospital, então não nos veremos sempre. — Suas palavras soaram sinceras. — Agora eu tenho que ir. Fiquem com Deus. — Assenti com um sorriso carinhoso no rosto, assim como o dela. Não era preciso eu dizer mais nada, se dependesse de mim, minha amizade com seu filho seria positiva para todos. Fabi acenou e foi embora.

— O que minha mãe queria com você? — Eduardo perguntou ao voltar.

— Apenas me falar que eu posso pegar quantas camisas suas eu quiser. — Terminei de comer e prendi o meu cabelo. — Tenho que ir pra casa, daqui a pouco minha mãe chega e eu não quero que ela vá à Bianca me buscar, pois não estou lá. Obrigada por ontem e por hoje.

— Quer que eu te leve? É um pouco longe... — O interrompi, segurando-me para não rir da sua falta de compreensão do que é perto e longe. Literalmente, minha casa não era longe da dele.

— Eduardo, minha casa é quase atrás da sua. — Ri ao ratificar o óbvio. — Mas, se quiser, pode me levar até à esquina. Depois não, meus pais podem te ver caso estejam em casa. — Expliquei. Fiquei com a camisa amarela mesma, apenas vesti a calça de ontem, e deixei o pijama sobre a cama de Eduardo. Quando terminei, saímos e ele me levou até a esquina como havíamos combinado.

— Eu fico aqui. — Olhei-o atentamente. Não querendo ir embora.

— É. — Sussurrou encarando-me firme também. Ficamos em silêncio, como se não soubéssemos o que falar. Possivelmente, não parecíamos os mesmos de ontem, essa timidez que pairou entre nós dois era inexistente até agora. — Então...

— Então até amanhã, na escola. — Disse mais uma vez o óbvio, não sabia o porquê, mas eu não queria ir embora. Não queria me despedir.

Mesmo que a gente fosse se vê daqui a algumas horas no colégio, mas, alguma coisa ainda indefinida, segurava meus pés no chão impedindo que eu o deixasse ali e fosse para minha casa.

Tipo assim, as minhas ações estavam sendo comandadas por uma sensação sem noção, porque eu nunca havia sentido isso perto de algum amigo. Se fosse natural, eu deveria sentir perto do Gabriel, ou até mesmo da Bianca. Embora uma vez eu tenha tido uma sensação parecida perto da Bianca, não queria ir embora, mas pra ser sincera não era por causa dela, e sim por causa do chocolate que ela havia comprado. Depois que eu comesse ao menos um pedaço, iria embora numa boa.

Mas o Eduardo não tinha cara de chocolate, felizmente.

Minha cabeça estava abaixada, porque de repente olhá-lo nos olhos fez um tremor incomum acontecer em minhas mãos. Levantei-a lentamente, tirando gentilmente uma mecha do meu cabelo de frente do meu rosto, colocando-a atrás da orelha. À medida que meus olhos levantaram e, como uma corajosa que nunca fui, prendi-os nos olhos de Eduardo, para analisar as suas reações. E ele parecia estar exatamente como eu, e isso me deixou incontestavelmente feliz. Isso pode ter soado feliz, só que não era certo desejar que alguém se sentisse na merda assim como você. Ou, pior, uma completa idiota. O que era o meu caso. Mas, era muito mais agradável e confortante saber que não era a única que ficava sem jeito ou até quem sabe, se não for pedir muito, não fosse a única que sentisse uma coisa estranha nas mãos, como um formigamento ou um tremor toda vez que me tocasse ou meu coração não desse pulinho por simplesmente vê-lo.

Infelizmente, essas últimas coisas não tinha como eu saber se ele também sentia porque eu mal conseguia respirar direito. Despedimos-nos, por ser mais baixinha, tive que suspender um pouco os pés para lhe dar um beijo no rosto, antes de ir para a minha casa e ele me seguir com os olhos assegurando-se que chegaria até a porta ilesa. Como se fosse totalmente possível que no caminho um raio caísse em minha cabeça, sendo que estava um calor incomum. Eu só não sabia definir se todo calor que eu sentia era só por causa do tempo. No máximo, o que poderia acontecer, seria eu tropeçar entre meus pés mesmo por sentir toda sua atenção em mim.

Felizmente, eu cheguei à porta ilesa. Sem raios, sem tropeços.

(...)

— Odiei essa prova, com certeza me dei mal! — Bianca murmurou ao sairmos da sala. Fomos uma das últimas a sair, acredito que nem eu me safei dessa. A prova estava extremamente difícil, se ao menos fosse objetiva, eu poderia ter feito uni duni tê.

— Nem me fala! — Revirei os olhos só de relembrar as questões. — História com certeza não é a minha praia. — De repente, ela sorriu de maneira maliciosa.

Aquilo é a sua praia? — Debochou sem tirar seu sorriso totalmente indelicado do rosto. Drasticamente, virei meu rosto à procura do que ela sugeria. Foi então que eu vi Eduardo escorado na parede, como se estivesse me esperando. Quando o fitei, fui correspondida da mesma forma.

— Então... — Ela parecia pensar em alguma coisa para falar. — Eu vou ver se ao menos o Gabriel se deu bem nessa prova. — E logo em seguida, deixou-me sozinha no corredor deserto. Deserto em partes, porque havia mais uma pessoa ali.

Eu poderia não ficar preocupada se os olhos dele não estivessem praticamente transpirando fúria, não no sentido de estar ligado a violência, mas como se estivesse desesperado. O que deixou-me alarmada, tinha acontecido algo com ele, e me deu receio, um certo medo atingiu-me inconscientemente. Porque, mesmo que a gente tenha se tornado amigos, ele ainda era uma incógnita para mim.

Como um quebra-cabeça que eu ia montando aos poucos. Ainda era um terreno perigoso, que poderia me trazer surpresas.

O que eu não esperava era que a surpresa fosse tão inesperada e tão boa.

— Está tudo bem, Edu? — Indaguei com cuidado ao me aproximar dele cautelosamente. — Aconteceu alguma coisa? O que você tem?

Ele pareceu me analisar indiscretamente, seus olhos pareciam transbordar cinismo e desejo. Desencostou-se abruptamente da parede e quando deu um passo em minha direção, meu impulso foi dar um passo para trás. Totalmente assustada com a situação.

— O que eu tenho? — Deu uma pausa, dando mais um passo em minha direção, eu não tinha mais pra onde ir, e minha garganta de repente havia se secado, falar alguma coisa seria a última coisa que eu conseguiria.


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Notas finais do capítulo

Ah, aqui estou eu, terminando de escrever este cap às 1:31 da madrugada. Sou muito lerda, mdss. kkk
Mas, acho que valeu a pena, não?
Aconselho não perderem o prox cap., surpresinhas à vista hahaha (:
Agr vou dormir pq amanhã acordo cedo : kk
bjsss, boa noite. ♥



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